segunda-feira, 2 de maio de 2011

CÍRIO DE NAZARÉ NO CORDEL

FOLHETO RARO DE FIRMINO TEIXEIRA DO AMARAL LOUVA O CÍRIO DE NAZARÉ
Por: Fernando Jares (http://pelasruasdebelem.zip.net/)

Como elemento da cultura local o Círio é registrado, e muito especialmente, na poesia de cordel, talvez a forma mais popular de comunicação no Brasil – e que teve no Pará um momento áureo nos começos do século passado, com a Editora Guajarina. Mas isso é outra história. Agora vamos falar do Círio no cordel.
Vou começar com aquele que Vicente Sales considera possivelmente o primeiro folheto a tratar do Círio. Mas não pense que isso é coisa fora de moda. Nada disso,pois o folheto  o mais recente que tenho é de 2006, produzido logo ali Itaiteua, ilha de Caratateua, que aqui Belém chamamos genericamente de Outeiro.
Iniciemos com “A festa de Nossa Senhora de Nazareth no Pará” de Firmino Teixeira do Amaral, um piauiense que viveu aqui, pelas ruas de Belém, durante muitos anos. Poeta e tipógrafo, ele veio atraído pela fama da Guajarina, cuja produção se espalhava pelo Brasil e editava poetas conhecidos do Nordeste. Este folheto foi reproduzido na série “Cadernos de Cultura”, da Secretaria Municipal de Cultura, em 1984, quando era dirigida por João de Jesus Paes Loureiro. Autor de folhetos de grandes tiragens, como o famoso “Peleja do Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum”, Firmino escreveu este sobre o Círio em 1923, dele fazendo muitas tiragens. Mantendo, neste e nos outros, o texto original, do longo poema de Firmino apresento apenas algumas partes representativas do Círio daqueles tempos, em muito ainda semelhante ao dos dias de hoje, já que buscarei outros aspectos em outros autores:
Salve 14 de Outubro
glória de toda Belém

data da festa galante
que em nosso Brasil tem

é rica formosa e bella
toda gente que vem nella
sempre sae falando bem.

Leitores tive lembrança,
escrevo a primeira vez
este Cyrio  glorioso,
sahe a 14 do mez
adimira o  mundo inteiro
no vosso céo brasileiro
do anno de vinte e três.

Já é muito conhecida
a festa de  Nazareth
pode se julgar feliz
todos que nella tem fé,
até lá do extrangeiro
já tem vindo aqui romeiro
trazer promessas a pé.
Situado o evento, e depois de contar inúmeros milagres, o poeta apresenta o público que participa e detalhes da romaria:
Pega da classe mais tenra
a alta aristocracia
todos contemplam o vulto
da Virgem Santa Maria
desde o rico ao plebeu
ainda sendo um atheu
tem de respeitar o dia.

A virgem de Nazareth
quando sae da Cathedral
de oito p'ra nove horas
vê-se um grande festival
com respeitável cortejo
houve-se o grande festejo
que estremece a capital.

É uma festa galante
para rico e proletário
acompanha o santo andor
um eminente vigário,
com o coração genuíno
conduz o santo divino
o segredo do sacrário.

Mas depois do Círio, existiam as festas profanas, que Firmino descreveu assim:
Padre Nosso, Ave Maria
reza quem está na egreja
e cá fora nas bancadas
outros tomando cerveja
as moças apreciando
com fino cuidado olhando
para ver quem mais deseja.

Vendo alli seu bem amado
parece que está no céo
com seu olhar prazenteiro
faz aceno no chapéo
seu amor no peito arde
com esperança mais tarde
da palma, grinalda e véo.


FIRMINO TEIXEIRA DO AMARAL

Segundo o conceituado pesquisador Ribamar Lopes, na antologia Literatura de Cordel, editada pelo BNB, Firmino Teixeira do Amaral era piauiense, nascido na localidade de Bezerro Morto, então pertencente a Amarração, hoje Luís Correia-PI.Informa Veríssimo de Melo, que Firmino Teixeira do Amaral nasceu em 1896 e faleceu em 1926.

O poeta viveu boa parte de sua vida em Belém-PA, sendo um dos principais autores da Editora Guajarina, do pernambucano Francisco Lopes, uma das maiores gráficas cordelinas do passado. Tendo retornado ao Piauí, findou os seus dias na cidade de Parnaíba.

O folheto "Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum", escrito por volta de 1916, teria sido uma contribuição do poeta ao famoso Cego Aderaldo, que se encontrava doente em Belém, impossibilitado de ganhar o seu sustento. Com essa informação é reforçada a teoria de que a tal peleja - uma das mais famosas da Literatura de Cordel -, nunca ocorreu de fato, sendo pura imaginação de Firmino.

São de sua autoria as seguintes obras:

- PELEJA DE CEGO ADERALDO COM ZÉ PRETINHO DO TUCUM
- A FESTA DA BICHARADA OU O PORCO EMBRIAGADO
- A VINGANÇA DO PORCO EMBRIAGADO
- PELEJA DE CEGO ADERALDO COM JACA MOLE, PRIMO DE ZÉ PRETINHO
- O CASAMENTO DO BODE COM A RAPOSA
- BATACLAN
- HISTÓRIA DE CARLOS E ADALGISA
- A PRINCESA MAGALONA E SEU AMANTE PIERRE
- PELEJA DE JOÃO PEROBA COM O MENINO PERICÓ (QUE COM 8 ANOS DE IDADE VENCEU UM  ANTIGO CANTADOR)

- PELEJA DE CEGO ADERALDO COM FRANKALINO.

Arievaldo Viana

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