sábado, 13 de agosto de 2011

O DISCO DA SEMANA


Fonte: http://www.forroemvinil.com/ 
Colaboração de Francisco Edvaldo Silveira, de Morrinhos – CE.

Amigos que sabem da minha paixão pela boa música nordestina às vezes me perguntam qual o maior cantor de forró de todos os tempos... É uma pergunta difícil, afinal de contas nós tivemos cantores maravilhosos como Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Luiz Gonzaga, Genival Lacerda, Messias Holanda, mas sempre destaco a figura de LINDU (Lindolfo Barbosa) como um dos maiores, senão o melhor cantor de forró que o Brasil já teve em toda a sua história. E esse disco, então, é um clássico na sua discografia. Lançando em 1975, esse disco ganhou as rádios de todo o Nordeste, com destaque para a faixa título que foi uma das mais executadas. Mas tem outros clássicos neste LP... É o caso de "Por causa da Pepita", de João Gonçalves e Genival Lacerda e "Esquenta moreninha", de Assisão. Uma pedrada de forró! Um disco pra ninguém botar defeito. Veja abaixo, o texto extraído da contracapa do LP:

“Trio Nordestino (Lindú, Cobrinha e Coroné) o autêntico Trio Nordestino, batizado e elogiado por Luiz Gonzaga, o nosso querido Lua, chegou com o FORRÓ PESADO, um LP pra nordestino nenhum botar defeito. Criadores de inúmeros sucessos, o endiabrado trio segue afiadíssimo neste novo lançamento, mostrando que não está para brincadeira quando o negócio é atacar de forró.” (Texto de Edmundo Viana, extraído da contra capa)


Direção artística de Oséas Lopes, um trabalho que se destaca dentro da impecável discografia do Trio pelas participações do 7 cordas e do cavaco na mixagem. Esse é um dos melhores discos do Trio, sem demagogia, pergunto: Qual música não é muito boa?
Algumas das músicas desse LP ficaram bastante conhecidas, foram pras coletâneas, e outras ficaram esquecidas aqui no vinil e se for ‘pesar’ direitinho, elas são tão boas quanto as outras. Sendo assim, destaque para as músicas do lado B.


Trio Nordestino – Forró pesado
1975 – Copacabana



#01. Forró pesado (Assisão – Lindolfo Barbosa)
#02. Por causa da pepita (João Gonçalves – Genival Lacerda)
#03. Tinguelingue (João Silva – J. B. Aquino)
#04. Esquenta moreninha (Assisão)
#05. Apague o candieiro (João Silva – Raymundo Evangelista)
#06. Fole de ouro (Jorge de Altinho)
#07. O que é que você está fazendo ai meu bem (Don)
#08. Paguei pra você tocar (Anastácia – Dominguinhos)
#09. Sapo cururu (Jorge de Altinho – Julio Cesar)
#10. Ela pede mais (Lindolfo Barbosa)
#11. Quer casar vambora (Reivan Antonio Ceará)
#12. São João no quintal (Anastácia – Dominguinhos)

Para baixar esse disco, clique aqui.

AGOSTO, MES DO FOLCLORE



FOLCLORE
Moreira de Acopiara

Como poeta, costumo
Valorizar o folclore.
E faço aqui um resumo,
A fim de que não descore
E nem perca os seus perfumes
A flor dos nossos costumes
E das nossas tradições.
Pois o folclore é da gente,
E ele está muito presente,
E em todas as regiões.

É o balanço gostoso
De uma cheirosa fianga,
Um conto maravilhoso,
Chocalho, fueiro e canga.
É um tesouro enterrado,
É cavalhada, reisado,
Cacarejar de galinha,
Assobio, noite escura,
Engenho de rapadura
E uma casa de farinha.

Consultando alguns arquivos
Encontraremos canções,
Os falares primitivos,
Lendas e superstições,
Mais as festas populares,
As cantigas milenares,
As histórias de Trancoso,
O boiadeiro, o peão
E a fogueira de São João
Com seu fogo milagroso.

Folclore não sai de moda.
É catira, cururu,
É frevo, samba-de-roda,
Cordel e maracatu.
São noites mal-assombradas,
São aboios, são toadas,
É lamparina e pilão.
Simpatia e mau agouro,
Gibão e chapéu de couro,
É debulha de feijão.

Folclore é um velho banguela,
Cantando ao som da viola,
É rangido de cancela,
É arapuca e gaiola.
É uma esteira, uma cangalha,
Um fojo, um chapéu de palha,
Uma trempe, um caçuá...
É Boi de Mamão, é mito,
É um facão, um cambito,
Um alforje, um landuá.

É sanfoneiro e forró,
É urupema e peneira,
É paiol e caritó,
Alçapão e ratoeira.
Uma queima de coivaras,
Uma parede de varas,
Um candeeiro, um jirau,
Espingarda, bacamarte,
Bumba-meu-boi, estandarte,
Um pandeiro, um berimbau.

É uma vaca berrando
No terreiro da fazenda,
Uma novilha viçando,
E é bolandeira e moenda.
É renda e é almofada,
Folia de Reis, congada,
Ladainha e boi de carro.
É a catinga de um bode,
Carnaval, coco, pagode,
Um cocho, um prato de barro.

É corrida de cavalo,
É uma prensa, um tear,
É lundu, briga de galo,
Uma funda, um alguidar;
É calango, é calundu,
É jabá, é sururu,
É busca-pé e rojão.
É boi de osso, umbigada,
Bilro, quadrilha, jangada,
Lata d'água e cacimbão.

É uma mulher baiana
Preparando um abará.
Curupira, cruviana,
Banho de cheiro e cuchá.
É chimarrão e boré,
É Oxossi e Candomblé,
É macumba e catimbó.
É catira, cururu,
Carranca, samba, lundu,
Chula, xote e carimbó. 

É corrida de argolinha,
Pau-de-fita e tacacá;
É simpatia, lapinha,
Firo, coreto, aluá,
É boto, cobra encantada,
É garapa, garrafada,
Lobisomem e Boitatá.
Garanto que também é
Um gostoso acarajé
Com pimenta e vatapá.

É galope beira-mar,
Martelo, mote e mourão,
É serenata ao luar,
É novena e procissão.
São muitos outros sinais,
Mas, quem quiser saber mais
Sobre folclore, tem tudo
Na obra do escritor
E grande pesquisador
Luís da Câmara Cascudo.

(In O Sertão é o meu lugar)

Ilustração: JÔ OLIVEIRA (Direitos Reservados)

ATENÇÃO! Adquira a caixinha "12 CONTOS DE CAMARA CASCUDO EM FOLHETOS DE CORDEL", com textos em cordel de vários autores e folheto em prosa escrito por Marco Haurelio explicando a origem de cada conto adaptado.
Preço da CAIXA - R$ 25,00 + despesas postais.

Maiores informações:
acordacordel@ig.com.br

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A REVISTA DE LAMPIÃO

João de Sousa Lima, um dos mais brilhantes e persistentes pesquisadores da história do cangaço publicou hoje em seu blog uma matéria sobre a revista NOITE ILUSTRADA que aparece numa foto clássica de Lampião e Maria Bonita, do acervo da ABA FILM, de Fortaleza:
A NOITE ILUSTRADA:
A REVISTA DO REI DO CANGAÇO


Em uma das fotografias mais clássicas de toda a  história do cangaço, podemos ver Maria Bonita sentada acariciando os cães Ligeiro e Guarany e Lampião ao seu lado, em pé, com um jornal nas mãos. Sempre tive curiosidade em saber que revista era aquela e quem seria a mulher que aparecia na página.
Conversando com um amigo, grande pesquisador do cangaço, ele disse ser ela uma miss Brasil, informação vaga e insegura.
Quando comecei a pesquisar  sobre  o coronel João Sá, deputado constituinte da Bahia, figura  histórica da cidade de Jeremoabo e um dos maiores coiteiros do cangaço em todo território baiano, descobri na sua fazenda Espaduada  alguns documentos que teimavam em permanecer intactos mesmo estando cercados por cupins devoradores. Muita coisa havia se perdido e dentre as poucas que sobreviveram estava lá o jornal que tanto prendia minha curiosidade:  A NOITE ILUSTRADA.
Na capa não é uma miss e também não é brasileira, ela é uma modelo e no texto da capa diz o seguinte:
“ A SEREIA E SUA REDE...
ANNA EVERS EXHIBINDO UM FORMOSO MODELO PRAIANO EM SANTA MÔNICA, CALIFÓRNIA
(vide página 32)”

Na página 32 tem a foto  da modelo e podemos apreciar o texto que segue em anexo.
Na verdade Lampião não está naquele momento lendo o jornal, ele está apenas fazendo pose para ser fotografado, a foto da modelo é a capa do jornal e Lampião tem para sua visão a contracapa.
Na capa tem as informações: Director: Gil Pereira – Gerente: Vasco Lima- 27-5-1936- N. 354 – CAPITAL  400 rs.- ESTADOS  500rs.
Segundo depoimentos das cangaceiras Aristeia e Dadá as fotos feitas por Benjamin Abraão foram entre junho e julho de 1936, portanto um mês ou dois depois do lançamento do jornal que tem a data de 27 de maio de 1936.
O jornal tem 40 páginas, dezenas de excelentes fotografias e propagandas de cremes, remédios, loções e veneno para insetos.
Dentre as propagandas citadas, algumas coisas que ainda temos na atualidade, tais como: Vick Vaporub, Canetas Parker, Emulsão Scott, Leite de Colônia, Leite Condensado Marca Moça, Gillette, Pastilhas Valda, General  Eletric, Sal de Fruta ENO e Creme Dental Colgate.
Li todo o jornal e pude ter uma idéia do que circulava nas reportagens da época.
O jornal faz parte de meu acervo particular, porém servirá para quem estuda  as histórias  do Brasil, principalmente a história do nordeste  e está aqui à disposição para quem interessar possa.
Par as lentes eternas de Benjamin Abraão e  a posteridade da fotografia brasileira, repousa uma mulher que acaricia dois cachorros e uma modelo que figura em páginas hoje amareladas pelo tempo, as noticias guardadas atiçam a curiosidade de quem pesquisa, o achado alegra a visão de quem acha o que procura, o olhar enigmático nega a visão de quem lê na pose que perpetua o contexto histórico de uma simples fotografia, retratos da vida, imagens de uma época, figuras infinitas.


A capa da revista A NOITE ILUSTRADA.


Contracapa da revista que
Lampião segura na famosa fotografia.
A foto interna da modelo, na página 32

QUATRO MESES NA REDE

Hoje o blog ACORDA CORDEL completa quatro meses de atividades. Fiquei surpreso com a grande receptividade que tiveram algumas postagens ao longo de sua existência. "Folhetim global", um texto crítico sobre a novela "Cordel Encantado", da Rede Globo, continua sendo o texto mais visitado. Depois dele, vêm as oficinas de cordel, releitura do Pavão Misterioso, homenagem a Luiz Gonzaga, Mestres da Xilogravura, Mestres do Cordel e muitas outras. O cordel de Pedro Paulo Paulino sobre a morte do terrorista Osama Bin Laden também foi campeão de visitações nos meses de maio e junho. Atingimos a marca de mais de 30 mil visitas, sendo 25 mil visitantes do Brasil e os demais de outros países, com destaque para Bélgica, Estados Unidos, Portugal e Holanda. Confiram:


Visualizações de página por país
 
 
Brasil
 
 
    25.314
Bélgica
  3.130
Estados Unidos   
657
Portugal  
378
Holanda
   219
Alemanha
   85
Espanha
   42
Reino Unido 
38
França
   17
Argentina
   14

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

CORDEL É SUCESSO NO RS

Cidades como Gramado, Pelotas e Porto Alegre já se encantaram com o cordel

EDITORA CORAG e INSTITUTO SIMÕES LOPES NETO FAZEM REEDIÇÃO DE "300 ONÇAS" EM CORDEL

A Literatura de Cordel conquistou de vez o seu espaço no coração do povo amigo do Rio Grande do Sul. Ano passado, Arievaldo Viana e Jô Oliveira lançaram duas adaptações de "Contos Gauchescos", de João Simões Lopes Neto, no formato cordel ilustrado: "Melancia e Coco Verde" e "300 Onças". Foi feita uma tiragem de 10 mil exemplares para cada obra, já esgotada. Agora, a pedido do Instituto Simões Lopes Neto, o folheto "300 Onças" é reeditado, juntamente com mais dois lançamentos baseados em 'Casos de Romualdo'. São eles: "Quinta de São Romualdo" e "Romualdo entre os bugios". Em novembro, Arievaldo Viana e Jô Oliveira retornarão a Porto Alegre onde irão ministrar palestras e lançar os dois novos livretos da coleção "Simões Lopes Neto em cordel". A iniciativa tem recebido muitos elogios, inclusive de folcloristas como Paixão Côrtes e Luiz Coronel.
O presidente do Instituto Simões Lopes Neto também festejou a iniciativa nesse texto de congratulação, enviado à Editora CORAG:



"Por ocasião do relançamento da versão em cordel do conto “300 Onças” pela CORAG, o Instituto João Simões Lopes Neto não poderia deixar de expressar seu entusiasmo e seu aplauso caloroso a essa iniciativa que facilita a difusão da obra do nosso regionalista maior, através da fusão da temática pampeana com a forma ritmada do cordel. 

Sendo uma instituição voltada para a preservação, a valorização e a divulgação da memória e da obra de João Simões Lopes Neto, o IJSLN espera que além das “300 Onças” e “Melancia e Coco Verde”, continuem os autores nordestinos a nos brindar com outras adaptações da obra do Capitão da Guarda Nacional e que a CORAG continue o seu projeto de editá-las com o esmero e a competência de sempre."

Pelotas, agosto de 2011.


Antonio Carlos Mazza Leite
Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto


NOTA: Maria Helena, da Editora CORAG, passou-me uma mensagem por e-mail fazendo algumas observações sobre a matéria que acho importante reproduzir como nota desta postagem:
 
"Achei belíssima a matéria, só retifico que a iniciativa foi da Editora da Corag - Companhia Rio Grandense de Artes Gráficas - Imprensa Oficial do Estado do Rio Grande do Sul, na reedição dos Cordéis para serem distribuídos na 14ª Jornada de Literatura de Passo Fundo, na quantidade de10 mil exemplares. A Corag fez contato com o novo Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto, Dr. Antonio Carlos Mazza Leite, para informá-lo sobre o projeto e solicitou ao mesmo um texto para os cordéis."

Abraços,  Maria Helena

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

AGOSTO, MÊS DO FOLCLORE

Ilustração: JÔ OLIVEIRA

TEXTO DE MARCO HAURELIO SOBRE FOLCLORE


Folclore e identidade

Folclore não sai de moda.
É catira, cururu,
É frevo, samba-de-roda,
Baião e maracatu.
São noites mal-assombradas,
São aboios e toadas,
É lamparina e pilão.
É visagem e mau agouro,
É gibão, chapéu de couro
E debulha de feijão.

Moreira de Acopiara, cordelista cearense


A palavra folclore (em inglês folk-lore) foi empregada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846. O arqueólogo inglês Willians Johns Thoms, em artigo endereçado à revista The Atheneum, assinado sob o pseudônimo Ambrose Merton, foi o pioneiro. O termo abrangia o que Thoms entendia por “antiguidades populares”: contos, lendas, provérbios, mitos, romances, crenças, rifões superstições etc. Nesse artigo, nota-se a preocupação com o desaparecimento das tradições populares face à modernização dos costumes. A mesma apreensão já havia levado dois filólogos alemães, os irmãos Jakob e Wilhelm Grimm, a coletarem histórias e lendas do povo de seu país, reunidas posteriormente no Kinder- und Hausmärchen (Contos da criança e do lar, 1812), a mais famosa coletânea de contos populares já feita.

No Brasil, a partir dos pioneiros Celso de Magalhães (1849-1879), Couto de Magalhães (1836-1898) e Silvio Romero (1851-1914)), pesquisadores das mais diversas áreas vêm dedicando tempo e envidando esforços na tentativa de entender as manifestações da cultura espontânea. Com Cantos populares do Brasil e Contos populares do Brasil, o sergipano Silvio Romero deu o impulso necessário à pesquisa do folclore, embora seu trabalho se detivesse mais na recolha de modalidades da literatura oral do que no estudo do material. A publicação do livro O folclore, por João Ribeiro, a partir de conferências realizadas na Biblioteca Nacional em 1913, é o marco inicial dos estudos sistemáticos do folclore brasileiro.


Bumba meu boi
O folclore, além da literatura oral, abrange as festas religiosas e profanas, os folguedos, as brincadeiras infantis, as danças tradicionais, o vestuário e a culinária. No rol entram, também, as superstições e os costumes. Às vezes, se fundem texto, dança e gestual. É o caso do bumba meu boi, que, além de folguedo, é um auto popular bastante difundido, ligado ao ciclo de festas natalinas. Sua popularidade deve-se à importância que teve a pecuária no processo de colonização do País. Confunde-se com o que estudiosos classificam como ciclo do gado, a ponto de apresentar familiaridades com o conto popular O vaqueiro que não mentia. No enredo deste, a honestidade de um vaqueiro é posta à prova quando uma moça bonita o instiga a matar o boi favorito do patrão, pois deseja comer um pedaço: língua, fígado ou coração.

A origem do bumba-meu-boi remonta à mitologia da Grécia Antiga: Dionísio Zagreu, filho de Zeus e Perséfone, por instigação de Hera, foi morto, despedaçado e devorado pelos titãs. Zagreu estava, no momento de sua morte, metamorfoseado em touro. O seu coração, no entanto, foi recolhido por Atena e, devorado por Sêmele, deu origem ao segundo Dionísio, o deus do vinho. O despedaçamento ritual sobreviveu no folguedo. No Nordeste brasileiro, região de maior fixação do tema, os pedaços do boi geralmente são distribuídos entre os conhecidos de quem veste a armação representando o animal.

(...)




Nota: este artigo foi publicado originalmente na revista Páginas Abertas (Paulus) em agosto de 2010.

Íntegra em: http://marcohaurelio.blogspot.com/2011/08/folclore-e-identidade.html


ATENÇÃO!

No mês do FOLCLORE, contrate uma palestra ou oficina do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula.
Nosso principal objetivo não é formar novos poetas. É formar bons leitores e colocar alunos e professores em contato direto com esse universo encantado do cordel.



Alunos e professores participantes de uma oficina realizada em Caridade-CE


terça-feira, 9 de agosto de 2011

ADEUS A ZÉ SALDANHA



O poeta Kydelmir Dantas, em nome da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço) comunica o falecimento do poeta Zé Saldanha, ocorrido hoje em Natal-RN. Zé Saldanha era sócio fundador da SBEC e autor de mais de uma centena de folhetos de cordel. O poeta nasceu no dia 23 de fevereiro de 1918 em Santana do Matos-RN, filho do pequeno fazendeiro Francisco Saldanha da Silva e da costureira Rita Regina de Macedo Saldanha.
Zé Saldanha foi um dos poetas contemplados com uma antologia comentada pela Editora Hedra, de São Paulo, onde figuram, dentre outros, os seguintes folhetos: José Milanez - o poeta assassinado pela mão negra do destino, Mulher desprestigiada, Matuto no Carnavá, O sertão e seus cangaceiros, dentre outros.

ZÉ SALDANHA E JÔ OLIVEIRA

Meu amigo e parceiro Jô Oliveira me enviou essas fotos, onde aparece ao lado do poeta Zé Saldanha em junho de 2005. Fiz questão de fazer esse registro aqui no blog:







BAÚ DA GAIATICE

O SABUGO RECICLÁVEL
sabugo

Está a caminho a terceira edição do livro O BAÚ DA GAIATICE, pela Editora Assaré. O pré-lançamento está previsto para meados de setembro, na bienal do livro do Rio de Janeiro. Em seguida faremos um lançamento pai-d'égua aqui em Fortaleza. Aguardem. Enquanto isso, vamos degustando um aperetivo do fundo do baú, o causo "O SABUGO RECICLÁVEL":

Não há registro nos anais de nossa família, de alguém que goste mais de acumular catrevagem que a tia Filismina. Desde sofisticadas latas de biscoito vazias a cuias remendadas com barbante e cêra de abelha, não há cacareco que resista a sua cobiça. Cangalha, pote, esteira de jumento, ferro de engomar a brasa, fuso, almofada de bilros, lamparinas, urupembas, alguidás, bolandeiras e outros artefatos medievais convivem pacificamente em  sua despensa com um moderníssimo rádio ABC canarinho à válvula, comprado na Copa do Mundo de 62 pelo finado Salustiano, seu marido. É a peça mais nova de sua coleção. Seu primogênito, o Percival, herdou as manias da mãe. O rapaz vive adquirindo folhetos de cordel, discos de cêra, sela de chifre, exemplares da revista FON-FON e do Almanaque BRISTOL, uma coleção de cartuns do “Amigo da Onça” além, é claro, de radiolas 78 RPM e da obra completa do Coroné Ludugero, de quem se diz fã incondicional. Discos do Barnabé e do Velho Facêta também povoam este acervo. Este menino só pode ser fruto de um romance casual de Tia Filismina com o Nirez…
Recentemente, a tia recebeu uma carta do Procélio, seu caçula, que mora há mais de 10 anos em São Paulo. Lá todo mundo tem nome começando com a letra “P”: Praxédi, Policarpo, Ponciano, etc. Junto à missiva uma passagem via ITAPEMIRIM, sem baldeação, para tia passar o natal e o ano novo na terra dos bandeirantes.
Na bagagem da velha, que por sinal fez escala lá por casa antes do embarque, havia de um tudo! A noite que antecedeu a viagem foi uma comédia. Com a ansiedade própria de quem vai viajar, tia Filismina não dormiu. Passou a noite inteira remexendo as bagagens.
Mamãe, curiosa como 99,9% das mulheres, foi bisbilhotar a bagagem da velha usando para tanto o velho pretexto da “ajuda” (aquela que não é mulher do Judas, mas vem a calhar em circunstâncias como esta). Havia de tudo: garrafa de manteiga da terra, queijo de coalho, mel de jandaíra, uma “imbiricica” de preá salgado, três dúzias de avoantes (alô, IBAMA!) e, pasmem: UM SACO CHEIO DE SABUGOS!!!
Indagada acerca da utilidade de tão curiosos acessórios, a velha foi taxativa:
— Minha fia, eu morro e num me acostumo com exi tal de papé higiêni… o bom do sabugo são as muitas serventias: limpa, coça e dá o penteado!!! 

(In “O baú da gaiatice”, de Arievaldo Viana – Editora Varal, 1999)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CORDÉIS DE JANDUHI DANTAS

POETA PARAIBANO LANÇA DOIS NOVOS TÍTULOS



Minha avó costumava dizer que quando Deus nos fecha uma porta, Nossa Senhora nos abre uma janela. Na sua visão simples de mulher sertaneja, temente à Deus e devota de Nossa Senhora (jamais deixou de rezar uma novena em devoção à Virgem Maria no mês de maio), vovó queria mostrar com isso que a Providência Divina jamais desampara aqueles que rezam com fé e confiam na graça de Deus. Sobretudo aqueles que sabem dar amor aos seus semelhantes e procuram, de alguma maneira, ajudar o seu próximo.
Ao ler o cordel “As três verdades de Deus”, belíssima adaptação que o poeta paraibano Janduhi Dantas fez de um conto do escritor russo León Tolstoy reencontrei essa sábia verdade que minha avó costumava dizer. A Providência Divina age no tempo certo e não desampara aqueles que entregam a sua vida nas mãos do Senhor.
Janduhi Dantas, poeta competente e sensível, soube transpor as palavras do grande escritor russo para a linguagem do cordel, sem descaracterizá-lo e sem antecipar a grande surpresa que o leitor terá no final. Mesmo quem já conhece o conto de Tolstoy haverá de se comover com a bela narrativa do poeta paraibano, a quem mando publicamente os meus parabéns.

O cordelista já havia dado provas de seu talento ao fazer uma versão da Gramática em cordel e também saiu-se muito bem ao recontar a história da Revolta de Princesa num belo folheto de 42 páginas, formato um pouco maior que o tradicional e capa e miolo em papéis de boa qualidade. São lançamentos imperdíveis para os amantes da verdadeira Literatura de Cordel. Numa época em que se publica tanta asneira com esse pomposo rótulo, poetas como Janduhi são sempre bem vindos e uma prova evidente de que o verdadeiro cordel ainda resiste.

Arievaldo Viana

MESTRES DO CORDEL

LUIZ CAMPOS (MOSSORÓ-RN)

Luiz Campos em caricatura de Tulio Ratto (revista Papangu)

Em 2007 eu tive a honra de ilustrar e criar o projeto gráfico do livro "Nos Campos da Poesia" de Luiz Campos (Mossoró-RN), repentista renomado e cordelista inspirado, autor de diversos folhetos, dentre os quais os poemas matutos "Carta a Papai Noel" e "Me enganei com minha noiva". Eis o texto que produzi para orelha do livro de Luiz Campos:

O RISO E O DRAMA,
NOS CAMPOS DE LUIZ



O trovadorismo popular é uma frondosa árvore de muitos ramos, cujas raízes estão infiltradas no coração do povo. A cantoria, a literatura de cordel, a poesia matuta, a embolada, a canção, a glosa, o repente, a “incelença”, as cantigas de eito, o aboio do vaqueiro, o coco de improviso são galhos distintos que brotam desse tronco milenar. Luiz Campos, um dos maiores nomes da poesia potiguar, transita com facilidade em vários desses ramos. Na cantoria, é o repentista ágil e espirituoso que já semeou verdadeiras pérolas, para deleite das platéias e admiração dos folcloristas, pesquisadores e apologistas da arte do improviso. Também glosa com desenvoltura, com ou sem viola, qualquer tema que lhe for apresentado. Produz canções de alto nível poético e melódico e tem dezenas de folhetos de cordel já publicados. Mas é o poeta matuto, autor de “Me enganei com minha noiva” e “Carta a Papai Noel” que mais se destaca, conquistando a simpatia do público e dos maiores declamadores da atualidade. Amazan, Chico Pedrosa, Daudeth Bandeira, Jessier Quirino, Dedé Monteiro, Moreira de Acopiara – só para citar alguns – todos admiram e fazem reverências ao velho mestre de Mossoró.
Humorista de verve apurada, crítico social e filósofo por intuição. Seus poemas contém gracejo e irreverência, mas não esquecem de uma forte dose dramática e, na maioria das vezes, tornam-se uma sátira impiedosa aos costumes de hoje. Como Charles Chaplin, Luiz Campos conhece bem a receita e sabe misturar, na dose certa, o riso e o pranto. É isso que o torna um mestre no ofício de poetar, um nome que, seguramente, já figura no mesmo panteão de Catulo da Paixão Cearense, Zé da Luz e Patativa do Assaré.
O poeta Gustavo Luz e a Editora Queima-Bucha prestam uma grande homenagem ao velho bardo, trazendo à lume essa edição de “Nos Campos da Poesia”. Eu, discípulo e amigo de Luiz, que tantas vezes já visitei sua casinha no bairro de Lagoa do Mato, sequioso por beber as suas palavras plenas de graça e sabedoria, dedico-lhe com carinho e reverência essa setilha:

Tem cheiro de mato verde
Tem a luz dos pirilampos
Trovão do mês de janeiro
Cerca sem farpa e sem grampos
Os raios do sol nascente
Tudo isso está presente
Nos versos de LUIZ CAMPOS.

Pois é... Já falamos tanto de Luiz, que, como diz o povão, é melhor parar por aqui, antes que suas orelhas esquentem.


Arievaldo Viana
(Poeta popular, criador do Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula)

A caixa com "12 contos de Cascudo em Cordel" e o livro
de Luiz Campos foram dois grandes lançamentos da editora
Queima-Bucha, em 2007.


Luiz de Oliveira Campos é mossoroense e desde que nasceu reside no mesmo endereço, na Lagoa do Mato. Avenida Rio Branco, bairro Lagoa do Mato, casa de número 2886. Neste endereço mora uma relíquia da cultura popular de Mossoró. É lá que reside o poeta, escritor e repentista Luiz Campos, 66 anos, um dos mais importantes representantes da poesia popular nordestina e um exemplo de determinação, superação e amor ao cordel.

domingo, 7 de agosto de 2011

AINDA O GONZAGÃO

Antes de usar chapéu de couro e gibão, Luiz Gonzaga, por
imposição da Rádio Nacional, era obrigado a se apresentar de smoking

O ENCONTRO DO POETA PEDRO PAULO PAULINO COM O ETERNO REI DO BAIÃO

Por: Pedro Paulo Paulino

Sempre fui ouvinte de rádio, de preferência AM. O rádio sempre esteve presente no meu dia a dia. Mesmo com a profusão de músicas disponíveis hoje na internet, meu prazer é maior quando ouço no rádio uma música de minha preferência, principalmente Luiz Gonzaga. Parece exagero, mas devia ser obrigatório toda emissora do Nordeste tocar pelo menos uma vez ao dia qualquer coisa do Gonzagão. Embora sem essa obrigatoriedade, felizmente ainda se escuta muito o Rei do Baião no rádio.
Este comentário vem a propósito da data de hoje, quando completa 22 anos da morte de Luiz Gonzaga. Naquele dois de agosto de 1989, a música popular brasileira vestia-se de um luto profundo pela perca do maior talento representativo do Nordeste. E já se passaram 22 anos! Arievaldo, que, pelo menos pessoalmente, é o maior discófilo e pesquisador de Luiz Gonzaga que eu conheço, lembra que 22 anos também foi uma etapa importante na vida de Luiz Gonzaga. Com essa idade, ele estava em São João Del Rey, no Exércico Brasileiro. E por esse período também recebia aulas de acordeon.
Tudo já se disse de Luiz Gonzaga. O repertório de metáforas e comparações em torno do seu nome parece ter-se exaurido até a última gota. Não estou aqui para criar nenhum novo epíteto para designá-lo, até porque estou certo que seu título mais justo é mesmo o de “Rei do Baião”. Entretanto, aliada ao talento, sempre vi na coragem outro dos dons natos do velho “Lua”. Imagine um sanfoneiro nordestino no Rio de Janeiro dos anos 40, onde a música predominante tinha toda uma influência europeia. As vozes que se ouviam eram as dos já consagrados Orlando Silva, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Francisco Alves e outros. Gonzagão cavou seu espaço e, corajosamente, impôs seu ritmo e, aos poucos, a sua voz. Dos cabarés da lapa, migrou para os salões requintados e tornou-se astro na RCA, a maior gravadora daquela época. Em nada ele negou sua origem nordestina, dos sertões de Pernambuco: no modo de falar, notadamente. O detalhe, porém, mais fantástico de Luiz Gonzaga foi o seu característico chapéu de couro, complementado pelo gibão, à moda de um vaqueiro bravio nos meios mais chiques do Sudeste, ou mesmo um cangaceiro que trocara o rifle pela sanfona.
Luiz Gonzaga foi um monstro, um mestre no rastro do qual uma legião de artistas conseguiu brilhar e galgar fama. Eu guardo na memória uma imagem da minha meninice, como se guarda um joia preciosa a quatro chaves. Esta cena está gravada na minha mente, como um quadro adorado fixadado na parede do cômodo mais nobre e íntimo da casa. Foi num dia qualquer do começo dos anos 80. Eu estava na bodeguinha do meu pai, à beira da estrada na Vila Campos, quando em frente estacionou um automóvel e dele desceram dois homens. O primeiro adentrou o pequeno salão e, ao dar bom dia, logo um cidadão que estava sentado indagou:
- Que mal pergunte, o sr. é o Luiz Gonzaga? Ele respondeu:
- Seu criado.
Pronto, ali estava, em carne e osso, o “Rei do Baião”, na sua suprema simplicidade, tomando café e comendo bolo junto ao balcão do meu pai. Num átimo, uma vistosa roda de pessoas achegou-se para vê-lo. A meninada de um colégio próximo abandonou a sala de aula e correu para ver de perto o Gonzagão, descaracterizado sem a sua indumentária de vaqueiro. Ele abraçou a todos, conversou com roceiros, indagou do inverno, perguntou sobre o lugar e qual o santo do nosso povo… Meu pai, com quem aprendi a gostar mais do Gonzagão, parecia não acretidar que ali, no seu estabelecimento, estava o dono daquela voz que ele tanto escutava no rádio. De mim, parecia que sonhava. Luiz Gonzaga admirou um velho banco de aroeira que havia no salão, já polido pelo uso. E, ao pedir um palito de dente, meu pai, para provocá-lo, partiu o palito em dois e deu uma ponta ao motorista e a outra ao Luiz Gonzaga. Ele pegou o pedaço de palito e exclamou, com riso irônico: “Cearense, sempre fazendo economia…” Em compensação, meu pai não aceitou o pagamento da despesa. A parte detrás do seu carro estava pendurada de peso: era o porta-malas cheio de LPs. Depois de uma meia-hora de prosa, Gonzagão despediu-se e partiu rumo aos Inhamuns.
Foi assim, por obra do acaso, que vi na minha frente o grande astro que sempre adorei desde criança. E por conta disso, passei a me sentir um dos cristãos mais privilegiados deste mundo. E com razão.

Segundo Pedro Paulo, esse era o disco que Luiz Gonzaga estava divulgando por ocasião do encontro. Trata-se do excelente LP "A festa", onde se encontra a belíssima canção 'Ranchinho de Páia"