sábado, 30 de abril de 2011

FUMO DE JUMENTO...

... NO DIA DO CASAMENTO



APRESENTAMOS O GENIAL
ZÉ RAIMUNDO DO APUIARÉS

FUMO DE JUMENTO

O nosso homenageado de hoje é o saudoso poeta e forrozeiro Zé Raimundo de Apuiarés, falecido num acidente de moto há poucos anos, figura popular em todo o Estado, com vários discos gravados, dentre os quais o antológico Festa de Casamento onde se verifica o irreverente refrão “fumo de jumento, no dia do casamento”. Paulo Oliveira, radialista da Verdes Mares AM, era um dos poucos que tocavam essa pérola irreverente em seu programa.

Nos idos da década de 70 do século recém-findo, a dupla de violeiros Zé Maria de Fortaleza e Benoni Conrado (cearense de Maranguape), esteve na residência do poeta fazendo uma cantoria. O anfitrião, autor de tiradas à altura de Zé Limeira e José Mota Pinheiro, deu “uma canja” cantando com os dois convidados.

Benoni Conrado, dono de linguagem correta e rebuscada, lembrou-se de uma sextilha da autoria do potiguar Chico Borges e resolveu testar os conhecimentos de Zé Raimundo. Os últimos versos diziam mais ou menos assim:

..................
Vi o braço da balança
De Roberval Quintezi
Pesando corpos orgânicos
À base de Galvani.

Zé Raimundo pegou na deixa e sapecou esse trocadalho do carilho, no qual compara o movimento da vara do pescador com o grau de excitação do órgão sexual masculino:


   Mas nunca viu o que eu vi
No açude do Choró
Uma negrota de “cóca”
Ensaboando o cocó
E um véi pescando perto
Dando soco no cipó!”


A esposa do poeta, rodeada de quase uma dezena de meninos, ouvia atentamente a cantoria. Zé Maria, pabulando-se de seu sucesso com as criaturas do chamado sexo frágil, quis abarcar o mundo com as pernas, numa estrofe que terminava dessa forma:

........................
Se eu pudesse amaria
Todas mulheres do mundo!

Eis a tirada genial de Zé Raimundo, que possuía um jipe velho estacionado no pátio da fazenda:

   E eu sou é Zé Raimundo
Da raça namoradeira
Comecei amar domingo
Casei na segunda-feira
Comprei esse jipe velho
Só pra carregar parteira.”

A música “Noite Caipora”, do seu disco mais recente, também é um verdadeiro achado. Vejamos:

NOITE CAIPORA

   Eu já sofri numa noite caipora
Um dia fora de hora
Num forró do Trapiá
Bem que disseram
Que tinha bicho no “triango”
Mas eu tinha salgado o frango
E não temo a me encontrar
Com bicho “hidrófe”
Que já venha doido da furna
Em qualquer hora noturna
Eu não temo me encontrar...
Foi só o que deu,
Foi só o que deu:
Tinha um bicho no “triango”
E partiu pra me pegar.
Não uso arma, nem revólver, nem punhal
Mas dei de garra dum pau
E foi o jeito brigar...
Cacete nele! Cacete nele!
Cacete nele! Quando eu fui olhar direito
Era um tamanduá.
Língua comprida, venta fina, couro duro
E ainda era escuro, não sei se era velho ou novo.
Quando eu pensei, que o bicho tinha morrido
A praga ainda deu-me um chega
E eu passei-lhe o pau de novo!
Cacete nele! Cacete nele!
Cacete nele! Quando fui olhar direito
Era um tamanduá.”

Também atribui-se a Zé Raimundo (o que não conseguimos apurar se é verdadeiro) a autoria de uma sextilha onde ele tenta descrever seis coisas que uma pessoa não deve realizar. Depois do segundo verso, o poeta percebeu que uma sextilha é pequena demais para tanto, então saiu-se de forma magistral:

  Há seis coisas nesse mundo
Que não se deve fazer...
As três primeiras não digo,
Que é pra ninguém aprender,
E as outras três, também não,
Porque não quero dizer.”




Fonte: FORRÓ TEM QUE SER COLADINHO


Musicas
01 – Não tire a calcinha
02 – Noite caipora
03 – Conheça o forró de zé raimundo
04 – Forró do mole mole
05 – Volks no prego
06 – Dezenove palavras
07 – Promessa no canindé
08 – Xote da maricota
09 – Olha o tamanho desse pau
10 – Me amarrei neste casamento
11 – Xamego da viola
12 – Segura o coco
LINK PARA BAIXAR - 



sexta-feira, 29 de abril de 2011

FOLHETO REPORTAGEM


O "folheto-reportagem" continua sendo uma das funções da Literatura de Cordel. Vejamos esse trabalho de um poeta pernambucano sobre a TRAGÉDIA DO RIO  DE JANEIRO, que abalou todo o país...

O MASSACRE DE REALENGO
Autor: Ernando Carvalho

(Trechos)

Caro leitor me perdoe
Esta minha ousadia
De lembrar para você
Certas cenas de agonia
Pois estou muito chocado
Com esse fato passado
Lá no Rio, outro dia.

Nunca pensei que um dia
Iria fazer cordel
Lhe digo sinceramente
Pra registrar no papel
Um fato tão horroroso,
Tão triste, tão vergonhoso,
Tão estranho e tão cruel.

Foi na Tasso da Silveira
Escola municipal
Lá no Rio de Janeiro
Oeste da capital
No bairro do Realengo
Que um perverso monstrengo
Praticou tamanho mal.

Um rapaz bem parecido
Ex-aluno da escola
Conduzindo duas armas
Dentro de uma sacola
Sem suspeitas despertar
Adentrou-se no lugar
Pra fazer uma degola.

Conduzindo dois revólveres
E bastante munição
Não teve dificuldades
De passar pelo portão
O sinistro visitante
Dizendo ser palestrante
Para cumprir a missão.

Nunca se viu no Brasil
Coisa tão horripilante
Um maluco desvairado
Sair matando estudante
Sem qualquer motivação
Num centro de educação
Como se fora assaltante.

O nome desse sujeito
Eu vou logo lhe dizendo
Para ficar na memória
E para ficar sabendo
Dessa monstruosidade
Desse poço de maldade
Deste crime tão horrendo.

Foi Wellington Menezes
De Oliveira o autor
Desse crime monstruoso
Que espalhou tanto terror
Naquele lugar sagrado
Normalmente destinado
A propagar o amor.

A mente degenerada
Daquele infeliz rapaz
Provocou sangrenta dor
Naquele lugar de paz
Provocando correria
Muita dor e agonia
Com sua ira voraz.

No meio da confusão
Eis que um policial
Chamado por um menino
Ligeiro chega ao local
Mostrando rara bravura
E pontaria segura
Pra ferir o marginal.

Quando se vê ferido
Sem forças pra prosseguir
Na subida das escadas
Pra onde queria ir
Decide então se matar
E na cabeça atirar
Para a vida extinguir.

O verdugo sanguinário
Resolvendo se matar
Pelo menos de um problema
Ele pôde nos livrar
Porque se vivo ficasse
Quem sabe talvez voltasse
Outro crime praticar.

"Rio de Sangue e de Lágrimas"
Estampou certo jornal
Na manchete do massacre
Da edição matinal
Com as fotos coloridas
De criancinhas feridas
Por armas do marginal.

Criaturas inocentes
Implorando por clemência
Vagando nos corredores
Fugindo da violência
A televisão mostrou
E o Brasil todo chorou
Diante dessa ocorrência.

(...)

Por Ernando Carvalho - Recife - Abril/2011
Contato com o Autor: Ernando Alves de Carvalho

Av. Agamenon Magalhães, 129 - Aptº 1201

Torreão - Recife - PE - CEP: 52030-210

Telefone: (0xx81) 3241.5650

 Fonte: http://www.onordeste.com/  (Jornalista Ivan Maurício)

CASAMENTO REAL EM CORDEL


CASAMENTOS REAIS NA LITERATURA DE CORDEL
A UNIÃO ENTRE NOBRES E PLEBEUS

A vida imita a arte... Hoje a mídia do mundo inteiro concentrou sua atenção no casamento do Príncipe Willian, da Inglaterra, com a ex-plebéia Kate Middleton, hoje duquesa de Cambridge.
O casamento de plebeus e plebéias com pessoas da realeza sempre povoou o imaginário dos poetas populares, afinal de contas também é freqüente nos Contos de Fada, cujo exemplo maior é a Gata Borralheira. Eu, que sempre gostei de manter a tradição dos velhos mestres do cordel, também utilizo esses elementos em pelo menos dois folhetos de minha autoria. O primeiro deles é “O castigo da inveja ou o filho do pescador” onde um sultão de meia-idade casa-se com uma bela cigana. Logo na abertura se lê o seguinte:

Na Pérsia, antigamente
Havia um velho sultão
Chamava-se Abul Jamil
Homem de bom coração
Contudo não se livrou
De uma grande traição

Abul Jamil já idoso
Não havia se casado
Na sua lida diária
Vivia atarefado
Despachando no  palácio
E cuidando de um roçado.

(E por quê de um roçado
Não pode um Sultão cuidar?
Acho que não é pecado
Homem rico trabalhar
Defeito grande é preguiça
Por isso vamos plantar...)

Apesar de muito rico
Abul não vivia bem,
Não tinha a maior riqueza
Que na terra um homem tem
No palácio de Abul
Não existia um harém...

Abul quando completou
Cinqüenta anos de idade
Achou que ter um herdeiro
Era uma necessidade
Desejava uma Odalisca
Para amá-la de verdade

Numa certa ocasião
No palácio de Abul
Apareceu uma cigana
De olhar meigo e taful
Abul Jamil quase morre
Vendo aquele mar azul

Que essa estória de Sultão
Só se casar com princesa
Legítima de sangue azul
Para prezar a nobreza
É uma coisa muito chata
Desvaloriza a pobreza.

Ficou logo apaixonado
Mandou ler a sua mão
Esmeralda, a sedutora
Nesta dita ocasião
Viu logo que Abul Jamil
Lhe entregara o coração.



Este folheto será reeditado em breve pela Editora Luzeiro, de São Paulo, com capa colorida, como já é costume desde a década de 1950. Outro texto, inspirado num conto dos Irmãos Grimm, é “João Bocó e o ganso de ouro”, a típica história do rapaz pobre que casa-se com uma princesa ajudado por forças misteriosas:

João levou o barquinho
Então o rei orgulhoso,
Percebeu que João Bocó
Era muito astucioso,
Devia ter o auxílio
De um mágico poderoso.

Então resolveu fazer
Seu casamento, afinal,
A princesa sorridente
Em seu traje nupcial,
Abraçou João e foram
Casar numa catedral.

Houve festa mais de um mês
E até os pais de João
Sabendo da novidade
Foram lá pedir perdão,
João beijou seus genitores
E abraçou cada irmão.

E a princesinha contente
Não parava de sorrir
Tudo que João fazia
Servia pra divertir
Casal feliz como aquele
É bem difícil existir.

O certo é que enquanto houver sonho, imaginação e encantamento, os casamentos reais entre nobres e plebeus continuará povoando o imaginário popular.

Arievaldo Viana

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PELEJA DE PINTO COM MILANÊS

MESTRES DO CORDEL – II

SEVERINO MILANÊS DA SILVA

Um dos poetas que eu mais lia e gostava na minha infância era Severino Milanês da Silva. Li a sua célebre peleja com Severino Pinto (totalmente escrita por Milanês), li "O príncipe do Barro Branco", "Romance das 3 princesas encantadas", "O príncipe Guidon e o Cisne Branco", enfim, sempre fui admirador desse vate sertanejo pela riqueza de imagens que utiliza na descrição dos cenários e dos personagens. Não era muito cuidadoso com a geografia nem com a história. Frequentemente usava da "licença poética" para compor seus romances, que às vezes beiram o surrealismo. Deve ter sido leitor assíduo do livro "O mártir do Gólgota", do espanhol Enrique Pérez Scrich, pois frequentemente fala da Palestina com a mesma graça e beleza... Confesso que quando vi as primeiras fotos da terra de Nosso Senhor Jesus Cristo fiquei deveras decepcionado, pois na descrição de Scrich e Milanês é o cenário mais bonito do mundo:

O Reino do Barro Branco
É detrás de uma colina
Cercado por quatro rios
De água potável e fina
Fica nos confins da Ásia
Bem perto da Palestina.

O Príncipe do Barro Branco, por ser um dos clássicos mais
procurados da Literatura de Cordel, foi reescrito por
Manoel Pereira Sobrinho, para editora Prelúdio, de São Paulo

Hoje resolvi prestar uma homenagem ao grande Milanês. Para tanto, iremos reproduzir a sua biografia, escrita por Roberto Benjamin e parte da "Peleja de Severino Pinto com Severino Milanês".

A.V.
BIOGRAFIA
Por Roberto Benjamin

Severino Milanês da Silva, pernambucano de Bezerros (18 de maio de 1906 - Vitória de Santo Antão, 1956/1967) tanto era bom no improviso da cantoria, quanto nos romances, e  alguns deles ficaram imortalizados na memória popular, visto sua predileção pelas histórias de amor e de príncipes e princesas de reinos imaginários.
Entre suas obras estão o Romance do príncipe Guidon e o cisne branco; Gilvan e Ricardina no Reino das Violetas, O príncipe do Barro Branco e a princesa do Reino do Va- Não-Torna; As três princesas encantadas; História do príncipe do Limo Verde e a princesa Ivanete etc.
Nesse ponto, teve influência direta de Leandro Gomes de Barros, herdeiro e recriador do acervo tradicional europeu, que nos chegou da Península Ibérica pela voz dos colonizadores.
Sua produção é bastante diversificada. É autor do Forte Pernambucano, escrito na década de 40, um marco, gênero de poema mais longo realizado pelos poetas de gabinete, isto é, por aqueles que só escreviam e em geral não eram cantadores, ampliando ainda mais seu campo de ação, já que possuía fama de grande repentista e glosador.
Arsenal de guerra
Átila de Almeida e José Alves Sobrinho, organizadores do volume Marcos e vantagens 1 - Romanceiro popular nordestino, afirmam que Milanez teria se referido nesse poema a uma aparelhagem bélica utilizada na Segunda Guerra Mundial.
Apesar dessa atualidade cronológica, do ponto de vista da forma, Milanez ateve-se aos mesmos princípios adotados por seus predecessores na feitura do marco: construir um arsenal de guerra para vencer o rival, cantador como ele, que ousasse se aproximar da obra feita, e que aparece nos versos sob a forma de castelos, fortificações, muralhas etc.
Além disso, consagrou-se no gosto popular com a Peleja de Pinto com Milanez, travada entre ele e outro poeta igual na sina e no nome Severino Lourenço da Silva Pinto, mais conhecido como Pinto do Monteiro, sua ribeira natal e que se tornou peça obrigatória do repertório de qualquer repentista nordestino daí pra frente.
Na Antologia ilustrada dos cantadores, Otacílio Batista e Francisco Linhares referem-se a Monteiro como um gênio do improviso. Mas o duelo não teve vencedores, porque Milanez também compartilhava a mesma fama.

Outras obras de Severino Milanês:
  • Estória de Rosa e Maximiano;
  • História de dois amigos – Joãozinho e Nequinho;
  • História de Ubirajara e o índio Pojucan;
  • História de Valentão do mundo;
  • Romance de Noêmia e Luís;
  • Romance do príncipe Guidon e o cisne branco;
  • Romance de Amédio e Lucinda;
  • O valor do dinheiro e a beleza da mulher;
  • O rapaz que mamou na onça.


Referências bibliográficas
▪ ALMEIDA, Átila; ALVES SOBRINHO, José. Marcos e vantagens 1: Romanceiro popular nordestino. Campina Grande: Universidade Federal da Paraíba/Universidade do Nordeste,1981.
▪ BATISTA, Otacílio; LINHARES, Francisco. Antologia ilustrada dos cantadores. Edição da Universidade Federal do Ceará, 1982.
▪ BAPTISTA, Francisco Chagas. Cantadores e poetas populares. Paraíba: F.C. Baptista Irmão, 1929.
▪ ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Verbete Pinto de Monteiro. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002.

Folheto editado em Juazeiro do Norte-CE, na Tipografia São Francisco

TRECHOS DA PELEJA COM SEVERINO PINTO

Peleja de Pinto com Milanês
Autor: Severino Milanês da Silva

Milanês estava cantando
em vitória de Santo Antão
chegou Severino Pinto
nessa mesma ocasião
em casa de um marchante
travaram uma discussão.

M - Pinto, você veio aqui
se acabar no desespero
eu quero cortar-lhe a crista
desmantelar seu poleiro
aonde tem galo velho
pinto não canta em terreiro

P - mas comigo é diferente
eu sou um pinto graúdo
arranco esporão de galo
ele corre e fica mudo
deixa as galinhas sem dono
eu tomo conta de tudo

M - Para um pinto é bastante
um banho de água quente
um gavião na cabeça
uma raposa na frente
um maracajá atrás
não há pinto que agüente

P - Da raposa eu tiro o couro
de mim não se aproxima
o maracajá se esconde
o gavião desanima
do dono faço poleiro
durmo, canto e choco em cima.

M - Pinto, cantador de fora
aqui não terá partido
tem que ser obediente
cortês e bem resumido
ou rende-me obediência
ou então é destruído

P - Meu passeio nesta terra
foi acabar sua fama
derribar a sua casa
quebrar-lhe as varas da cama
deixar os cacos na rua
você dormindo na lama

M - Quando vier se confessar
deixe em casa uma quantia
encomende o ataúde
e avise a feguezia
que é para ouvir a sua
missa do sétimo dia

P - Ainda eu estando doente
com uma asa quebrada
o bico todo rombudo
e a titela pelada
aonde eu estiver cantando
você não torna chegada

M - O pinto que eu pegar
pélo logo e não prometo
vindo grande sai pequeno
chegando branco sai preto
sendo de aço eu envergo
sendo de ferro eu derreto

P - No dia que eu tenho raiva
o vento sente um cansaço
o dia perde a beleza
a lua perde o espaço
o sol transforma-se em gelo
cai de pedaço em pedaço

M - No dia que dou um grito
estremece o ocidente
o globo fica parado
o fruto não dá semente
a terra foge do eixo
o sol deixa de ser quente

P - Eu sou um pinto de raça
o bico é como marreta
onde bate quebra osso
sai felpa que dá palheta
abre buraco na carne
que dá pra fazer gaveta

M - Eu pego um pinto de raça
e amolo uma faquinha
faço um trabalho com ele
depois pesponto com linha
ele vivendo cem anos
não vai perto de galinha

(...)

- Severino Milanês,  Peleja de Pinto com Milanês
 
História de Valentão do Mundo

(Trechos)

Valentão do Mundo é
Conhecido na história
Venceu e não foi vencido
Guardou consigo esta glória
Em toda luta trazia
O triunfo da vitória.

(...)

Valentão do Mundo um dia
Deixou a camaradagem
Para caçar numa serra
Arrumou sua bagagem
Muniu-se de boas armas
Seguiu a sua viagem.

Muitos dias viajou
Quando chegou numa fonte
Sentou-se pra descansar
Contemplou o horizonte
Sorriu em ver as belezas
Do panorama do monte.

O vento embalava as árvores
Os passarinhos trinavam
A brisa açoitava a relva
E as abelhas sugavam
E as flores das baunilhas
Os seus prados perfumavam.

As folhas se agitavam
Os rochedos estremeciam
As cobras soltavam silvos
E as panteras se erguiam
Os cedros baixavam os ramos
E os leões bravos rugiam.

As águas se deslizavam
Na queda das cachoeiras
As serpentes furiosas
Pulavam nas ribanceiras
Os tufões baixavam fortes
Na folhagem das palmeiras.

Tinha desenho nas pedras
Que parecia turquesa
Rochedos escarpados e lindos
Feitos pela natureza
Igual a praça de guerra
Da mais alta realeza.

Então Valentão do Mundo
Com isto não se importava
Nem o coração batia
Nem o sangue lhe faltava
Nem a matéria tremia
Nem isto lhe amedrontava.

(...)

Contracapa do folheto 'Peleja de Severino Pinto com Severino Milanês'