quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

CORDELTECA EM BRASÍLIA


O xilogravador Valdério Costa e o poeta e pesquisador cearense
Arievaldo Vianna participam da inauguração da CORDELTECA
JOÃO MELCHÍADES FERREIRA DA SILVA, em Brasília.


Cordelteca João Melchíades, na Casa do Cantador, 
será inaugurada no dia 11/12


Espaço terá painel homenageando artista paraibano e acervo de 1200 obras com catalogação eletrônica


Valdério Costa

O artista plástico Valdério Costa começou a levar pincéis e tinta para a Casa do Cantador hoje (3). Vai criar um painel de 4 x 2,5 metros quadrados a fim de dizer ao mundo que Ceilândia é Nordeste e vice-versa.
O painel pretende representar vaqueiro ladeado por pavão misterioso, referências a romance de cordel (1923) do paraibano João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933), patrono do espaço. “É uma doação minha, por eu fazer parte deste do universo da literatura de cordel”, explica.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), responsável pelo equipamento, vai inaugurar no dia 11 às 10h uma cordelteca (biblioteca de cordéis) no Cantador e, com isso, dar um centro de referência para o gênero de arte no DF. Graduado em Artes Plásticas pela UnB, também poeta, escritor e ilustrador, Valdério inspira-se nas xilogravuras características do cordel para fazer suas pinturas.


O professor de língua portuguesa e membro do coletivo Cordel Malungada, Sabiá Canuto, integrante de uma nova geração de cordelistas no DF, explica que seu grupo “vê o cordel hoje como a mesma força da tradição original que, numa linguagem poética rígida e calçada na oralidade, aborda uma infinidade de temas do cotidiano e históricos”.

Canuto, que apresenta o trabalho do grupo no Instagram, acredita na capacidade do cordel de dialogar com as novas tecnologias, “pois existem diversas plataformas digitais que divulgam e disponibilizam cordéis para leitura gratuita, além de muitas delas trazerem informações históricas sobre cordelistas”, diz ele.


Casa do Cantador, em Brasília-DF

Sobre a cordelteca na Casa do Cantador, ele entende que será “uma ótima referência” para pessoas que desejam pesquisar e conhecer mais sobre essa literatura. “Estamos entusiasmados também com o atual [2018] registro do cordel pelo IPHAN como patrimônio imaterial. Fazemos parte desta história”.

O subsecretário do Patrimônio Cultural (Supac), Demétrio Carneiro Oliveira, destaca na inauguração da cordelteca a reafirmação da Casa do Cantador como referência para a cultura nordestina, a volta às raízes representadas pelo cordel e, ao mesmo tempo, a renovação da arte pela presença da nova geração de cordelistas. 

A gerente de acervos da Supac, Aline Ferrari de Freitas, explica que a cordelteca é fruto de um esforço coletivo, contando com doações e trabalhos voluntários. O acervo de 1200 títulos cresceu com as aquisições feitas por anônimos, por cordelistas de Guarabira (PB), do Instituto Ricardo Brennand (PE) e da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (RJ). 

As janelas da Casa do Cantador receberam película de proteção contra luz solar e calor, e o espaço ganhou decoração temática, com tapetes, almofadas e adesivos em padrões de xilogravuras estamparão as paredes.
Os cordéis, peças delicadas, serão dispostos dois a dois em pastas adaptadas. Estas vão ser acondicionadas em caixas doadas pela Mala do Livro, programa da Secec para divulgação da leitura. Por fim, o arranjo será catalogado no sistema integrado de bibliotecas do Distrito Federal e os cordéis poderão ser localizados digitalmente.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

ADEUS AO POETA


Escritor Paulo Nunes, de João Pessoa, morre neste domingo em Anápolis–GO


Poeta, repentista e cordelista, era bacharel em Direito e jornalista por profissão.

Por Walter Santos | Portal WSCOM

O escritor Paulo Nunes Batista, natural de João Pessoa, morreu na manhã deste domingo, 1° de dezembro, aos 95 anos de idade. Poeta, repentista e cordelista, era bacharel em Direito e jornalista por profissão.
Trabalhou como vendedor ambulante de folhetos de cordel e livros.Conquistou vários prêmios literários.
É citado na enciclopédia Delta Larousse. Teve poemas traduzidos para o espanhol, inglês e japonês e mais de dez livros publicados.
ORIGEM – Natural de João Pessoa, filho do poeta e editor Chagas Batista (foto), um dos pioneiros da Literatura de Cordel, Paulo Nunes Batista deixou a Paraíba ainda na adolescência, indo para o Rio de Janeiro e depois morando em cerca de 20 cidades brasileiras até se radicar em Anápolis a partir de 1950. Em terras goianas tornou-se funcionário público estadual e membro da Academia Goiana de Letras.
Foi importante militante do Partido Comunista do Brasil entre 1946 e 1952. Leia trecho do seu Poesia Popular.

O cordel é brasileiro
fala do que o Povo sente
no verso lido na praça
ou cantado no repente,
pois cordel é voz da raça,
é (em)canto de nossa gente.



ALGUNS FOLHETOS DE PAULO NUNES BATISTA





Escrevi esta singela homenagem ao poeta 

Paulo Nunes Batista em 2011. 

No dia 02 de agosto de 2019, esse mestre do cordel 

completou 95 anos de idade.

(Arievaldo Vianna)

É uma justa homenagem
Para um renomado artista
Escritor de nomeada
Inspirado cordelista
Lenda viva da poesia
O Paulo Nunes Batista.

Filho de Chagas Batista
Um famoso menestrel,
No universo das letras
Desempenha o seu papel
Levando sempre adiante
A bandeira do cordel.

É autor de vários livros
E centenas de folhetos
E compõe, com maestria
Acrósticos, glosas, sonetos
Transborda filosofia
Até mesmo em poemetos.

Um literato de fibra
Sob meu ponto de vista,
Espírito humanitário
Quem tem saber altruísta
Parabéns à Biblioteca
E ao Paulo Nunes Batista.

Ficou órfão muito cedo
Mas venceu este empecilho
Estava predestinado
A ser poeta de brilho
Quando criança ajudava
Manoel D’Almeida Filho.

Descende de um velho tronco
Da fina-flor repentista
Do qual brotaram Hugolino
E Agostinho Batista;*
Seu mano, o Sebastião
Também foi bom cordelista.

* Hugolino do Sabugi e Agostinho Nunes da Costa são ancestrais de Paulo Nunes Batista. Do grande poeta Agostinho Nunes da Costa (1797 – 1858), seu bisavô, ficou registrada essa bela estrofe onde fica evidente o desejo de liberdade que sempre alimentou essa família de poetas:

Nasci livre, Deus louvado
E até sem medo fui feito
Porque meu pai, com efeito,
Com minha mãe foi casado;
Também nunca fui pisado
Como terra ou capim
E se alguém pensar assim
É engano verdadeiro:
Olhe para si primeiro
Quem quiser falar de mim.

Voltemos ao Paulo Nunes, nosso homenageado:

Ainda na Era Vargas
Enfrentou a Ditadura
Ingressou no Partidão
Com alma sincera e pura
A arma que mais usou
Foi sua literatura.

Viveu no Rio de Janeiro
Aonde foi estudante
Porém a mão do destino
O lançou na vida errante
Até que chega em Goiás
Do seu Nordeste distante.

Comunista e agnóstico
E nesta louca ciranda
Paulo Nunes vai um dia
Num terreiro de Umbanda
Sua vida, nesse instante,
Recebe outra demanda.

Uma surra dos “caboclos”
Naquele dia levou
E por ver a coisa séria
Naquela seita ingressou
Mais tarde, o Espiritismo
De Allan Kardec abraçou.

Sobre seu ingresso na Umbanda e suas convicções políticas, assim se expressou o poeta:

Inimigo de tiranos
Tenho horror à hipocrisia
Para festejar a Vida
Troco a noite pelo dia.
O caboclo “Cachoeira”
É – nas Umbandas – meu guia...

O certo é que Paulo Nunes
Não levou a vida a esmo
Nem esqueceu o Nordeste,
Da rapadura e torresmo,
Vejamos umas estrofes
Do ABC para mim mesmo:

“Operário da caneta,
Já vivi só de escrever.
Poeta de profissão
Em Goiás pude viver
Dos folhetos que escrevia
Para nas praças vender.

Trovador: escrevo trovas,
Sonetos, sambas, canções,
Contos rimados, poemas,
Num mar de improvisações,
Tenho setenta folhetos
Com diversas edições.

Versejador, viajante,
Das estrelas do Repente:
Abro a boca, o verso nasce,
Como nasce água corrente,
Tenho feito alexandrinos
Em três minutos somente...”

O certo é que Paulo Nunes
É bamba na poesia
Em 2000 ele ingressou
Na goiana Academia
De Letras e se orgulha
Desse luminoso dia.




ILUSTRAÇÃO: Jô Oliveira

Paulo Nunes Batista
(02/08/1924)

Do site: https://memoriasdapoesiapopular.wordpress.com

Paulo Nunes Batista, nascido dia 02 de agosto de 1924, capital do Estado da Paraiba, ou seja, Parahyba do Norte, que posterior a revolução de 1930 e após a morte de João Pessoa, passando a chamar-se João Pessoa. O poeta já nasceu circundado por intelectuais e cordelista. Conforme Haurélio, seu pai, Francisco das Chagas Batista era cordelista, apoiado pelo blog da Casa Rui Barbosa que acrescenta a atividade de folclorista e o nome da genitora do poeta Hugolina Nunes Batista. Alem de cordelista, escritor, contista é advogado e jornalista.
Pelas suas posições ideias políticas Santana e Oliveira narra, que: “Na década de 1930, foi preso em diversas cidades brasileiras, pela sua participação e envolvimento com o Partido Comunista.” Embora se tenha conhecimento do fato e se dizendo comunista Nunes jamais se agregou oficialmente a qualquer legenda política.
No entanto, com relação as suas atividades intelectuais e culturais, faz parte de algumas instituições, ocupando a cadeira de número 8 na  qual foi empossado em 31 de agosto de 2000  diz Santana e Oliveira. Publicou mais de 130 folhetos de cordel e 28 livros de contos e poemas grande número através da Editora e Gráfica Franciscana, Petrolina, Ceará, 2007,  desta forma, seus escritos estão presentes na literatura brasileira.
Sua formação intelectual teve inicio em João Pessoa onde estudou o primário e, em Goiânia concluiu o curso de Madureza, “do curso de educação de jovens e adultos Após – e também do exame final de aprovação do curso – que ministrava disciplinas dos antigos ginásio e colegial, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), de 1961.” formou-se em Direito, na Faculdade de Direito de Anápolis, em 1977.
Em 1969, por concurso público, ingressou no Fisco Estadual e trabalhou em diversas cidades goianas. Hoje é aposentado.
Após morar em vários estados do Nordeste Alagoas e Bahia, Sudoeste Rio de Janeiro e São Paulo e Minas Gerais. Em 1947 fixou residência em Anápolis no estado de Goiás. Ali, em 1949, publicou o seu primeiro folheto de cordel pela Tipografia do jornal A luta. De acordo com Haurélio, “Seus textos poéticos foram traduzidos até para o japonês”.

Ainda com relação a publicação da sua obra,  Santana e Oliveira firmam que: “Suas obras foram traduzidas para  o inglês, espanhol, italiano, esperanto e braille.”

“Escreveu e editou dezenas de livros, sendo, no cordel, o ABC a modalidade que mais abraçou” garante Aurélio. O blog da casa de Rui Barbosa relata que: “Outra característica do poeta são os folhetos de utilidade pública voltados para o esclarecimento da população”. Para Altimar de Alencar Pimentel citado por Antônio Miranda  em seu blog, acrescenta: […] é esse lirismo, expressão maior do seu amor ao próximo, às coisas, à vida, o ponto mais alto da poesia de Paulo Nunes Batista, onde ele se despoja de compromissos ideológicos, para permitir que o poema surja pleno, límpido, cristalino”, a exemplo do poema Velhas Praias, dedicado a Francisco Miguel de Moura:

Ó minhas lavas praias nordestinas,
enfeitadas com velas de jangadas,
que, sobre o mar, vão leves, enfunadas
ao vento bom das ilusões meninas.


Praias perdidas na longíngua infância,
mas que retornam na sutil fragancia,
no adeus dos coqueirais, que o ser me invade…


Praias de brisas mansas soluçando…
Os olhos do Menino marejando…
E o coração chorando de saudades…

Atuou “também como professor lecionando a língua portuguesa no Colégio Comercial daquela cidade em 1950”.

Leitores eu vou contar
A vida de Bico Doce
Sujeito mais sabido
Que neste mundo encontrou-se
O próprio Cancão de Fogo
Com ele um dia embrulhou-se.

   Bico Doce nasceu
Disse-me quem assistiu
Antes do tempo esperado
Para o mundo ele existiu;
Nasceu andando e falando
Coisa que nunca existiu

 FONTES CONSULTADAS

BATISTA, Paulo Nunes. Disponível em: <http://academiagoianadeletras.org/membro/paulo-nunes-batista/>. Acesso em: 28 out. 2014.

BATISTA, Paulo Nunes. Sonetos seletos. Petrolina, PE: Franciscana, 2005. 100 p.

PERFIS biográficos. Paulo Nunes Batista. Disponível em: <www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/janela_perfis.html>. Acesso em: 28 out. 2014.

CORDEL Atemporal. BATISTA, Paulo Nunes. In: DICIONÁRIO básico de autores de Cordel. Disponível em: <http://marcohaurelio.blogspot.com.br/2011/06/dicionario-basico-de-autores-de-cordel.html>. Acesso em: 20 out. 2014.

MENEZES, Ebenezer Takuno de;  SANTOS, Thais Helena dos. Madureza” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira: EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em:  <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/ dicionario.asp?id=293>. Acesso em: 28 nov. 2014.

MIRANDA, Antonio. Paulo Nunes Batista. In: POESIAS dos Brasis. Disponível em: <http://www.antoniomiranda. com.br/poesia_brasis/goias/paulo_nunes_batista.html>. Acesso em: 10 out. 2014.

SANTANA Ana Elisa; OLIVEIRA, Noelle. Cordelista e escritor, Paulo Nunes Batista fala de seus mais de 28 livros publicados. Disponível em: <http://www.ebc.com.br/ cultura/2014/04/cordelista-e-escritor-paulo-nunes-batista-fala-de-seus-mais-de-28-livros-publicados>. Acesso em: 20 out. 2014.

Fonte: Anápolis 360