quarta-feira, 16 de outubro de 2013

CORDEL BRASILEIRO EM PORTUGAL

EXPOSIÇÃO DE CORDEL BRASILEIRO NA BIBLIOTECA NACIONAL PORTUGUESA
 
Ver matéria completa neste blog:
 
Literatura de Cordel no Brasil. Outra exposição na Biblioteca Nacional de Portugal que merece uma visita. Reparem nos títulos, são deliciosos. 
Desconheço este tipo de literatura e tenho pena de não poder pegar num livrinho, folhear e ler.



«Os folhetos que em Portugal, na Espanha e na América latina são ditos de cordel, porque outrora eram suspensos - para exposição e venda - de cordéis, apareceram em Portugal, como noutros países da Europa, poucas décadas depois da descoberta da imprensa, e foram até meados do século XX um poderoso meio de comunicação popular. Levados por emigrantes para o Brasil, aqui começaram alguns a ser reeditados pouco depois de D. João VI ter criado a primeira tipografia, em 1808; imitados ou recriados, permitiram que antes do final do século Leandro Gomes de Barros, Silvino Pirauá de Lima e outros poetas populares, sobretudo da Paraíba e de Pernambuco, fixassem os modelos do folheto de cordel brasileiro, que como regra ainda se mantêm, apesar das transformações sociais e tipográficas: papel mais ou menos ordinário, formato raramente afastado dos 15x12 ou 16x11 centímetros, simplicidade gráfica, capa ilustrada, com privilégio da xilogravura, impressão rudimentar, enunciação oralizante e narrativa, linguagem concreta, popular e coloquial, fixação quase exclusiva na expressão poética, com preferência pelo verso setissílabo e pela sextilha, gosto do cómico e da crítica social, abertura temática mas com atracção por certos “ciclos”…»

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O PROFESSÔ DUS MENINOS

 
 
Hoje, 15 de outubro, dia do professor, quero publicar um poema do mestre Alberto Porfírio, poeta que muito me influenciou nos primeiros anos de vida. Desde 1978 sou leitor assíduo de sua obra.


Ideias de Caboclo

Extraído do Livro:  "Poetas Populares e Cantadores do Ceará", de Alberto Porfírio

 
O professô dos menino
Fala, fala chega estronda!
Querendo qui eu acredite
Qui a terra seja redonda.
 

Não, senhor, num acredito
Nunca pude acreditá
Qui viva assim todo mundo
Andando em cima duma bola
Sem nunca iscorregá!
 

Vós mincê preste atenção,
Um monstro cuma é o trem!...
Se a terra fosse redonda,
Iscorregava tombém.
 

Ele só diz qui a terra
Veve solta no espaço
Rodando num canto só
Sem tê nada de embaraço.
 

Muvimenta... muvimenta
E nunca descansa um pedaço,
E qui é as volta qui ela dá
Qui serve pra controlá
A frieza e o mormaço.

 
Num acredito!... não! não!
Qué sabê cuma é a terra
Na minha maginação?
É um prato feito de barro
Mal feito mais bem grandão!
Emborcado em riba d’água
N’uma firme pusição,
Cum a gente morando in riba
Cum toda satisfação.

 
Vou prová cuma é mermo
Vou dá toda a insplicação:
 

Quando Deus fez este mundo
Mandou a terra secá,
Mandou se juntá as água
E foi assim qui fez os má.
E se a terra fosse doida
Rodando pra se acabá,
Tinha derramado as água
E era até pirigoso
O próprio Deus se afogá.
 
Tá certo ou num tá?!
 
Os home religioso
Gostun de dizê a gente
Qui tem um tal de inferno
De fogo qui é munto quente
Qui vai pra dentro desse fogo
As alma dessas pessoa
Qui num vão munto decente
 

Desses home priguiçoso
Qui num quere trabaiá;
Dessas muié vaidosa
Qui usun as roupa curta
Qui é do juêio pra lá;
Qui usun outras safadage
Fazendo a gente pecá
Dispois tudo morre
Vai morá nesse lugá
Debaixo desse arguidá.

 
Agora eu aviso os home
Qui pras muié são ingrato
Tombém aviso as muié
Qui andun de ponta-de-pé
Mode os sarto do sapato;
Dão zunhada e esconde as unha
Fazendo a moda de gato
Se morrê nesses pecado
Vão pra debaixo do prato...

ABC DO SERTÃO - Ilustração de Arievaldo / Klévisson Viana