sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

CORDEL NA CARTA CAPITAL

Tecnologia - Cordel digital

Tradição nordestina ganha espaço na rede com obras completas disponibilizadas por instituições. Foto: Reprodução

Popularizada em feiras livres da Região Nordeste do Brasil, onde seus folhetos impressos em papel pardo adornados por xilogravuras ficavam expostos em varais, a literatura de cordel também pode ser acessada via internet. Uma das principais fontes para tal é a Fundação Casa de Rui Barbosa, localizada no Rio de Janeiro.
Repositório de literatura popular desde 1989, o órgão disponibilizou parte do acervo de 9 mil folhetos em um site especialmente construído para facilitar o acesso remoto. Segundo Dilza Ramos Bastos, chefe de Serviço de Biblioteca da instituição, o trabalho começou em 2001. Inicialmente, a ideia era divulgar o material por meio de CDs e, depois, migrou para a rede.
A digitalização foi uma medida importante para a preservação do próprio acervo, que passou a ser menos manipulado por pesquisadores.
“Nós diminuímos a manipulação e facilitamos o acesso à informação visual do texto e das ilustrações”, explica. “Hoje são raros os casos em que precisamos dar acesso direto ao documento.”
A origem exata da literatura de cordel é difícil de ser pontuada. Formas literárias similares são encontradas em outros países, como França, Espanha e Portugal. Os romances ibéricos em versos, oriundos da tradição oral e posteriormente impressos em folhetos, e os desafios improvisados do Nordeste, são indicados por pesquisadores como algumas das forças criadoras do cordel. Surgido na primeira metade do século XIX em Pernambuco e na Bahia, a forma clássica do cordel atingiu o auge da produção entre 1930 e 1960.

VER MATÉRIA COMPLETA AQUI:
http://www.cartacapital.com.br/carta-na-escola/cordel-digital/


NOTA DO BLOG - Esta edição de "Peleja de Riachão com o Diabo", com o sub-título FOLK-LORE NORDESTINO, deve ter sido feita entre 1918 - 1921 por Pedro Baptista, genro de Leandro Gomes de Barros, em Guarabira-PB.

ACORDA CORDEL EM BOA VIAGEM-CE


Estátua do Cavalo Morto, centro de Boa Viagem-CE



A convite do prefeito Fernando Assef e da Secretária de Educação e Cultura professora Lucirene Castelo Branco realizamos oficina de capacitação do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula para 40 professores da rede municipal de ensino. O aproveitamento foi espetacular. Apesar de ter apenas 08 horas de duração, conseguimos transmitir um pouco da história da literatura de cordel, suas regras básicas, sua influencia nas outras artes (música, cinema, teatro etc) e ainda produzimos um folheto coletivo contando a história do município de Boa Viagem desde a sua fundação até os dias atuais.


UMA CIDADE QUE NASCEU DE UM ROMANCE


Boa Viagem começou de uma grande história de amor... Em meados do século XVIII, o casal Domingues e Agostinha, como no famoso “Romance de Mariquinha e José de Sousa Leão”, teve de fugir para se casar. Levavam em sua companhia apenas uma escrava, ama de leite de Agostinha e eram perseguidos tenazmente por um grupo de jagunços que estava sob o comando do pai da moça. Num dado momento, Domingues teve que deixar a noiva e a criada num local que julgava seguro para ir até certa cidade (uns afirmam que foi Recife, mas é improvável, devido a distância e os meios de transporte da época) para buscar uns documentos a fim de realizar o matrimônio. Quando retornou ao esconderijo, Agostinha estava faminta e assustada e a pobre escrava havia sido devorada por uma onça perigosa.


NOVA FUGA E A PROMESSA REDENTORA

 Fugiram mais uma vez, perseguidos pelo grupo de cangaceiros, até que o cavalo em que viajavam cansou e morreu na beira de uma lagoa... Segundo os historiadores, essa lagoa situava-se no lugar onde hoje encontra-se erguida a igreja matriz de Boa Viagem. A construção da referida capela foi uma promessa de Domingues e Agostinha com Nossa Senhora da Boa Viagem. Foram atendidos, pois uma febre começou a dizimar o grupo perseguidor que acabou desistindo da perseguição. Os detalhes dessa história fantástica estão minuciosamente descritos no folheto coletivo produzido na oficina.

Todos os participantes da oficina receberam um kit contendo o livro ACORDA CORDEL, o CD com 10 faixas (tiragem feita especialmente para esse evento) e caixa com 12 folhetos de vários autores. Fizemos a leitura coletiva do folheto "A intriga do cachorro com o gato" e explicamos a diferença entre CORDEL e POESIA MATUTA. Os professores se encantaram com a declamação do poema "EU E MARIA" do poeta Geraldo Amâncio, que coincidentemente nos ligou no momento da oficina dizendo que estava assistindo entrevista de Arievaldo Viana na TV Cultura.

Destaque para o poeta Toinho, já traquejado na arte do verso, autor de estrofes como esta que veremos a seguir:

"Se eu fosse o presidente
Deste país tropical
Eu baixaria um decreto
De valor fenomenal
4 dias de quaresma
40 de carnaval."

Segundo Toinho, o vigário é que não gostou muito da idéia...


INTERESSADOS EM CONTRATAR UMA OFICINA DO PROJETO ACORDA CORDEL devem entrar em contato conosco através do e-mail:  acordacordel@hotmail.com





Esse texto também está disponível no site JORNAL DA BESTA FUBANA, coluna MALA DA COBRA, espaço semanal escrito por Arievaldo Viana: http://www.luizberto.com/coluna/mala-da-cobra-arievaldo-vianna

VISITE E COMENTE!

* * *
Eis um folheto que também lembra a história da fundação de Boa Viagem.

Roques Mateus do Rio São Francisco

Literatura de Cordel


Autor: Leandro Gomes de Barros
Categoria: Literatura de Cordel
Formato: .pdf
Tamanho: 1,11 MB
Link: http://www.4shared.com/document/AGiL9p-2/Roques_Mateus_do_Rio_So_Franci.html

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

NATAL NORDESTINO


Infogravura: ARIEVALDO VIANA


JESUS SERTANEJO
Luiz Gonzaga

Jesus, Meu Jesus sertanejo
Presença maior, minha crença
Nestas terras sem ninguém


Silêncio, Na serra, nos campos
Ai desencanto que a gente tem
E o vento que sopra, ressoa
Ai sequidão que traz desolação.


Ô ô Jesus razão
Tão sertanejo
Que entende até de precisão.


De sol vou sofrer ou morrer
E as pedras resplandem
A dureza, a pobreza desse chão
João, um menino, um destino
Ai nordestino, de arribação
Cenário de dor e de calvário
Ai muda a face desta provação.


Do céu há de vir solução
Na terra, a semente agoniza
Preconiza solidão
E a tarde que arde, acompanha
Ai tanta sanha de maldição
Aqui vou ficar, vou rezar
Ai vou amar a minha geração.


Ô ô Jesus razão
Tão sertanejo
Que entende até de precisão.


Ilustração de JÔ OLIVEIRA

DEPÓSITO LEGAL NA BN


FOLHAS VOLANTES (Diário do Nordeste)

Com um acervo de menos de 2 mil exemplares de literatura de cordel, a Biblioteca Nacional faz campanha para divulgar aos cordelistas a Lei do Depósito Legal, que obriga a doação de toda publicação em território nacional ao acervo da entidade, com o objetivo de perpetuar o escrito.


A Universidade do Novo México possui um acervo de 4,6 mil exemplares do folheto que é a expressão mais tradicional da literatura popular do nordeste brasileiro: o cordel. A Biblioteca do Congresso Nacional dos Estados Unidos, em Washington, um número ainda mais robusto, com cerca de 9 mil títulos. No Brasil, uma surpresa ruim: a coleção da instituição que deveria traçar um panorama fiel de tudo que é produzido em território nacional, a Biblioteca Nacional (BN), resguarda um pífio acervo - conta com menos de 2 mil publicações.

Na tentativa de sanar essa alarmante deficiência, a entidade dá início à uma campanha de divulgação da lei que torna obrigatório aos autores a doação ao seu acervo de pelo menos um exemplar de cada obra publicada no País. Regulamentado sob as leis federais número 10.994 e 12.192, o chamado Depósito Legal prevê a doação de livros, jornais, discos, DVDs musicais e até catálogos de exposições e livros virtuais (e-books).

"A lei institui uma multa, mas a gente tem uma política de bom relacionamento com editores e autores", alerta a chefe da Divisão de Depósito Legal da Biblioteca Nacional, Daniele del Giudice. E dentro deste contexto, está também o cordel, muito embora nem autores, nem editores costumem saber disso.

Como o acervo que depende destas doações, a Biblioteca acaba não conseguindo cumprir o seu papel de guardiã desta produção. "A literatura de cordel está parada (no setor de Depósito Legal da biblioteca). Esse mês de outubro, nós recebemos apenas oito exemplares do Brasil inteiro", atesta.

Ela explica que a postura da entidade é de buscar conscientizar os autores da importância dessa doação. "Por isso, a grande divulgação que queremos fazer no Norte e Nordeste, que é onde estão a maioria dos produtores", justifica. A ideia é divulgar a lei e sua abrangência ao cordel por meio da imprensa preparando terreno para, em 2012, uma comissão da entidade correr feiras e bienais com material informativo.






Acervos particulares *
Os dados sobre os acervos citados no início da matéria foram retirados de um levantamento feito pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), localizada no Rio de Janeiro. O presidente da entidade, Gonçalo Ferreira da Silva, considera difícil mobilizar autores de cordel a enviar cópias de suas publicações à Biblioteca. "Os 40 cordelistas membros da ABLC encaminham para a academia suas publicações e, normalmente, 10 exemplares de cada. A gente re-encaminha para a Biblioteca Nacional. Mas fora do colegiado, não temos esse controle", diz. "Você é um poeta que mora nos cafundó do sertão, você vai estar preocupado com Biblioteca Nacional? Você está preocupado em ler o folheto para os amigos na feira", argumenta.

Ele estima que no Brasil existam 40 mil títulos de cordéis entre acervos particulares e de entidades, um dos maiores pertencente à própria ABLC, com 13 mil títulos, seguida da Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ), 9 mil; Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (RJ); 8,9 mil; e a Fundação Joaquim Nabuco, com 7.3 mil.
Investimento
Editor e autor de literatura de cordel, o cearense Klévisson Viana, considera importante este tipo de ação vinda da BN. "Nunca tivemos a preocupação de mandar nosso material. E o nosso catálogo gira em torno de 300 obras. Toda semana a gente publica três ou quatro títulos", diz. Para ele, no entanto, é preciso mais empenho por parte da BN e sugere que a entidade abra vias de debate com os cordelistas para explicar a lei e a importância da catalogação. "Acho que os autores não se sentem motivados em mandar porque ninguém vive de vaidade. É importantíssimo que essa obra esteja catalogada, mas porque não levantar o que existe de produção e comprar? Eu não teria problema de doar um exemplar, mas sei de muitos poetas que vivem em situação difícil e, pra eles, isso é irrelevante", aponta.

Klévisson cita ações de várias entidades no sentido de criar acervos, como o das universidades de Osaka, no Japão, que constantemente adquire novas publicações, e Havard, nos EUA, que enviou recentemente duas bibliotecárias para pesquisar e comprar acervos. O Centro Cultural Banco do Nordeste montou também recentemente quatro acervos para disponibilizar ao público em suas sedes de Fortaleza, Crato, Souza (PB) e outra no novo centro que funcionará em Teresina (PI).

"A fundação Biblioteca Nacional está querendo correr atrás do lucro, porque ninguém corre atrás do prejuízo. Pode ser que eu esteja equivocado, que a minha visão seja miúda, tacanha. Talvez seja necessário que isso seja melhor divulgado e esclarecido", conclui o artista.
Fique por dentro Depósito Legal
O Depósito Legal é regulamentado pelas leis N. 10.994, de 2004 e 12.192, de 2010, obrigando remessa à Biblioteca Nacional de um exemplar de todas as publicações produzidas em território nacional. As obras passam a integrar a Coleção Memória Nacional, tendo, assim, asseguradas sua guarda e difusão. Além de livros e folhetos de cordéis, estão inclusos os discos e DVDs de apresentações musicais. Entre as publicações que estão isentas da obrigação estão monografias e teses universitárias, material publicitário, calendários, agendas, etc. Ao publicar uma obra, o autor deve:

- Reservar no mínimo um exemplar para o acervo da Biblioteca Nacional

- Enviá-lo acompanhado de uma carta de apresentação para Av. Rio Branco, n. 219/ 3.andar -
Centro, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20040.008
Mais informações: (21) 2220-1892 ou
ddl@bn.br

FÁBIO MARQUES - Repórter

Fonte: CADERNO 3 - Diario do Nordeste, edição de 14/11/2011


* O acervo da Biblioteca Cancão de Fogo (coleção particular de Arievaldo Viana) possui mais de 5 mil títulos, inclusive raridades das décadas de 1930 a 1960. Parte deste acervo pertenceu ao saudoso pesquisador Ribamar Lopes.  

ENRIQUEÇA O NOSSO DEBATE! DEIXE A SUA OPINIÃO NA SEÇÃO DE COMENTÁRIOS!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ACUNHA, QUINTINO!



Recebi esse texto por e-mail, é daqueles que circulam por aí sem paternidade. Eu, pelo menos, desconheço o autor e a fonte. Como já disse, chegou-me por e-mail encaminhado para uma penca de mais de 50 pessoas. No final da década de 1980, inicio dos anos 90, fiz amizade com Plautus Cunha, filho e biógrafo do Quintino e passei a conhecer melhor a obra e as peripécias desse cabra da peste. Plautus foi jurado do III Salão de Humor Canindeense, evento coordenado por mim e pelo saudoso professor Laurismundo Marreiro... Renato Sóldon, sobrinho do poeta, também coligiu uma série de anedotas atribuídas ao Quintino no seu impagável "Verve Cearense".

Quanto ao texto a seguir, talvez seja coisa do meu compadre Tarcísio Matos, ou quem sabe, uma publicação do site Nordeste Web, do meu amigo Ivan Maurício. A imagem abaixo sim, veio do site do jornal Diário do Nordeste... Achei interessante e resolvi publicá-lo:

Quintino Cunha e o Ceará Moleque 

José Quintino da Cunha

* Itapajé, 24 de julho de 1875 ;
+ Fortaleza, 1º de junho de 1943



Foi advogado, escritor e poeta cearense. Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Ceará em 1909, e a partir de então começou a exercer a profissão de advogado criminalista.
Foi deputado estadual na década de 1910, mas logo desistiu da carreira de político e encabeçou a campanha do Bode Ioiô para Vereador de Fortaleza, fazendo o animal tirar votos suficientes para ser eleito, caso possível fosse.

Ficou bastante conhecido por seu estilo irreverente e carismático, também lembrado pelas anedotas que contava. É tido como o mais lendário de nossos humoristas literários, o maior de nossos poetas
cults. Excêntrico sem ser snob. Feio mas cativante. Eternamente esquecido, sempre resgatado, figura ao lado dos grandes mestres do improviso literário ferino, como Bernard Shaw, Quevedo e Swift, sendo considerado pelo crítico Agripino Grieco "o maior humorista brasileiro de todos os tempos”.

Menino ainda, Quintino Cunha foi convidado a passar uns dias das suas férias na casa de dois coleguinhas de colégio. Convite aceito, viajou até a casa combinada onde deveria hospedar-se por alguns dias, com os convidantes anfitriões. Lá chegando, não encontrou os colegas que haviam viajado para outro destino, sem deixar recado. As tias idosas dos meninos, donas da casa, convidaram-no a ficar e aguardar a chegada dos seus sobrinhos. Quintino não se fez de rogado e ficou, aceitando o convite!
À noite não lhe ofereceram jantar e nem café, ou almoço no dia seguinte. Ele matou a fome com as fruteiras do quintal. Resolveu ir embora dali e o fez, deixando um bilhete sobre a mesa:


“Adeus casinha da fome,
Nunca mais me verás tu
Criei ferrugem nos dentes
E teia de aranha no cu.”


Já célebre advogado, a fama de Quintino Cunha era grande no Nordeste. Tinha havido um crime no interior da Paraíba, onde pai e filho assassinaram um adversário político. Para defendê-los, convidaram o célebre causídico. Este fez a defesa com muita propriedade conseguindo a absolvição dos réus. A cidade fez festa de comemoração pela semana, hospedando Dr. Quintino no melhor hotel. Sua fama correu rápida por todo o município e o feito atingiu proporções.

Eis que surge no hotel um humilde casal dos sítios afastados. O marido dirigiu-se ao advogado expondo-lhe o desejo de um desquite, em face dos desentendimentos do casal. Dr Quintino então pergunta-lhe se este possui algum bem, alguma propriedade.
- Não doutor, eu nada “pissuo” e trabalho alugado, em sítios alheios.

Vira-se para a esposa e faz-lhe idêntica pergunta, vindo a resposta:
- Doutor, pra que a verdade lhe seja dita eu ainda tenho menos que ele.

Dr. Quintino respondeu-lhes em versos:



"A questão é muito tola!
Aqui mesmo, eu os desquito.
Fique ele com sua rola
E ela com o seu priquito."



Conhecido e até hoje contado pelos frequentadores da Praça do Ferreira, o causo da defesa do deficiente físico conhecido apenas como Francisco, apelidado de “Chico Mêi Cu”, foi uma das mais famosas proezas de Quintino Cunha.

Conta-se que nos idos anos 20, um pobre deficiente físico, sem pai nem mãe, sem eira nem beira, mancava pelas ruas do Centro da pequena Fortaleza, onde fazia os biscates que lhe davam o pouco para o sustento. Encabulado, quieto e calado, aparentava não dar importância ao canelau que mangava à sua passagem: “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”, “Chico Mêi Cu!”. Foram anos de chacotas.

Certa feita, num ato de cólera, Francisco fez uso de uma peça perfuro-cortante que transportava, e ceifou a vida de um de seus mais ferrenhos mangadores. Foi detido e de imediato levado à cadeia pública, onde ficou por um tempo aguardando julgamento.

No dia do juízo, atendendo às súplicas dos que rogavam pela libertação de Francisco, em defesa deste, fez-se presente diante do Júri o renomado advogado Quintino Cunha. Após as interlocuções vigorosas da promotoria, que pedia condenação com pena máxima para o réu, o Juiz deu a vez da defesa, à qual Quintino deu início:


- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a dizer que... (Pausa).


Após alguns segundos de pausa, ele repete:

- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu tenho a declarar que... (Nova pausa).


Após os novos segundos de pausa, ele torna:


- Meritíssimo Juiz, Ilustríssimo Doutor Promotor, Respeitabilíssimos Jurados. Em defesa de Francisco eu poderia falar que...


De imediato o Juiz esbraveja:

- MAS QUANTA DEMORA! O SENHOR IRÁ OU NÃO DAR INÍCIO À DEFESA?


Ao que Quintino replica:

- Repare só, Meritíssimo: Não faz sequer um minuto que eu só me dirijo a vós de forma respeitosa, e já provoquei vossa inquietação. Agora imagine Vossa Excelência, o que deve ter passado pelas idéias do pobre Francisco, após todos esses anos de achincalhamento e mangoça pública.


Seguindo, Quintino Cunha deu continuidade ao discurso de defesa. E com toda a eloquência e poder de convencimento que lhes eram peculiares, conseguiu a absorvição do réu. Saiu do tribunal carregado nos braços por seus amigos, rumo ao botequim mais próximo.

Hoje, a maioria dos cearenses não sabe que foi Quintino Cunha. Nem mesmo os moradores do bairro que leva o seu nome o conhecem. Por isso é importante o repasse deste e-mail, para que a memória do precursor da molecagem cearense não caia no esquecimento.

Viva a irreverência cearense! Viva Quintino Cunha!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mestre Azulão homenageado em livro e DVD

Uma feira de saudades

Mestre Azulão e os poetas Arievaldo, Piúdo e Izaias Gomes

Livro conta a história da Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, a partir de depoimentos de migrantes e também de poemas de cordel.

“A feira de São Cristóvão não é exatamente uma feira. Ou não é só isso. Instalada há mais de sessenta anos no Campo de São Cristóvão, zona norte do Rio de janeiro, o lugar é, fundamentalmente, um ponto de encontro. Qualquer que seja ele. É lá que o povo nordestino, que deixou sua terra em busca da sorte da cidade grande, pode recuperar um pouco do que ficou para trás. Ali ele se reencontra com o forró e a cachaça, com a macaxeira e o feijão-de-corda, com a pimenta, com o xaxado e o baião, com os cheiros, com os versos, com a chita e a renda (...)”.
  • Um relato repleto de memórias, cheiros, sabores, sons, cores e histórias. Assim pode ser descrito o livro “Feira de São Cristóvão – a história de uma saudade”, da historiadora Sylvia Nemer, publicado neste ano pela editora Casa da Palavra. A obra é fruto de uma pesquisa de doutorado realizada pela autora e reconstrói a memória cultural deste tradicional ponto de encontro, com uma linguagem fluida e apaixonada, auxiliada pela variedade de imagens que acompanham a obra.
    São mais de 50 anos de uma história que, na maioria das vezes, se confunde com a memória pessoal de retirantes nordestinos, os quais encontravam na feira um espaço para se reaproximar, nem que fosse em um único dia na semana, das tradições de sua terra natal. O Nordeste aqui é recriado por um conjunto de recordações que transbordam saudade. A literatura de cordel é uma das fontes principais- por meio dos poemas, os cordelistas do Rio de Janeiro escrevem muito sobre o próprio migrante e sua luta para sobreviver no ambiente físico e social da metrópole.
    “A saudade da família, de sua terra, de sua casa, faz com que os migrantes encontrem na Feira seu novo lar, seu novo conforto. E foi a partir desta constatação e com a possibilidade de concretizar um sonho antigo, que me dediquei a este tema, a princípio reservado aos nordestinos. A ideia é resgatar a tradição e fazer a união entre o Nordeste e o Rio de Janeiro, mediada pelas histórias contadas nos folhetos escritos pelos cordelistas da cidade”, conta Sylvia.
    Vale lembrar que esta edição do livro vem acompanhada do DVD “A feira do Nordeste por um poeta cabra da peste”, de Maria de Andrade. O filme narra a história do poeta e cordelista, Mestre Azulão, um dos fundadores da Feira de São Cristóvão, cuja obra também serviu de fonte para a pesquisa historiográfica realizada por Sylvia.

    “Feira de São Cristóvão – A história de uma saudade” tem 144 páginas e custa R$75.

Fonte da matéria: www.revistadehistoria.com.br

 

domingo, 18 de dezembro de 2011

FLAGRANTE

 

O GATO E O BATIZADO

Por PEDRO PAULO PAULINO


É do nosso saber que os gatos são malandros, preguiçosos e dorminhocos. Enquanto, à noite,o cachorro vigia a casa, o gato está invadindo os cômodos da residência, principalmente a cozinha. Há um dito popular, segundo o qual, “os cães têm dono e os gatos, escravos”. De certos maneirismos encontrados nos gatos, surgiu até um adjetivo muito apropriado a certas pessoas: gatuno. O grande escritor Edgar Alan Poe deixou bem claro em um de seus mais celebrados contos, o quanto um gato é malino, mesmo depois de morto… Enquanto isso, o cachorro foi aclamado apenas com aquela música do Waldick Soriano que todo mundo conhece; aliás, com muito menos cabo aos caninos. No cordel, o cachorro fiel e dedicado é retratado com maestria por Leandro Gomes de Barros no clássico “O cachorro dos mortos”.

Hoje de manhã, entrei em um cômodo de minha moradia, onde se encontram livros e minha coleção de folhetos de cordel. Flagrei na hora um bichano, ainda adolescente, bem tranquilo descansando sobre meus folhetos. E, para maior surpresa, ele estava bem agasalhado na prateleira da estante, tendo ao lado o folheto escrito por meu amigo Arievaldo Viana, intitulado (vejam só que ironia!) “O Batizado do Gato”. Ari vai mostrar algumas das estrofes desse seu trabalho:





Depois do poder de Deus

O dinheiro é o segundo.

Uma vez disse-me um velho,

De saber muito profundo:

"Dinheiro e mulher bonita

é quem governa esse mundo"



Este velho que me disse

A sábia filosofia

Narrou-me mais essa história

Curiosa em demasia

O batizado de um gato

Que presenciara um dia



A dona deste felino

Há anos era casada

E como não tinha filhos

Já estava desesperada

O marido deu-lhe um gato

Pra distrai-la, coitada



Era um bichano mourisco

Pêlo sedoso e com brilho

Nasceu de uma ninhada

Dentro da palha do milho

Sua dona tresloucada

O tratava como  filho



Até nome o gato tinha:

Belarmino foi chamado

Nunes Pereira da Costa

Em cartório registrado

O sobrenome dos donos

O bichano havia herdado



Comprava bife e lagosta

Para o felino jantar

Bacalhau da Noruega

Lhe davam para almoçar

Uma criada então disse:

- Só falta se batizar!



Ela mal  fechou a boca

O dono disse apressado:

Sua idéia é muito boa

Que plano mais acertado!

Vou falar com o capelão

E marcar o batizado



A mulher muito feliz

Foi tratar do enxoval

Enquanto o marido ia

À Casa Paroquial

Falar com padre Nonato

Pra batizar o animal.


(...)


O Batizado do Gato - MP3




Download OUVIR...
Mestre Azulão declama "O Batizado do Gato" de Arievaldo Viana
O BATIZADO DO GATO - Autor ARIEVALDO VIANA
Arquivo de áudio MP3 [4.9 MB]
O BATIZADO DO GATO NO YOUTUBE
Com Serginho, do grupo PAJEARTE
CORDEL - BATIZADO DO GATO.wmv


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Enviado por em 03/10/2010
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