quinta-feira, 21 de abril de 2011

JOVENS CORDELISTAS

O NOVO CORDEL DO CEARÁ


Josué cria cordéis baseados em contos clássicos da literatura infantil
FOTO: GEORGIA SANTIAGO

Fonte: CADERNO ZOEIRA, DIARIO DO NORDESTE
Edição de 21 de abril de 2011


Inspiração e técnica são elementos essenciais para um bom cordel criar. Entre métricas e versos, uma bela história vamos contar. Dois jovens cordelistas viajam nesse mundo de poesia para a sua própria rima cantar
Os assuntos são os mais variados. Fatos da política, sertão, cotidiano ou romances podem virar tema de cordel. Pesquisadores apontam que a origem desta literatura, que ficou tão popular no Nordeste, seja alemã. No Brasil, os primeiros folhetos apareceram em 1893.

A popularização do cordel foi possível, apesar dos altos índices de analfabetismo, porque os poetas entoavam seus versos nas praças. As rimas melodiosas podem despertar os mais diversos sentimentos dos leitores. Reflexão, emoção, alegria, tristeza e até sonhos são revelados a cada novo verso. É neste sentido que trabalha a estudante de Pedagogia Julie Ane Oliveira, 18 anos. Filha de cordelista (Rouxinol do Rinaré), ela sempre esteve envolvida com cordéis. "Diria que desde que ´me entendo por gente´. No meu lar, a leitura sempre foi presente, assim como o arroz e o feijão (risos)", diz ela, que teve o primeiro contato com a literatura de cordel através da leitura dos trabalhos do pai, bem como também de clássicos de autoria de Leandro Gomes de Barros.

Julie Ane já publicou quatro cordéis e se prepara para lançar um novo trabalho
FOTO: KID JÚNIOR

Entre eles, "O cavalo que defecava dinheiro", "O cachorro dos mortos" e "A peleja de riachão com o diabo". "Como toda criança me encantei pela sonoridade das rimas, pelas histórias de príncipes, princesas, causos engraçados. Me via como personagem das histórias lidas. Algumas até tentava decorar. Até que um dia, descobri que podia criar minhas próprias histórias também", comenta Julie.


A estudante destaca que a leitura de autores contemporâneos, como Arievaldo Viana, Marco Haurélio e Klevisson Viana, também fez parte de sua formação enquanto escritora.


Atualmente, o encanto de Julie vai além das histórias e pelas rimas. "Meu maior fascínio é pela capacidade versátil que o cordel assume na sociedade atual, não apenas como instrumento de entretenimento, mas como uma eficiente ferramenta na educação, sendo utilizado em sala de aula como recurso paradidático", comenta ela, que fará o trabalho de conclusão da faculdade sobre essa temática.


Primeiros passos
Aos 10 anos, Julie já começava a criar seus primeiros versos. Um ano depois, ela já teve a oportunidade de publicar o primeiro texto em cordel: "A esperteza de João, o rapaz pobre que casou com uma princesa", publicado pela Tupynanquim Editora (2003). Hoje, a cordelista tem quatro publicações e pretende aumentar este número em breve.

"Tenho alguns trabalhos engavetados, mas nesse momento estou com um trabalho novo sendo ilustrado por Rafael Limaverde. O livro será direcionado para educação infantil, especialmente aos anos iniciais. A obra é intitulada ´Brincando com a matemática´ e será publicada pela Conhecimento Editora. O lançamento está previsto para maio na Livraria Cultura de Fortaleza", adianta ela, que desde quando começou a escrever, sentiu maior interesse pela literatura infantil.

"Minhas abordagens no geral são adaptações de contos clássicos, aventuras, romances de bravura (com príncipes e princesas). Só tenho um tema de drama. Chama-se ´Uma tragédia em família ou o pai que matou o filho´, que inclusive não foi tão bem aceito pelo público quanto o primeiro. Imagino que pelo impacto da temática talvez", destaca ela, que vê no cordel a possibilidade de dar uma cara nova para esses contos clássicos. "Mas procuro não me limitar, já fiz trabalhos por encomenda e trabalhei com variados temas. A minha real preferência são histórias que encantem o imaginário das crianças, assim como encantaram o meu", diz.

Inspiração nos Clássicos

Este é o mesmo caminho seguido pelo estudante Josué Lima, 13 anos. Há dois anos, ele fez uma oficina de cordel e já começou a escrever os primeiros versos. Depois de fazer um trabalho escolar sobre drogas, o jovem cordelista aproveitou o tema e lançou seu primeiro trabalho: "Os malefícios das drogas na visão de uma criança". Na sequência, lançou "O príncipe sortudo e a sapinha encantada" e "O Mandarim e a borboleta", em parceria com o pai Evaristo Geraldo.

Tímido, Josué gosta mesmo é de se expressar através dos textos. Segundo ele, seu processo criativo é natural e espontâneo. "Leio muito e depois vou criando as histórias aos poucos. Às vezes consulto o dicionário também", comenta o adolescente que está no oitavo ano e que ainda não pensou sobre qual carreira vai seguir. Uma coisa certa é que ele pretende mesmo continuar escrevendo.

Julie conta que também não tem uma rotina definida de criação. "A inspiração é que comanda. Algumas vezes no caso de encomendas, ou convite para participar de uma coleção, sento e rabisco meus primeiros versos. Mas, no geral, não tem hora nem lugar. O importante é ter sempre papel e caneta à mão", declara.
Desafios
Publicar os cordéis ainda é uma dificuldade encontrada pelos cordelistas. Atualmente, eles contam com algumas editoras especializadas, mas o público nem sempre valoriza a produção.

Além disso, a questão técnica (métrica, por exemplo) ainda é um desafio diário para Josué, que se aperfeiçoa por meio da leitura de outros cordéis. Já para Julie, não há problema nenhum. Meu hábito de leitura e escrita vem desde a infância. No entanto, algumas pessoas têm o dom, porém precisam aperfeiçoar a técnica. Pois, o cordel assim como o soneto, a crônica, o conto, tem suas peculiaridades na estrutura. Por isso, hoje trabalhamos muito com oficinas de cordel, visando dar um suporte a essas pessoas", diz a cordelista.

Izakeline Ribeiro - Repórter

VER MATÉRIA COMPLETA NO CADERNO ZOEIRA - DIARIO DO NORDESTE

HQ EM CORDEL

JOÃO DE CALAIS: DO CORDEL AOS QUADRINHOS

(Por Neide Medeiros Santos – Crítica Literária – FNLIJ/PB)



Cantam nautas choram flautas
Pelo mar e pelo mar
Uma sereia a cantar
Vela o Destino dos nautas.

(Augusto dos Anjos. Barcarola)


A história de João de Calais pertence ao ciclo de cordel denominado “morto agradecido”. Câmara Cascudo inclui este romance entre os “Cinco Livros do Povo”, juntamente com “Donzela Teodora”, “Imperatriz Porcina”, “Roberto do Diabo” e “Princesa Megalona”.
A origem de João de Calais é francesa. Atribui-se à Madeleine Angélique Poisson a autoria da história. Casando-se com um espanhol, a escritora passou a ser conhecida como Madame de Gómez. No Brasil, a história de João de Calais foi divulgada por Câmara Cascudo ( prosa) e pelos cordelistas (poesia).
Na década de 1990, a editora Scipione publicou oito contos tradicionais de literatura popular, reescritos e ilustrados por Ricardo Azevedo e Ciça Fittipladi. “João de Calais” integra essa coleção.
Em 2010, a editora FTD lançou “História do navegador João de Calais e de sua amada Constança”, versão de Arievaldo Viana. Os textos da Scipione eram em prosa, a nova edição da FTD alia o cordel ( sextilhas) à literatura de quadrinhos.
Arievaldo Viana, conhecido cordelista cearense, criou o texto verbal e Jô Oliveira fez as ilustrações. Nos dados biográficos do cordelista e do ilustrador, aparecem essas informações: Arievaldo Viana nasceu em uma fazenda do Ceará nas proximidades de Quixeramobim e sua diversão de criança era ouvir a avó Alzira ler os folhetos de cordel. Jô Oliveira nasceu em Pernambuco, mas passou parte de sua infância em Campina Grande, Paraíba. Nos idos de 1950, envolveu-se com quadrinhos e cordel e esse gosto, adquirido na infância, perdura até hoje.
Depois dessas informações, caminhemos em direção ao livro de Arievaldo Viana e Jô Oliveira.
Para escrever a história de João de Calais, Arievaldo partiu do texto em prosa apresentado por Câmara Cascudo e procurou uma maneira fácil de ser compreendido por leitores de “qualquer idade... dos oito aos 80 anos” ( o cordel). Quando criança, teve contato com a versão de Severino Borges da Silva, uma edição da Luzeiro do Norte, folheteria de João José da Silva.
A história quadrinizada se inicia com invocação às musas e o poeta pede a proteção divina para falar sobre João de Calais. Embora o texto original tenha vindo da França, o cordelista prefere a pronúncia portuguesa – Calais e não Calé.
Dirigindo-se aos leitores, afirma que vai falar do amor de Constança e das batalhas de João. Dois motivos quase universais aparecem na história – “o morto agradecido” e a “esposa resgatada”.
No universo dos personagens, destacam-se: João de Calais, Constança e a prima Isabel, o pai de João de Calais, o rei de Palermo, pai de Constança, e o sobrinho do rei – Florimundo, “um jovem mau e egoísta/ sujeito péssimo e imundo” e um morto insepulto.
É uma história marcada por aventuras marítimas, pirataria, traições e ciúmes.
O traço vigoroso de Jô Oliveira captou os momentos de tensão e os personagens revelam aflição no olhar, medo diante das adversidades e assombro perante fatos estranhos. As cores fortes, com predomínio do amarelo e vermelho, condizem com o sol tropical do Nordeste.
Este folheto tem despertado a atenção dos estudiosos da literatura de cordel. A professora Neuma Fechine Borges, na década de 1970, analisou-o à luz da semiótica na sua dissertação de mestrado na Universidade Federal da Paraíba. O trabalho da professora Neuma Fechine foi apresentado em diversas cidades brasileiras, em Portugal e na França ( Universidade de Poitiers).
Neuma Fechine não teve a oportunidade de conhecer a versão de Arievaldo Viana, partiu antes do tempo, mas, certamente, iria gostar de saber que o folheto de Severino Borges foi revisitado por um cordelista jovem que imprimiu uma nova feição à velha história de João de Calais.

 
 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

LITERATURA DE CORDEL CONQUISTA SUL E SUDESTE

Livro Breve História da Literatura de Cordel é selecionado pelo programa Leituras do Professor (SP)
.
O livro Breve História da Literatura de Cordel (Ed. Claridade, 2010), de MARCO HAURELIO, foi selecionado pela Fundação de Desenvolvimento da Educação de São Paulo. Serão distribuídos aos professores da rede estadual paulista 30.368 exemplares da obra.
O livro traz um excelente resumo das origens da Literatura de Cordel, seu desenvolvimento no Brasil e o seu aproveitamento como ferramenta paradidática nas escolas de todo o país.


Fonte: BLOG DO MARCO HAURELIO

* * *

CÂMARA DO LIVRO DO RS E EDITORA CORAG RENOVAM PARCERIA PARA LANÇAMENTO DE CORDÉIS ILUSTRADOS DA DUPLA JÔ OLIVEIRA E ARIEVALDO VIANA


Ano passado, eu e Jô Oliveira levamos a Literatura de Cordel na Feira do Livro de Porto Alegre, através de uma parceria com a Editora CORAG. Na ocasião, foram distribuídos 20 mil folhetos de cordel com alunos das escolas públicas do Rio Grande do Sul, obras adaptadas a partir de contos do folclorista gaúcho JOÃO SIMÕES LOPES NETO. O folheto de cordel fez sucesso nos pampas... Eis a notícia, tal e qual foi publicada no site da Câmara do Livro de Porto Alegre:

Renovada parceria entre Camara do Livro e Corag
(29.03.2011)

O novo presidente da Corag, Homero Paim, e membros de sua equipe receberam, no dia 10 de março, o presidente da CRL, João Carneiro, e Sônia Zanchetta, da comissão executiva da entidade, para café da manhã em que se definiram as ações a serem desenvolvidas, em conjunto, em 2011, em prol da construção de um RS mais leitor.

Ficou acertada a publicação da obra Casos de Romualdo, de Simões Lopes Neto, adaptada para cordel por Arievaldo Vianna (CE) e ilustrada por Jô Oliveira (PE), cujo lançamento ocorrerá, com a presença dos dois autores, na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre. O livreto será o terceiro de uma série iniciada em 2010 com a adaptação dos contos Trezentas Onças e Coco Verde e Melancia, cuja distribuição contemplou 20.000 estudantes. 
   
Deve ser viabilizada,  também, a publicação da terceira edição da revista do evento Mutação na Feira - HQs, zines e outras histórias, que ocorre na Feira do Livro pelo sexto ano consecutivo; a terceira edição do livro Organização de Feiras de Livros, a ser distribuído entre as prefeituras municipais gaúchas, e pocket book com os dez contos vencedores do concurso Assombros Juvenis.
Promovido através de parceria entre a CRL, a Confraria Reinações e a Corag, o concurso será lançado na Semana do Livro, em abril, e terá sua premiação na Feira do Livro. Poderá participar, mediante a inscrição de contos para público juvenil, de acordo com o regulamento, qualquer pessoa maior de 18 anos residente no Brasil.
O novo presidente da Corag, Homero Paim, e membros de sua equipe receberam, no dia 10 de março, o presidente da CRL, João Carneiro, e Sônia Zanchetta, da comissão executiva da entidade, para café da manhã em que se definiram as ações a serem desenvolvidas, em conjunto, em 2011, em prol da construção de um RS mais leitor.
 

O presidente da CORAG, Homero Paim (segundo da esquerda para a direita), e o presidente da CRL, João Carneiro (de camiseta bordeaux) e membros das equipes das duas entidades

 FONTE: site da CAMARA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE

TRECHOS DE “CASOS DE ROMUALDO EM CORDEL”

ROMUALDO ENTRE OS BUGIOS
Adaptação: ARIEVALDO VIANA

Fui ao Rio Grande do Sul
Para tomar chimarrão
E comer um bom churrasco
Feito num fogo de chão
Quando chegou um guri
Com um pacote na mão.

Chegou e disse: - Quem é
O senhor Arievaldo?
O mestre Simões me disse
Que és poeta de respaldo...
E lhe mandou, de presente,
Os CASOS DE ROMUALDO.

Desembrulhei o pacote
Que vinha bem amarrado
Vi o livro de Simões
Lopes Neto autografado
E dentro vinha um bilhete
Com o seguinte recado:

“Tu que és bom trovador,
Um perfeito menestrel
Quero que o nobre amigo
Transponha para o papel
Os CASOS DE ROMUALDO
No formato de cordel.”

A carta de Simões Lopes
Veio mexer com meus brios
Confesso que este foi
O maior dos desafios,
Vou transpor para o cordel
“Romualdo entre os bugios” 

(...)



terça-feira, 19 de abril de 2011

RC NA LITERATURA DE CORDEL

CARTA DO SATANÁS A ROBERTO CARLOS
Desde meados da década de 1960 que a Literatura de Cordel enfoca ROBERTO CARLOS como um de seus personagens favoritos. Conheço dezenas de folhetos onde o Rei aparece de forma engraçada e caricatural. Aliás, este assunto já foi postado aqui mesmo, com a reprodução de um excelente artigo do poeta e pesquisador baiano Marco Haurelio. Hoje, dia 19 de abril, data em que ele faz 70 anos, vamos reproduzir trechos de um desses folhetos, clássico do catálogo da editora LUZEIRO, de São Paulo. "Quero que vá tudo por Inferno" fez tanto sucesso, que além de tocar no carnaval do ano seguinte (1966) serviu de tema para Enéias Tavares Santos escrever em literatura de Cordel a "Carta do Satanás a Roberto Carlos"

Enéias Tavares Santos
Carta do Satanás a Roberto Carlos

Roberto Carlos cantando,
Esse seu disco moderno,
Aonde diz que alguém venha,
Aquecê-lo "neste inverno",
E depois dele aquecido,
"Tudo o mais vá pro inferno".

Há poucos dias, por isso,
Uma carta recebeu.
Que o Satanás lhe mandou,
Com medo do disco seu,
Vamos saber na missiva,
O que foi que ele escreveu:

-"Inferno, côrte das trevas,
Meu grande amigo Roberto,
Eu vi o seu novo disco
É muito bonito, é certo,
Mas cumprindo a sua ordem,
O mundo fica deserto.

Porque você está mandando
Todo o mundo para aqui,
Se esse povo vier todo,
O que é que fica aí ?
Será o maior deserto
Que eu fico vendo daqui.

Homem que bate em mulher
Tem para mais de um milhão,
Mais duzentos mil tarados,
(Entre rapaz e ancião),
Setecentos mil ladrões
Tem num pequeno galpão.

E quanto mais você canta
Ainda mais gente vem,
Só de moça depravada
Ontem chegou mil e cem,
Aqui já está de uma forma
Que não cabe mais ninguém.

Você diz que não suporta
Ela longe de você,
Eu que vou suportar
Tanta gente aqui, por que?
Que fique tudo lá mesmo
Cantando o seu ABC.

O sofrer aqui é tanto
Que estou de boca amarga
E breve o meu inferno
Faço uma porta tão larga
Que encho o mundo de diabos
Com a primeira descarga.

Aqui não tem mais lugar
Nem mesmo para um ateu,
O meu enorme fichário
Esta semana se encheu,
Os apêrtos deste inferno
Quem sabe mesmo sou eu.

(...)
De batedor de carteira,
Ninguém pode mais somar,
Ladrão de galinha é tanto
Que não se pode contar
É um por cima do outro
E eu sem jeito para dar...

Filhos desobedientes
Que não respeitam seus pais,
Vive tudo amontoado
Dando suspiros e ais,
Com todos os quartos cheios,
Não tem onde botar mais.

E soldados que na feira
Aborrecem o folheteiro
Querendo cobrar imposto,
Lá no porão derradeiro,
Tem tantos que já estão
Exalando até mau cheiro.

Moça que vai para a rua
À noite depois da janta
E volta de madrugada,
No inferno já tem tanta
Que se eu for dizer o número,
Muita gente aí se espanta!

Poeta plagiador,
Também já tem um bocado,
E também dono de venda
Que vende charque molhado,
Aqui dentro do inferno,
Vive tudo amontoado.

(...)

PARA CONHECER A ÍNTEGRA DESSE FOLHETO, PROCURE ADQUIRIR O LIVRETO QUE É PUBLICADO E VENDIDO PELA EDITORA LUZEIRO.

CANTINHO DO ILUSTRADOR

JÔ OLIVEIRA
O ENCANTADOR DE CORDÉIS



Nosso blog inaugura uma nova seção – o CANTINHO DO ILUSTRADOR. O primeiro convidado, é claro, é o nosso amigo e parceiro JÔ OLIVEIRA, com quem já publiquei quase uma dezena de trabalhos. Tudo começou com a releitura do Pavão Misterioso no formato infanto-juvenil. Depois fizemos “O Bicho Folharal”, “Artimanhas de João Grilo” (ainda inédito), “A ambição de Macbeth” (Ed. Cortez), “300 onças” e “Melancia e Coco Verde” (pela editora CORAG, do Rio Grande do Sul) e uma adaptação para o formato de HQ da “História do navegador João de Calais e sua amada Constança”, pela editora FTD. Atualmente estamos trabalhando em dois projetos simultâneos para duas grandes editoras do eixo Sul-Sudeste.


                    Chico Sales, Arievaldo Viana, Jô Oliveira e Marco Haurélio

JÔ OLIVEIRA estudou Artes Gráficas na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e Comunicação Visual na Escola Superior de Artes Industriais da Hungria, em Budapeste. O seu traço marcante baseia-se nas xilogravuras nordestinas e no colorido dos bonecos de barro do Mestre Vitalino. Ou seja, uma influencia duplamente nordestina! Ninguém melhor do que ele para ilustrar os “cordelivros” da nova safra de poetas populares.

                                       Cego Aderaldo desafiando o diabo

Publicou diversos trabalhos e livros no Brasil, Itália, Grécia, Dinamarca, Hungria, França e Argentina. Realizou exposições dos seus trabalhos na Feira de Bologna (Itália), no Otani Memorial Museum de Nishinomyia (Japão), Angoulême (França), no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro), na Convenção das Nações Unidas (Italia), na Maison de l’Amérique Latine (França), entre outros. Ilustra livros infantis, desenha histórias em quadrinhos e selos postais (50 realisados para a ECT), que ganharam duas vezes o maior prêmio da filatelia internacional na categoria turismo - Prêmio Asiago (Itália).


Sua obra é baseada na literatura popular nordestina e no imaginário brasileiro. Seus trabalhos já foram publicados em diversas revistas especializadas como: “Modern Publicity” (Londres), “Graphis Poster” (Suiça), “Modern Art Museum Magazine” (México), “Decorative Design Magazine” (Bulgária), "Crisis" (Argentina).

Em 2004 recebeu o troféu de Grande Mestre dos Quadrinhos, que lhe foi entregue durante o Festival Internacional HQ MIX em São Paulo.

Confira alguns dos seus belíssimos trabalhos, que ele mesmo selecionou para o CANTINHO DO ILUSTRADOR:











segunda-feira, 18 de abril de 2011

ROBERTO CARLOS SETENTÃO



O REPÓRTER - Neste dia 19 de abril, o cantor Roberto Carlos completa 70 anos de vida. O maior nome de nossa música já foi chamado de "Rei da Juventude", de "Rei da MPB" e hoje é simplesmente chamado de "Rei".
Em toda a sua extensa discografia, Roberto Carlos é o brasileiro que mais vendeu discos, com mais de 120 milhões de cópias comercializadas.
Roberto Carlos é natural de Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo e ainda criança já demonstrava o desejo de virar cantor. Se apresentou pela primeira vez aos nove anos de idade em uma rádio local, sendo este fato considerado o marco zero de sua carreira.
Na juventude, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde entrou em contato com o rock. Na década de 1950 Fez parte das bandas The Sputniks e The Snakes. Nessa época começou a mais sucedida parceria musical, quando conheceu Erasmo Carlos.
Em 1959, lançou sem primeiro compacto. No mesmo ano, veio seu primeiro álbum "Louco Por Você", com influências da bossa nova. O disco foi um fracasso de vendas e, após o sucesso do Rei, acabou se tornando uma raridade, sendo um dos álbuns mais caros do Brasil.
Mas foi na decada de 1960 que Roberto Carlos acabou estourando. O Rei lançou músicas como "Splish Splhas", "Parei na Contramão" e "É proibido Fumar", iniciando assim a era da Jovem Guarda. Em 1965, Roberto apresentou o programa "Jovem Guarda" na TV Record, ao lado de Erasmo e Wanderléia.
Também fez carreira no cinema, lançando filmes como "Roberto Carlos em Ritmo de Aventura", Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa" e "Roberto Carlos a 300 por hora".
A partir da década de 1970, Roberto Carlos passou a se decicar mais às músicas românticas. Em 1971, lançou um álbum que contém vários de seus grandes sucessos como "Detalhes", "Amada Amente" e "Debaixo dos Caracóis, dos seus Cabelos".
Em 1974, gravou seu primeiro especial na Rede Globo, que acabou virando tradição anual. O programa só não foi exibido em 1999, em razão da morte de sua esposa, Maria Rita. Em 1985, gravou "Emoções", outro grande sucesso do Rei.
Roberto Carlos já cantou com vários nomes da música mundial como Julio Iglesias, Gloria Stefan, Luciano Pavarotti, Lanni Hall entre outros.
Nos últimos anos, se dedicou a gravar álbuns ao vivo ou grandes duetos. Em 2001, gravou o "Acústico MTV". Em 2008, lançou ao lado de Caetano Veloso um álbum em homenagem a Tom Jobim. Os 50 anos de carreira de Roberto Carlos froam comemorados com o show "Elas cantam Roberto" com participações de Ivete sangalo, Adriana Calcanhotto, Zizi Possi, Nana Caymmi, Daniela Mercury, Hebe Camargo, entre outros.
Em 2010, gravou o show "Emoções Sertanejas", ao lado de nomes como Chitãozinho & Xororó, Paula Fernandes, Martinha, Bruno & Marrone e Paula Fernandes.
Foi enredo de escola de samba em 2011. A Beija Flor de Nilópolis lançou o enredo "A Simplicidade de um Rei", sendo campeã do carnaval carioca.


LEIA TAMBÉM A POSTAGEM "ROBERTO CARLOS NA LITERATURA DE CORDEL"

FEIRA DO LIVRO INFANTIL

LIVRO E LEITURA EM PROMOÇÃO

Fonte: CADERNO 3 - Diario do Nordeste


No Dia Nacional do Livro Infantil, o Passeio Público é sede do lançamento da II Feira do Livro Infantil de Fortaleza, no qual se apresenta uma prévia do que será o evento em setembro

As ações vão além da tradicional venda de títulos, abrindo espaço para atividades lúdicas com crianças de escolas públicas

Em setembro do ano passado, uma parceria entre a editora Casa da Prosa e a Prefeitura de Fortaleza viabilizou a criação de mais uma feira de livros no Estado: a Feira do Livro Infantil de Fortaleza. Composta de debates, contações de história, shows e comercialização de livros, a programação durou quarto dias e mobilizou cerca de 45 mil pessoas.

Hoje, ao se comemorar o Dia Nacional do Livro Infantil, os organizadores promovem o lançamento da segunda edição da Feira do Livro Infantil, das oito da manhã até as três da tarde, no Passeio Público. A programação de hoje é uma prévia do que serão os quatro dias do evento, que acontece oficialmente apenas em setembro.
Agenda
Cedo da manhã, às 8h30, o Grupo Era Uma Vez abre a programação com contação de histórias. O dia segue com oficinas de Criação Literária, ministrada pelo escritor Almir Mota (coordenador geral do evento), e de Desenho, com o ilustrador Ramon Cavalcante. Às 10h30 acontece o Leituras no Passeio, atividade em que os escritores cearenses se revezam em leituras de seus livros para o público.

Logo depois, às 11h da manhã, acontece, de fato, o lançamento da II Feira do Livro Infantil, ocasião em que serão apresentadas as editoras selecionadas para ocupar os estandes. A agenda matinal é repetida durante a tarde, para que todos tenham acesso às atrações.


Novidades
"O mercado livreiro no Ceará precisa de uma ajudinha e as feiras são excelentes oportunidades de se escoar a produção a preços acessíveis", teoriza o coordenador do projeto, Almir Mota. Segundo ele, como a feira é apoiada por meio de leis de incentivo, definiu-se que os estandes não serão vendidos, mas ofertados a editoras que aceitarem os termos de contrapartida da feira: comercializar livros com 30% de desconto. "Dessa forma, não vai ser nada difícil para os visitantes encontrarem livros a R$ 10 e com excelente qualidade", salienta o coordenador da feira.

(...)

MAYARA DE ARAÚJO - Repórter


A editora IMEPH tem stand no Passeio Público

Leia matéria na íntegra aqui:

MESTRES DO CORDEL - I

MESTRE AZULÃO

Mestre Azulão - Arievaldo Viana - Bule-Bule

Vamos inaugurar esta nova seção - Mestres da Literatura de Cordel - com o paraibano arretado JOSÉ JOÃO DOS SANTOS, o MESTRE AZULÃO. Na foto, aparece também o poeta baiano Bule-Bule, repentista inspirado, cantador de samba de roda e cordelista de primeira linha. O que torna o AZULÃO um cordelista especial é saber cantar os folhetos nas velhas toadas de José Camelo de Melo Resende e outros grandes poetas do passado.
A biografia de Mestre Azulão foi extraída do site da Casa de Rui Barbosa.


BIOGRAFIA
Por Leonardo Vieira de Almeida

Azulão, alcunha de José João dos Santos – a qual adotou do cantador negro pernambucano Sebastião Cândido dos Santos, falecido em 1945 – nasceu em Sapé, Paraíba, em 8 de janeiro de 1932. É filho de João Joaquim dos Santos e de Severina Ana dos Santos.
Cantador de viola e poeta popular, vive atualmente no Rio de Janeiro, onde pode ser encontrado na Feira de São Cristóvão, vendendo seus cordéis em um estande. Aos dezessete anos de idade já compunha seus primeiros versos.
Publicou folhetos de cordel em A Modinha Popular, Jornal das Moças Ltda., R. Gomes Artes Gráficas, A Voz da Poesia, todas no Rio de Janeiro; e na Editora Tupynanquim, de Fortaleza.
Humor
Para a campanha de defesa do folclore brasileiro, gravou o disco Literatura de cordel, em 1975. Seus folhetos mais famosos são O trem da madrugada e O poder que a bunda tem. A obra desse cordelista, que contabiliza ter publicado mais de trezentos folhetos, se destaca principalmente pelo humor, abordando temas como a história da minissaia ou uma genealogia dos chifrudos.
Não deixa de enveredar, também, pelas histórias de animais, pelos contos de castigo e recompensa e maravilhosos, pelejas, fatos políticos e históricos, aspectos da religião (milagres e romarias em Aparecida do Norte), além do romance, como por exemplo História de Renato e Mariana no Reino de Macabul.
Nota: O poeta não autorizou a digitalização de sua obra, disponível para os pesquisadores na Biblioteca da Fundação Casa de Rui Barbosa.



Referências bibliográficas

GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Secretaria do Estado de Ciência e Cultura e Departamento de Cultura – Inepac / Divisão de Folclore. O cordel no Grande Rio. Rio de Janeiro, 1978.
PROENÇA, Ivan Cavalcanti. A ideologia do cordel. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1976.

domingo, 17 de abril de 2011

Carta do Satanás a Roberto Carlos

Roberto Carlos
na Literatura de Cordel



Por MARCO HAURELIO*

A polêmica desencadeada pela proibição, na Justiça, do livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo, revelou que sob os raios fúlgidos da pátria, a liberdade sorri para poucos. É a ditadura econômica, de que fala Chico Buarque, para a cultura bem mais nociva que a dos milicos. Por falar em ditadura e em Roberto Carlos, retornemos a 1965, mais precisamente a Osasco, grande São Paulo. Nesta cidade, antes de uma apresentação no cinema Rex (do latim: rei), encontraremos Roberto saudoso de uma namorada que, naquele momento, estava bem longe, nos States. O ruído provocado pelo dial de uma estação de rádio manipulado por sua secretária, Edy Silva, sugeriu uma melodia. E assim nasceu o refrão: “quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno”. Com a providencial ajuda de Erasmo Carlos, a música estourou nos quatro cantos do país.
Vamos agora ao Nordeste brasileiro, a bordo de um velho ônibus, saído de Maceió com destino a Aracaju, no qual viajava o poeta popular Enéias Tavares dos Santos conduzindo uma mala repleta de folhetos de cordel e bugigangas diversas. Ao lado do poeta um rádio repetia a imprecação em forma de canção do então rei da juventude, nascida naquela noite fria em Osasco, de que falamos há pouco. O poeta ficou atento apenas ao refrão. Quando saltou na capital sergipana, estava pronto, faltando apenas passar para o papel, o folheto A Carta do Satanás a Roberto Carlos. Na fabulação de Enéias, cansado de ouvir o cantor mandar tudo para o inferno, Satanás resolve escrever-lhe uma carta, tentando demovê-lo da idéia:

Inferno, corte das trevas,
Meu grande amigo Roberto,
Eu vi o seu novo disco
É muito bonito, é certo,
Mas cumprindo a sua ordem,
O mundo fica deserto.

E o soberano das trevas faz mais este apelo ao ídolo da jovem guarda:

Tem feito muito sucesso
Essa sua gravação
Mas eu já sofri até
Ataque do coração
Porque aqui no inferno
É de fazer compaixão.

Se para aqui vier tudo
Eu fico muito apertado
Pois o inferno já está
Por demais superlotado,
Você ganhando dinheiro
E eu ficando aqui lascado.

Importante é notar a ressignificação da música na interpretação do poeta popular. O cordel fez tanto sucesso que possibilitou a Enéias “pôr em dia os atrasados”, conforme depoimento ao poeta João Gomes de Sá. Negociado com a Editora Prelúdio, hoje Luzeiro este folheto é editado ininterruptamente há mais de 40 anos. No seu rastro vieram a lume mais três títulos, todos de Manoel D’Almeida Filho: A Resposta de Roberto Carlos a Satanás; A Chegada de Roberto Carlos no Céu e Roberto Carlos no Inferno. Convém notar que no inferno, as diabas se comportam como as jovens admiradoras do “rei” em sua corte terrestre:

As diabas moças gritavam
Como que ficaram loucas,
Todas pediam autógrafos,
De gritar ficaram roucas,
Porque não havia força
Que calasse aquelas bocas.




Mais conservador é Apolônio Alves dos Santos, autor do folheto A Mulher que Rasgou o Travesseiro e Mordeu o Marido Sonhando com Roberto Carlos. Outro grande poeta, Joaquim Batista de Sena, lamenta as mudanças ocorridas na Igreja Católica, imputando-as a Roberto e seus seguidores:

Vou chamar primeiramente
O grande rei do hippysmo
O senhor Roberto Carlos
Com todo seu cafonismo
Pois ele foi quem mudou
A lei do cristianismo.

A bibliografia sobre Roberto Carlos no Cordel é extensa e reflete a mentalidade do autor, com enfoque ora conservador ora liberal, indo do satírico à estória de exemplo. Manoel D’Almeida, por exemplo, era consultor da Editora Prelúdio, que além da boa literatura de cordel, editava a Melodias, a revista da mocidade, na qual Roberto era figurinha carimbada. Daí o tratamento simpático dispensado ao cantor capixaba. Joaquim Batista de Sena, por outro lado, refletia a mentalidade sertaneja, refratária a mudanças, especialmente as ocorridas no seio da Igreja.


* Marco Haurélio é poeta popular, pesquisador e assessor da editora NOVA ALEXANDRIA. Também já atuou como selecionador de textos da Editora Luzeiro.

* * *

Poeta Luiz Wilson lança novo cordel sobre ROBERTO CARLOS



Ano passado, o poeta Luiz Wilson lançou um  cordel intitulado: Roberto
Carlos, 50 anos, emoções em rimas, pela editora Luzeiro.

 

“O que com amor se escreve
Certamente não se apaga

Entre as comemorações
E tudo que se propaga
Minha homenagem é fiel
Na linguagem do CORDEL
Pra ROBERTO CARLOS BRAGA!”