quarta-feira, 8 de maio de 2019

DUPLO LANÇAMENTO


Poetas Arievaldo Vianna e Bruno Paulino lançam cordel sobre os milagres de Antônio Conselheiro

Por Diego Barbosa


Ilustração de Arievaldo Vianna para o livro de sua autoria e Bruno Paulino

Lançamento acontece nesta sexta-feira (10), na Livraria Lamarca; na ocasião, Bruno Paulino também lança, de forma individual, outra obra

Das memórias que Arievaldo Vianna carrega consigo da época de infância, aquelas relacionadas às caminhadas com a avó Alzira são ternas e ultrapassam o componente afetivo: remontam a conhecimentos importantes, adquiridos à boca pequena. Ao visitar o município de Quixeramobim, ela fazia questão de mostrar ao neto os lugares históricos e relembrava episódios de seus antepassados.
Um desses saberes, que o poeta batizou em livro de "Lições informais de história", diz respeito à casa de Antônio Conselheiro e o sobrado onde ainda funciona a Câmara Municipal da cidade. Falando-se propriamente do antigo lar do líder do movimento messiânico que reuniu milhares de sertanejos no arraial de Canudos, no Nordeste da Bahia - para resistir às tropas do Governo Federal, em novembro de 1896 -, o escritor recorda ter iniciado, ali, uma relação de estreitamento com a figura do histórico e relevante personagem.
"Eu nasci no sertão Central, na divisa de Quixeramobim com Canindé, onde hoje é Madalena. E, desde pequeno, o Conselheiro foi um personagem que me fascinou. Mas eu nunca tinha feito nada em cordel a respeito dele", explica Arievaldo.
A nova empreitada do poeta, realizada com outro autor quixeramobinense, Bruno Paulino, dá um basta a esse hiato. "Os milagres de Antônio Conselheiro" traduz, nas celebradas rimas da cultura popular, os feitos mágicos do "peregrino", como ele se autodenominava. A obra será lançada nesta sexta-feira (10), às 19h, na Livraria Lamarca. Na sequência, um bate-papo com os autores terá mediação de Zeca Lemos, representante da nova safra de escritores da cidade.
Na ocasião, Bruno Paulino também lançará, de forma individual, seu quinto livro, "Ofertório dos Pássaros", estreia solo no gênero poesia.

Memória

Com prefácio assinado pelo jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho e ilustrações de Arievaldo Vianna e Jô Oliveira, o cordel começou a ter seu projeto modelado há cerca de dois anos, quando uma iniciativa do Sesc-Ler convidou os autores para ministrar oficinas sobre o tema, ampliando perspectivas.
Segundo Arievaldo, "Canudos nem existia quando ele fez o primeiro milagre. Chegou em Monte Santo, onde havia uma seca muito grande, pediu para pregar e traçou uma cruz na parede da Igreja com o cajado. Começou a pingar água do teto do templo naquele mesmo momento". Com criatividade, o feito é narrado no cordel, aliado a outros tantos.


Poetas quixeramobinenses, Bruno Paulino e Arievaldo Vianna iniciaram o projeto de "Os milagres de Antônio Conselheiro" a partir de oficinas organizadas pelo Sesc-Ler
Foto: Tarcísio Filho
Bruno Paulino ressalta ainda que a obra teve como base capítulos do livro "O Capitão Jagunço" (1946), do escritor Paulo Dantas. "Claro que recorremos a outras fontes, como Euclides da Cunha, Ariano Suassuna e José Calazans, pois nossa intenção era também evocar outros aspectos da mística do Beato, como a pregação apocalíptica e o Sebastianismo latente em Canudos", detalha.
Perguntado sobre a relevância de as pessoas ainda hoje se debruçarem sobre a personalidade de Antônio Conselheiro, Arievaldo não titubeia:

"Hoje, mais do que nunca, sua figura é importante para mostrar às pessoas que, por mais humildes que sejam, elas são capazes de uma reação, de se insurgir contra um sistema que está oprimindo, massacrando, retirando direitos, tirando a liberdade, privando das coisas mais elementares".

Divino mistério
Por sua vez, "Ofertório dos pássaros" reúne poesias de Bruno Paulino gestadas sobretudo no último ano. "Dei um conceito à obra de celebração do divino mistério, que é a própria ideia que tenho de poesia, e que também é o mesmo sentido místico da missa", considera. "Por isso a divisão do livro em duas partes do rito religioso: homilia sombria dos dias e ofertório dos pássaros".
O exemplar, de acordo com o poeta, também vai ao encontro de confrontar o que observamos atualmente no Brasil a nível político e social. "No livro, deixo claro que essa é a razão existencial do poeta: ofertar pássaros como resistência, apesar do tempo sombrio". É ler para conferir.

Serviço
Lançamento dos livros “Os milagres de Antônio Conselheiro” e “Ofertório dos Pássaros” e bate-papo com autores. Nesta sexta-feira (10), às 19h, na Livraria Lamarca (Avenida da Universidade, 2475, Benfica). Entrada gratuita. Contato: Facebook da livraria


Os Milagres de Antônio Conselheiro
Arievaldo Vianna e Bruno Paulino
Independente
2019, 46 páginas
R$ 15


Ofertório dos Pássaros
Bruno Paulino
Luazul Edições
2019, 78 páginas
R$ 25


segunda-feira, 6 de maio de 2019

CORDEL DE MORAES MOREIRA


Foto: Divulgação

DÁ PARA VIVER SEM CULTURA?


O poeta José Walter Pires, meu confrade na Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, acaba de me enviar um cordel de autoria do seu irmão MORAES MOREIRA, cantor e compositor dos mais inspirados, que há algum tempo se enveredou também pelo universo do CORDEL.

Eis abaixo, o poema com o qual Moraes Moreira faz o seu protesto criativo, consciente e sobretudo cultural, contra os que atentam contra a cultura brasileira em geral, sobretudo porque a desconhecem ou não foram capazes se irem além da mesquinhez e probreza dos seus próprios conhecimentos.  Moares, com o seu estilo fenuíno de compositor, poeta e cordelista, esgrime com a costumeira maestria os seus versos, numa mistura de música e poesia, para brindar mais uma vez o seu velho/novo e fiel público nas apresentações pelos palcos artísiticos do Brasil, em especial na casa do nosso poeta maior, O Teatro Castro Alves, onde a sua estrela sempre brilhou. Já o disse e repito que não sou suspeito nada, quando falo a respeito dele, em especial porque, modesto, sempre submete as suas criações ao velho mano, antes de divulgá-las na mídia. Fico feliz e agradecido, antecipando a alegria do noso encontro, na próxima sexta-feira, com a declamação deste belo poema. Vamos, pois, ao Castro Alves! 

DÁ PRA VIVER SEM CULTURA?
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Sem alma, corpo é cadaver;
Sem corpo, alma é fantasma.
Ah, como é triste se ater
Com quem não se entusiasma!
Prefiro uma sepultura
Do que viver sem cultura,
Onde a matéria não plasma.
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A história da humanidade
Jamais se escreveu sem arte;
Em toda e qualquer idade
O grande artista fez parte,
Eternizando  momentos,
Verdadeiros monumentos,
Em várias formas, destarte.
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E quem é que não precisa
Dessas ricas referências?
O sorrir de “Mona Lisa”,
Entre outras aparências,
A beleza foi pintada;
Van Gogh  - “Noite Estrelada”
A despertar consciências.
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Veja bem como se trata
O traço do grande esteta:
Composição abstrata
A sua obra é completa;
Quão genial é seu toque,
O americano Pollock,
Pintando, era um poeta.
.
Apresentou seu talento
No mundo da lua, o artista!
Ali, naquele momento,
Era ele o impressionista..
Vou olhar de pincenê
O trabalho de Monet,
Que vai encher minha vista.  
.
Do amor se fez o tesouro!
Dei nota dez e dou vinte,
Pintado em folha de ouro
Assim foi o “Beijo” de  Klimt,
Tela que pegou na veia,
Foi ela, - “A Última Ceia”
De Leonardo da Vinci.
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 Não demorou muitas horas
O mestre, pra dar ouvidos:
Senhores e minhas senhoras!
Os relógios derretidos,
O Salvador, desses ismos,
Formigas, surrealismos,
Dali, dos tempos vividos.
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Tema: “Bombardeamento”
Traz a tristeza no traço;
Tem um arrebatamento
Que leva a gente ao abraço.
A vida significa,
Admirando “Guernica”
Do grande Pablo Picasso!
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Michelangelo pintou
No céu, “Capela Sistsina”
O que Papa encomendou     
Aquilo que o mestre ensina,
Em suas visões idílicas,
Mostrou-nos passagens bíblicas,
Que a gente nem imagina.
.
As obras primas são tantas,
Só acha quem as procura.
Ó gênios, como me encantas
Com a divina loucura! 
Meu povo, vai, não vacila!       
“Abaporu” de Tarsila!   
Dá pra viver sem cultura?
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Moraes Moreira 22 de abril 2019