quinta-feira, 7 de novembro de 2019

ANEDOTÁRIO CEARENSE


Humberto de Campos, escritor maranhense

ANEDOTAS DO LEOTA

No post de hoje, apresentamos aqui uma série de causos e anedotas recolhidos por Leonardo Mota e publicados por Humberto de Campos em seu volume de anedotas galantes de todos os tempos e todos os povos, intitulado “Alcova e Salão”:


O vestido da Francisca

Certo bispo de uma diocese nordestina devia chegar em desobriga uma cidade e isso punha em polvorosa os alfaiates e as modistas do lugar, pois que as "Visitas Pastorais", importantes festas, não só de caráter religioso. Velha matuta previdente, vendo avizinhar-se a chegada do dignitário da Igreja, exigiu que uma costureira apressasse a entrega da encomenda de uns vestidos para a filha. E fê-lo aludindo a dupla circunstancia de a chegada do bispo estar iminente e a moça não dispor de muitas condignas mudas de roupa:
— Avie, comadre, avie com isso! A Francisquinha esta nua e o senhor Bispo está em cima!...




A "veiaca"

Certo médico teve de aplicar num velho sertanejo uma série de injeções de mercúrio. Dolorosas que são tais injeções, a terceira ou quarta das mesmas, quando o clínico procurava lancetar a nádega do cliente matuto, notou que este encolhia as traseiras, num irreprimível nervosismo.
Observando isso, perguntou-lhe:
— Que historia e esta? Você esta com medo?
— E medo não, seu Doutô... E o diabo da bunda que esta ficando “veiaca”!

A vaca da sogra

Em Ingazeiras. Na "ponta da linha", isto e, na derradeira estação ferroviária da "Baturité", há uma latada que serve de mercado de frutas e carne verde. Sob o pretexto de me servir do café vendido por gorda e velha negra, acerco-me de um grupo de matutos palradores. Eles palestram sobre seus próprios interesses:
— Compadre, você é feliz com gado?
— Qual! Nem eu, nem minha sogra.
Eu, assim mesmo, o ano passado, inda peguei três bezerros, Mas, minha sogra, coitada, não passou duma vaca parida.

O "iscandeloso"

Duas horas de uma tarde de setembro em Quixadá, no Ceará. Nos meses da seca, ventos fortíssimos agitam a cidade, enchendo-a de pó, num doido bater de portas.
Na vasta praça da Matriz, sobretudo, as transeuntes jovens sofrem o vexame de se verem quase desnudas pela ventania que lhes sacode as saias curtas.
Velha matuta austera ia com a filha pelo meio da praça, quando um redemoinho se desencadeou. Segurando as saias e agachando-se, a matrona avisou, prudente:
— Lá vem o ridimunho! Te põe de coca, menina, te põe de coca que lá vem o "iscandeloso"!


(In Alcova e Salão – Humberto de Campos)


O escritor cearense Leonardo Mota




Baixe o livro ALCOVA E SALÃO e muitos outros nesse link:
https://groups.google.com/forum/#!topic/armazem18/oWftw6YPbO0