sábado, 3 de março de 2012

GÊNIO DA RAÇA

Noca do Acordeon – Dançando com você


Um belo disco do Noca.

Com choros, sambas e baiões, com o estilo de Noca que é inconfundível.


Não sei se meus leitores concordam, mas na minha modesta opinião NOCA DO ACORDEÓN é o maior sanfoneiro do Brasil, instrumentista e compositor de alta linha, verdadeiro gênio da raça. Pode até não ser o melhor, mas com certeza é o que mais me agrada. Mais que Sivuca, Dominguinhos e outros instrumentistas consagrados, esse baiano de Vitória da Conquista soube conquistar o coração do povo brasileiro. Sua música transmite uma grande carga de beleza e sentimento. Destaque para "Coração de Artista", de Noca e Palmeira, "Baião da Saudade", de Noca e Leonel Cruz e  “Samba em prelúdio” de Baden Powell e Vinicius de Moraes.  Fonte da postagem: www.forroemvinil.com


Noca do Acordeon – Dançando com você
1973 – Tropicana



01. Coração de artista (Noca do Acordeon / Palmeira)
02. Resta-me saudade (Noca do Acordeon / Gerôncio Cardoso)
03. Samba em prelúdio (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
04. Baião da saudade (Noca do Acordeon / Leonel Cruz)
05. Revendo o norte (Geraldo Correia)
06. Sentimental (Noca do Acordeon)
07. Mocinho bonito (Billy Blanco)
08. Dançando com você (Noca do Acordeon)
09. Boêmio e sua vida (João Silva / J. Aquino)
10. Pertinho do céu (Noca do Acordeon)
11. Pé de briga (Gaúcho do Luar)
12. Frevo da vitória (Buco do Pandeiro / Zé Araújo)

Para baixar esse disco, clique aqui.

sexta-feira, 2 de março de 2012

MARÇO, O MÊS DE SÃO JOSÉ

São José - Xilogravura de Hamurabi Batista (Juazeiro-CE)


O povo cearense espera ansioso pela data 19 de março, dia do seu padroeiro SÃO JOSÉ, que constitui a derradeira esperança para o início da quadra invernosa. A data praticamente coincide com a passagem do equinócio (o fenômeno causado pelo El Niño), mas esta explicação cienfítica não serve para o bom sertanejo, que prefere atribuir as bênçãos da chuva ao "sinhô São José". O fato é narrado de maneira exemplar no poema A TRISTE PARTIDA, de Patativa do Assaré e também na música A FESTA DO MILHO, interpretada por Luiz Gonzaga: "Em março queima o roçado / a 19 ele planta / a terra já está molhada / ligeiro o milho levanta..."
Para lembrar uma data tão importante para os nordestinos, resolvi publicar esse maravilhoso poema de Zé Laurentino, também gravado por Rolando Boldrin, intitulado: ESMOLA PRA SÃO JOSÉ:


Titulo: Esmola para São José

Autor: José Laurentino




Tem certas coisa, seu moço,

Que eu num gosto munto, não!

Por inxemplo: ouvir contá

Históra de assombração,

De arracamento de dente,

Ouvir históra de briga...

Eu posso até escutá,

Mas me dá u’a fadiga!...



E outra coisa, seu moço,

Que de bom gosto eu num faço,

É dá esmola a quem pede

Com santo imbáxo do braço.



Ah, pois eu acho que o santo

Num tem munta precisão,

Afiná, eu nunca vi

Um santo comer feijão.



Mas, por arte dos pecado,

Ou por minha pouca fé,

Todo dia lá em casa

Passa um velho andando a pé,

Por siná, munto feliz,

Chega em minha porta e diz:

Esmola pra São José!!!



E o diabo da muié,

Que é muito da alcovitêra

(Inda num vi u’a muié

Mode num sê rezadêra),

Adquire um tanto ou quanto,

Corre, vai dá ao santo,

Pra o velho fazê a fêra.



Muitas vez, logo cedinho,

Se eu vou tomar o café,

Quando dou fé o grito:

Esmola pra São José!!!



Isto foi me enchendo o saco,

Cada vez enchendo mais…

E um dia, eu cheguei em casa,

Com a barguia pra trás,

Sentei num sepo de pau,

Tomei uma de rapé,

E ouvi a voz lá na porta:

Esmola pra São José!



Pro mode dá a esmola,

A muié se arremexeu,

Mas eu lhe gritei: Num vá,

Que quem vai hoje sou eu!



Quando eu cheguei lá na porta,

O velho teve um espanto!

E eu disse: Vá trabaiá,

Que eu num dou esmola a santo!

Troque o santo numa enxada,

Deixe de ser preguiçoso,

Que santo num quer esmola,

Num seja tão presunçoso!



O velho me olhou e disse:

“Que São José te perdoe…

E se Deus tiver ouvindo,

Quero que ele te abençoe

E que cubra a tua casa

De paz, amor, união

Saúde, prosperidade,

Sossego e compreensão…



E se um dia o senhor,

Precisar deste velhinho

Ele não mora tão perto,

Mas eu lhe ensino o caminho.

Fica no sítio Acauã,

Onde já morou meu pai,

À direita de quem vem,

À esquerda de quem vai.



Se um dia, o senhor passar

Por ali, com precisão,

De fome o senhor não morre,

Também não dorme no chão.



Quando o velho disse aquilo,

Eu senti naquele instante

Como se eu fosse uma formiga

Sob os pés dum elefante.



Tava com as perna tremendo,

Digo e não peço segredo:

O velho deu-me uma surra,

Sem me tocar com o dedo.



Eu, com tanta ignorança,

Ele tanta mansidão,

Fez eu pagar munto caro

A falta de inducação.



Entonce, naquele instante,

Eu gritei por Salomé,

Que trouxesse pro velhinho

Uma xícara de café.

E fui contá meu dinheiro,

Tinha somente um cruzeiro,

Dei todinho pra São José!...

quinta-feira, 1 de março de 2012

CANTORIA NO FACEBOOK

 

Andei postando essa fotografia no facebook e de imediato surgiu um tema dado pelo “amiguim” ALTAY PEREIRA – Mandacaru é como político, não dá sombra nem encosto... Convoquei Pedro Paulo Paulino e fizemos algumas glosas sobre o assunto:


ARI - O mandacaru me lembra

O político, no seu posto

Quando quer pedir um voto

É jeitoso que faz gosto

Porém depois de eleito

Não dá sombra nem encosto.



PPP - Mandacaru se defende

Usando seu próprio espinho

É tão valente, que nele

Não senta nem passarinho

Quem de nós que se defende

Dum político em seu caminho?



ARI - Lí num grosso pergaminho

Que encontrei no sertão

Que político é a serpente

Que “atentou” o velho Adão

Quando quer pegar um besta

Rasteja até pelo chão.



PPP - Zédantas mais Gonzagão

Cabras que trilharam o pó

Vendo a planta sertaneja

Fizeram um belo forró

N’A volta da asa-branca

Ele relembra um xodó...



ARI - Disse um sábio Faraó

Na lápide de sua tumba

Há três mil anos atrás

Escreveu na catacumba

Que político dá ENCOSTO

Mas só se for na macumba.



PPP - Eu tenho um mandacaru

Plantado no meu terreiro

Sua flor prometeu chuva

Que caiu em fevereiro

Diferente de político

Mentiroso e trapaceiro



ARI – Eu passei um ano inteiro

Numa peleja de morte

Para cobrar um político

Mas ele não fez aporte

Além de não dá encosto

Fez sombra na minha sorte.



PPP – Mandacaru bom de corte

Depois que é sapecado

Sendo em tempo de seca

É comida para o gado;

Político não zela o nome

Do povo não mata a fome

Por isso estou vacinado.



ARI – Mandacaru é sagrado

Não é do político espelho

Político ruim não dá frutos

Escute cá meu conselho;

Mandacaru quando flora

Sei que ninguém ignora

Traz chuva e fruto vermelho.

(...)



Essa "peleja" tende a aumentar e poderá ser publicada em folheto num futuro próximo.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

PAVÃO MISTERIOZO - A CANÇÃO

Ilustração: ARIEVALDO VIANA

O Romance do Pavão Misterioso passou a ser conhecido graças as muitas adaptações feitas para teatro.O cordel foi transformado também em revista em quadrinhos,por Sérgio Lima-editora Luzeiro-2010.Já em 1974, o cantor Ednardo grava "O romance do pavão mysteriozo" de sua autoria,música que fez parte da trilha sonora da novela "Saramandaia" exibida pela TV Globo.

Ednardo cantando Pavão Mysteriozo - Canecão Rio  (Baile do Baleiro)

Link: http://www.youtube.com/watch?v=1c1tQaS2yfg&feature=related
Ícone de alerta
 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

PAVÃO NAS ESCOLAS

Ilustração: Valdério Costa (Nordestino radicado em Brasília)

É de bom alvitre que se saiba que o controverso 'Romance do Pavão Mysteriozo' não está apenas nas Escolas de Samba do primeiro grupo do Rio de Janeiro. Faz tempo que chegou nas escolas de ensino formal. Prova disto é um texto publicado na revista ESCOLA (Editora Abril, edição de agosto de 2011) recomendando o uso do folheto na sala de aula. Vejamos a matéria:

Literatura de cordel – O PAVÃO MISTERIOSO

Fonte do artigo: Revista Escola (Editora Abril) – Edição de Agosto de 2011


Link de acesso: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/literatura-cordel-629372.shtml

Objetivos

- Conhecer literatura de cordel.
- Ler por prazer.

Conteúdo

- Leitura e interpretação de cordel
Anos -  4º e 5º.

Tempo estimado  - Um mês.


Material necessário

Cópias do cordel O Romance do Pavão Misterioso, de José Camelo de Melo Rezende.*


Flexibilização

Para alunos com deficiência auditiva

Ter um intérprete de libras em sala é muito importante para o desenvolvimento do aluno com deficiência auditiva. De qualquer modo, proponha ao aluno que sente nas carteiras da frente e fale pausadamente, articulando bem as palavras, para auxiliar aqueles capazes de fazer a leitura orofacial. Antecipe o cordel que será trabalhado na sequência para o aluno surdo e faça marcações com cores diferentes nas terminações de palavras que rimam e em palavras escritas na variedade popular (como são faladas). Preparar uma espécie de 'glossário com as palavras da língua falada e com a sua grafia na variedade padrão da Língua Portuguesa ajuda o aluno a compreender melhor a proposta do cordel. As ilustrações também contribuem para a aprendizagem desses alunos. Amplie o tempo de realização das etapas da sequência e conte com a ajuda do AEE para que o aluno trabalhe a interpretação do cordel na língua de sinais.

Desenvolvimento

1ª etapa

Prepare-se para uma conversa com a turma sobre a literatura de cordel: sua origem, o porquê do nome, seu desenvolvimento no Brasil, o preconceito que pesou sobre o gênero no passado, sua valorização nos dias de hoje etc. Em seguida, estude o cordel O Romance do Pavão Misterioso, também com a intenção de preparar a leitura em voz alta que você fará para os alunos naa 3ª etapa.


2ª etapa

Compartilhe com os estudantes as informações reunidas sobre a literatura de cordel. Informe-os de que você vai ler com eles um dos maiores clássicos do gênero - nada menos que o folheto mais vendido de todos os tempos. Caso você tenha conseguido um exemplar original, aproveite para mostrá-lo à sala, deixando que as crianças explorem a ilustração da capa. Se não conseguiu, explique que muitas obras de cordel estão disponíveis na internet e que foi de lá que saiu o texto. Em seguida, avise que você lerá em voz alta a primeira parte do cordel, mas que, no decorrer da atividade, todos poderão desempenhar esse papel.

3ª etapa

Leia em voz alta da estrofe 1 à 25. Em seguida, promova uma discussão com perguntas do tipo: na estrofe 5, o autor afirma que João Batista "pensou pela vaidade". O que isso quer dizer? Proponha que as crianças releiam as 25 estrofes e ajude-as a adequar a entonação e o ritmo da fala. Por fim, informe que, antes de cada uma das sessões de leitura que virão a seguir, elas receberão a cópia de mais uma parte do cordel para que possam preparar a leitura em casa.

4ª etapa

Na segunda sessão, trabalhe com as estrofes 26 a 42. Depois que elas forem lidas por você e pelos alunos, conduza a discussão com perguntas que estimulem a interpretação. Por exemplo: o que o autor quis dizer quando se referiu a "capitalista"? Repita o procedimento nas etapas seguintes.

5ª etapa

Sessão 3 (estrofes 43 a 62): o que a palavra "azougada" significa?

6ª etapa

Sessão 4 (estrofes 63 a 82): o que a personagem Creuza quis dizer com "se és vivo ou encantado"?

7ª etapa

Sessão 5 (estrofes 83 a 104): o que o personagem Evangelista quis dizer com "levo essa estrangeira"?

8ª etapa

Sessão 6 (estrofes 105 a 121): o que Creuza quis dizer com "um rapaz para me ver precisa ser encantado"?

9ª etapa

Sessão 7 (estrofes 122 a 141): o que as crianças acharam do fim da história?

Avaliação

Verifique se os alunos conseguiram interpretar adequadamente o cordel e analise o compromisso deles com a preparação da leitura.

Consultoria: Ana Flávia Alonço Castanho

Formadora do Projeto Entorno, de São Paulo.


 * Em artigo publicado recentemente em nosso blog, trazemos à tona alguns esclarecimentos sobre a versão do Pavão Misterioso que chegou aos nossos dias, provavelmente a escrita por João Melchíades, baseada nos originais manuscritos de José Camelo.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

GENIO DA CANTORIA

Cego Aderaldo e o grupo musical que o acompanhava
nas suas apresentações (Acervo de Rosemberg Cariry)
 
A VASTA VISÃO DO CANTADOR CEGO ADERALDO
 
Por: Cláudio Portella

Comum, em minha infância, apelidarmos as crianças que usavam óculos – nossos amigos de sala de aula, das brincadeiras em final de tarde na nossa rua – de Cego Aderaldo. Os nerds de hoje, por conta dos óculos, são os Cegos Aderaldo de minha infância. Temo o apelido se extinguir, nos novos tempos de nerds e de grande crescimento tecnológico.

Toda vez que chamarmos alguém de Cego Aderaldo estaremos, mesmo inconsciente, evocando a figura do fenomenal cantador.

Cego Aderaldo nunca escreveu um livro – o mais próximo a que chegou foi narrar sua história ao escritor Eduardo Campos -, sequer um cordel. Quase não sabia ler, mas assinava o nome, compunha acrósticos e aprendeu a ler em Braille. Para saber as horas, usava um relógio com o mostrador em alto relevo. Tinha o verso preciso, a palavra justa. Foi um cantador itinerante, um artista do bom improviso. Aos acordes de sua viola, seu cantar era exato, redondo, suas rimas perfeitas. Não se repetia. Daí sua enorme vantagem sobre os demais cantadores. Seu vocabulário era fácil, acessível a todos. Sua palavra, cantada, tinha muita força simbólica.

A obra de Cego Aderaldo é um manancial de ricos achados orais. Foi estudada por grandes mestres folcloristas: Luis da Câmara Cascudo, Edson Carneiro, Leonardo Mota, Alceu Maynar de Araújo etc.
 
VER POSTAGEM COMPLETA EM: www.vilacamposonline.blogspot.com