sábado, 27 de dezembro de 2014

AINDA LEANDRO...



Por e-mail, recebi esse texto do poeta Geraldo Amâncio, um dos maiores expoentes da cantoria na atualidade e também excelente poeta de bancada (seu cordel sobre Antonio Conselheiro e a Saga de Canudos não me deixam mentir), falando de suas impressões sobre o livro “LEANDRO GOMES DE BARROS – VIDA E OBRA, de minha autoria. É mais que gratificante granjear o reconhecimento de uma figura como Geraldo, depois de uma pesquisa longa e exaustiva como essa que acabo de transformar em livro:

“Neste final de semana concluí a leitura de um dos melhores livros que já tive oportunidade de ter em mãos. Trata da trajetória sofrida e gloriosa do poeta maior que até hoje o cordel conhece: Leandro Gomes de Barros.
O livro fala da orfandade do genial poeta aos 8 anos de idade, dos dias de escolaridade e desentendimento com o tio padre, mestre latinista que tornara-se o seu tutor. Da sua grande amizade com o poeta escritor Francisco das Chagas Batista, onde a força da poesia e a similaridade de talentos fizeram com que a admiração dos dois fosse recíproca.
Mostra a cópia da certidão de óbito precoce em 1918. Aborda o assunto da venda da sua produção poética, pela viúva, ao também poeta cordelista João Martins de Athayde que depois, de forma impiedosa e até covarde, exclui o nome do autor  das obras e vende como sendo de sua autoria. Trunca os acrósticos para confundir os leitores e dessa forma cria uma polêmica que perdura até os dias de hoje, entre os pesquisadores de faro mais apurado.
O livro é desses que a gente ler até o sono chegar e dorme querendo acordar, para ler as páginas seguintes.
Se a internet fosse capaz de transpor os umbrais do infinito e levasse ao poeta Leandro Gomes de Barros o que está contido nesse livro, ele ficaria embevecido, deslumbrado e agradecido ao poeta Arievaldo Vianna, pela justiça feita em torno da sua obra e do seu nome.
Desconheço quem tenha feito algo de maior envergadura. O livro é uma preciosidade. Parabéns poeta Ariveldo Viana. Que Deus o inspire sempre”.  

Com muita admiração,

Geraldo Amancio
Fortaleza, 24/12/2014.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

MEMÓRIA DA POESIA POPULAR


Hoje tomei conhecimento da existência de um site maravilhoso - MEMÓRIA DA POESIA POPULAR - que traz a biografia e a obra de centenas de poetas da Literatura de Cordel, desde Leandro Gomes de Barros aos novos expoentes. O verbete que trata de minha biografia é bastante extenso e me pareceu irretocável. 

Vejamos:



Poeta Arievaldo Viana Lima
Síntese biográfica
Fonte: http://memoriasdapoesiapopular.wordpress.com/tag/arievaldo-viana-lima/

Arievaldo Viana Lima (18/09/1967)



Arievaldo Viana Lima é a prova inconteste da importância e benefícios da contação de histórias, que ajuda a criança a criar asas e voar através da fantasia, despertando sua criatividade e imaginação, além da aquisição da cultura, conhecimentos e valores. Em sua autobiografia, ele narra que por volta dos 4 ou 5 anos se deleitava em ouvir sua avó Alzira Sousa, que era colecionadora de folhetos, lendo versos da literatura popular para uma plateia atenta e embevecida. Foi ouvindo A Vida de Cancão de Fogo e o seu Testamento, As proezas de João Grilo, Travessuras de Pedro Malazartes e outros folhetos, e por meio de uma Carta de ABC foi alfabetizado por D. Alzira, e logo surpreendeu a todos ao ser encontrado lendo, em voz alta, A chegada de Lampião no inferno.

As contações de histórias eram estendidas para outros momentos, tais como o trajeto entre a Fazenda Ouro Preto (Quixeramobim-CE), onde nasceu e criou-se, e Olho d´água das Coronhas, localizado no sopé do serrote dos Três Irmãos, quando ao ir buscar água, o pai ia cantando seu romance preferido – A batalha de Oliveiros com Ferrabrás. Também foi seduzido pelas narrativas de uma velha rezadeira D. Bastiana, cuja neta, Rita Maria, enfeitiçava com suas histórias de trancoso. Entre feitiços e encantos, foi tomado pela paixão por folhetos, e aos 6 ou 7 anos, após juntar moedas, comprou alguns para sua coleção a um folheteiro na Praça Thomaz Barbosa, centro de Canindé – CE. Momento único assim descrito pelo poeta:

Um espetáculo magnífico, que ainda hoje trago retido nas dobras da memória. Havia folhetos editados na Tipografia das Filhas de José Bernardo, de Manoel Caboclo e Silva, de João José da Silva e de Manoel Camilo dos Santos. Lembro-me bem de haver comprado “Roberto do Diabo”, “Intriga do Cachorro com o Gato”, “Roldão no Leão de Ouro” e “O príncipe do Barro Branco no Reino do Vai-não-torna” (AUTOBIOGRAFIA ARIEVALDO, 2014).

O filho primogênito do poeta de improviso Francisco Evaldo de Sousa Lima, e Hathane Maria Viana Lima, acreditando que a alfabetização é fundamental, criou em 2002 o projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, para alfabetização de jovens e adultos por meio da poesia popular, que foi adotado em diversos municípios brasileiros, dentre eles Quixeramobim – CE, sua terra natal.

Este poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário, em 2000 passou a ser membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), onde ocupa a cadeira de nº 40 da, cujo patrono é João Melchíades Ferreira da Silva.

Apresenta uma vasta produção literária e publicou em parceria com os poetas Pedro Paulo Paulino, Jota Batista, Klévisson Viana, Gonzaga Vieira, Zé Maria de Fortaleza, Manoel Monteiro da Silva, Rouxinol do Rinaré e Marco Haurélio.

Com mais de 100 cordéis e vários livros publicados, escreveu sua primeira obra por volta dos 8 ou 9 anos de idade, quando escrevinhou suas primeiras sextilhas, contando evento ocorrido com os primos Totonho, Osvaldo e Marquinhos, que colocaram os frutos verdes de um pé de cabaceira, que havia no quintal do avô, na fogueira de São João, vindo a serem sovados pelo avô que queria as cabaças para outros fins. Assim, ele rememora suas habilidades editorias na confecção desse folheto:

Eu pegava um papel que vinha no miolo de uma caixa de Maisena, dobrava ao meio e fazia o miolo de um libreto do mesmo formato de um cordel. Depois pegava aquele papel de embrulho verde ou rosa que havia no balcão da bodega do meu avô e fazia a capa do verso. Pra completar, escrevia em letra de forma e fazia uma capa com caneta preta, imitando uma xilogravura (AUTOBIOGRAFIA ARIEVALDO, 2014).

Recebeu influências dos seus poetas populares preferidos Leandro Gomes de Barros e José Pacheco da Rocha, além dos versos dos ilustres Olavo Bilac, Castro Alves, Augusto dos Anjos e Gregório de Matos Guerra (Boca do Inferno), este último com uma produção satírica que pode se equiparar aos fundamentos do cordel.

Em janeiro de 1978, foi residir em casa de parentes em Maracanaú, município da região metropolitana de Fortaleza, para dar sequência aos estudos, época em que economizava o dinheiro enviado pela avó para o lanche e comprava cordéis vendidos por José Flor. As férias eram passadas na casa dos avós, ocasiões de reencontro com os primos, que vinham de Canindé, e à noite, sob a lâmpada de gás butano da sala de jantar lia não só os folhetos levados na mala, como também sua produção, como por exemplo, As proezas de Jota Severo numa paga do Bolsão, escrito aos 13 anos.

Em 1980, foi residir com os pais na cidade de Canindé. Tempos depois passou a colaborar no jornal O POVO de domingo com uma “tira” do cangaceiro “Nonato Lamparina”, personagem inventado em 1982. Na década seguinte, passou a trabalhar em agências de propaganda de Fortaleza, tempos difíceis para o cordel, quando sentia dificuldade em encontrar folheteiros nas visitas a Canindé, onde só encontrava material da Editora Luzeiro – SP. Preocupado com a decadência do folheto de feira, voltou a produzir, inclusive em parceria com Pedro Paulo Paulino e Gonzaga Vieira, ocasião em que publicaram a Coleção Cancão de Fogo.

Ao adaptar Luzia Homem para cordel, Viana obteve o primeiro lugar do prêmio Domingos Olympio de Literatura (2002), promovido pela Prefeitura de Sobral – CE e ficou entre os dez primeiros colocados do Concurso de Literatura de Cordel promovido pelo Metrô de São Paulo.

FONTES CONSULTADAS

ARIEVALDO VIANA. In: O NORDESTE: enciclopédia Nordeste. Disponível em: <http://onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Arievaldo+Viana>. Acesso em: 6 nov. 2014.

ARIEVALDO VIANA. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Arievaldo_Viana>. Acesso em: 05 nov. 2014.

AUTO-BIOGRAFIA ARIEVALDO. Disponível em: <http://www.flogao.com.br/arievaldocordel/71441038>. Acesso em: 6 nov. 2014.

PROJETO Acorda Cordel na Sala de Aula comemora 10 anos. Disponível em: <http://www.vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_secao=61&id_noticia=134220>. Acesso em: 6 nov. 2014.


VIANNA, Arievaldo. Centenário de Manoel Barbosa Lima, meu “avôhai”. Disponível em: <http://www.luizberto.com/mala-da-cobra-arievaldo-vianna/centenario-de-manoel-barbosa-lima-meu-%E2%80%9Cavohai%E2%80%9D>. Acesso em: 6 nov. 2014.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

AGENDE-SE

QUARTA-FEIRA, 10/12, TEREMOS O LANÇAMENTO MAIS ESPERADO DA XI BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ!


Lançamento da BIOGRAFIA de Leandro Gomes de Barros, o mestre da Literatura de Cordel, na próxima quarta-feira, 10/12, a partir das 15h. Agende-se!



PROGRAMAÇÃO DA QUARTA FEIRA

10.12.2014 (Quarta-Feira)

Auditório Principal (Térreo)

09h00 - 17h00: Apresentação do Projeto Nas Ondas da Leitura com lançamentos de livros de crianças dos municípios de Acopiara, Camocim, Croatá, Eusébio, Granja, Morada Nova, Novo Oriente, Pentecoste, Recife, Tauá, Ubajara e Viçosa do Ceará e o lançamento do livro do poeta Pedro Bandeira do Juazeiro – “Príncipe dos poetas populares”.

Praça José de Alencar (Térreo)
12h00 - 14h00: Almoço com poesia: poesia é pra comer – homenagem a Francisco Carvalho, com Templo da Poesia

Praça do Cordel (Térreo)
14h00 – 16h30: Oficina de cordel com Guaipuan Vieira e Pardal (vê local na Praça do Cordel)

15h: Abertura do IV Congresso de Cordelistas, Editores e Folheteiros:
Palestra: “A Literatura de Cordel de Inácio da Catingueira, Leandro Gomes de Barros aos dias atuais” com Arievaldo Viana e Arlene Holanda.
Lançamento dos livros: “Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra” e “Inácio, o Cantador-Rei de Catingueira” de Arievaldo e Arlene Holanda.
Mediação: Antônio Andrade Leal (Tuíca do Cordel)


17h: Lançamento do livro: “A Roupa Nova do Rei, ou o encontro de João Grilo com Pedro Malazarte” de Marco Haurélio(Editora Volta & Meia)

18h: Recital: Grupo CECORDEL; lançamento dos folhetos: “Adeus a Jair Rodrigues” e “A Nação apavorada com medo da violência” de Guaipuan Vieira; “As façanhas de Josué e seu bodinho milagreiro”, “Tudo pela vida, nada pelo aborto”, “O encontro do grilo com a borboleta” de Gerardo Carvalho Frota (Pardal), “O milagre do reencontro” de Edson Neto e “Meu Quixadá” de Maria Luciene e 
lançamento dos livros: “Cultivos da terra cantados em versos populares” de Pardal e “Histórias infantis em poesia popular” de Vânia Freitas

19h: Lançamento dos cordéis “A chegada de Seu Lunga no Céu” de Paulo de Tarso e “O Auto do Velho Lunga – inferno, céu e purgatório” de Arievaldo Viana e Klévisson Viana,“A chegada de Seu Lunga no Paraíso Celeste” de Jesus Rodrigues Sindeaux e “A chegada de Seu Lunga no Reino Celestial”

19h30: Lançamento do livro: “Cordel da Natureza”, de Doizinho Quental e Zé Maria de Fortaleza.
Recital de Zé Maria de Fortaleza e convidados

IMAGENS DA BIENAL - PRAÇA DO CORDEL

Com Bia Bedran e Albanisa Dummar

Carlos Dantas, Klévisson, Anderson Sandes, Arievaldo Vianna, Vevé e Costa Senna

Stênio Diniz e Marcelo Soares

Evaristo Geraldo e Tuíca do Cordel






terça-feira, 2 de dezembro de 2014

BIENAL DO LIVRO DO CEARÁ

Biografia de Leandro Gomes de Barros antecipa comemorações do sesquicentenário 
do mestre da Literatura de Cordel



O escritor cearense Arievaldo Vianna lançará biografia do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros na abertura do IV Congresso de cordelistas, editores e folheteiros, que acontecerá dia 10/12, no Espaço do Cordel, durante a XI Bienal Internacional do Livro do Ceará. O lançamento antecipa as comemorações pelo sesquicentenário de nascimento do poeta, que acontecerá no dia 19 de novembro de 2015. O autor já recebeu convite para lançar a obra na cidade de Pombal-PB, berço do grande cordelista, em março do ano que vem. Para o escritor paraibano Bráulio Tavares, em artigo publicado num jornal daquele estado por ocasião dos 90 anos de morte de Leandro Gomes de Barros, realizar uma biografia do poeta com as poucas informações que subsistiram à ação do tempo é a mesma coisa que catar confetes na rua um mês depois do carnaval.

Arievaldo Vianna encarou o desafio e apresenta um trabalho amparado em fotos, documentos e informações inéditas sobre a vida e obra de Leandro. Na opinião do poeta e pesquisador baiano Marco Haurélio, que assina o texto de apresentação, “trata-se da biografia do nosso mais importante poeta popular, Leandro Gomes de Barros, patriarca da literatura de cordel e autor de, pelo menos, vinte clássicos incontestáveis do gênero. Ari salda o débito que contraiu com o mestre paraibano desde que foi apresentado, na infância, pela avó Alzira de Souza Lima (1912-1994) ao grande pícaro Cancão de Fogo, espécie de Lazarillo de Tormes sertanejo, e maior criação de Leandro.”

O grande vate paraibano é autor de dois folhetos que influenciaram Ariano Suassuna na criação de sua obra mais famosa, O Auto da Compadecida. Trata-se de O Dinheiro (ou O testamento do Cachorro), de 1909 e O cavalo que defecava dinheiro. Em artigo que escreveu e publicou em 1976, Carlos Drummond de Andrade considera o poeta “Rei da poesia sertaneja” e reivindica para ele o título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, que na verdade foi concedido à Olavo Bilac, em 1913. Esse polêmico artigo de Drummond é cuidadosamente analisado em um dos capítulos da biografia escrita por Arievaldo. Segundo o autor, foi uma pesquisa árdua e persistente, ao longo dos últimos dez anos, sem contar com apoio financeiro de qualquer espécie, apenas a colaboração de amigos que também admiram a obra do grande poeta.



Na opinião do professor Gilmar de Carvalho, respeitado estudioso da cultura popular e, em especial do Cordel, “Leandro é daquelas unanimidades a favor. Inegável que foi o grande nome do folheto e um dos sistematizadores da edição de cordéis no Brasil, com rima, métrica e folheto múltiplo de quatro páginas, com capa gráfica, no início, e com xilogravura, tempos depois. Curiosa essa passagem do violeiro para o poeta de bancada. Importante compreender como a maquinaria obsoleta para os grandes centros se interiorizava e dava lugar a jornais políticos  e depois a uma atividade que movimentou a economia, que revolveu nossas camadas de memória e se fixou no imaginário social.”

Gilmar, que assina o prefácio da obra, afirma que “Leandro pode ser colocado, sem exagero, nas bases disso tudo. Não vale atribuir a ele um pioneirismo dissociado do contexto em que vivia e atuava. Ele existiu porque existiram os cantadores da Serra do Teixeira, na Paraíba, os folcloristas como Sílvio Romero, Rodrigues de Carvalho e Gustavo Barroso, os revendedores e agentes das casas editoras e os leitores ávidos pelos clássicos e pelas novidades trazidas por esta Indústria Cultural de bases assentadas na tradição popular.”

Gilmar acredita que Leandro não tem tido o reconhecimento que lhe é devido. "Temos algumas biografias tímidas, coletâneas de folhetos da Casa de Rui Barbosa, uma “Bibliografia Prévia”, de Sebastião Nunes Batista. Ultimamente, foram defendidas algumas teses nos programas de pós-graduação em Literatura e Linguística, mas tudo muito esparso, e fica cada vez mais difícil reunir tanta informação. Arievaldo não se propõe a juntar o que foi feito. Isso seria fácil nestes tempos de processadores de textos, programas de edição e de imagens e sítios virtuais. Ele foi além e buscou muitas coisas que ninguém buscara antes. Exercitou um faro de pesquisador/ detetive e foi fundo. Mostrou-se envolvido demais pelo tema. Não diria obcecado, porque é patológico e não faz jus à qualidade do que produziu. Leandro não apenas se debruça sobre a tradição oral, sobre os clássicos contados nas feiras europeias e trazidos como folhetos (sem rima e sem métrica, em forma de prosa) para o Brasil a partir de 1808, quando a imprensa torna-se possível. Ele também interfere na forma de crônica na vida do Recife ou de um Nordeste que sofria por conta das secas e tinha em Padre Cícero (cantado por ele em 1910) um mito em ascensão. Era necessário que Arievaldo pusesse um ponto final em sua pesquisa. Ela corria o risco de se confundir com sua própria vida e ser uma daquelas tarefas exaustivas, inconclusas, para as quais uma existência é pouco. Seu Leandro ganha outros matizes, perde o peso do ícone e ganha a leveza da voz. Deixa para todos nós um legado precioso. Que segue para a Paraíba e faz pouso na Popular Editora, visitada por Mário de Andrade, em 1927. Que segue nas mãos de João Martins de Athayde. Que chega a Juazeiro do Norte por meio do alagoano José Bernardo da Silva. Que é “pirateado” tantas vezes que nem dá para dizer por quem.”

O livro de 176 páginas deveria vir acompanhado de uma Antologia com as obras mais expressivas do mestre de Pombal-PB, mas, infelizmente, a dificuldade de encontrar editor interessado fez com que o autor buscasse patrocínio de entidades do movimento sindical como a Fundação Sintaf e o Sindsaúde, além do aval da editora Queima-Bucha, de Mossoró-RN. Só assim foi possível lançar uma primeira edição de apenas mil exemplares para a Bienal do Ceará. Arievaldo espera conseguir o apoio necessário para lançar a obra completa em 2015. Para tanto, já iniciou uma negociação com as Edições Demócrito Rocha. O poeta e pesquisador paraibano Aderaldo Luciano, que estará na comissão responsável pelas comemorações do sesquicentenário do poeta na sua terra natal, também já sinalizou para uma parceria que poderá viabilizar o lançamento da segunda edição nos moldes imaginados pelo autor.

Poeta atemporal, Leandro também se valeu da sátira para criticar os desmandos de seu tempo: a influência estrangeira em Pernambuco, Estado onde se estabeleceu. Com o chicote da sátira, vergastou os coronéis da Velha República. Pleno de graça, lançou chispas em direção ao clero, sem esquecer os novas-seitas (protestantes) e a justiça (dos tribunais). Ao mesmo tempo, exaltou os cangaceiros liderados por Antônio Silvino, criando o modelo que seria seguido pelos futuros biógrafos de Lampião no cordel: a fusão do cangaceiro nordestino com o cavaleiro andante do Medievo europeu.

Mas o livro reúne, além dos fatos relacionados à vida do poeta, raridades como fotos de familiares do poeta, documentos que esclarecem aspectos antes obscuros da biografia de Leandro. Grande parte do mérito é de Cristina Nóbrega, bisneta de Daniel, irmão de Leandro.  Merecem destaque também as entrevistas enriquecedoras, realizadas com o escritor Pedro Nunes Filho e o consagrado cordelista Paulo Nunes Batista. O primeiro é bisneto de Josefa Xavier de Farias, irmã de Adelaide (mãe de Leandro). O segundo é filho do pioneiro do cordelismo, Francisco das Chagas Batista, grande amigo do criador de Cancão de Fogo, e guarda na memória uma série de episódios interessantes que ouvia de seu irmão Pedro Werta, afilhado do biografado. É este poeta, criador de um gênero literário, estrela mais fulgurante de uma constelação, que mereceu, de Arievaldo Viana, a pesquisa que redundou neste livro. A literatura de cordel agradece. Apenas, para não ser injusto com o biógrafo e o biografado, não direi que Arievaldo retratou com precisão o tempo de Leandro. Simplesmente porque o tempo de Leandro é a eternidade.

SERVIÇO: Dia 10 de dezembro de 2014 - 15h - Abertura do IV Congresso de cordelistas, editores e folheteiros, com a Palestra “A Literatura de Cordel de Inácio da Catingueira, Leandro Gomes de Barros aos dias atuais” com Arievaldo Viana e Arlene Holanda e Lançamento dos livros: “Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra” de Arievaldo Vianna e “Inácio, o Cantador-Rei de Catingueira” de Arlene Holanda. Mediação: Antônio Andrade Leal (Tuíca do Cordel)

Local: Praça do Cordel


domingo, 16 de novembro de 2014

VISITA ESCOLAR




ESCOLA JOSÉ LOUREIRO, EM PORTO ALEGRE-RS

Foi uma tarde memorável, de grande interatividade com os alunos do EJA da escola José Loureiro, em Porto Alegre-RS, durante a programação da 60a. Feira do Livro de POA. A direção da escola nos deu uma maravilhosa acolhida e ainda contamos com a presença da cantora/compositora Marisa Rotemberg que deu um show, interpretando canções de Lenine, Zeca Baleiro, Elba Ramalho e Ednardo, enquanto eu fazia meu repertório de declamações. No repertório: O batizado do gato e O jumento Melindroso desafiando a Ciência, de minha autoria, seguido de Me enganei com minha noiva (Luiz Campos), Eu e Maria (Geraldo Amâncio) e Idéias de Caboclo (Alberto Porfírio). Para encerrar, trechos do novo cordel Queixas de uma vaca a Roberto Carlos (parceria com Klévisson Vianna).

Marisa Rotemberg cantando Pavão Mysteriozo, de Ednardo.


Uma cuia de chimarrão, para relaxar, antes da apresentação

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A CULTURA POPULAR DO CORDEL




As histórias engraçadas e rimadas da literatura de cordel provocaram boas risadas no público que se reuniu na Tenda de Pasárga, na Feira do Livro, para ouvir o cearense de Quixeramobim Arievaldo Viana. Ele é escritor, poeta popular, ilustrador e uma das grandes expressões da literatura de cordel do país. Viana fez um pequeno histórico sobre a origem dessa poesia popular nordestina explicando que “ela é herdeira direta da tradição grega  da oralidade e cheia de influências dos trovadores medievais da Península Ibérica.”
 
Foi graças aos folhetos de cordel que ele aprendeu a ler aos cinco anos de idade: “ Minha avó Alzira lia em voz alta as histórias para mim. E eu tinha uma verdadeira obsessão, principalmente pelos folhetos de João Grilo.  Ganhei uma cartilha e  comecei a  juntar as vogais e as consoantes .  Em dois meses eu estava alfabetizado.”

 
Ele declamou histórias de vários artistas populares e outras de sua autoria que foram aplaudidas  e seguidas de muitas gargalhadas, como “Queixas de uma vaca a Roberto Carlos”, baseada na polêmica propaganda  do “rei”  feita para um  frigorífico:


“…Você que teve da gente
Respeito, amor e carinho
Por um punhado de grana
Numa atitude caótica
Largou a macrobiótica
Pra comer carne e toucinho…”

 
Viana já escreveu mais de 100 livretos de cordel e publicou  como autor e ilustrador, cerca de 30 obras. Recebeu o selo “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e teve livros incluídos no catálogo da Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na Itália, uma das mais importantes do mundo. Alguns livros também foram adotados pelo Programa Nacional da Biblioteca Escolar,do Ministério da Educação. São eles: “A raposa e o cancão”; “A ambição de Macbeth”;  “A Maldade feminina”;”João de Calais e sua amada Constança” e “O beabá do sertão na voz de Gonzagão”. Ele também fez adaptações de contos de Simões Lopes Neto para o cordel.


 
No final da tarde desta quinta-feira, Arievaldo Viana  participou do Ciclo A Hora do Educador ministrando a oficina “O cordel em sala de aula”, que foi realizada na Sala de Vídeo da Área Infantil e Juvenil da Feira do Livro.
 
Criado em 2002, no município cearense de Canindé, o projeto “ Acorda Cordel Na Sala de Aula” propõe a utilização da poesia popular como importante ferramenta pedagógica. O crescente interesse pela Literatura de Cordel fez com que o projeto  fosse implantado em vários municípios do Ceará e até em outros estados do país.
 
Arievaldo Viana ressaltou que por meio do cordel, os alunos podem se interessar pela leitura:
- A criança se encanta com as rimas e isso desperta o desejo pelo livro. Por essas minhas andanças pelas escolas, desde 1999, eu vejo que alunos da 4ª , 5ª  séries têm uma dificuldade imensa de ler. De que adianta saber Matemática, Geografia, Biologia? O cordel pode desenvolver o gosto pela leitura, com toda a certeza.
É a terceira vez que Arievaldo Viana vem à Feira do Livro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

AGORA VAI...

...NEM QUE A VACA TUSSA!



Faz tempos que venho pelejando com essa biografia do grande LEANDRO GOMES DE BARROS e até agora, mais de dez anos de luta, ainda não arranjei um editor interessado. Aliás, apareceram uns editores querendo fazer o livro mas as condições eram tão precárias que preferi adiar. Agora peguei "a dente de cachorro" e pretendo fazer até o final deste ano, com ou sem editor. Estou apelando para PATROCINADORES e irei bater na porta de todos os amigos, de entidades e instituições que sabem o valor da cultura brasileira e a importância deste grande poeta.
Quem quiser adquirir exemplares antecipados para revenda, a preço de ocasião, entre em contato pelo e-mail: acordacordel@hotmail.com

Se a vaca tossir, o negócio é fé em Deus e pé na tábua!

* * *

Atualização (18/11) - Já temos editora (duas, por sinal: Edições Fundação Sintaf e Queima-Bucha. O lançamento deverá acontecer na Bienal do Livro de Fortaleza-CE, que começa dia 06/12)


Você, amigo leitor do blog, pode OPINAR. Qual a melhor combinação de cores? 
Primeira ou segunda opção?



Arievaldo Vianna

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CORDEL EM PORTO ALEGRE





Arievaldo Viana ministra oficina Cordel 

na sala de aula na Feira do Livro


Escritor, poeta popular, radialista, ilustrador, chargista e xilogravador, o cearense Arievaldo Viana ministrará na 60ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre a oficinaCordel na sala de aula, no dia 13 de novembro, às 18h, na Sala de Vídeo.
Viana, que já escreveu mais de 100 livretos de cordel e publicou, como autor e ilustrador, cerca de 30 obras – sendo cinco lançadas em 2014 –, trará para a Feira as experiências do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, a partir do livro homônimo de 2005Em pauta, as origens de cordel, suas modalidades, principais expoentes e regras básicas. “Tudo isso
com
 interatividade com o público e, no final, faço uma aula-espetáculo declamando alguns clássicos do gênero”, explica o cordelista.

Criado em 2002 em Canindé, no Ceará, o projeto propõe a utilização da poesia popular como ferramenta auxiliar na educação, através de oficinas de capacitação para professores e de cursos de iniciação à Literatura de Cordel para educadores e estudantes, assim como de estudos a partir da linguagem e informações diversas contidas nos folhetos.
O crescente interesse pela Literatura de Cordel pode ser medido pelo avanço do projeto em outras cidades cearenses, assim como em outros estados, e pela participação do autor em evento literários em todo o Brasil. Em 2014, Viana virá para a Feira do Livro pela terceira vez.
Segundo ele, um ponto alto  das participações anteriores foi o lançamento de alguns folhetos pela editora Corag, com adaptações de contos de Simões Lopes Neto para o cordel, além do Estatuto do Idoso e do Estatuto da Criança e do Adolescente nesse formato. “Gosto muito da receptividade do povo de Porto Alegre e da forma como a Feira [na Área Infantil e Juvenil] vem sendo organizada pela Sônia Zanchetta e toda a sua equipe. Espero dar continuidade ao meu projeto editorial nas editoras do Rio Grande Sul, pois sou fascinado pela cultura gaúcha e, principalmente, pelos livros do escritor Simões Lopes Neto, que tenho adaptado para o cordel”, conta.
A atividade integra a programação do ciclo A Hora do EducadorAs inscrições podem ser feitas pelo e-mail visitacaoescolar@camaradolivro.com.br. É necessário informar nome completo, profissão, e-mail e telefones
Do Sertão para o mundo
Nascido no Sertão Central do Ceará, criado com feijão de corda, cuscuz e rapadura, à luz de lamparina e bebendo água de pote, como faz questão de ressaltar na sua biografia, Viana é mais do que conhecedor, é um apaixonado pela poesia popular nordestina.
Alfabetizado em meados da década de 1970, graças ao valioso auxílio da Literatura de Cordel, teve como referência o seu pai, Evaldo Lima e sua avó, Alzira de Sousa Lima, que liam folhetos de cordel em voz alta para ele e outras crianças da família.
Uma vivência que virou marca do seu trabalho. “Minhas primeiras incursões no mundo das letras já estavam relacionados com o cordel. Em 1986, lancei uma HQ intituladaCanindé – da lenda à realidade, que mesclava a linguagem dos quadrinhos com a literatura de cordel. Nos anos seguintes, publiquei algumas crônicas em jornais e revistas e alguns folhetos de cordel que resolvi enfeixar num livro chamado O Baú da Gaiatice (hoje na terceira edição), que foi um sucesso. Em 2002 surgiu o projeto Acorda Cordel na Sala de Aula e começaram a surgir convites de editoras para publicação de textos em cordel no formato livro infantojuvenil ilustrado”, lembra.
“A princípio, houve alguma resistência por parte de pesquisadores alegando que isso descaracterizaria o cordel. Isso não é verdade. O que determina a autenticidade do cordel é a sua LINGUAGEM e não seu SUPORTE. 
Eu
 sempre procurei ser fiel à escola de Leandro Gomes de Barros e José Pacheco da Rocha, pioneiros e grandes expoentes desse gênero”, defende.

Em 2000, Viana foi eleito para a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cujo patrono é o poeta João Melchíades Ferreira (1869 – 1933), um dos pioneiros desse gênero.  Em 2002, conquistou o prêmio Domingos Olimpio de Literatura, promovido pela Prefeitura de Sobral-CE, com uma adaptação do romance Luzia Homem para o cordel.
O autor já recebeu selo “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e teve livros incluídos no catálogo da Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na Itália, uma das mais importantes do mundo. Alguns dos seus livros também foram adotados pelo Ministério da Educação (MEC), através do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar). São eles: A Raposa e o Cancão (Editora IMEPH, 2007), Ilustrado por Arlene Holanda, A ambição de Macbeth e a maldade feminina (Editora Cortez, 2009), ilustrado por Jô Oliveira, João de Calais e sua amada Constança (Editora FTD, 2012), em parceria com Jô Oliveira. Lançado em 2014 em parceria com Arlene Holanda, O beabá do sertão na voz de Gonzagão (Editora Armazém da Cultura), também integra a relação.
Mais sobre a Literatura de Cordel
Considerada a mais legítima manifestação cultural do povo nordestino, a Literatura de Cordel representa um poderoso veículo de comunicação de massas. Oportunamente batizada de “professor folheto”, foi responsável, durante muitos anos, pela alfabetização de milhares de nordestinos, constituindo, em muitos casos, o único tipo de leitura que tinham acesso as populações rurais na primeira metade do século 20.
A poesia popular nordestina, que ainda sobrevive nos dias de hoje, é herdeira direta da tradição grega, eivada de influências dos trovadores medievais da Península Ibérica. Essa poesia, antes difundida pela tradição oral, passou a ser publicada sistematicamente a partir da última década do século 19, pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros.
Aliás, o poeta, que completa 150 anos de nascimento em 2015, é tema de uma biografia ainda inédita de Viana, intitulada Leandro Gomes de Barros – Vida e Obra.
Para saber mais sobre Literatura de Cordel, acesse o blog do autorhttp://www.maladeromances.blogspot.com.br/.
Capa de O Besouro, de Arievaldo Viana.
Capa de O Besouro, de Arievaldo Viana.
Arievaldo Viana apresenta a oficina Cordel na sala de aula.
Arievaldo Viana apresenta a oficina Cordel na sala de aula.

Fonte: http://www.feiradolivro-poa.com.br/noticias/arievaldo-viana-ministra-oficina-cordel-na-sala-de-aula-na-feira-do-livro

domingo, 7 de setembro de 2014

O NETO DE PEDRO MALAZARTES


MALAZARTES - Ilustração de Jô Oliveira


Pedro Malazartes, ilustração de Klévisson Viana


No "Romance da Pedra do Reino" mestre Ariano Suassuna cita diversos folhetos, dentre eles esse divertido cordel de Luiz Rodrigues de Lira - A VIDA DE JOÃO MALAZARTES, cem por cento ambientado no Nordeste Brasileiro. A cena destacada por Suassuna é o encontro de João com um simplório português, a quem convence passar pimentas malaguetas no próprio fiofó:



A vida de João Malazarte

Luiz Rodrigues de Lira
Quem nunca leu a história
Do tal João Malazarte
Aproxime-se e ouça
O valor de sua arte
O ente mais presepeiro
Conhecido em toda parte.

Morreu Pedro Malazarte
Porém deixou o seu neto
De presepada e mentira
O João ficou completo
Nos lugares que andou
Não ficou ninguém quieto.

(...)

Devido às trelas, João
Apanhava todos dia
Porém não se emendava
No lugar aonde ia
Fazia grande alvoroço
E para casa corria.

João Malazarte um dia
Encontrou-se com um padre
Disse: abença meu padrinho
Mamãe a sua comadre
Mandou eu passar o dia
Com vacê na santa madre.

O padre levou João
Porque tinha um afilhado
Porém não o conhecia
Chegou bastante cansado
Deitou-se na sacristia
Ferrou num sono pesado.

Enquanto o padre dormia
João se achando só
Melou a cara do padre
De rouge, batom e pó
Depois destrancou o cofre
Tirou dinheiro sem dó.

Um gato do capelão
João pode agarrar ele
Fez um facho de molambo
Amarrou na cauda dele
Ensopou de querosene
Depois tocou fogo nele.

O padre estava dormindo
Não viu João fazer nada
O gato enguiçou ele
Com a cauda incendiada
Trepou-se no altar-mor
Fez uma grande zoada.

Incendiou-se o altar
Cobriu-se todo em fumaça
João disse: seu padre acorde
E pule pela vidraça
Se não o gato lhe morde
E o senhor se desgraça.

O padre se acordou
Naquele grande alvoroço
Correu atrás de João
Para cortar-lhe o pescoço
João na frente gritava
— O bom eu levo no bolso.

Adiante João entrou
Na casa de uma velhinha
O padre parou na porta
João saiu na cozinha
Entrou numa capoeira
Que por trás da casa tinha.

Reuniu-se o pessoal
Pra saber do ocorrido
O padre todo melado
Cansado e aborrecido
Um rapaz disse: Seu padre
O seu rosto está tingido.

Uma moça anarquista
Dessas que tem no Brasil
Perguntou ao capelão:
— Vai dançar hoje, seu Gil?
O senhor ainda é padre
Ou velho de pastoril?

(...)

Nisso João Malazarte
Sua marcha continua
Dizendo: Não me interrompa
Com essa besteira sua
O meu pai disse que eu
Não demorasse na rua

O guarda disse: Seu corno
Está com malcriação
João lhe disse: respeite
O filho de um barão
Se eu contar ao meu pai
Você vai para a prisão

O guarda ficou com medo
Deixou João ir embora
No fim da rua João
Encontrou uma senhora
Disse: Abençoa, minha tia
Como vai? Aonde mora?

A mulher disse: Estou boa
Moro ali numa choupana
João disse: Eu vou agora
Conhecer sua cabana
E também com a senhora
Eu vou passar a semana

A mulher tinha um sobrinho
Parecido com João
Morava no Cariri
Na fazenda do Grotão
Levou ele para casa
Chamando-o Sebastião.

A mulher era viúva
Tinha uma filha mocinha
João perguntou: Titia
Como se chama a priminha.
A velha disse: Menino
Esta não é Terezinha!

Depois da ceia a viúva
Perguntou: Sebastião
O teu pai ainda é dono
Da fazenda do Grotão
João disse: E ele vende
Aquela situação?

Ele fez uma igreja
No pé de um grande monte
Um jardim e um banheiro
Na margem de uma fonte
No jardim tem uma estátua
Apontando o horizonte.

Quando vem rompendo o dia
Que a passarada canta
Surge uma grande alegria
Todo povo se levanta
E pra adorar o santo
Vai à igrejinha santa.

Quando João se calou
Perguntou-lhe Terezinha
— Sebastião, tu me levas
Pra eu ver a igrejinha
E também passar uns dias
Com minha prima Julinha?

João lhe disse: Pois não
Estou pronto pra levar
Se titia consentir
Você pode se arrumar
A velha disse: Eu consinto
Nele eu posso confiar

João consigo dizia
— A garota é bonitinha
A velha é besta demais
Pensa que é tia minha
Presta confiança a mim
Eu ajeito esta bichinha

A mulher disse a João
Quando ele foi embora
— Você leva Terezinha
Porém volte sem demora
Só passe por lá um mês
João disse: Sim, senhora.

João largou-se no mundo
Com destino ao sertão
Foi parar em Vila Bela
Liso, sem um só tostão
Lá empregou Terezinha
Para apanhar algodão.

Passou o resto do ano
Terezinha não voltou
A mãe dela impaciente
Para fazenda rumou
Deu a jornada perdida
Porque não a encontrou.

(...)

Chegou no Seridó liso
Não tendo do que viver
Arranjou umas pimentas
E foi pra feira vender
Porém no caminho fez
Um português se morder.

Encontrou um português
Com um jumento acuado
Carregado com panelas
Sobre o caminho parado
E português dando nele
Porém o burro emperrado.

João disse: Camarada
Eu tenho um remédio aqui
Deu-lhe as pimentas dizendo
— Como este nunca vi
Esfregue no fundo dele
Depois puxe-o por ali.

Ele passou as pimentas
No lugar que João mandou
O jumento deu dois coices
Que a cangalha virou
As panelas se quebraram
E o burro desembestou.

João disse ao português
— O jumento já correu
Com o remédio no fundo
Ele desapareceu
E você só pega ele
Se também passar no seu.

O pobre do português
Para pegar o jumento
Passou a pimenta ardosa
No lugar que sai o vento
João disse: oh! cabra besta
Desgraçaste o fedorento.

Quando o português sentiu
O ardor no fiofó
Puxou a faca da cinta
João disse: Fique só
Duma carreira que deu
Foi parar em Mossoró.

(...)

Fonte: www.jangadabrasil.com.br

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

DIA DO FOLCLORE

FOLCLORE EM COREL

Cabeça de Cuia, Boto cor-de-rosa, Papa-figo
Curupira, Mula sem cabeça e Lenda da Iara

Versos de Moreira de Acopiara (Manoel Moreira Júnior)
Ilustrações de Arievaldo Viana


FOLCLORE, O QUE É?

Folclore é o conjunto
Das crenças e tradições;
Conhecimentos do povo,
Lendas e superstições,
Adivinhas, festas, causos,
Poesias e canções.

São anedotas, são gestos,
E histórias que causam medos;
Cantigas, jogos, parlendas,
Artesanatos, brinquedos,
Brincadeiras, danças, contos,
Vestuários e segredos.

São orações e crendices,
São ditados populares...
E ele está muito presente
Nos mais diversos lugares,
Desde as mais simples moradas

Aos mais suntuosos lares.

(...)