sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

MEMÓRIA

Hoje, no blog www.vilacamposonline.blogspot.com há uma singela e sincera homenagem do poeta Pedro Paulo Paulino ao seu pai, Pedro Ferreira, pois nesta data, dia de São Sebastião, era o seu aniversário. Confiram alguns trechos:

PEDRO PAULINO FERREIRA




Sertanejo autêntico, homem simples que levou uma existência exemplar, cercado de muitos amigos e de seus familiares. Nasceu na Vila Campos, onde sempre viveu e trabalhou na agricultura, junto com os irmãos, na propriedade da família. É um dos mais antigos representantes do tronco dos Paulino, que se estabeleceram na Vila Campos no final do século dezenove. Filho de Raimundo Paulino Ferreira e Laurinda Paulino de Sousa, nasceu no dia 20 de janeiro de 1918. Como todo bom nordestino, aos oitos anos emigrou para São Paulo com seus pais, onde permaneceram por cerca de dois anos.

Dessa viagem, lembrava a dificuldade do retorno, em plena revolução de 30.

Pedro Ferreira tinha uma verdadeira devoção por sua terra e sua gente. Como agricultor, destacou-se em sua região como produtor de algodão, quando o “ouro branco” era a grande esperança do homem da roça. A determinação e a franqueza foram duas de suas qualidades, somadas às características típicas do verdadeiro homem do sertão: no aperto de mão vigoroso, na conversa ponderada, na observação da natureza ao seu redor, na crença e na alegria de um bom inverno. Tinha o hábito saudável de madrugar. Cultivava muitas amizades, principalmente em Canindé, onde sempre ia a negócios e para visitar a basílica de S. Francisco.

Nos anos 40, final da Segunda Guerra, Pedro Ferreira foi um dos muitos cearenses requisitados para trabalhar na base aérea instalada pelos norte-americanos em Fortaleza.

Casou em 1966, com Maria Uchoa Paulino, constituindo uma família composta de oito filhos. No início dos anos 60, estabeleceu-se como pequeno comerciante, instalando uma venda nas margens da BR-020, sendo o pioneiro no desbravamento da Vila de Campos Novo. O pequeno estabelecimento comercial passou a ser um ponto de referência na localidade, ficando conhecido por todos que ali passavam como o “Café do seu Pedro”. Primou a vida inteira por uma conduta reta, norteada pelo trabalho, a responsabilidade e o altruísmo característico de nossa gente.
 
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

MORRE EM BRASILIA MESTRE DE REIZADO

 (Ueslei Marcelino/Reuters)

O ilustrador JÔ OLIVEIRA, meu amigo e parceiro, mandou-me por e-mail esse texto publicado no CORREIO BRASILIENSE sobre a morte de um mestre do Reizado em Brasília, "seu" Teodoro Freire. Jô estava produzindo ilustrações para decoração do cenário onde o reizado era apresentado.

Seu Teodoro Freire, mestre da cultura popular e o principal idealizador do Bumba-meu-boi no Distrito Federal, morreu na madrugada deste domingo (15/01) no Hospital Santa Helena, em Brasília. Ele estava com 91 anos e sofria de enfisema pulmonar e há alguns dias resistia aos revezes da saúde debilitada. Ele conseguiu, ainda em vida, a honra e o merecido reconhecimento de receber das mãos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do também então Ministro da Cultura Gilberto Gil, a Ordem do Mérito Cultural tornando-se uma grande referência de cultura popular na cidade e sendo reconhecido o trabalho dele como patrimônio imaterial do Distrito Federal.

O velório acontece hoje, a partir das 12h, no Centro de Tradições Populares, em Sobradinho - Quadra 15, área especial, nº 2 -, e se estende até as 11h desta segunda-feira (16/01). Centenas de pessoas, amigos, familiares, colegas de trabalho e admiradores passaram pelo centro para se despedir de Seu Teodoro, que deve ser cremado amanhã.

No último dia 10 foi aberto o período de festejos de São Sebastião, que iria até o próximo dia 20. “Com o falecimento de meu pai, teremos que cancelar toda nossa programação deste mês. Não há o menor clima de continuarmos com as festividades agora. Ficou um vazio muito grande”, explicou Guarapiranga Freire, um dos filhos do artista e que nos últimos anos tem assumido a responsabilidade em continuar com o trabalho cultural do mestre. Com isso, a festa "Bumba-meu-boi e tambor-de-crioula de Seu Teodoro" em comemoração aos 49 anos do tradicional evento e prevista para acontecer em 20 de janeiro não irá ser realizada. ”Não há mais clima”, disse Guarapiranga

Seu Teodoro Freire

O maranhense Teodoro Feire, conhecido como Seu Teodoro, nasceu na pequena cidade de São Vicente Ferrer, localizada a 280 km de São Luís (MS), em 1920. Desde os oito anos era apaixonado pelo cultura popular e dedica-se à tradição de sua região: o Bumba meu boi e outras paixões como o time de futebol Flamengo e sua escola de Samba, a Mangueira.

João Melchíades e a GUERRA DE CANUDOS



João Melchíades Ferreira  
(Resumo biográfico elaborado pela Fundação Joaquim Nabuco)


Lúcia Gaspar
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

O poeta popular e cantador João Melchíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras, Paraíba, em 7 de setembro de 1869.
Filho de pequenos proprietários ficou órfão de pai muito cedo. Nunca freqüentou a escola. Aprendeu a ler com o beato Antônio Simão que pregava o catolicismo e alfabetizava adultos e crianças, por ordem do Padre Ibiapina.
Entrou para o exército aos 19 anos e, cinco anos depois, foi promovido a sargento. Combateu os partidários de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, em 1897, e participou das campanhas do Acre, na disputa de território entre o Brasil e a Bolívia, em 1903.
Em 1904, depois de reformado do Exército voltou a morar na capital paraibana, onde casou e teve quatro filhos, tornando-se poeta popular e cantador. Segundo alguns, era mais poeta popular do que cantador, não se enquadrando como um repentista nato.
Intitulava-se o Cantor da Borborema e é invocado, com nome e codinome, na obra de Ariano Suassuna A Pedra do Reino.
É autor do folheto A Guerra de Canudos, o primeiro cordel sobre Antônio Conselheiro, publicado no início do século XX que, apesar de não ter sido assinado, foi identificado como seu pelo pesquisador José Calasans.
Os seus folhetos, na sua grande maioria, eram revisados e impressos na tipografia do seu amigo Francisco das Chagas Batista.
Considerado um dos grandes poetas populares da primeira geração de cordelistas do Nordeste brasileiro, Melchíades já publicava folhetos com regularidade em 1914.
Era um poeta-cronista da sua região de origem, principalmente da Serra da Borborema, narrando histórias e feitos dos seus habitantes, beatos, heróis e valentes, além de descrever seus usos e costumes.
Estima-se que seja autor de 36 cordéis. Da sua obra podem ser destacados, além d’A Guerra de Canudos, O Pavão Misterioso; História do valente sertanejo Zé Garcia; As quatro órfãs de Portugal ou o valor da honestidade; Combate de José Colatino com o Carranca do Piauí; História de Rosa Branca de castidade; História de Antonio Silvino; A história de Carlos Magno e os 12 pares de França; Peleja de Joaquim Jaqueira com João Melquíades; História do Rei do Meio Dia e a moça pobre; História sertaneja; Quinta peleja dos protestantes com João Melquíades; História do viadinho e a moça da floresta; O príncipe Roldão no Leão de Ouro; A besta de sete cabeças; As quatro moças do céu: fé, esperança, caridade e formosura
João Melchíades Ferreira da Silva morreu em João Pessoa no dia 10 de dezembro de 1933.

Recife, 15 de dezembro de 2008.
(Atualizado em 28 de agosto de 2009).


FONTES CONSULTADAS:
ALMEIDA, Átila Augusto F. de; ALVES SOBRINHO, José. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada. João Pessoa: UFPB, Editora Universitária; Campina Grande: Centro de Ciências e Tecnologia - UFPB, 1978. v. 1.
BENJAMIM, Roberto. João Melchíades Ferreira: biografia. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoaoMelquiades/joaoMelquiades_biografia.html>. Acesso em: 5 dez. 2008.
GRILLO, Maria Ângela de Faria. A arte do povo: histórias na literatura de cordel (1900-1940).255 f. 2005. Tese (Doutorado em História).-
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2005.
JOÃO Melchíades Ferreira: poeta popular. Disponível em:<http://fotolog.terra.com.br/editora_coqueiro%3A503>. Acesso em: 5 dez. 2008.
COMO CITAR ESTE TEXTO:
Fonte: GASPAR, Lúcia. João Melchíades Ferreira. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009.



JOÃO MELCHIADES E A GUERRA DE CANUDOS

A visão de JOÃO MELCHÍADES sobre a Guerra de Canudos não poderia ser outra. Ele era militar, membro do Exército Brasileiro e ex-combatente de Canudos. É natural que assumisse a defesa da República, contra a ideologia pregada e praticada por Conselheiro e seus adeptos. Diferentemente de Euclides da Cunha, ele não viu nenhum mérito naquele grupo de valentes sertanejos que se insurgiu (e venceu, em algumas ocasiões) o Exército brasileiro. Eis alguns trechos do poema, possivelmente o primeiro escrito sobre a tragédia que abalou os sertões da Bahia:

A GUERRA DE CANUDOS*

No ano noventa e seis
o Exército brasileiro
Achou-se então comandado
Pelo general guerreiro
De nome Arthur Oscar
Contra um chefe cangaceiro.

Ergueu-se contra a República
O bandido mais cruel
Iludindo um grande povo
Com a doutrina infiel
Seu nome era Antônio
Vicente Mendes Maciel.

De alpercatas, um cajado
Armado de valentia
Seu pensamento era o crime
Outra coisa não queria
Agradou-se de Canudos
Que é sertão da Bahia.

E para iludir ao povo
Ignorante do sertão
Inventou fazer milagres
Dizia em seu sermão
Que virava a água em leite
Convertia pedra em pão.

Criou-se logo em Canudos
Um batalhão quadrilheiro
Para exercitar os crimes
Desse chefe canganceiro
Então lhe deram tres nomes
De Bom Jesus Conselheiro.

(...)

Um dos momentos mais brilhantes da narrativa, onde Melchíades se vê forçado a reconhecer a bravura dos conselheiristas, trata-se justamente do momento da fuga desesperada do General Tamarindo:

No Angico, Tamarindo
Terminou sua partida
Foi varado de uma bala
Dizendo: " - Pela ferida,
Dou quatro contos de réis
A quem salvar minha vida!"

Senhor Major Cunha Matos
Tome conta da brigada
Sustenta o fogo de costas
Com a mesma retirada
E não me deixe morrer
Nas mãos dessa jagunçada.

Escapa, escapa soldado,
Quem tiver perna que corra
Quem quiser ficar que fique
Quem quiser morrer que morra
Há de nascer duas vezes
Quem sair desta gangorra.

* A íntegra do poema pode ser encontrada na Antologia da Literatura de Cordel, de Sebastião Nunes Batista, publicada em 1977 pela Fundação José Augusto, de Natal-RN. Acreditamos que o mesmo tenha sido publicado na Popular Editora, de Chagas Batista, depois que Melchíades foi reformado do Exército e passou a se dedicar ao cordel e à cantoria.

OUTRA VISÃO SOBRE O CONSELHEIRO

Recomendamos também a leitura da obra 'A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO', do poeta Geraldo Amâncio, uma obra-prima que narra magistralmente a Saga de Canudos, escrito mais de 100 anos após a publicação do folheto de João Melchíades. Lançamento da Editora IMEPH, com ilustrações do artista plástico Kazane, a obra saiu em edição bem cuidada, impressa em papel de boa qualidade com capa e miolo coloridos. A visão de Geraldo Amâncio é totalmente oposta a de João Melchíades. Uma prova de que o cordel evoluiu não apenas na linguagem, mas também na visão crítica dos fatos que compõem a história.


Seguem trechos de:


A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO
(Geraldo Amancio)


Conselheiro foi um homem
De espírito combativo.
Obstinado e valente,
Decidido e combativo.
Com tanta sabedoria
Conselheiro merecia
Por mil anos ficar vivo.


Do homem cresce o valor
Quando a história compara.
O Brasil tem a mania
De enaltecer Che Guevara
Talvez por ser estrangeiro.
Nosso Antonio Conselheiro
Foi uma jóia mais rara.


(...)


Montou primeiro um comércio
Para comprar e vender.
No magistério ensinava
Ler, contar e escrever.
E no foro trabalhava,
De toda forma buscava
Meios pra sobreviver.


Em qualquer trabalho tinha
Bravura e muita coragem.
Porém, Euclides da Cunha
Denegrindo a sua imagem
De uma maneira mesquinha
Diz n"Os Sertões que ele tinha
Tendência pra vadiagem.


(...)


Com o padre Ibiapina
Muitas lições aprendeu.
Esse sim, amou os pobres,
Do que tinha ofereceu.
Angariou donativos...
"É melhor dar pão aos vivos
Do que chorar quem morreu".


Antonio tornou-se arauto
Dos sem pátria, dos sem nome.
Sabia ouvir o sussurro
Da multidão que não come.
Uniu sua mágoa a eles,
Porque também era um deles
Conhecia a dor da fome.


(...)


Conselheiro interpretava
A Bíblia à sua maneira.
Não obedecia a bispo,
Nem a padre, nem à freira.
Se ainda existisse a mão
Da tal Santa Inquisição
Seu destino era a fogueira.


Com isso, logo alguns padres
Mostraram-se intolerantes
Dizendo que as leis da Terra
Tinham de ser como antes:
Que o cobre se desse ao nobre,
Tinha que haver rico e pobre,
Os mandados e os mandantes.


(...)


Naqueles sertões desertos,
De esquisitos carrascais,
Multidões embevecidas
Ouviram sermões de paz
Do maior dos conselheiros.
Isso para os fazendeiros
Era incômodo demais.