sábado, 16 de março de 2019

JÔ OLIVEIRA PELO MUNDO AFORA

Exposição 
"O Mundo Brasileiro de Jô Oliveira"
De 09 a 26 de abril


Exposição do artista brasileiro é destaque na imprensa búlgara


Galeria "SEZONI" - Sófia, Bulgária




JÔ OLIVEIRA, UM ILUSTRADOR DO BRASIL

Por: Rui de Oliveira


Para traçar algum perfil, mesmo que de forma sucinta, da obra do ilustrador Jô Oliveira, temos que antes situá-lo culturalmente, bem como entender um pouco as peculiaridades da formação histórica, social e cultural do Brasil. Isto se faz necessário, sendo realmente uma premissa básica diante do profundo envolvimento do artista com as questões da cultura popular da região do nordeste brasileiro, matriz principal e conteúdo básico de sua obra.

O Brasil, diferente de outros países latino-americanos, foi colonizado pelos portugueses, do qual herdamos a sua cultura, e o belo e rico idioma português. Outro fato decisivo para se entender o imaginário do brasileiro, e na esteira disso compreendermos melhor a obra do Jô, é que, também diferente dos outros países do continente, nós tivemos uma longa monarquia. Primeiramente como colônia de Portugal e, a partir de 1822, com a independência nos tornamos um Reino autônomo. A seguir, tivemos dois Reinados que se estenderam até 1889, quando foi então proclamada a República.

A longa presença da monarquia no Brasil, e não há espaço aqui para citar suas consequências no universo político e cultural, deixou, por conseguinte, um legado principalmente nas raízes da cultura popular. Os imaginários monárquico, barroco e medievalista são muito presentes até hoje nas tradições populares. Apesar de o Brasil não ter tido Idade Média, este fantasioso medievo brasileiro marca a sua presença na música, na literatura, na pintura, e nos folguedos do povo, principalmente no nordeste do Brasil. Que é, como acima foi dito, uma das principais fontes da obra de Jô Oliveira.

Em toda a sua obra, desde o tempo de sua formação acadêmica, tanto no Brasil, quanto na Hungria, subjazem em suas ilustrações, cartazes e selos um amplo entendimento do que seja a multicultural realidade brasileira. Isto se explica na obra do Jô, pelo fato de os seus objetivos artísticos não ficarem unicamente restritos à cultura nordestina, por exemplo. Diversos de seus livros documentam o interesse em expressar, de forma abrangente, a cultura, a alma do povo brasileiro por meio de um grafismo baseado em fontes afro-brasileiras, indígenas e ibéricas.

Tive o privilégio de acompanhar de perto todo este seu longo trajeto. As origens culturais que sedimentam o seu trabalho começam pelos estudos feitos pelo artista dos ícones bizantinos, dos retratos de Fayum e pela gravura popular russa, o Lubok. A gravura popular alemã e mexicana também tiveram grande influência em seu trabalho. Todo este amálgama resultou num trabalho essencialmente brasileiro, mas profundamente universal. O seu processo de criação transcende, em muito, os limites do folclórico, muito menos dos aspectos de uma arte naife.

Lembro que em certa ocasião — e narro pela primeira vez este fato que elucida e nos faz entender melhor a sua obra — eu estava com ele viajando pela Bulgária, quando éramos jovens estudantes em Budapeste, e, em determinado momento, caminhando por Sófia, nos deparamos com a belíssima Catedral de Alexander Nevski. Por destino, ou algum outro motivo que me foge à compreensão, aos entrarmos na igreja e assistirmos ao belo ritual de uma missa ortodoxa, nos deparamos com uma porta, salvo engano, à direta da nave central da catedral. Abrimo-la, de forma curiosa, como devem ser por vezes os jovens... Ao descermos as escadas, encontramos um acervo maravilhoso de ícones búlgaros.

Jô e eu também ficamos maravilhados. Até então, não tínhamos nenhum contato físico com os ícones. O Jô encontrou esteticamente aquilo que procurava. Acredito — opinião pessoal minha — que ele tenha, naquela visita imprevista, materializado espiritualmente o seu futuro trabalho como artista gráfico, designer e ilustrador.

Diante deste fato, peço a atenção especial dos visitantes búlgaros para esta pequena mostra da imensa obra do artista. E, neste sentido, procurem outras fontes para conhecer de forma mais ampla o seu trabalho. Como disse acima, uma obra ao mesmo tempo singular, pessoal e universal. Jô Oliveira é o ilustrador do povo brasileiro.

  
Rui de Oliveira, ilustrador e escritor – Rio de Janeiro –Janeiro 2019.


Com Jô Oliveira, na BIENAL DE SÃO PAULO 2018

FÉ DEMAIS...



Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, Praça José de Alencar, Fortaleza-CE.


ESTRANHA CONVERSA DE DOIS "CRISTÃOS" 
NA PORTA DE UMA IGREJA


Ontem dei uma passadinha na Igreja do Patrocínio, na Praça José de Alencar, templo que espaçadamente frequento desde que passei a residir por essas bandas, para uma breve conversa com Deus e com meu Anjo da Guarda. Como de costume, peço PAZ, SAÚDE e PROTEÇÃO para mim e para os meus. E em seguida agradeço as graças que tenho recebido.
Ao pisar no batente do templo vetusto, deparei com dois idosos bem vestidos, que conversavam aos berros, dirigindo impropérios aos moradores de rua que pedem esmolas ou praticam pequenos furtos naquele logradouro, desejando-lhes uma morte violenta e cruel:
— O governo devia matar ‘tudim’ e depois tocar fogo nessas desgraças!
E o outro acudiu, de pronto:
— A culpa é do Lula, que colocou o País nesse estado de miséria.
O primeiro, concordando plenamente com o segundo, retrucou, elevando o tom de voz para que todos o ouvissem:
— Ainda bem que a Justiça foi feita e aquele amaldiçoado vai morrer na cadeia! Já pegou mais de sessenta anos de prisão.
Percebendo que eu os fitava com espanto, fizeram uma expressão de ódio incontido e me fuzilaram com os olhos, como quem desafia dizendo:
— Achou ruim?




Achei, mas fiquei calado, porque discutir com esse tipo de gente é a mesma coisa que atirar pedras na lua. É mais fácil receber gentileza e afagos de um cão pit-bull... E saí dali refletindo sobre o Evangelho de Mateus.



Evangelho segundo S. Mateus 25,31-46.

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; E colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; Não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’.
E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’.

 E, por conta desse episódio ocorrido ontem, dia 15 de março de 2019, às dez e meia da manhã, na Igreja do Patrocínio, escrevi este soneto:


A VIRTUDE DO PECADO

Não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’.

O pecado se torna uma virtude
Quando afronta a cruel hipocrisia
De quem finge ser criatura pia
E contudo, nem a si mesma ilude.

Tenho visto hipócrita amiúde
Condenando, por pura aleivosia,
Criticando de forma doentia,
Desejando ver alguém no ataúde.

Ontem mesmo, na porta de um templo
Vi um torpe hipócrita desejando
Uma morte cruel a um semelhante.

De Jesus jamais segue o bom exemplo
Vi a cena e saí dali pensando:
— Como faz falta ao INFERNO de DANTE!

Arievaldo Vianna
16.03.2019


CONCLUSÃO: Democraticamente falando, acho que todos têm o sagrado direito de defender o seu ponto de vista, por mais equivocado que possa parecer. O que eu não admito, nem Jesus admitia, é a hipocrisia desses fariseus que ele chamava de "raça de víboras". Se pensa desse modo, não se proclame CRISTÃO nem faça esse tipo de prédica na porta de uma igreja.

quarta-feira, 13 de março de 2019

NO ANIVERSÁRIO DO CONSELHEIRO


CAPA: ARIEVALDO


Há cento e oitenta e nove anos nascia ANTÔNIO CONSELHEIRO. Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em Vila Nova de Campo Maior (Quixeramobim), a 13 de março de 1830 — e faleceu em Canudos-BA, a 22 de setembro de 1897. Ficou conhecido na História do Brasil como Antônio Conselheiro, que se autodenominava "o peregrino", foi um líder religioso brasileiro.

Figura carismática, adquiriu uma dimensão messiânica ao liderar o arraial de Canudos, um pequeno vilarejo no sertão da Bahia, que atraiu milhares de sertanejos, entre camponeses, índios e escravos recém libertos, e que foi destruído pelo Exército da República na chamada Guerra de Canudos em 1896.

A imprensa dos primeiros anos da República e muitos historiadores, para justificar o genocídio, retrataram-no como um louco, fanático religioso e contrarrevolucionário monarquista perigoso.

O primeiro folheto de cordel publicado sobre a Guerra de Canudos foi escrito pelo poeta paraibano  João Melchíades Ferreira da Silva, que participou da luta como militar e, naturalmente, defende a versão divulgada pelo Exército Brasileiro. Posteriormente outros poetas retornaram ao tema, fazendo a defesa de Conselheiro e sua gente. Caso do poeta Geraldo Amâncio, que fez um livro magistral. O trabalho mais recente foi escrito por ARIEVALDO VIANNA e BRUNO PAULINO e retrata duas facetas pouco exploradas do beato ANTÔNIO DOS MARES, O PEREGRINO: a visão sebastianista e a sua fama de milagreiro.

Vejam alguns trechos:

Nós vamos contar um fato                       
Que dizem ser verdadeiro
Ocorreu em Monte Santo     
Com um Santo Brasileiro,
(Tudo em versos, se me entendes):
Antônio Vicente Mendes
Maciel,  O Conselheiro.


O poeta popular
Sempre amplia seus estudos
Buscando novas matérias
E melhores conteúdos;
Depois de leituras tantas
Encontramos Paulo Dantas,
E um livro sobre CANUDOS.


Num dos capítulos do livro
Que é “O CAPITÃO JAGUNÇO”
Deparamos com uns fatos
Cujo relato esmiunço
Da fama de milagreiro
Que Antônio Conselheiro
Tinha antes do “furdunço”.


Nessa peregrinação
Passou por muitos lugares
Fazendo igrejas, capelas,
Levando conforto aos lares
Quando o beato pregava
Muita gente o chamava
De Santo Antônio dos Mares.


Antônio Vicente tinha
Uma visão humanista
Pregou contra a escravidão
Com sólido ponto de vista
Devido a esses sermões
Fundou naqueles sertões
Um reino Sebastianista.


Sebastião, o Desejado
Foi um rei de Portugal
Que promoveu uma cruzada
No meio de um areal;
Na batalha se perdeu
Nunca mais apareceu
Foi um drama sem igual.

(...)

LANÇAMENTO EM BREVE, NO CARIRI CANGAÇO

Por e-mail, o professor Gilmar de Carvalho, grande estudioso da cultura popular nordestina, em especial do CORDEL, nos felicitou pela iniciativa:

Arievaldo e Bruno,

Gostei da ideia de vocês, fazerem um cordel a quatro mãos. O tema não poderia ter sido melhor escolhido. Conselheiro será sempre uma referência. Ótimo que tenham lançado o cordel no dia 13 de março, aniversário do beato. A edição está bem cuidada, com ilustrações do Jô, do Poty e do Arievaldo. Estamos recuperando o tempo perdido. Nenhum cearense escreveu sobre Canudos no calor da hora. Os primeiros folhetos serão tardios.  Este cordel, no entanto, traz a escrita para o sertão de Quixeramobim, atualiza e mantém o tema em evidência. 

Tudo de bom, abraços para vocês.
do amigo Gilmar"


segunda-feira, 11 de março de 2019

A ARTE DE JÔ OLIVEIRA

ANTÔNIO CONSELHEIRO E O SEBASTIANISMO



Duas ilustrações do amigo e parceiro Jô Oliveira, um dos maiores ilustradores desse país.