sábado, 22 de setembro de 2012

JÔ OLIVEIRA NA REVISTA CONTINENTE

 
A CRIAÇÃO DO MITO E DA CARICATURA

Escrito por Conrado Falbo
Quem hoje tem 30 e poucos anos não sabe o que é a vida sem Luiz Gonzaga. É o meu caso: cresci escutando sua voz nas canções e reconhecendo imediatamente sua fi gura sempre que aparecia na televisão, no jornal ou nas lojas de discos. Obviamente, o fato de eu ter nascido no Recife faz com que essa presença tenha um signifi cado todo especial, mas é igualmente óbvio que sua força foi percebida muito além das fronteiras de minha terra natal. Luiz Gonzaga é um símbolo cultural de grande alcance e complexidade. Como não estive lá para ver o fenômeno surgir, meu ponto de vista necessariamente inclui as caricaturas que também aprendi a reconhecer e que já foram incorporadas à persona pública desse artista. Existem pelo menos três delas: o mito, o estereótipo e o ritmo.

O mito e o estereótipo são duas faces de uma mesma moeda e estão profundamente relacionados à dicotomia entre nordestinos e sulistas, uma divisão do mundo que o próprio Gonzaga ensinou em suas canções. Do lado dos nordestinos, o mito evoca uma realidade de exclusão social e sofrimento, mas acaba gerando uma identifi cação positiva, já que a “voz da seca” pertence a um cantor de enorme sucesso. Conforme essa lógica ambivalente, Luiz Gonzaga representa o retirante bem-sucedido, que venceu as dificuldades e conquistou a terra dos sulistas cantando sua própria terra.


Leia a matéria na íntegra na edição 138 da Revista Continente.