sábado, 16 de abril de 2011

PROFESSOR FOLHETO

VITAL FARIAS FOI ALFABETIZADO LENDO FOLHETOS DE CORDEL



A partir deste sábado vamos inaugurar uma nova seção em nosso blog chamada O DISCO DA SEMANA. Vamos resgatar vinis maravilhosos, sobretudo de artistas nordestinos que foram alfabetizados graças ao CORDEL ou têm influência da poesia popular nordestina em sua obra. O primeiro é o paraibano de Taperoá VITAL FARIAS, grande menestrel, inspirado instrumentista, como vocês podem conferir nesse LP de 1980, que tem por título o nome de sua terra natal: TAPEROÁ.
EM TEMPO – É preciso assassinar o ofídio e expor o cajado... A fonte de onde pescamos essa preciosidade é nada mais, nada menos que o excelente site FORRÓ EM VINIL (http://www.forroemvinil.com/), do qual somos colaboradores.

VITAL FARIAS – TAPEROÁ 
Epic/CBS, 1980

Arranjos do próprio Vital Farias, destaque para “Tema de beija-flor”, em parceria com o embolador Gavião, “Assim diziam as almas”, “Nós sofre mas nós goza” e para o instrumental curtíssimo, um choro “General da banda”, de sua autoria. Em todo o disco é possível detectar influências do Romanceiro Popular Nordestino.

O DISCO DA SEMANA


Vital Farias – Taperoá
1980 – Epic

01. Pra você gostar de mim (Vital Farias)
02. Eu sabia sabiá (Vital Farias / Jomar Souto)
03. Assim diziam as almas (Vital Farias)
04. Nave mãe (Vital Farias)
05. (Tudo vai bem) Nós sofre mas nós goza (Vital Farias)
06. Repente paulista (Vital Farias)
07. Tema de beija-flor (Vital Farias / Gavião)
08. Veja (Margarida) (Vital Farias)
09. Meu coração por dentro (Herman Torres / Salgado Maranhão)
10. General da banda (Vital Farias)
11. Prazer pelo avesso (Vital Farias / Salgado Maranhão)

Para baixar esse disco, clique aqui.
http://www.forroemvinil.com/vital-farias-taperoa/

A seguir, o seu resumo biográfico, extraído do site do próprio artista.

No começo, em Taperoá
Vital Farias fez seus primeiros estudos em casa, com seus irmãos mais velhos, lendo folhetos de cordel, ainda na Pedra D'Água, sítio onde nasceu, no município de Taperoá - Paraíba. Logo depois, começou seus contatos com a cidade de Taperoá, onde cursou o primário no Grupo Escolar Felix Daltro. Fez exame de admissão e parte do ginásio na Escola Professor Minervino Cavalcanti, que funcionou no mesmo grupo escolar, idealizado pela então benfeitor e amigo de todos nós Dr. Adonias de Queirós Melo (dentista, homem de muito amor pelas causas educativas).
Ave de arribação
Migrou para João Pessoa para servir o exército brasileiro (15º Regimento de Infantaria), onde passou dez meses e quinze dias. Saindo do exército, continuou seus estudos no Lyceu Paraibano em plena ditadura militar. Nesse tempo já compunha e já se sentia um cantador, pois as suas origens reclamavam da cultura do seu povo e trazia nas suas memórias, desde criança, muitas cenas em Taperoá e nos sertões vizinhos da profunda covardia do sistema capitalista que esmaga e oprime o trabalhador. Mas, por força das circunstâncias "lei da sobrevivência" formou um conjunto de iê-iê-iê juntamente com Floriano, Cecílio Ramalho e Golinha ao estilo The Beatles, que na época incendiou com suas canções belíssimas o mundo inteiro. Apesar disso, Vital não se esqueceu das cantigas de seu povo, das ladainhas, das incelenças e cantilenas e paralelamente desenvolvia um trabalho onde contemplava suas origens.
Suando a camisa
Na década de 70 foi professor do estado, ministrando aulas de teoria e violão por música, tendo como orientador Fidja Siqueira, Pedro Santos, Gerardo Parentes, Bento da Gama, entre outros. Paulatinamente conviveu e participou no Teatro Santa Rosa de vários trabalhos teatrais: ora como músico, ora como ator, ora como criador. Realizou alguns trabalhos de cinema. Com essa experiência, anos depois já no eixo Rio-São Paulo participou do premiadíssimo filme O HOMEM QUE VIROU SUCO (primeiro lugar no festival internacional de Moscou-1981). Atuou como diretor musical e roteirista poético.
No Pau-de-Arara
Em 1975 rumou para o Rio de Janeiro. Lá chegando, participou da peça do Diretor Luis Mendonça LAMPIÃO NO INFERNO juntamente com Pedro Osmar, seu companheiro de viagem e ex-aluno, Elba Ramalho, Tânia Alves, Kátia de França Imara Reis, Tonico Pereira, Madame Satã, Hélio Guerra, Joel Barcelos, Walter Breda, Damilton Viana, entre outros. Por outro lado, seguia seu sonho de poeta-cantador, compondo, participando das questões sociais e políticas do Brasil, chegando a participar da peça GOTA DÁGUA, de Chico Buarque e Paulo Pontes, seu amigo. Continuou, como sempre, alimentando seu desejo. Fez vestibular na CESGRANRIO, onde foi aprovado para o curso da Faculdade de Música, onde se formou em 1981. Nesse espaço de tempo teve orientação de arranjo e regência com os professores e Maestros Radamés Gnatali e José Alves de Sousa, ex-padre e professor-diretor da faculdade de música.
Poucos, porém grandes parceiros
Vital, por ser um cantador bisexto,nunca teve muitas parcerias. A não ser com Livardo Alves, Jomar Souto, com a obra Eu sabia, Sabiá, isso na Parahyba e depois com Salgado Maranhão, já no Rio de Janeiro, onde morou na casa do estudante universitário em Botafogo. Só para não esquecer, a ditadura campeava cerceando direitos e maltratando quem fizesse a verdadeira arte cidadã neste país, sendo achacado, diversas vezes impedido de cantar certas obras, etc. etc. etc.
Aleluia, habemus disco
Em 1978 faz na Polygram seu primeiro LP (VITAL FARIAS). Laureado por toda crítica brasileira, inclusive pela maior autoridade da crítica especializada no país José Ramos Tinhorão - historiador e crítico do Jornal do Brasil. Durante todo esse tempo, Vital continuou lendo, debatendo, fazendo palestras, cantorias. Seu trabalho, como é do conhecimento de todos nós, é um trabalho polêmico no que concerne ao Humano, Social, Político, Ecológico etc.
O resto é de domínio público. (se quiser saber de tudo que aconteceu com Vital Farias, pergunte a DEUS...)

Taperoá - Parahyba - Nordeste - Brasil - América do Sul - Ocidente - Planeta Terra - Via Láctea -AMÉM

   

sexta-feira, 15 de abril de 2011

DEPOIMENTO

CORDEL NÃO É COISA DE ANALFABETO

Muitos pesquisadores, equivocadamente, confundem Literatura de Cordel com POESIA MATUTA. E também com cantoria, embolada, aboio etc. Realmente, todas essas ramificações da poesia popular descendem do mesmo tronco, o TROVADORISMO. Mas existem distinções. É bom que fique claro. Desde os tempos de Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde e José Camelo de Melo, o poeta popular prima por uma linguagem correta, de acordo com as regras gramaticais vigentes. Até mesmo os poetas matutos procuram se informar... Caso, por exemplo, de Patativa do Assaré, que lia Camões, Castro Alves e Gonçalves Dias. Vejamos o que dizia, a esse respeito, o saudoso poeta Manoel D'Almeida Filho:



"Não entendo a razão de alguns pesquisadores atuais, inclusive estrangeiros, afirmarem que o livro de Literatura de Cordel (título dado não sei por quem), só é autêntico com clichê de madeira e erros gráficos e ortográficos. Ora, esquecem esses senhores que João Martins de Athayde, no seu tempo, já primava pela perfeição da escrita, do trabalho gráfico e da roupagem que vestia o folheto. Será que os livros publicados por Athayde com clichês zincografados e zincogravuras não são autênticos?"

Manoel D’Almeida Filho, 1983.

ENTREVISTA - TV BRASIL

ENTREVISTA COM ARIEVALDO VIANA, NO PROGRAMA "SALTO PARA O FUTURO", DA TV BRASIL


Realizada em: 13/9/2010

Atuação: Poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário. Criador do Projeto ACORDA CORDEL na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos, adotado (em 2002) pela Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de Canindé/CE e, posteriormente, por diversos municípios de vários estados brasileiros.
Obras: O Baú da Gaiatice, Leandro Gomes de Barros - Vida & Obra, João de Calais e sua amada Constança, Padre Cícero, o santo do povo, Dona Baratinha e seu casório atrapalhado, A raposa e o cancão, São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel e Mala da Cobra - Almanaque Matuto.

Literatura de Cordel e Escola


Salto – Você foi alfabetizado pela sua avó com a ajuda da Literatura de cordel. Como aconteceu esse processo?

Arievaldo – Eu nasci numa fazenda no Ceará, lá pelas terras de Quixeramobim, que é a terra do beato Antônio Conselheiro, e lá não havia energia elétrica. Nós éramos de família numerosa, meu tio tinha 10 filhos e papai tinha 6, e nos reuníamos para brincar no final da tarde na casa dos nossos avós, que era uma casa grande; E como não havia eletricidade, e nós não queríamos ficar nos expondo no terreno, por medo de cobra, a minha avó inventava um sarau literário. Ela pegava uma mala de folhetos de literatura de cordel, acendia um lampião a gás, e a partir dali ela começava a contar as histórias fabulosas de João Grilo, Cancão de Fogo, Pedro Malasartes, Pavão Misterioso, Os 12 pares de França, e aquilo era um deslumbramento, um encantamento para nós. E sentíamos aquela vontade de aprender a ler, para ler tão bem quanto ela. Foi ela a responsável pela minha alfabetização. Os textos que vinham naquelas cartilhas tradicionais, convencionais, não me soavam muito agradáveis, porque eram textos sem uma cadência, um roteiro. Geralmente eram só uma junção de palavras. E isso não ocorria com o folheto de cordel, que é uma coisa extremamente dinâmica, agradável, de uma leitura muito bonita. Principalmente pela forma como ela lia. Nós nos encantávamos, nos identificávamos com aqueles personagens. E daí surgiu a vontade de aprender a ler. As escolas ficavam distantes, e havia uma escola nas imediações, a 2 km da casa dos meus avós, onde os meus primos mais velhos já estudavam, mas minha avó não me mandava para lá porque eu tinha um problema muito sério de garganta, não podia pegar poeira, que adoecia. Ela resolveu me alfabetizar em casa, justamente através dos folhetos de cordel. E isso foi a base, foi o lastro de toda a minha formação cultural. Tudo que eu aprendi posteriormente, nas escolas formais, através dos livros, dos filmes, dos discos, eu já tinha tido uma noção de tudo aquilo ali, através desse mundo encantado do Cordel.

 
Salto – Agora vamos falar no projeto "Acorda Cordel na sala de aula". Qual é a proposta desse trabalho?

Arievaldo – Pois bem, o cordel teve esse papel fundamental na alfabetização de milhares de crianças da Região Nordeste. Acredito que no Brasil inteiro, por quê? As famílias eram muito numerosas do interior do Nordeste, no início do século XX, segundo o IBGE, 80% da população nordestina era composta por analfabetos, ou por pessoas semialfabetizadas. Mas foi um período em que as pessoas leram com muita intensidade. As grandes editoras de Cordel – João de Athaíde, Leandro Gomes de Barros, Manoel Camilo dos Santos – faziam tiragens gigantescas, volumosas, dos clássicos do cordel. Por exemplo, "O Pavão Misterioso", João Martins de Athaíde fez uma tiragem de 100 mil exemplares, e esgotou em 6 meses. Quer dizer, é sinal que as pessoas liam muito. Mas liam como, se não sabiam ler? Numa família de 20, 30 pessoas, tinha sempre alguém que era alfabetizado, que sabia os rudimentos da leitura. Então, fazia-se uma leitura coletiva, em voz alta, daquele folheto. E aquele texto era assimilado por todas aquelas pessoas. Isso despertava nas crianças, principalmente, o desejo de também aprender a ler, de também saber decifrar um folheto daqueles. Motivadas por essa força propulsora do cordel, as pessoas adquiriram conhecimento. Muito tempo depois, meados da década de 90, eu comecei a relembrar esses fatores, e tem um folheteiro, um poeta popular do Ceará, muito conhecido, que é Lucas Evangelista, que ainda faz o papel de folheteiro itinerante, que vai de feira em feira, de cidade em cidade, com uma kombi cheia de folhetos e CDs de cantoria. Eu encontrei com Lucas Evangelista em 1995, na festa de São Francisco, no município de Canindé, e Lucas me disse que o cordel estava praticamente em extinção. Por dois fatores: primeiro pelo fechamento das editoras tradicionais de cordéis, e segundo pela ausência de bons poetas. A geração dos poetas antigos estava morrendo, e não estava havendo essa substituição, essa reposição, de poetas no mercado. Eu me lembrei de que já exercitava essa prática do cordel desde os 8 anos de idade. Lembrei-me também de outros bons poetas, que faziam por entretenimento, mas que não haviam publicado. Por aí começou a proposta. Começou com uma caixinha com 10 folhetos, que batizamos inicialmente Coleção Cancão de Fogo. Esses folhetos tiveram uma aceitação muito boa, foram, inclusive, destaque nos jornais. E a partir daí eu passei a receber convite das escolas para fazer apresentações para as crianças, principalmente na Semana do Folclore. A partir dessas apresentações, eu resolvi criar uma apostila, uma metodologia, explicando as origens do cordel, como surgiu, como se desenvolveu aqui no Brasil, quais as regras básicas da literatura de cordel, como se constrói um folheto. Tudo isso eu comecei a repassar para as crianças, e as crianças são muito curiosas. Eu gosto muito da interatividade com o público infantil. Eles fazem perguntas, questionam, facilitam o nosso trabalho. E a partir daí essa apostila foi 'engordando', até que chegou a 100 páginas, e eu vi que estava na hora de virar livro. Vi que aquilo ali tinha suporte. Na época, eu recebi apoio da Petrobras, e também de algumas prefeituras do interior do Ceará, e fizemos um Kit, que é composto de um livro, uma caixa com 12 folhetos, e 1 CD com 10 poemas, e alguns deles com a participação especial do Mestre Azulão, do poeta Geraldo Amâncio, do Zé Maria de Fortaleza, que tem sido um sucesso. Nas asas desse projeto eu já percorri metade do país, já fui convidado para cidades fora do eixo Norte-Nordeste, inclusive. Já estive em Uberlândia, em Palmas, em outras cidades, no interior de São Paulo, justamente levando essa proposta de cordel. Estive na Academia Brasileira de Literatura de Cordel, cuja sede fica aqui no Rio de Janeiro, do poeta Gonçalo Ferreira, e tenho recebido convites até de locais distantes, como o Acre, que fica nos confins da região amazônica, e até mesmo de países da Europa, que se interessam por esse tipo de literatura.


Salto – E em seu livro, "Acorda Cordel", o leitor encontra ilustrações e referências a personagens do imaginário popular. Como esses elementos contribuem na formação dos leitores?

Arievaldo – A base da Literatura de cordel é justamente a oralidade, o romanceiro popular. São as lendas, os mitos, principalmente as lendas brasileiras. O cordel, quando chegou aqui no Brasil, oriundo da Península Ibérica (Espanha, Portugal), e da região provençal da França, utilizava as lendas, aqueles mitos, europeus. Na bagagem do colonizador europeu veio "A donzela Teodora", "O João de Calais", "A imperatriz Porcina", veio "Carlos Magno e Os doze pares de França", veio "Roberto do Diabo", que são textos muito conhecidos em todo mundo, que Câmara Cascudo batizou de 5 livros do povo. Ele fez até uma análise de como esses livros chegaram aqui no Brasil. Só que quando essas histórias chegaram no Nordeste brasileiro, elas ganharam uma nova roupagem. Os poetas populares nordestinos, no caso Leandro Gomes de Barros, João Matias de Athaíde, José Camelo de Melo, começaram a emprestar elementos da cultura brasileira  a essas histórias, começaram a inserir. E paralelamente à história de um Carlos Magno, encontramos a história de Lampião, a história de Antônio Silvino. O poeta popular, no seu espírito gozador, diz assim: "Se contamos a história de um cangaceiro francês, que era o Carlos Magno, não vamos contar de um cangaceiro brasileiro, que era o Lampião?" E aí surgiram temas genuinamente nacionais, como "O Ciclo do Boi". Nós temos "O Boi Mandingueiro", "O Boi Vermelhinho", "O Boi Misterioso", que são poemas belíssimos, épicos. Para você ter uma ideia, em 1865, o José de Alencar já trazia à tona um desses poemas, que é "O rabicho da Geralda", contando a história de um boi, em versos, e está narrada na 1ª pessoa, como se o boi estivesse contando a sua própria história, que é de um boi que ninguém conseguia pegar, porque dizem que ele tinha a cauda muito lisa, daí o nome rabicho. E até que um dia ele conseguiu ser capturado, e tudo isso foi recolhido pelo José de Alencar, ainda criança, nas fazendas do interior do Ceará. Para você ver que essa coisa vem de muito longe, a oralidade. A "História do soldado jogador", na época de D. Pedro I, já existiam versões em quadra. Depois é que o Leandro pegou e adaptou para sextilha, que é uma modalidade mais elaborada da poesia popular. A quadra tem 4 versos, 4 linhas. A sextilha já trabalha com 6 linhas. Nós temos também a setilha, que já é a estrofe com 7 versos. E daí por diante. Hoje já existem mais de 70 modalidades na cantoria, e na literatura de cordel exploramos pelo menos umas 10 modalidades diferentes de poesia.

Salto – Num dos trechos do livro é possível ver dicas sobre algumas regras da Literatura de cordel. Essa também é uma forma de incentivar uma nova geração de cordelistas?

Arievaldo – De certo modo, sim. Eu acredito que a poesia é um dom. As pessoas já nascem com aquilo. Você não pode fazer uma oficina pensando em formar novos poetas. Você pode fazer uma oficina para 40, 50 crianças para revelar valores, talentos. No meio de 50, você vai encontrar 2, 3, 4 que são poetas, e se descobrem poetas a partir da oficina. E aí você me perguntaria: "E os demais, não tiraram nenhum proveito dessa oficina?" Eu diria que sim. Talvez até mais, porque vão se tornar bons leitores de literatura de cordel. Vão saber o que é, vão saber discernir o que é um cordel bem feito de um cordel malfeito, vão saber o que é um verso metrificado. Quer dizer, vão adquirir uma empatia, todo um conhecimento com essa literatura, e a partir daí vão se encantar por essas histórias, e vão se tornar bons leitores de cordel.
Salto – Como tem sido a recepção das escolas e dos alunos a esse projeto? E que retorno você tem tido?Arievaldo – Eu procuro deixar as escolas e os professores muito à vontade. Eu até diria que não espero que esse projeto seja adotado, reconhecido, oficialmente como uma disciplina nas escolas. Eu gosto que o arte-educador,  o professor, fiquem à vontade, que passem a trabalhar com aquilo ali porque gostam, vejam que realmente tem valor, tem qualidade, que é uma coisa que pode ajudá-los na sua tarefa pedagógica. Então, quando o professor trabalha com esse sentimento, trabalha com esse tipo de ferramenta porque gosta, porque tem uma empatia, porque tem uma ligação com o cordel, a coisa flui muito melhor. Ao contrário de quando você passa a trabalhar com pessoas que têm uma certa rejeição, que têm um preconceito com o cordel, a coisa não flui, não sai legal. É melhor deixar à vontade. Eu acredito muito no poder do apaixonamento, de fazer as coisas com amor. Tudo isso faz com que as coisas fluam com mais força.

Salto – Agora, vamos pensar nos jovens, adultos e idosos que ainda estão sendo alfabetizados. De que forma a literatura de cordel pode ajudar no processo de formação desses alunos?

Arievaldo – Em 2002, o secretário de Educação do município de Canindé formou uma turma de 300 adultos e idosos para alfabetizar. Ao término desse curso, era um curso se não me engano de 6 meses, aqueles recém-alfabetizados iriam receber uma coleção de 10 livros para começar a formar uma biblioteca em casa e adquirirem o hábito da leitura. E houve municípios, que  deram a coleção completa de autores brasileiros consagrados para os recém-alfabetizados. Eram livros dos nossos autores clássicos, que tinham aquela linguagem extremamente rebuscada. Então, sugeri para o secretário de Canindé que oferecesse livros que fossem adequados para aquelas pessoas, que tivessem uma empatia, uma identificação com o seu modo de falar e com as coisas da nossa terra. Foi daí que surgiu essa ideia de fazer a primeira caixinha do projeto "Acorda Cordel", com textos que incluíam, inclusive, uma gramática em cordel, que agora está na 15ª edição, já de acordo com as novas regras ortográficas.

Salto – Muitas vezes o cordel é trabalhado somente nas aulas de Português e de Literatura. Como deve ser o papel do cordel nas escolas brasileiras?

Arievaldo – Eu tenho defendido muito a criação de cordeltecas nas escolas. Assim como há as bibliotecas, é preciso ter também um espaço destinado à literatura de cordel. Seria um atrativo a mais, uma nova ferramenta para ajudar na alfabetização, e principalmente na formação de novos leitores. Pegamos, por exemplo, folhetos que têm noções de Matemática, noções de História do Brasil, de Geografia, de Ciências, de Português também, é claro. Mas veja, qualquer historiador sério, que quiser hoje contar as histórias do Padre Cícero, do Antônio Conselheiro, de qualquer uma dessas figuras, vai ter que recorrer à história paralela. A história paralela está justamente nos folhetos de cordel. Enquanto existe aquela história oficial, às vezes até engessada, a literatura popular tem uma visão mais profunda, mais intrínseca, ela vai mais no cerne da questão. É uma visão do povo olhando para dentro de si mesmo. É um Brasil que às vezes não aparece nos livros oficiais, mas que existe, e não pode ser encoberto. Você pega um folheto como o do João Mendes de Oliveira, escrito há quase 100 anos, que diz assim: "Padre Cícero é uma pessoa da Santíssima Trindade". Veja que absurdo. Mas era isso que os romeiros pensavam, os devotos, os fiéis, que iam a Juazeiro do Norte, que aquilo era a nova Jerusalém e que Padre Cícero era a reencarnação do próprio Cristo. Quer dizer, o pesquisador, o historiador, que quiser fazer um trabalho realmente sério a esse respeito, para entender porque aquelas massas se deslocavam quilômetros e quilômetros, do interior da Bahia, do Sergipe, do Maranhão, de Alagoas, para ver aquele sacerdote. Aquilo é considerado fanatismo, é visto muitas vezes de forma pejorativa, às vezes até mesmo dentro da Igreja Católica, mas as pessoas tinham um sentimento que muitas vezes era alimentado pelo poeta popular. E Padre Cícero sabia muito da importância do poeta popular. Ele fez com que os poetas populares, os cordelistas, fossem seus marqueteiros. Padre Cícero, nessa biografia recente que foi escrita pelo Lira Neto, ele dividiu em dois capítulos que foi "Entre a cruz e a espada", ou seja, os primeiros 40 anos do Padre Cícero são dedicados exclusivamente à cruz e ao sacerdócio. E depois que ele se sente ameaçado, que tem as suas ordens de padre cassadas, e temendo que aconteça com Juazeiro o que havia ocorrido com Canudos, Padre Cícero começa a adquirir aliados dentro da política, e começa a estimular os poetas populares, os folheteiros, para que vendam a imagem positiva da sua pessoa. É por isso que existem mais de 1.000 folhetos sobre Padre Cícero. Um pesquisador do Rio Grande do Norte, Crispiniano Neto, acaba de escrever um livro "Lula na Literatura de Cordel", onde encontramos mais de 200 folhetos de cordel falando do presidente Lula. Da sua infância, a sua história, alguns criticando, outros elogiando. Mas, enfim, é um tema que está muito presente hoje. Por exemplo: Getúlio Vargas. Getúlio Vargas é um fenômeno que foi largamente explorado pela Literatura de cordel. Orígenes Lessa, inclusive, fez um livro falando da trajetória do Getúlio Vargas, sobre a ótica do poeta popular. O Cordel, a poesia de um modo geral, é a arte de encaixar palavras dentro de uma determinada métrica, e sempre utilizando a rima para valorizar, justamente essa coisa do ritmo, da beleza. E existem palavras que não se enquadram, que não possuem rima. Por exemplo, a palavra cinza. A palavra cinza só tem uma única rima perfeita para ela, que é ranzinza. Então, três cantadores estavam cantando um desafio onde cada poeta faz dois versos. O 1º cantador disse: "Se eu pegar cantador ruim, dou pisa que voa cinza"; o 2º disse: "Eu também farei o mesmo, pois não sou cantor ranzinza"; o 3º disse: "E lá na Praia Formosa tem uma velha fanhosa, que chama camisa, caminza". E foi como ele conseguiu fazer. O poeta tem essa genialidade também, de pegar essa coisa do repente, principalmente o cantador. Mas o cordelista também, que é bom gozador, consegue captar essas coisas e criar situações engraçadas, e tirar o possível de dentro do impossível.  

Salto – Muito obrigada pela entrevista.

Arievaldo – Eu que agradeço o espaço, e espero que a iniciativa seja imitada por outros canais de televisão, em benefício da cultura brasileira.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

"ESTALTA DISMANTELADA"

ESTÁTUA DE PATATIVA É QUEBRADA EM TRES PEDAÇOS

Neta de Patativa, Fátima Gonçalves, ao lado da estátua quebrada em três partes: pernas, tronco e pescoço. A cabeça ficou totalmente destruída 

FOTO: ANTÔNIO VICELMO


O monumento, em tamanho natural, com 1,60m, estava ao lado da Igreja Matriz de N. Sra. das Dores - FOTO: THIAGO GASPAR


ASSARÉ -  A estátua do poeta Patativa do Assaré, localizado ao lado da Igreja Matriz, em frente ao Memorial, foi quebrada em três pedaços. O acidente ocorreu no dia 10 de fevereiro, quando o cabeleireiro paulista Claudeilton Soares Alves subiu no pedestal da estátua para fazer uma foto ao lado do seu ídolo, a fim de levar como lembrança para São Paulo. Quando se posicionou para fazer a foto, escorregou, tentou se amparar na estátua, e ele caiu abraçado com o monumento.
O cabeleireiro fraturou a clavícula, deslocou o braço e lesionou um joelho, enquanto a estátua partiu-se nas pernas, no tronco e no pescoço. A cabeça foi totalmente destruída. No hospital, onde ficou internado, Claudeilton lamentou o acidente e prometeu pagar os prejuízos. Se for o caso, mandar fazer outra estátua. Os pedaços da estrutura de resina foram levados para o 3º andar do Memorial Patativa do Assaré.
A presidente da Fundação Memorial Patativa do Assaré, Isabel Cristina, que é neta de Patativa, explicou que, a princípio, a família ficou revoltada. A primeira providência foi registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Polícia para a tomada de providências. "A revolta só acabou quando a gente soube que se tratava de um grande fã que, na ânsia de levar uma lembrança do meu avô, terminou sofrendo um acidente".
O filho mais novo do poeta, João Batista, que mora em São Paulo e estava de férias em Assaré, lamentou o acidente. No entanto, ao saber que não se tratava de vandalismo, foi solidário com o cabeleireiro que ainda hoje está sem trabalhar por conta da situação. A neta de Patativa, Isabel Cristina, entrou em contato com o escultor Murilo de Sá Toledo, que construiu a estátua em homenagem ao avô.
Ela foi informada de que a restauração do monumento, feito em resina, custa R$ 30.000,00. Em bronze, o preço sobe para R$ 60.000,00. Isabel pondera que talvez o cabeleireiro não tenha condições de custear as despesas, mesmo porque ele ainda está convalescendo da fratura que sofreu em consequência da queda. Talvez seja preciso fazer outra cirurgia.
Apoio político
O secretário de Cultura de Assaré, Marcos Salmo, garante que a cidade não vai ficar sem o seu maior símbolo. A estátua será restaurada. Para isso, estão sendo mantidos contatos com representantes políticos do Município na Câmara Federal, entre os quais o deputado Chico Lopes, que, segundo Salmo, prometeu uma ajuda financeira.
Na próxima semana, o secretário viaja a Brasília, levando um projeto com o orçamento, buscando a liberação de recursos para restauração ou construção de um novo monumento. O fotógrafo Wilson Bernardo, que foi professor em Assaré, disse que, sem a estátua, a cidade perde o seu maior referencial. Patativa foi e continua sendo o maior administrador da cidade. Os empreendimentos que estão sendo instalados no Município são arrastados pelo prestígio do poeta que, mesmo morto, continua divulgando o nome de sua terra natal.
A estátua, em tamanho natural, medindo 1,60m, está localizada em frente ao Memorial Patativa do Assaré, na Rua Coronel Francisco Gomes, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, em Assaré. Foi inaugurada pelo então governador
Lúcio Alcântara, em 2004, com show reunindo artistas da terra, apresentações de repentistas, violeiros, grupos de penitentes e sanfoneiros.
Além da estátua, o governador inaugurou também uma ilha digital. A homenagem a Patativa é uma extensão do Memorial, onde está arquivado o acervo cultural do maior poeta popular do Brasil, que morreu no dia 8 de julho de 2002, com 93 anos, deixando cerca de dez livros publicados com mais de mil poemas, a maioria denunciando injustiças contra o Nordeste. O mais famoso deles é "A Triste Partida", musicado por
Luiz Gonzaga.

MAIS INFORMAÇÕES
Fundação Memorial Patativa do Assaré, Rua Francisco Gomes, 82 - Centro, Município de Assaré, Cariri
Telefone: (88) 3535.1742.

ANTÔNIO VICELMO - REPÓRTER
Fonte:
Diário do Nordeste - 25/3/2011

ESTALTA DISMANTELADA
Patativa psicografado por
Arievaldo Viana e Pedro Paulo Paulino





Ô mamãe você num sabe
O qui foi qui aconteceu
Cum a minha bela estalta
Qui o dotô Luço mi deu...
Apregaram lá na praça
Feliz e achando graça
Mas veja só o caé...
Um sujeito ruim da vista
Cabilerêro, paulista,
Veio batê no Assaré.

O moço era atuleimado
E se dizia meu fã
Chegô na praça cedinho
Oito horas da menhã
Querendo tirá retrato
Fez um grande ispaiafato
Se atrepô no pedestá
Da estalta e desabô
Na queda ele me puxou
Cousa munto naturá.

Os meninos lá de casa
Pensando sê vandalismo
Trataro de discubrí
Quem me jogô no abismo...
Quebrei as perna, a cabeça,
Por incríve que pareça
Quebrei tombém as custela
Fiquei todo fachiado
Lá no chão, desmantelado
Cum tão medonha sequela.

Inda bem que esse moço
Não andou lá no Dragão
Imbora que ele dichesse
Qui tinha boa intenção
Se a ôtra estalta ele visse
Fazia a merma tolice
E num me deixava bem
Mamãe, eu tenho certeza
Se ele fosse a Fortaleza
Quebrava a ôtra tombém.


Eu já li foi no jorná
Escuitei em alta voz
Já quebram inté a estalta
Da Raquezim de Queiroz
Ô mundo dismantelado
Eu já não sei de que lado
Eu posso ficar em pé
Pois vivo nessa incerteza
Se fico na Fortaleza
Ou mermo no Assaré!

Nem estalta neste mundo
Tem um momento de calma
Na terra, eu sou uma estalta
E aqui tou como alma
Vagando na eternidade
Mas sinto munta é sodade
Da terrena vida minha
Fazendo verso e fumando
E de noite chamegando
Com minha insposa Belinha.

Aqui em riba, no céu
Eu num corto mais cabelo
Num vou a cabilerêro
Só pra num ver dismantelo
Aqui fiquei bom da vista
Cabilerêro paulista
Aqui num tira partido
E si vier me quebrá
É arriscado levá
Mãozada no pé-do-uvido.

* * *




ANEDOTÁRIO

A SENTENÇA DE CAIM

Por PEDRO PAULO PAULINO



"Esperança é uma povoação a umas oito léguas de Canindé, situada nos limites deste município com Quixadá, estando geograficamente mais voltada para a Galinha Choca do que para São Francisco. Boa parte do caminho para chegar até lá é percorrida sobre o asfalto da BR-020 e da CE-040. O mais é feito pela estrada de chão, cortada de grotas e riachos e atropelada por ladeiras.


A velha fazenda, retalhada pelo INCRA e entregue aos Sem-Terra, foi no passado um chão produtivo e realmente esperançoso, com economia e comércio prósperos. Hoje, com energia elétrica, telefone, internet, água encanada e enfeitada de vistosas antenas parabólicas, mas sem fonte de renda e produção, abriga em torno de mil habitantes que em geral se deslocam diariamente à cidade de Canindé. Para tanto viajam de pau-de-arara, o meio de transporte audacioso para varar aquelas estradas de chão muitas vezes abandonadas.

Logo que fincou sua bandeira nessa povoação, Zé Freire, aborrecido com a lida na roça, mas como incansável batalhador, presumiu que ali podia ganhar a vida mais mansamente tomando partido no ramo empresarial do transporte de passageiros. Tanta gente viajando todos os dias para a cidade, com tão pouco veículo para atender à demanda, deu nele a cafifa de comprar um carro utilitário, equipá-lo e ganhar a estrada – como veterano motorista que é desde a década de 70 quando habilitou-se, por força de vontade e o empurrãozinho de algum político.


E assim o fez. Vendeu parte do seu rebanho, levantou um financiamento no banco, somou tudo e comprou o carro, uma caminhonete Ford modelo F-4000, ano 1994, de cor azul, em cujo pára-choque mandou gravar a seguinte frase: “Casamento é bom; morrer queimado é melhor”. Mandou benzer o carro e equipá-lo com uma pesada carroceria alta, coberta de lona, instalou bancos de aroeira no lastro, colocou um berrante no lugar da buzina, ornamentou o capô com um belo par de chifres que pertenceu ao famigerado boi Vermelhinho, aparelhou a cabine com um toca-fitas para ouvir aboio e cantoria no percurso, pendurou a imagem de frei Galvão no pára-brisa e anunciou para a redondeza – Três Irmãos, Serrinha, Olho D’água etc. – que a partir de então ia fazer a linha de Esperança a Canindé.

Entrou de cara batendo a concorrência, barateando o preço da passagem, indo buscar e entregar o passageiro em domicílio, e ainda patrocinando a rodada de café com bolo na parada de Vila Campos. Além do que, sua conversa – mais comprida que a estrada – ajudava a encurtar a viagem, principalmente para os que iam na boleia. Foi sucesso total. De modo que todo santo dia, antes do sol nascer, o 'Trovão Azul da Esperança' (foi como batizou o seu carro) partia lotado, cumprindo britanicamente o horário.

Mas lidar com gente não é empresa para qualquer um, principalmente se o trabalho é repetitivo. O condutor de transporte coletivo, quando não é vacinado contra zanga, é geralmente um sujeito aporrinhado com tudo. Zé Freire, acostumado a domar touro brabo, botar no barro e arrancar-lhe os chifres, teve séria dificuldade em agüentar a maçada e a exigência dos seus passageiros, principalmente na hora de reunir todo aquele povo para viagem de volta. Dessa forma se lastimava:

– Já tangi 600 bois dos Inhamuns pra Fortaleza, sem ter dor de cabeça. E agora, com 20 ou 30 cristãos daqui pra Esperança, já ‘tou pra jogar pedra na lua!

De saco cheio com a rotineira de carregar pessoas de variada índole, feirante, aposentado, velha enfezada, bebum chorão, chifrudo, eleitor bazofeiro, menino danisco, porco, bode, o diabo a quatro, sujeito a prego de pneu e atoleiro, em pouco tempo largou o volante, fez uma jura a frei Galvão, jogou fora a chave do carro e entregou ao capeta o ofício de dono de horário.

Escaldado com a experiência, quando lhe perguntam por que abandonou a linha, ele se sai com esta explicação absurda, que garante constar nas Antigas Escrituras.
De acordo com o relato de Zé Freire, depois que matou Abel, Caim, tomado pelo remorso, prostrou-se de joelhos com as mãos postas perante Deus, e clamou:

– Senhor, matei o meu irmão, qual será a minha pena?

Deus então reuniu um conselho formado por querubins para julgar criteriosamente o primeiro fratricídio. Depois de demorada sessão no Tribunal do Paraíso, o Criador convocou o réu e, de modo irrevogável, proferiu esta sentença:

– Caim, como castigo pelo teu grave delito, o júri, por uma boca só, foi de acordo que eu te entregasse a chave de uma F-4000, te tornes motorista e vás fazer horário da Esperança pro Canindé... Por séculos, sem fim, amém!



 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

OFICINAS DE CORDEL

OFICINAS DO PROJETO ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA




O Projeto ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA já percorreu diversos estados Brasil afora, difundindo a literatura de cordel e incentivando a leitura de folhetos através de oficinas, palestras e recitais. Ano passado estivemos em Salvador-BA, Mossoró-RN, Porto Alegre-RS e Rio de Janeiro-RJ. Também já estivemos em Brasília-DF, Recife-PE, Uberlândia-MG, além de diversas cidades do interior do Estado do Ceará.
Este ano, temos novas atividades agendadas em Porto Alegre e Palmas, capital do Tocantins, para onde iremos juntamente com uma caravana formada pela ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

OFICINAS EM CARIDADE-CE
e MARACANAÚ-CE

Nesta foto acima, aparecem alunos e educadores do município de Caridade-CE, participantes de uma Oficina de Capacitação do projeto ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA, na EEF Carmosina Bittencourt de Pinho.
Excelente o nível de participação da turma e o estágio avançado em que se encontram alguns professores, que continuam trabalhando com os folhetos, sobretudo como ferramenta de incentivo à leitura.

Em Maracanaú-CE, estivemos em alguns colégios na companhia do poeta ROUXINOL DO RINARÉ gravando matéria para o programa GLOBO RURAL, que foi exibido no dia 02 de janeiro deste ano. Ali, as crianças já trabalham algum tempo com o folheto em classe, como ferramenta paradidática. Nas oficinas que realizamos, sempre detectamos crianças e adolescentes que têm potencial. Ou seja, têm o dom de poeta. Afinal de contas, não para para ensinar poesia... A pessoa aprende as técnicas, mas tem que trazer na alma este sentimento.
QUEM QUISER CONTRATAR UMA OFICINA DO PROJETO ACORDA CORDEL, deverá entrar em contato conosco através deste e-mail:

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ACORDA CORDEL - 2ª EDIÇÃO


SAIU A SEGUNDA EDIÇÃO DO ACORDA CORDEL
Está circulando, desde o início do ano, a segunda edição do livro ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA, de Arievaldo Viana, acompanhado de CD com 10 faixas e caixa coletiva com 12 folhetos de cordel.

A nova edição, revista e ampliada, traz um capítulo especial - Como fazer um folheto de cordel em classe, passo a passo.

Preço especial para revendedores. Interessados em adquirir o livro ou o KIT COMPLETO (Livro, CD e Caixa de Folhetos) devem entrar em contato conosco pelo e-mail acordacordel@ig.com



ENVIAMOS PELO CORREIO PARA QUALQUER PARTE DO BRASIL.

CORDELISTA RECEBE HOMENAGEM

Poeta Paulo Nunes Batista homenageado pela Biblioteca Demonstrativa de Brasília
 


Abertura do evento
aconteceu ontem, 12/04

Paulo Nunes e Conceição Moreira Salles
Conceição, Chico de Assis (repentista) e Paulo Nunes
Fotos: JÔ OLIVEIRA

Jô Oliveira - Paulo Nunes Batista - Chico Repentista

DE BRASÍLIA RECEBEMOS ESSE CONVITE - HOMENAGEM A PAULO NUNES BATISTA

A BIBLIOTECA DEMONSTRATIVA DE BRASÍLIA (W/3-SUL, EQ.506/7) tem o prazer de convidar V.Sa. e família para a abertura da exposição comemorativa do Mês do Livro “O CORDEL” , quando prestará homenagem ao cordelista PAULO NUNES BATISTA, no dia 12 de abril (3ª feira) às 19h30. Haverá apresentação dos repentistas João Santana e Chico de Assis!

O homenageado estará presente.

PAULO NUNES BATISTA, cordelista, advogado e jornalista, paraibano radicado em Goiás, nasceu em agosto de 1924, em uma família tradicional
de cordelistas, sendo neto de Ugolino, um dos pioneiros do cordel no Brasil. Sua trajetória inclui atividades de cobrador de ônibus e
trabalhador braçal a jornalista e professor. Hoje, aos 86 anos, é respeitado por acadêmicos e admirado pelo público. É autor de mais de
140 folhetos de cordéis e seis livros, e membro da Academia Goiana de Letras.
Além disso haverá distribuição do folheto em homenagem ao Paulo Nunes escrito pelo cordelista Arievaldo Viana.


MAIORES INFORMAÇÕES: 3244-3015 e 3443-5682.

Maria da Conceição Moreira Salles
Coordenadora da BDB


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HOMENAGEM A PAULO NUNES BATISTA
Autor: ARIEVALDO VIANA 


É uma justa homenagem
Para um renomado artista
Escritor de nomeada
Inspirado cordelista
Lenda viva da poesia
O Paulo Nunes Batista.

Filho de Chagas Batista
Um famoso menestrel,
No universo das letras
Desempenha o seu papel
Levando sempre adiante
A bandeira do cordel.

É autor de vários livros
E centenas de folhetos
E compõe, com maestria
Acrósticos, glosas, sonetos
Transborda filosofia
Até mesmo em poemetos.

Um literato de fibra
Sob meu ponto de vista,
Espírito humanitário
Quem tem saber altruísta
Parabéns à Biblioteca
E ao PAULO NUNES BATISTA.


Ficou órfão muito cedo
Mas venceu este empecilho
Estava predestinado
A ser poeta de brilho
Quando criança ajudava
Manoel D’Almeida Filho.

Descende de um velho tronco
Da fina-flor repentista
Do qual brotaram Hugolino
E Agostinho Batista;*
Seu mano, o Sebastião
Também foi bom cordelista.

* Hugolino do Sabugi e Agostinho Nunes da Costa são ancestrais de Paulo Nunes Batista. Do grande poeta Agostinho Nunes da Costa (1797 – 1858), seu bisavô, ficou registrada  essa bela estrofe onde fica evidente o desejo de liberdade que sempre alimentou essa família de poetas:

Nasci livre, Deus louvado
E até sem medo fui feito
Porque meu pai, com efeito,
Com minha mãe foi casado;
Também nunca fui pisado
Como terra ou capim
E se alguém pensar assim
É engano verdadeiro:
Olhe para si primeiro
Quem quiser falar de mim.

Voltemos ao Paulo Nunes, nosso homenageado:

Ainda na Era Vargas
Enfrentou a Ditadura
Ingressou no Partidão
Com alma sincera e pura
A arma que mais usou
Foi sua literatura.

Viveu no Rio de Janeiro
Aonde foi estudante
Porém a mão do destino
O lançou na vida errante
Até que chega em Goiás
Do seu Nordeste distante.

Comunista e agnóstico
E nesta louca ciranda
Paulo Nunes vai um dia
Num terreiro de Umbanda
Sua vida, nesse instante,
Recebe outra demanda.

Uma surra dos “caboclos”
Naquele dia levou
E por ver a coisa séria
Naquela seita ingressou
Mais tarde, o Espiritismo
De Allan Kardec abraçou.

Sobre seu ingresso na Umbanda e suas convicções políticas, assim se expressou o poeta:

Inimigo de tiranos
Tenho horror à hipocrisia
Para festejar a Vida
Troco a noite pelo dia.
O caboclo “Cachoeira”
É – nas Umbandas – meu guia...

O certo é que Paulo Nunes
Não levou a vida a esmo
Nem esqueceu o Nordeste,
Da rapadura e torresmo,
Vejamos umas estrofes
Do ABC para mim mesmo:

“Operário da caneta,
Já vivi só de escrever.
Poeta de profissão
Em Goiás pude viver
Dos folhetos que escrevia
Para nas praças vender.

Trovador: escrevo trovas,
Sonetos, sambas, canções,
Contos rimados, poemas,
Num mar de improvisações,
Tenho setenta folhetos
Com diversas edições.

Versejador, viajante,
Das estrelas do Repente:
Abro a boca, o verso nasce,
Como nasce água corrente,
Tenho feito alexandrinos
Em três minutos somente...”

O certo é que Paulo Nunes
É bamba na poesia
Em 2000 ele ingressou
Na goiana Academia
De Letras e se orgulha
Desse luminoso dia.

FIM
Fortaleza, março de 2011

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