quinta-feira, 11 de abril de 2013

SHAKESPEARE EM CORDEL

DRAMATURGO JOSÉ MAPURUNGA
AVALIA ADAPTAÇÃO EM CORDEL DE MACBETH



Muitos enredos das maravilhosas peças teatrais de Shakespeare foram colhidos em cordéis vendidos nas feiras européias no século XVI. Eram enredos simples, escritos a maioria das vezes em prosa, que ganharam sangue, carne e nervos nas reflexões sobre a natureza humana tecidas por um dos mais geniais autores de todos os tempos.
Daí, causa-me um certo espanto serem poucos os textos de  Shakespeare que retornaram ao cordel feito no Brasil, acrescentados dos elementos que induzem às pessoas a refletirem sobre os maus passos que possam dar sob a influência de pensamentos destruidores. No caso de Macbeth, o enredo foi colhido por Shakespeare não em um cordel de feira, mas nas Crônicas de Inglaterra e Escócia, de Raphael Holinshed (1557), que situa a história real como acontecida no ano de 1040 em algum lugar obscuro e gelado no extremo norte da Grã-Bretanha. Bem poderia ter acontecido em qualquer outro lugar,  como ao pé da Muralha da China, ou numa savana da África, ou numa megalópolis como São Paulo, ou nas nossas caatingas sertanejas, tendo os seus personagens os prenomes correntes aqui, porque é uma história universal, que diz respeito à toda humanidade.
Arievaldo Viana, um dos mais conhecidos autores contemporâneos de folhetos, com mais de 100 títulos publicados, na adaptação para o cordel de Macbeth, segue o enredo em versos, fazendo uso da métrica da redondilha e da rima fluente e natural bem ao gosto dos clássicos da literatura de cordel nordestina. Melhor ainda, extrapolando o corriqueiro no gênero, dá ênfase às reflexões chaves do texto original de Shakespeare, oferecendo ao leitor a oportunidade de avaliar sua postura diante da vida e das relações humanas, o que é oportuno no tempo em que vivemos, quando muitos estão no epicentro de uma crise de valores sem precedentes, quando em toda parte se ensina que a conquista do sucesso não tem medida de preço.
Belo, inteligível e esclarecedor, o cordel de Arievaldo ensina que, ao contrário do que diz o ditado, o Diabo é muito mais feio do que se pinta, sendo, portanto, um péssimo negócio mercanciar com ele, porque o sucesso obtido entregando-lhe a alma, será o terrível castigo do desavisado.
José Mapurunga
Dramaturgo e escritor


quarta-feira, 10 de abril de 2013

É DOS GRIMM. MAS PARECE DO NOSSO SERTÃO

boco.jpg

(Por Aryane Cararo)
Jornal O ESTADO de São Paulo
Link: http://blogs.estadao.com.br/estadinho/2013/04/08/e-dos-grimm-mas-parece-do-nosso-sertao/

Na galinha dos ovos de ouro é possível que já tenha ouvido falar. Mas, e no ganso com penas de ouro que era do João Bobo? Esse conto dos alemães Irmãos Grimm não é tão conhecido como o outro e esse é um dos motivos para gostar de João Bocó e o Ganso de Ouro. O outro é que esta obra foi recontada pelo cearense Arievaldo Viana todinha em cordel,  o que torna a leitura saborosa de um jeito diferente. E tem também ilustrações muito nordestinas no trabalho de Jô Oliveira. Vale a pena ler essa versão. Não dá nem para acreditar que esse conto, de um João nada esperto, mas muito sortudo e de bom coração, veio  lá da Alemanha e há tanto tempo atrás (começo do século 19). Parece rima e história que está acontecendo agorinha mesmo, em algum lugar do sertão.

João Bocó e o Ganso de Ouro. Texto: Arievaldo Viana. Ilustrações: Jô Oliveira. Globinho, R$ 34.