terça-feira, 9 de agosto de 2011

BAÚ DA GAIATICE

O SABUGO RECICLÁVEL
sabugo

Está a caminho a terceira edição do livro O BAÚ DA GAIATICE, pela Editora Assaré. O pré-lançamento está previsto para meados de setembro, na bienal do livro do Rio de Janeiro. Em seguida faremos um lançamento pai-d'égua aqui em Fortaleza. Aguardem. Enquanto isso, vamos degustando um aperetivo do fundo do baú, o causo "O SABUGO RECICLÁVEL":

Não há registro nos anais de nossa família, de alguém que goste mais de acumular catrevagem que a tia Filismina. Desde sofisticadas latas de biscoito vazias a cuias remendadas com barbante e cêra de abelha, não há cacareco que resista a sua cobiça. Cangalha, pote, esteira de jumento, ferro de engomar a brasa, fuso, almofada de bilros, lamparinas, urupembas, alguidás, bolandeiras e outros artefatos medievais convivem pacificamente em  sua despensa com um moderníssimo rádio ABC canarinho à válvula, comprado na Copa do Mundo de 62 pelo finado Salustiano, seu marido. É a peça mais nova de sua coleção. Seu primogênito, o Percival, herdou as manias da mãe. O rapaz vive adquirindo folhetos de cordel, discos de cêra, sela de chifre, exemplares da revista FON-FON e do Almanaque BRISTOL, uma coleção de cartuns do “Amigo da Onça” além, é claro, de radiolas 78 RPM e da obra completa do Coroné Ludugero, de quem se diz fã incondicional. Discos do Barnabé e do Velho Facêta também povoam este acervo. Este menino só pode ser fruto de um romance casual de Tia Filismina com o Nirez…
Recentemente, a tia recebeu uma carta do Procélio, seu caçula, que mora há mais de 10 anos em São Paulo. Lá todo mundo tem nome começando com a letra “P”: Praxédi, Policarpo, Ponciano, etc. Junto à missiva uma passagem via ITAPEMIRIM, sem baldeação, para tia passar o natal e o ano novo na terra dos bandeirantes.
Na bagagem da velha, que por sinal fez escala lá por casa antes do embarque, havia de um tudo! A noite que antecedeu a viagem foi uma comédia. Com a ansiedade própria de quem vai viajar, tia Filismina não dormiu. Passou a noite inteira remexendo as bagagens.
Mamãe, curiosa como 99,9% das mulheres, foi bisbilhotar a bagagem da velha usando para tanto o velho pretexto da “ajuda” (aquela que não é mulher do Judas, mas vem a calhar em circunstâncias como esta). Havia de tudo: garrafa de manteiga da terra, queijo de coalho, mel de jandaíra, uma “imbiricica” de preá salgado, três dúzias de avoantes (alô, IBAMA!) e, pasmem: UM SACO CHEIO DE SABUGOS!!!
Indagada acerca da utilidade de tão curiosos acessórios, a velha foi taxativa:
— Minha fia, eu morro e num me acostumo com exi tal de papé higiêni… o bom do sabugo são as muitas serventias: limpa, coça e dá o penteado!!! 

(In “O baú da gaiatice”, de Arievaldo Viana – Editora Varal, 1999)

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