segunda-feira, 19 de junho de 2017

DEIXE JUNHO PRA SÃO JOÃO


Coletânea "Sobe balão", da SINTER



Com o radialista Carneiro Portela, um defensor da música nordestina.

UM MANIFESTO EM DEFESA DO FORRÓ



Deixe o cavalo pra sela
E o burro para cangalha
O escudo para batalha
Deixe o fósforo para vela
Deixe o pirão pra tigela
Deixe a rota pro timão
Cangaço pra Lampião
E música pro realejo
Mas não toque breganejo
Deixe junho pra São João.

(Arievaldo Vianna)

Esse mote criado por Bráulio Tavares foi glosado por vários poetas. Trata de uma questão preocupante, a descaracterização das Festas Juninas do Nordeste, que estão sendo invadidas por uma onda avassaladora de cantores “breganejos” e bandas de “forruim” ou “forró de plástico”.
Na década de 1970, embora eu fosse muito pequeno, acompanhava com vivo interesse as festas juninas, sobretudo na calçada da casa de meu avô, defronte a grande fogueira que era acesa no oitão. Havia ano de se festejar os três santos: Santo Antônio (13 de junho), de quem minha avó era devota fervorosa e celebrava a sua trezena, São João (na noite do dia 23 para o dia 24 de junho) e São Pedro, no dia 29/06.
As rádios tocavam uma programação espetacular, dando prioridade às músicas de Luiz Gonzaga, Marinês, Abdias, Coroné Ludugero, Trio Nordestino, Elino Julião, Jackson do Pandeiro, Messias Holanda, dentre outros. A gente sintonizava a Difusora Cristal de Quixeramobim, Tupinambá de Sobral, Rádio Assunção, Uirapuru ou Dragão do Mar e a pisada era a mesma: forró da melhor qualidade, machinha, baião, arrasta-pé e também aqueles clássicos de Lamartine Babo, Mário Zan e outros artistas do Sudeste do país.
Cada gravadora lançava um suplemento de músicas juninas. A RCA apostava no seu astro maior, Luiz Gonzaga, mas também lançava canções de Severino Januário, João Silva e outros artistas do seu cast. A CBS reinava com a coletânea chamada “Pau de Sebo”, cujo primeiro volume foi lançado em 1967, sob a produção de Abdias dos Oito Baixos e contando com o Trio Nordestino na sua melhor fase.


A PHILLIPS também investia no período junino com a série “O fino da roça”, onde pontificavam Jackson do Pandeiro, Zé Calixto, Messias Holanda, Zé Catraca e Elino Julião. Essas caravanas de artistas percorriam o Brasil de ponta a ponta, sobretudo o Nordeste, inundando os nossos ouvidos e alegrando os nossos corações com música da melhor qualidade. A coletânea "Quebra pote" também fez história, com artistas como Ary Lobo, Antônio Barros, Jacinto Silva e muitos outros forrozeiros de peso.
Logo se vê que o protesto de artistas como Santana, Alcymar Monteiro, Chambinho do Acordeón, Elba Ramalho, Joquinha Gonzaga e outros considerados representantes do forró verdadeiro, herdeiros da velha GENEALOGIA GONZAGUEANA (como diz Alceu Valença) são mais do que justos. São justíssimos! Estão cobertos de razão em protestar e cobrar mais respeito à nossa cultura, nos poucos meios de comunicação que ainda lhes abrem algum espaço: RESPEITEM A NOSSA MÚSICA – DEIXEM JUNHO PRA SÃO JOÃO.
Em tempo! É importante que se diga que os maiores culpados por essa descaracterização das festas juninas são os prefeitos de cidades como Campina Grande, Caruaru e Mossoró e outras cidades que tradicionalmente festejam o São João. Estão desprezando o forró autêntico, avacalhando a nossa festa mais tradicional, e trazendo artistas do sudeste, com um tipo de música que não tem nada a ver com o período nem a com as tradições de nosso povo.

Resolvi, portanto, registrar o meu protesto em prosa e verso:

Deixe o veneno pro rato
Cadeia para o AÉCIO
E para o eleitor NÉSCIO
Deixe tortura e maltrato
Deixe o peixe para o gato
O corisco pro trovão
O defunto pro caixão
Chinelo pro percevejo
Mas não curta o breganejo
Deixe JUNHO pra SÃO JOÃO.

E digo mais!

Um povo que não defende
A sua própria CULTURA
Se dissolve e não depura
Se equivoca e não entende
Rala muito e não aprende
Perde o sabor e o cheiro
É como um cão perdigueiro
Que perdeu o próprio faro
Morde o amigo mais caro
E não defende o terreiro.


(Arievaldo Vianna)


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