quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

BEM PRA LÁ DO FIM DO MUNDO...


A VIDA SÓ COMEÇA DEPOIS DO CARNAVAL

Baby a estrada é a mesma
Aprendi na quaresma
(depois do Carnaval)
Que a carne é algo mortal
Com multa de avançar sinal.

Todo jornal que eu leio
Me diz que a gente já era
Que já não é mais primavera
Oh baby... Oh, baby... 
A gente ainda nem começou!
(Raul Seixas – Cachorro Urubu)

Segundo o Eclesiastes, o livro mais sábio e profundo do Antigo Testamento, há tempo para tudo nessa vida. Eu que o diga... Já trabalhei de caixeiro de bodega, camelô, propagandista, artesão, radialista, redator, produtor de rádio e televisão, chargista, cartunista, ilustrador, diagramador, assessor sindical, folheteiro, editor, xilogravador, poeta e escritor. Já carreguei algumas pedras e já paguei algumas penas. Aliás, é impossível falar de tanta coisa e não lembrar uma estrofe do poeta Oliveira de Panellas, extraída do livro O poeta gozador:

Já fiz muita travessura
Desde os tempos de menino;
Já roubei cuia de cego,
Já cortei corda de sino,
Só nunca fui pederasta
Mas passei tirando um fino.

Vida de operário, de trabalhador é quase impossível conciliar com vida de artista. Mesmo assim eu tenho um pé em casa e outro na estrada. E vou escapando com a graça de Deus. Escapando e criando a filharada. É importante ter o dinheiro da cerveja sem deixar faltar o leite e a rapadura das crianças. Como dizia um velho sertanejo que conheci na infância: " Rapadula pá sobá!"

Há tempo para semear e tempo para se colher. E eu não ambiciono nada além de uma terra que tenha atoleiros de manteiga, barreiras de carne assada, lagoas de vinho do porto e mantas de carne guisada, como dizia o poeta Manoel Camilo dos Santos, autor do folheto Viagem a São Saruê.

É bom experimentar a vida de várias maneiras. Assim como gosto do sossego do meu lar e da minha rede de varandas, dos cafunés da mulher companheira, também gosto da estrada. A vida é assim mesmo. Meu avô Mané Lima já dizia:  Meu filho, quem sabe andar pelo mundo, pisa na folha seca e não chia... Vovó, velha previdente respondia:  Pedra que muito rola não cria lodo. Boa romaria faz quem em sua casa está em paz! E eu escutava os dois e equilibrava tudo na balança do juízo.

Então, hora de descanso é hora de hibernar, de se recolher na toca, de curar as bicheiras e voltar mais forte do que nunca. E quando cessa a tempestade e o sol desponta mais brilhante, é hora de selar o tejo, pisar na folha e ganhar o oco do mundo! Afinal de contas, depois do vendaval vem a bonança. Dizem que a vida no Brasil só começa depois do Carnaval. Mas, este ano, para não fugir da regra, já apareceu um cientista-vidente lá das bandas da Rússia dizendo que terra vai se acabar no próximo dia 16/02, quando um asteroide vagabundo chocar-se com o nosso planeta.

Depois da morte do Ministro Teori eu não estou interessado em nenhuma teoria... Vamos ver o que vai acontecer depois do FIM DO MUNDO. Concluo com o verso atribuído a Zé Limeira, o Poeta do Absurdo e reaproveitado de forma magistral pelo sumido estradeiro Belchior: ANO PASSADO EU MORRI, MAS ESTE ANO EU NÃO MORRO!

Arievaldo Vianna


5 comentários:

  1. Excelente texto. Valeu trabalhador "bombril".

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    1. É isso mesmo, compadre. Já fiz muita coisa nessa vida para sobreviver, sempre procurando meios lícitos e honestos.

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  2. E depois da turma golfar ódio desejando e comemorando a morte duma senhora, temos mais é que hibernar. Excelente!

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    1. Muito lúcido o seu comentário poeta. Esse momento que o país atravessa nos convida a hibernar e esperar por dias melhores.

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