terça-feira, 22 de novembro de 2011

CORDELTECAS

DO JORNAL DA BESTA FUBANA:



Segundo os indicadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1940 as taxas de analfabetismo no Brasil eram alarmantes. Na faixa etária entre 15 e 19 anos, esse índice atingia 54,5%. Nas pessoas com mais de 50 anos, esse índice ultrapassava a barreira dos 60%. A população da região Nordeste do Brasil sempre foi o indicador demográfico mais afetado pelo problema. Aliás, ainda hoje o Nordeste é a região que mais sofre com analfabetismo e ainda tem, segundo dados recentes do IBGE, índices de até 28% em cidades com menos de 50 mil habitantes*.

Tomando por base essa estimativa do IBGE podemos deduzir que na década de 1940 pelo menos 70% da população nordestina com mais de 15 anos era formada por pessoas que jamais freqüentaram escolas. Curiosamente, nesse mesmo período, a Literatura de Cordel atingia o seu apogeu nas mãos do poeta-editor João Martins de Athayde, detentor dos direitos de edição dos maiores clássicos do gênero. Nessa época, uma tiragem de folhetos como “Romance do Pavão Misterioso”, “Chegada de Lampião no Inferno”, “Batalha de Oliveiros com Ferrabrás”, “Juvenal e o dragão” não saia com menos de 50 mil exemplares que esgotavam rapidamente nas feiras do Nordeste.

O jornalista Jackson Pires Barbosa, genro do lendário editor José Bernardo da Silva, de Juazeiro do Norte-CE, disse-me em entrevista concedida em 2000, que em meados da década de 1950 a Tipografia São Francisco, editora de José Bernardo, costumava enviar regularmente um caminhão carregado de folhetos para abastecer os agentes distribuidores de Recife-PE e outras capitais nordestinas. E nessas levas os clássicos do gênero sempre tinham pedidos entre cinco e dez milheiros cada título. Como explicar então esse fenômeno? Como uma população pobre, esquecida pelo poder público, sem acesso a Educação, consumia um tipo de literatura com tanta avidez?

Em primeiro lugar é preciso informar que o livreto de cordel já foi chamado oportunamente de “professor folheto”, por ser responsável pela alfabetização (informal) de milhares de nordestinos. Numa época em que as famílias eram bem numerosas, sempre havia algum membro que freqüentava a escola e fazia a leitura em voz alta para os demais. Os que não podiam freqüentar a sala de aula acabavam aprendendo alguma coisa nesses folhetos, com ou sem a ajuda de instrutor, movidos unicamente pelo desejo de decifrar os versos contidos nessas publicações de aparência tão singela.

VER ARTIGO COMPLETO NO JORNAL DA BESTA FUBANA (Coluna Mala da Cobra)


VER ESTATÍTICAS DO IBGE SOBRE ANALFABETISMO

4 comentários:

  1. Eu tenho um desse!! Ganhei da minha noiva quando esteve por aí! Muito legal!

    []s

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  2. INTERESSADOS e montar uma CORDELTECA com mais de 100 títulos e cerca de 40 autores contemporâneos e do passado devem entrar em contato conosco através do e-mail: acordacordel@ig.com.br

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  3. Sou testemunha óculo-auricular dessa história, ou melhor, História com H maiúsculo. Sim, uma peleja entre as cada vez mais vorazes editoras "americanhalhadas" e as acanhadas, mas não menos briosas, editoras de cordéis. Minha já falecida sogra, guerreira incansável, herdou de seu pai - José Bernardo da Silva- a Tiografia São Fransisco, e ali e por ali, criou seus nove filhos. Destemidamente a saga do cordel continua. Porém, agora em mãos não acostumadas à arte e sim ao capital. Menos mal. Ainda há quem lembre, quem curta e quem divulgue. Que bom assim é.

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  4. Caro PROFI, obrigado pelo seu testemunho. Fui amigo de Jackson Pires Barbosa e tenho aproximação com Bernardo Neto e Stênio Dinis, seus parentes afins. Realmente as editoras do Sudeste começaram a se interessar cada vez mais pelo cordel e os livros já começaram a ser incluídos em compras governamentais do PNBE (Programa Nacional da Biblioteca Escolar). Quanto às "mãos não acostumadas à arte e sim ao capital" gostaria de lhe dizer que há muitas e boas excessões. Para você ter uma idéia, tenho mais de 100 folhetos publicados, muitos dos quais à própria custa e o retorno é sempre lento e incipiente. O grande barato é o prazer que isso me dá, pois estou lidando com algo que faz parte da minha vida desde a infância. Obrigado pelo comentário e continue visitando o nosso blog.

    ARIEVALDO VIANA

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