segunda-feira, 23 de maio de 2011

MESTRES DO CORDEL IV

LUCAS EVANGELISTA

Lucas, numa mistura perfeita de Bob Dylan e Cego Aderaldo, sem
perder a seu lado cigano.

Desde a infância que acompanho com interesse o trabalho do poeta Lucas Evangelista, personagem que conheci nos festejos religiosos da cidade de Canindé-CE vendendo folhetos, discos e fitas K7 contendo a sua inspirada produção poética. As canções "Filho de cigano" e "Veniz, o cão de guarda" são as minhas preferidas, embora seu maior êxito nessa seara ainda seja "Carta de um marginal". Dos romances publicados em folheto gosto de "As aventuras de João Desmantelado", publicado pela Editora Luzeiro e "Lucilane, o vaqueiro valente nas vaquejadas do céu", este último um clássico do gênero. Foi Lucas que, de certa forma, me estimulou a publicar meus primeiros folhetos. Na Festa de São Francisco de Canindé, em 1997, encontrei com ele bastante desanimado em relação ao futuro da Literatura de Cordel. Disse-me que as principais editoras estavam fechando e que não havia uma nova geração para dar continuidade à tradição. Isso serviu-me de alerta para iniciar uma "campanha" em prol da revitalização do cordel. No texto abaixo, um artigo do professor Gilmar de Carvalho publicado no Diário do Nordeste em 2003:

TRADIÇÃO

O cordel multimídia de Lucas Evangelista
Por: GILMAR DE CARVALHO


Dizer que a trajetória de Lucas Evangelista daria um cordel é pouco (e óbvio). Sua vida tem muito de estratégia de sobrevivência para sair da enxada e fazer o show das praças, como um jogral contemporâneo. Curioso que ele venha de Crateús e não de Juazeiro do Norte, principal pólo desta manifestação em sua versão impressa. Interessante como ele consegue trabalhar a tradição, se apropria das tecnologias, dos formatos do “show-bizz” e mescla o popular com o massivo.
Com o folheto, fita cassete, “cd”, viajando sertão afora, empunhando uma viola, ao microfone das rádios, fazendo dupla com Luzia Dias e compondo canções com as quais seu público se identifica, Lucas Evangelista é um nome respeitado no campo da oralidade, pelo talento, persistência e sagacidade para acompanhar a dinâmica da cultura. Lucas Evangelista nasceu na localidade de Lameirão, “pertencente a Ingá, que antigamente era Piauí”, município de Crateús, dia 6 de maio de 1937.
O pai, Josias Miranda, morreu quando ele tinha cinco anos; a mãe Maria Lucas Evangelista, se foi há uns quatro anos. O casal teve outro filho, Pedro Evangelista, nascido em 1939).
A família gostava muito de poesia, dos folhetos de cordel. “Era só o que eu ouvia, minha mãe cantando a história do Pavão (Misterioso) e meu pai recitando Juvenal e o dragão”. Ele foi aprendendo aquelas histórias todas: “aquilo ficou bonito na minha cabeça”.

O pai, pequeno proprietário de terras (“eram muito poucas”), que ele mesmo cultivava, morreu de sezão. Venderam o que ele tinha e foram para Independência, a terra da mãe, “do povo dela” e de lá seguiram para Pedra Branca: “ficamos naquela vida de agricultor do sertão”.
A mãe tinha que se sujeitar “a raspar mandioca, fazer farinha e apanhar feijão, no tempo do inverno”. Lucas estudou pouco e confessa que foi sempre “muito relaxado”. Devido às dificuldades financeiras da mãe, “freqüentei um pedaço aqui, um pedaço acolá, tudo pela metade, porque naquele tempo ninguém tinha essas facilidades que se tem hoje em dia”.

As primeiras lembranças são do tempo em que ia espantar passarinhos e cantar versos para os meninos da fazenda, às vezes aboiando. “Pensavam que eu tava cantando porque tinha decorado, mas eu tava era inventando as histórias...”.
Profissão


O que era feito como brincadeira tornou-se meio de vida. Lucas não tinha mesmo vocação para a agricultura, seu espírito era livre, nômade, como os trovadores de feira.
Quando tinha por volta de quatorze anos a mãe se mudou para Fortaleza, “depois de ter descido esse sertão todinho”. Lucas passou a trabalhar na fábrica de tecidos São José e comprou o primeiro violão de um evangélico, que lhe ensinou “umas posiçõesinhas, a acompanhar para o meu gasto”.
Adquiriram uma casinha na beira da praia, no Pirambu. Mas não dava para viver de poesia e Lucas, ajudante, depois fiandeiro, ficava aturdido com “aquele zum-zum da fábrica” e quando trabalhava à noite, para fazer um extra, contrariando a lei que protegia os menores, sonolento, “sentia a poesia em ebulição e começava a fazer versos, tudo que vinha na minha cabeça eu cantava e depois passava para o papel”.
Os primeiros versos foram a partir dos contos de fadas. Mas “eu era invocado mesmo com histórias de aventuras, negócio de brabeza desses cabras bons do sertão, história de moça bonita casando com cabra valente”.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste - Caderno 3 - 01/Set/2003

Arievaldo Viana, Lucas Evangelista e Rouxinol do Rinaré
(Bienal do Livro de Fortaleza-CE)


VEJA TAMBÉM, NA SÉRIE "MESTRES DO CORDEL":

I - MESTRE AZULÃO

II - SEVERINO MILANÊS DA SILVA

III - JOAQUIM BATISTA DE SENA


6 comentários:

  1. E aquele bisbilhoteiro ao fundo, entre Lucas e Rouxinol?

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  2. Tem dois bisbilhoteiros... O escritor Aderaldo Luciano e o poeta Francisco Melchíades, de "papagaio de pirata", logo atrás do Rouxinol. kkkk

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  3. onde encontro o disco do Lucas para baixar?

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  4. gostaria de ver tambem francisco evangelista sobrinho de lucas filho de pedro

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  5. esses cordéis são muito interessante

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  6. A canção Filho de Cigano é a obra mais interessante do Lucas.

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