quinta-feira, 14 de abril de 2011

"ESTALTA DISMANTELADA"

ESTÁTUA DE PATATIVA É QUEBRADA EM TRES PEDAÇOS

Neta de Patativa, Fátima Gonçalves, ao lado da estátua quebrada em três partes: pernas, tronco e pescoço. A cabeça ficou totalmente destruída 

FOTO: ANTÔNIO VICELMO


O monumento, em tamanho natural, com 1,60m, estava ao lado da Igreja Matriz de N. Sra. das Dores - FOTO: THIAGO GASPAR


ASSARÉ -  A estátua do poeta Patativa do Assaré, localizado ao lado da Igreja Matriz, em frente ao Memorial, foi quebrada em três pedaços. O acidente ocorreu no dia 10 de fevereiro, quando o cabeleireiro paulista Claudeilton Soares Alves subiu no pedestal da estátua para fazer uma foto ao lado do seu ídolo, a fim de levar como lembrança para São Paulo. Quando se posicionou para fazer a foto, escorregou, tentou se amparar na estátua, e ele caiu abraçado com o monumento.
O cabeleireiro fraturou a clavícula, deslocou o braço e lesionou um joelho, enquanto a estátua partiu-se nas pernas, no tronco e no pescoço. A cabeça foi totalmente destruída. No hospital, onde ficou internado, Claudeilton lamentou o acidente e prometeu pagar os prejuízos. Se for o caso, mandar fazer outra estátua. Os pedaços da estrutura de resina foram levados para o 3º andar do Memorial Patativa do Assaré.
A presidente da Fundação Memorial Patativa do Assaré, Isabel Cristina, que é neta de Patativa, explicou que, a princípio, a família ficou revoltada. A primeira providência foi registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia da Polícia para a tomada de providências. "A revolta só acabou quando a gente soube que se tratava de um grande fã que, na ânsia de levar uma lembrança do meu avô, terminou sofrendo um acidente".
O filho mais novo do poeta, João Batista, que mora em São Paulo e estava de férias em Assaré, lamentou o acidente. No entanto, ao saber que não se tratava de vandalismo, foi solidário com o cabeleireiro que ainda hoje está sem trabalhar por conta da situação. A neta de Patativa, Isabel Cristina, entrou em contato com o escultor Murilo de Sá Toledo, que construiu a estátua em homenagem ao avô.
Ela foi informada de que a restauração do monumento, feito em resina, custa R$ 30.000,00. Em bronze, o preço sobe para R$ 60.000,00. Isabel pondera que talvez o cabeleireiro não tenha condições de custear as despesas, mesmo porque ele ainda está convalescendo da fratura que sofreu em consequência da queda. Talvez seja preciso fazer outra cirurgia.
Apoio político
O secretário de Cultura de Assaré, Marcos Salmo, garante que a cidade não vai ficar sem o seu maior símbolo. A estátua será restaurada. Para isso, estão sendo mantidos contatos com representantes políticos do Município na Câmara Federal, entre os quais o deputado Chico Lopes, que, segundo Salmo, prometeu uma ajuda financeira.
Na próxima semana, o secretário viaja a Brasília, levando um projeto com o orçamento, buscando a liberação de recursos para restauração ou construção de um novo monumento. O fotógrafo Wilson Bernardo, que foi professor em Assaré, disse que, sem a estátua, a cidade perde o seu maior referencial. Patativa foi e continua sendo o maior administrador da cidade. Os empreendimentos que estão sendo instalados no Município são arrastados pelo prestígio do poeta que, mesmo morto, continua divulgando o nome de sua terra natal.
A estátua, em tamanho natural, medindo 1,60m, está localizada em frente ao Memorial Patativa do Assaré, na Rua Coronel Francisco Gomes, ao lado da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, em Assaré. Foi inaugurada pelo então governador
Lúcio Alcântara, em 2004, com show reunindo artistas da terra, apresentações de repentistas, violeiros, grupos de penitentes e sanfoneiros.
Além da estátua, o governador inaugurou também uma ilha digital. A homenagem a Patativa é uma extensão do Memorial, onde está arquivado o acervo cultural do maior poeta popular do Brasil, que morreu no dia 8 de julho de 2002, com 93 anos, deixando cerca de dez livros publicados com mais de mil poemas, a maioria denunciando injustiças contra o Nordeste. O mais famoso deles é "A Triste Partida", musicado por
Luiz Gonzaga.

MAIS INFORMAÇÕES
Fundação Memorial Patativa do Assaré, Rua Francisco Gomes, 82 - Centro, Município de Assaré, Cariri
Telefone: (88) 3535.1742.

ANTÔNIO VICELMO - REPÓRTER
Fonte:
Diário do Nordeste - 25/3/2011

ESTALTA DISMANTELADA
Patativa psicografado por
Arievaldo Viana e Pedro Paulo Paulino





Ô mamãe você num sabe
O qui foi qui aconteceu
Cum a minha bela estalta
Qui o dotô Luço mi deu...
Apregaram lá na praça
Feliz e achando graça
Mas veja só o caé...
Um sujeito ruim da vista
Cabilerêro, paulista,
Veio batê no Assaré.

O moço era atuleimado
E se dizia meu fã
Chegô na praça cedinho
Oito horas da menhã
Querendo tirá retrato
Fez um grande ispaiafato
Se atrepô no pedestá
Da estalta e desabô
Na queda ele me puxou
Cousa munto naturá.

Os meninos lá de casa
Pensando sê vandalismo
Trataro de discubrí
Quem me jogô no abismo...
Quebrei as perna, a cabeça,
Por incríve que pareça
Quebrei tombém as custela
Fiquei todo fachiado
Lá no chão, desmantelado
Cum tão medonha sequela.

Inda bem que esse moço
Não andou lá no Dragão
Imbora que ele dichesse
Qui tinha boa intenção
Se a ôtra estalta ele visse
Fazia a merma tolice
E num me deixava bem
Mamãe, eu tenho certeza
Se ele fosse a Fortaleza
Quebrava a ôtra tombém.


Eu já li foi no jorná
Escuitei em alta voz
Já quebram inté a estalta
Da Raquezim de Queiroz
Ô mundo dismantelado
Eu já não sei de que lado
Eu posso ficar em pé
Pois vivo nessa incerteza
Se fico na Fortaleza
Ou mermo no Assaré!

Nem estalta neste mundo
Tem um momento de calma
Na terra, eu sou uma estalta
E aqui tou como alma
Vagando na eternidade
Mas sinto munta é sodade
Da terrena vida minha
Fazendo verso e fumando
E de noite chamegando
Com minha insposa Belinha.

Aqui em riba, no céu
Eu num corto mais cabelo
Num vou a cabilerêro
Só pra num ver dismantelo
Aqui fiquei bom da vista
Cabilerêro paulista
Aqui num tira partido
E si vier me quebrá
É arriscado levá
Mãozada no pé-do-uvido.

* * *




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