sexta-feira, 8 de junho de 2012

LANÇAMENTO

GAIATICE CEARENSE REEDITADA

Inventário do humor cearense, "Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana, ganha nova edição
Quem já riu com as histórias de Seu Lunga, as aventuras do Bode Ioiô, de João Grilo e até mesmo os incontáveis personagens do mestre Chico Anysio, não tenha dúvida: só uma parte é mentira. Prova disso está no livro "Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana, que faz um mergulho no sertão cearense e resgata causos e narrativas em cordel de figuras ímpares quando o assunto é gozação. Traço recorrente do que seria a identidade do cearense, o humor gaiato age com toda sua sagacidade nas histórias contadas pelo autor.

O livro, lançado originalmente em 1999, ganha agora sua terceira edição, pela Editora Assaré, com uma versão corrigida e ampliada. O lançamento será neste sábado, dia 9, às 19h30, no Teatro Chico Anysio (Benfica) e conta com cerimonial do humorista Zebrinha.

"Tem causos, tem versos, crônicas. Material, por exemplo, que escrevi para a revista Varal, em parceria com o jornalista Tarcísio Matos. Eu sou uma espécie de organizador. Me encarreguei de tecer as tramas e ambientar os personagens", detalha Arievaldo Viana, que, em suas andanças pelo sertão, se encarregou de reunir e registrar causos engraçados e personagens dessa cultura da "fuleragem", explica.

Madalena, Itatira e especialmente Canindé, terra natal do autor, são exemplos das cidades onde destilam irreverência personagens como Broca da Silveira, Zuca Idelfonso, o profeta Zé Freire, o boiadeiro Zé Adauto Bernardino, que permaneciam no anonimato, e mesmo o canindeense Miguel Carpina - já imortalizado na obra "Sertão Alegre", de Leonardo Mota.

"A maioria desses matutos retratados já é falecida. São de uma época em que sertão tinha cantadores, chapéu de couro. Hoje qualquer lugar tem parabólica, garotos usam piercing. Esse que eu relato é o sertãozinho de antigamente", conta o autor. Ele lembra que muitos dos causos foram registrados durante uma temporada em Canindé, quando, acompanhado do poeta Pedro Paulo Paulino, costumavam frequentar os bares e anotar histórias que consideravam interessantes.

Tarcísio Matos, um dos parceiros de Ari no livro, considera a obra a própria personificação do autor. "O Ari tem de memória causos os mais engraçados, inteligentes, granjeados da oralidade, do repórter que bem o é. Claro que com o toque especial de quem sabe o Ceará moleque como poucos", destaca. Os personagens "carpinianos", acrescenta o humorista - em alusão às tiradas de Miguel Carpina - guardam o "jeitão próprio do fazer e do dizer da ´fulerage´ cabeça-chata".

Reedição

Estreia de Ari como escritor, com tiragem inicial de dois mil exemplares, "Baú da gaiatice" teve segunda edição lançada em 2002. "Ele esgotou no mesmo ano que foi lançado. Foi bem acolhido também pela crítica. Para ter uma ideia, eu não tinha sequer um exemplar. Tive que recorrer a um amigo para me emprestar para essa segunda edição. Em 2002 saiu a segunda tiragem, 2 mil exemplares, que rapidamente se esgotaram", recorda.

A nova versão do livro foi ampliada de 132 para 240 páginas, com novas histórias e cordéis, tendo ainda o texto revisado e ganhando ilustrações. "Essa terceira edição tem texto em parceria com meu irmão Klevisson Viana, com o Pedro Paulo Paulino e até um texto que fiz na década de 1980, com o Sílvio Roberto Santos. Tem ainda muitos desenhos meus, do Klévisson e xilogravuras populares", pontua o autor.

"Dei mais ênfase à poesias de minha autoria ou em parceria com outros poetas, como o Pedro Paulo Paulino. É um livro muito voltado para o público do Estado. Pode ser entendido em qualquer lugar do Brasil, mas é mais focado nessa coisa do matuto cearense", destaca Ari.

Entre os causos narrados no livro, Arievaldo resgata cenas como quando um enxame de formiga tomou a plantação de Zé Adauto Bernardino.

"Ele narrava a história de uma forma hilária. Que um dia tinha pego seu velho fusca para ver de onde vinha tanta formiga. Após um bom tempo na estrada seguindo o rastro, viu uma formiga com uma bandeirinha do Movimento dos Sem Terra. Perguntou: ´pra onde vocês vão, minha bixinha?´. ´Para fazenda do seu Zé Adauto´", narra Ari, entre risadas.

Outras que têm um fundo de verdade, conta, são as histórias de Zé Freire, matuto que teria casado 33 vezes. "Ele disse que agora casou com uma mulher bem levinha, que forra todo dia a cama dela com bolacha ´Cream Cracker´ e, no outro dia, não tem nenhuma quebrada. E ele vive fazendo brincadeiras com essas coisas de casamento", conta. Uma das histórias de Zé Freire está no cordel "O Homem que Casou com a Serpente", que faz parte do livro.
Mais informações:
Lançamento da 3ª edição do livro "Baú da Gaiatice", de Arievaldo Viana. Sábado, dia 9, às 19h30, no Teatro Chico Anysio (Av. da Universidade, 2175 - Benfica) Contato: (85) 3252.3741
LIVRO
Baú da Gaiatice
Arievaldo Viana
Editora Assaré
2012, 240 páginas
R$ 25

FÁBIO MARQUESREPÓRTER


11 comentários:

  1. Rapaz, que blz. Há uma crônica antológica, preservada na edição atual do Baú (pag.34) Menino, carne de pinto. Pois, o paralelo entre os meninos antigos, do ki-suco e outras coisas de chupar, diz lá, é uma seção de nostalgia da infância de nossa geração. Que bom que a coisa mudou para bem melhor, já pensou, menino quer lá mais ki-suco com pão? além de todas as advertências sobre corantes artificiais, que as mães atuais, informadas e com mais recursos, jamais deixariam seu pimpolho chegar à boca.

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  2. Poeta, saudosista como sempre fui, sei que o tal do ki-suco com pão não é uma alimentação muito saudável mas tenho saudade de muita coisa daqueles (bons) tempos. A mais importante de todas é a música que ouviamos nos anos 70/80... Tanta coisa boa que foi varrida pelo lixo do funk e das bandas de forruim. Tinha coisa melhor do que tomar um copo de ki-suco com maria maluca nas barracas do Rio Canindé, ouvindo Bartô Galeno, Elino Julião ou Raimundo Soldado?

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  3. Sem esquecer dos dois GENIVAL: Lacerda e Santos, Pinduca, Cachimbinho e Geraldo Mouzinho, Caju e Castanha etc etc etc... Nós somos do outro lado rio, poeta: naquele tempo não tinha espaço para Chico Buarque e Caetano Veloso em nosso repertório. kkkkkkkk

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  4. O velho som acústico do maestro pachequinho...rrsss Rapaz, falar em refresco, contam que seu Ad., pai de um ex-colega nosso da rádio San Francisco (quando a emissora não era dedicada só a programas religiosos) certa feita fez uma aposta em torno de um litro de refresco de maracujá. Começou ele sendo incitado por elogios tipo: Mas o seu Ad. bebe refresco demais... "Ponha mais um copo", num tô dizendo que ele bebe muito... "Outro copo!"... aposto que eu seu A. não bebe um litro... "bote um litro!"... eu sabia.. "Bote outro litro!"... acabou botando tudo pra fora...

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  5. Camarada, me considero um traumatizado musical dos tempos atuais. Vc sabe que tive grande envolvimento com a música,inclusive profissional. Mas a insistência, promovida pelo jabaculê em torno, principalmente do breganejo, que somos obrigados a ouvir em toda extensão do dial, me fez desanimar muito dessa arte. Nem aparelho de som eu tenho..kkkkkk Temos que recorrer às músicas de um certo passado que o milagre da Web nos permite ouvir a qualquer momento. Você precisa escrever alguma obra em torno da música, tem bagagem mais do suficiente para tal.

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  6. Você deve lembrar que eu participei de um festival de calouros no Colégio Frei Policarpo interpretando "A briga em São José dos Cacetes". Na época eu tinha uns doze anos de idade. Quem me acompanhou, ao violão, foi o saudoso CHICO DENTÃO e no corpo de jurados estava a maravilhosa figura do ex-prefeito Antônio Monteiro que me agraciou com a nota máxima e um pacote do macarrão VENEZA. (Era esse mesmo, o nome do macarrão?) Quem ganhou foi o Marcelo, da rua Aristides Rabelo, cantando Mon amor, meu bem, ma famme. kkkkkkk

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  7. Essa da aposta dos refrescos é boa demais. kkkkk Eu participei de uma aposta dessas quando era menino, com o 'Doutor', aquele aleijadinho que ficava na calçada da bodega do 'seu' Rômulo... Era refresco com bolo, uns bolinhos pequenos, que vendiam de dúzia, num pacote. O 'Doutor' abriu na metade do estoque. kkkkkkk

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  8. Numa das versões do desenho animado O REI LEÃO, o TIMÃO e o SIMBA fazem uma aposta dessas, para ver quem come mais escargot (é lesma, mesmo). Timão perde. kkkkk

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  9. "Seu" Antonio Monteiro, lembro demais. Certa feita fui tocar no aniversário dele. Chegamos em sua casa de madrugada... Pois bem, levou-nos à sua cozinha, e ele mesmo, foi pegando um bocado de tira de sardinhas que havia lá penduradas, e sem lavar nem nada, com todo sal, foi pondo numa frigideira para assar, como tira-gosto. Coca-cola 4 da manhã, pense num bicho esquisito. Lembro bem que ele falou, pode entrar aí com as trombonetas, pessoal. Essa macarrão acho que era fabricado pela padaria dele, não? Parece que naquela noite você demonstrou que tinha futuro em lidar com o público, não lembro de ninguém mais em nossa classe com essa coragem..kkkkk
    srs

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  10. 'Seu' Antonio Monteiro era um grande empreendedor. Foi o primeiro (e único) a fabricar macarrão em Canindé. Homem inteligente, apesar de ser desajeitado com o vernáculo. Essa das "trombonetas" é ótima, mistura de trombone com clarineta. kkkkkk

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