quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Obra-prima de Geraldo Amancio


A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO


No dia em que estive na TV Diário, gravando minha participação  no programa "Ao Som da Viola", de Geraldo Amancio, não imaginei que ganharia presente tão valioso como o livro "A História de Antonio Conselheiro", de autoria do próprio Geraldo.


São 128 páginas nas quais se distribuem dezenas de estrofes em setilhas, formadas de versos ricos em rimas e perfeitos em métrica. O conteúdo, então, é um verdadeiro monumento, contando detalhadamente a história desse herói do sertão nordestino, tal pouco conhecido de todos nós.


A obra de Geraldo Amancio é realmente m show de métrica, rima e oração. Pra completar, juntam-se aos versos as ilustrações do Kazane (todas coloridas) e o belo trabalho gráfico feito pelo pessoal da editora IMEPH.


Antes de apresentar algumas estrofes do cordel - que é realmente um livro - transcrevo palavras do Professor Batista de Lima sore a obra:


Muito já se escreveu sobre Canudos. Afinal, ali se concretizou a maior tragédia brasileira. Calcula-se que em torno de 25 mil pessoas tiveram suas vidas ceifadas naqueles sertões da Bahia. O arraial destruído chegou a ter uma população de 30 mil pessoas o que o levou ao patamar de segundo maior aglomerado humano do estado, perdendo apenas para a capital, Salvador. Pois a destruição foi total, além da morte de 20 mil sertanejos e 5 mil soldados.


O mais famoso relato sobre o episódio é creditado ao livro "Os Sertões", de Euclides da Cunha, mesmo sabendo-se que sua visão dessa saga é de fora para dentro, já que o mesmo era repórter de "O Estado de São Paulo" e fez a cobertura da guerra do lado militar. Falta, no entanto, uma obra que conte a história vista do lado dos sertanejos, de dentro para fora. Mesmo não havendo algo desse nível, há relatos dos acontecimentos que são acreditados pelos leitores. É o caso, por exemplo, do cordel "A história de Antônio Conselheiro", de Geraldo Amâncio.


Geraldo Amâncio Pereira nasceu no sítio Malhada de Areia, no município de Cedro-Ceará, em abril de 1946. Há 47 anos canta ao som da viola. Já gravou 15 CD´s e há 17 anos apresenta um programa de cantoria, na televisão. Também pesquisa sobre cantoria, já tendo publicado duas antologias em parceria com o poeta e jornalista Wanderlei Pereira. Para transformar esse seu novo cordel em um produto de boa aceitação, ele publicou em livro de bela feitura, ilustrado pelo artista plástico Kazane. Assim é que se tem uma obra de arte sobre o sangrento episódio.


A sua pesquisa sobre a saga de Canudos vem apresentada em 283 septilhas, todas em redondilha maior, com rimas nos versos 2, 4 e 7 além de também rimarem o 5 e o 6. Ao todo são 1981 versos metrificados o que perfaz um contingente de 13.867 sílabas poéticas. Isso leva à conclusão de que foi um trabalho de fôlego, tanto na sua elaboração poética como na pesquisa que foi encetada, tendo em vista que os fatos apresentados, bem como o elenco de personagens são absolutamente fidedignos.


A Editora Imeph produziu esse material em 128 páginas, em 2010, trazendo como prefaciador o médico e poeta Luiz Dutra. Os comentários auriculares são do escritor Oswald Barroso. Enquanto Luiz Dutra se ocupa da apologia ao Conselheiro, Oswald faz a ponte entre o messias de canudos e o Geraldo romeiro do Padre Cícero Amâncio. São dois textos à altura da elaboração poética que analisam. É tanto que a certa altura do Prefácio o leitor é alertado para o fato de que o Presidente da República que era Prudente de Morais, nada tinha de prudente. Prova disso é que a destruição de Canudos foi um erro pelo qual ainda pagamos. (O restante do artigo de Batista de Lima pode ser visto em  http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1006238).



Seguem trechos de 


A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO
(Geraldo Amancio)


Conselheiro foi um homem
De espírito combativo.
Obstinado e valente,
Decidido e combativo.
Com tanta sabedoria
Conselheiro merecia
Por mil anos ficar vivo.


Do homem cresce o valor
Quando a história compara.
O Brasil tem a mania
De enaltecer Che Guevara
Talvez por ser estrangeiro.
Nosso Antonio Conselheiro
Foi uma jóia mais rara.


(...)


Montou primeiro um comércio
Para comprar e vender.
No magistério ensinava
Ler, contar e escrever.
E no foro trabalhava,
De toda forma buscava
Meios pra sobreviver.


Em qualquer trabalho tinha
Bravura e muita coragem.
Porém, Euclides da Cunha
Denegrindo a sua imagem
De uma maneira mesquinha
Diz n’Os Sertões que ele tinha
Tendência pra vadiagem.


(...)


Com o padre Ibiapina
Muitas lições aprendeu.
Esse sim, amou os pobres,
Do que tinha ofereceu.
Angariou donativos...
“É melhor dar pão aos vivos
Do que chorar quem morreu”.


Antonio tornou-se arauto
Dos sem pátria, dos sem nome.
Sabia ouvir o sussurro
Da multidão que não come.
Uniu sua mágoa a eles,
Porque também era um deles
Conhecia a dor da fome.


(...)


Conselheiro interpretava
A Bíblia à sua maneira.
Não obedecia a bispo,
Nem a padre, nem à freira.
Se ainda existisse a mão
Da tal Santa Inquisição
Seu destino era a fogueira.


Com isso, logo alguns padres
Mostraram-se intolerantes
Dizendo que as leis da Terra
Tinham de ser como antes:
Que o cobre se desse ao nobre,
Tinha que haver rico e pobre,
Os mandados e os mandantes.


(...)


Naqueles sertões desertos,
De esquisitos carrascais,
Multidões embevecidas
Ouviram sermões de paz
Do maior dos conselheiros.
Isso para os fazendeiros
Era incômodo demais.


(...)


Dizem que de Thomas Morus,
Ele leu a “Utopia”.
Uma classe igualitária,
Era o que ele queria.
Sem ambição, sem engodos,
Sendo tudo para todos,
Vivendo em santa harmonia.


Aí rumou para o Norte,
Em penosa caminhada.
Chegando assim em Canudos,
Uma terra abandonada,
Buscou água, encontrou fonte,
E a cidade Belo Monte
Ali seria fundada.


Nesse chão morou um povo
De estranha obsessão.
Fumava cachimbos longos
Quase um metro de extensão.
Eram canudos de pito,
Do nome meio esquisito
Batizaram a região.


(...)


Todos que eram errantes,
Perseguidos, humilhados, 
Foragidos da justiça,
Eternos injustiçados,
Teriam sim, acolhida
Nessa terra prometida,
O céu dos desamparados.

Extraído do blog MUNDO CORDEL, do poeta MARCOS MAIRTON

3 comentários:

  1. Poeta Arievaldo, beleza de "sítio" esse blog.
    Só uma observação; na primeira estrofe há uma repetição de rimas, com certeza, um erro na digitação, pura e simplesmente.
    Um grande abraço e até a Bienal de PE.

    ResponderExcluir
  2. Poeta Jorge Filó, obrigado pela visita.
    Realmente há um erro de digitação na primeira estrofe. Vou tentar localizar o livro de GERALDO para fazer a correção da mesma.

    ARIEVALDO VIANA

    ResponderExcluir
  3. A primeira estrofe é assim:

    “Conselheiro foi um homem
    De espírito intuitivo,
    Obstinado e valente,
    Decidido e combativo
    Com tanta sabedoria
    Conselheiro merecia
    Por mil anos ficar vivo.

    ResponderExcluir