sábado, 24 de novembro de 2012

TALENTO SERTANEJO

Pintor canindeense retrata a saga do vaqueiro em exposição

 O vaqueiro João Cândido (Fabiano Chaves)

O pintor cearense Raimundo Cela (Sobral CE 1890 - Niterói RJ 1954), também gravador e professor da Escola de Belas Artes, notabilizou-se por pintar os jangadeiros das praias de Camocim, transpondo para suas telas toda a beleza, cor e movimento desses heróis anônimos na sua faina diária. Seguindo as pegadas de Raimundo Cela, o jovem canindeense Fabiano Chaves, um talento nato desde a meninice, vem pintando tipos populares dos Sertões de Canindé, com destaque para a figura do vaqueiro, com toda a sua rica indumentária, suas expressões marcantes, tendo ao fundo a caatinga do Semi-árido, com o seu céu azulado contrastando com a garrancheira de árvores ressequidas.  No seu processo criativo, Fabino baseia-se, principalmente, em fotografias que ele próprio realiza no dia-a-dia. Caso desta imagem do vaqueiro João Cândido, flagrado durante a tradicional "Missa dos Vaqueiros". 

No meu livro “Mala da Cobra – Almanaque Matuto”, ainda inédito, apresento o João Cândido, o singular personagem retratado por Fabiano Chaves nesse quadro. João é Viana, filho da tia Mariquinha, irmã de minha avó materna Áurea Viana. Vamos ao ‘causo’, aqui intitulado de:

O CALEB VELHO

O João Cândido era um sujeito muito desleixado com o visual. Não era, propriamente, um embrulho de velocípede, mas parecia com um saco de cruzes. Cabelos em desalinho caindo pelos ombros, barba por fazer e roupas amarrotadas. Gostava de exercer a profissão de vaqueiro, mas a sua vestimenta de couro em nada melhorava a sua aparência. Deveria ser herança de seu bisavô, dado o estado em que se encontrava. Dizem que os bolsos do velho gibão eram a morada predileta de lacraus, grilos e baratas. Certa feita, perseguindo um novilhote,  conseguiu acuar essa rês no quintal de uma casa, provocando grande alarido com seus aboios. A dona da casa, um pouco assustada, mandou uma filha pequena saber do que se tratava. A menina voltou  apavorada, sem um pingo de sangue no rosto e relatou assombrada:

- Mamãe é um bicho véi tão feio, fedendo a macaco esfaqueado, montado num cavalo preto, com os cabelos pelos ombros, uma barba que parece o Pai-Luís e o gibão véi todo rasgado...

Antes que a menina terminasse o seu relato, João Cândido que ouvia toda a descrição depreciativa feita pela pequena, apareceu na janela e fez as devidas apresentações:

- ... É o cão, é o diabo, é o satanás, é o bilifute, é o Caleb Véi...  Já ouviram falar dele? Pois olhem ele aqui, em carne e osso!
Nem precisa dizer, que mãe e filha assombradas com aquela aparição, trataram de fechar portas e janelas e rezar o Creio-em-Deus-Padre.
Como não há mal que não traga um bem, a partir desse dia, o vaqueiro João Cândido tornou-se mais zeloso com a sua aparência.

 
Figura 1 – Vaqueiro, de Fabiano Chaves
Figura 2 – Jangadeiros, de Raimundo Cela
Figura 3 - Pescador - Raimundo Cela

6 comentários:

  1. Caro amigo, é "Missa do Vaqueiro". Caso se refira a missa no Sertao pernambucano,Serrita. Homenagem ao vaqueiro morto durante o dever de oficio. Vaqueiro Raimundo Jacó!

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  2. Caro Negrito, como Gonzagueano acho muito bom a pessoa chegar e colocar os pingos nos "is'. REALMENTE o evento criado por Gonzagão em Serrita é A MISSA DO VAQUEIRO. Em Canindé-CE, desde 1971 (salvo engano), há a MISSA DOS VAQUEIROS, criada por Frei Lucas Dolle, pelo folclorista Raimundo Marreiro e outros cidadãos daquela cidade. A foto em questão, que resultou nessa obra de arte, foi tirada em Canindé, na Missa dos Vaqueiros. Grande abraço, continue visitando e comentando nosso blog.

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  3. Em tempo: LUIZ GONZAGA abrlhantou algumas edições desta missa em Canindé, fazendo dueto com nossa vaqueira DINA, Mestra da Cultura no Ceará.

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  4. Prezado, vi a pintura do Fabiano Chaves e não pude deixar de comentar. Fantástica! Traços e expressões impecáveis e luminosidade fidedigna à dos nossos dias ensolarados.

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