terça-feira, 25 de julho de 2017

TOLERÂNCIA MIL



Com a aproximação do meu cinquentenário de nascimento e 35 anos de carreira como poeta cordelista e ilustrador, resolvi retirar da gaveta alguns folhetos inéditos, dentre os quais "O sonho de Carlos Magno (32 páginas), "A Sina do Enforcado" (32 páginas) e "Kalunga, O homem mais tolerante do mundo", folheto de apenas 08 páginas, que sairão em breve pela Editora Queima-Bucha, de Mossoró-RN. Outros lançamentos estão previstos pela Editora Imeph. Três folhetos são lançados também pela Cordelaria Flor da Serra, do poeta Paiva Neves. São eles: "O Antigo Testamento, segundo Zé Limeira", "Artimanhas de João Grilo" e "Carmélia e Sebastião", romance escrito em parceria com o poeta Evaristo Geraldo. Também estão no prelo os livros "O Besouro" (Contos) e "O Livro das Crônicas - Volume II de Memórias".

É ainda nossa intenção inaugurar duas CORDELTECAS, cujo acervo pretendo doar. Uma homenageando minha avó Alzira de Sousa Lima, em Madalena-CE ou Quixeramobim-CE; e uma outra em Canindé-CE homenageando o meu primeiro parceiro na Literatura de Cordel, o saudoso poeta José Maria Gonzaga Vieira, o popular Gonzaga de Canindé, falecido este ano. No dia 20 de setembro, Gonzaga completaria 71 anos de idade. A implantação das CORDELTECAS depende de entendimentos com autoridades desses municípios que ficarão responsáveis pela guarda do acervo.

Selo comemorativo - presente do amigo Jô Oliveira



A seguir, alguns trechos de KALUNGA:


KALUNGA, O homem mais tolerante do mundo

Autor: Arievaldo Vianna



Kalunga foi um cristão
Que já nasceu educado...
Ter paciência de Jó
É seu maior predicado
Nem parece aquele outro
Que dizem ser tão zangado.

Ele não xinga os vizinhos
Todo domingo comunga
Se ouve pergunta besta
Paciente não resmunga
Se alguém pisa o seu calo
Ele não grita nem funga!

No tempo que era menino
Escanchado num jumento
Na cangalha do animal
Machucou seu instrumento
Mas saiu resignado
A procura de ungüento.

Kalunga nunca brigou
Com os filhos do vizinho
Na escola era um aluno
Famoso por seu alinho
E tratava os seus colegas
Com respeito e com carinho.

Se uma pergunta tola
Alguém faz, por imprudência
E persiste perguntando
Com a maior insistência
O Kalunga explica tudo
Com perfeita paciência.

O Kalunga nunca soube
O que é ignorância
Não maltrata o semelhante
E só age em consonância
Com as leis do bem viver
É um mestre da tolerância.


Certa feita, pelas ruas,
Ele levava na mão
Um copo de mel contendo
Duas bandas de limão
Perguntaram pra que era
Diz ele: - Para o pulmão.

Nada de espremer na vista
Nem se mostrar revoltado
Kalunga deu a receita
Ao curioso abusado...
Saíram os dois satisfeitos
Cada qual para o seu lado.

No trânsito, um motoqueiro
Sem luva e sem capacete
Arranca o retrovisor
Do seu veículo, um Kadete,
E ainda desceu brigando
Na mão trazendo um porrete.

Mas logo baixou a arma
E ficou mais moderado
Vendo tanta mansidão
Do seu Kalunga, coitado,
Que lhe abraçou sorrindo
Dizendo: - Estás perdoado!

Esse Kalunga é tão fino
Nada do mundo o emperra
Seu peito só tem bondade
E toda beleza encerra
Deu aulas de etiqueta
Aos príncipes da Inglaterra.

Se anda com esposa
Pelas ruas, passeando,
E encontra algum gaiato
Sua amada paquerando
Kalunga faz que não vê

Sai contente, assobiando.

(...)

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