Arievaldo Vianna
O SERTÃO DA NOSSA INFÂNCIA
Texto de Sérgio Araújo sobre o livro 'No tempo da lamparina'
Através do olhar
encantado do então menino Arievaldo Viana, o sertão do tempo da lamparina
ressurge com toda a sua magia - cheiros, cores, sons e imagens parecem ressoar
no silêncio de nossas almas, com um encanto único. Arievaldo, como hábil
escritor, soube captar nuances de um tempo em que nossa cultura era pura como
água de chuva, daquelas do fim de tarde, no sertão, em que os grossos pingos
batem no telhado com tanta força que parece que vão quebrar as telhas. E o
cheiro que se seguia? Apesar dos carões dos mais velhos, fazíamos toda a
questão do mundo de sorver aquele aroma com toda nossa alma.
Esse é o No Tempo da Lamparina, uma viagem feita
no lombo do jumento, calçado com chinela de couro ou de pneu. Pros que viveram
esse tempo, é um gostoso reencontro com “aquele cheiro meu”, como na música do
Luiz Gonzaga, em que ele retorna pra casa e, numa madrugada dessas do sertão,
reencontra seu pai no abrir da tramela de uma janela.
O dragão chamado
progresso, com seus asfaltos, sua televisão e seu aculturamento encarregou-se
de levar tudo isso pra longe, mas especialmente para quem teve o prazer de
saborear algo desse velho tempo, não há nada mais gostoso do que reviver tudo
aquilo, ainda que seja por meio da auto-hipnose a que deliciosamente nos
submetemos ao ler essa obra ímpar.
Obrigado, Arievaldo,
obrigado, por ter abraçado sua arte com tanto amor. Os frutos desse amor estão
cativando muitos corações por aí afora. E o meu certamente é um deles.
Sérgio Luiz Araújo Silva