A TRISTE SINA DE ZÉ LEGAL
Estava eu em Salvador-BA, quando narrei esse episódio dentro de uma van repleta de cangaceiros(as) — explico, nessa topic eram transportados dona Expedita Ferreira, filha legítima de Lampião e Maria Bonita, sua filha, a escritora e jornalista Vera Ferreira e mais meia dúzia de pesquisadores do cangaço. Não sei se estava inspirado nesse dia ou se meu público estava predisposto para o riso... O que sei é que o elevador Lacerda e o Mercado Modelo quase vieram abaixo com o barulho das risadas do mulherio que viajava no referido transporte.
Um parente do Tarcisio Matos (ou seria do Tarcísio Garcia?) era um sujeito tão bacana, tão gente boa, tão engraçado, que todos adoravam a sua companhia. Era presença obrigatória em mesas de bar, aniversários, batizados, jogos de futebol e baralho, brigas de galos e canários-do-reino, reuniões de família e outros ajuntamentos da fauna humana no velho bairro da Parquelândia. Sujeito prestativo, querido dos vizinhos e familiares, idolatrado pelos sobrinhos, o José acabou ganhando a alcunha que mais lhe cabia: Zé Legal! Pense num cara legal...
Entretanto, apesar de ser essa figura extraordinária, querido e admirado por pessoas de todas as idades e de ambos os sexos, Zé Legal não teve sorte com o casamento. É o que meu amigo Bezerrinha costuma chamar de “corno de ovo”. Já trouxe a má sorte do casulo, desde os tempos em que habitava as cavernas insondáveis dos colhões de seu genitor. Triste fado, sorte mesquinha, que fez o primeiro sogro exclamar certa vez:
— Coitada da minha filha, tão bonita, mas não teve sorte... Casou-se com um corno!
Separado da primeira “traíra” Zé Legal partiu para a segunda, mais bonita e jeitosa que a primeira e aparentemente mais comportada. Ledo engano! Era uma sonsa de marca maior, tal e qual aquela cantora infanto-juvenil, que tirava onda de puritana quando adolescente e agora soltou o verbo em recente entrevista concedida à revista Playboy. Foi tiro e queda. Em menos de seis meses de casado, Zé Legal recebeu outra peruca ‘viking’ para ornamentar o ‘velho crâneo do homem’, como diria Zé Ramalho da Paraíba.
Carpiu a dor, bebeu todas que tinha direito, chorou no ombro dos amigos mas em pouco tempo já estava refeito e namorando. Sim, que ele não era besta de ficar sem uma costela de lado. A terceira era meio feiosa, um tipo pouco atraente, dizem até que mancava de uma perna e tinha uma dentadura postiça. Zé Legal transformou-se num verdadeiro “vaqueiro de xinim”, expressão irreverente e espirituosa que ouvi da boca de um bêbado num boteco de Campina Grande-PB. E haja pastorar a dita cuja, para evitar o terceiro revés. Mas o diabo quando não vem manda o secretário. Zé Legal teve que viajar a trabalho e não deu outra. A pia da cozinha entupiu, a mulher chamou um encanador e acabou levando uma vara de cano, verdadeira ducha no seu fogo mal apagado.
Quando Zé Legal voltou a vizinhança já sabia do ocorrido e, claro, deu o grito de alerta. Ele desiludiu-se tal e qual o finado Paulo Sérgio e vivia cantarolando, com jeito de aluado: “Não creio em mais nada, a minha vida é uma luta sem fim...”. Foi uma semana de porre no Bar do Camocim, ali na Padre Mororó.
O Tarcisio, preocupado com o estado deplorável do parente, foi procurar a mãe do ‘mói’, sua tia Mundinha para obter uma explicação.
— Me diga, minha tia, como é que pode? Um cara tão bacana como o Zé Legal não ter sorte com as mulheres? Me explique!
A velha suspirou e com olhar vago e distante proferiu a trágica sentença:
— Meu fie, só tem uma explicação... o póbe véi do Zé Legal num sabe trabaiá com priquito!!!
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