sábado, 29 de outubro de 2011

IMAGENS DO SERTÃO



Sempre que falo de minha infância lembro-me, incontinenti, de minha avó paterna Alzira de Sousa (Viana) Lima, na cozinha esçaçosa com o velho fogão a lenha sempre ardendo, onde ela fazia seus queijos maravilhosos. As imagens aqui postadas retratam um sertão que está desaparecendo ante os ataques persistentes da modernidade. As fotos são de 2008, mas tudo isso está por um fio... E relembrando a infância, é inevitável recordar alguns trechos da famosa canção do poeta Antônio Jocélio, CASA AMARELA:

CASA AMARELA Antônio Jocélio

Ainda lembro aquela casa em que nasci
onde eu vivi com meus irmãos e com meus pais
muitos conselhos de mamãe eu recebi
papai ali me ajudou até demais

Era amarela aquela casa inda me lembro
quando chegava dezembro papai renovava ela
Depois mandava convidar o nosso povo
pra passar O ANO NOVO NA NOSSA CASA AMARELA

Tive vontade de deixar o meu torrão
na intenção de conhecer o meu País
papai choroso deu-me a sua permissão
dizendo, Deus faça você ser bem feliz

Pedi a bênção aos meus pais e abracei
meus irmãos, depois chorei, debruçado na janela
Saí no rumo duma terra diferente
nunca mais vi minha gente nquela casa amarela

Às vezes penso em voltar ao meu lugar
para morar no mesmo canto onde eu morei
esta saudade me convida pra voltar
àquela terra em que nasci e me criei

Na mesma casa ir morar não posso mais
meus irmãos e os meus pais não são mais os donos dela
como eu queria dessa terra um pedacinho
pra fazer o meu ranchinho vizinho à casa amarela

Na mesma casa ir morar não posso mais
meus irmãos e os meus pais não são mais os donos dela
como eu queria dessa terra um pedacinho
pra fazer o meu ranchinho vizinho à casa amarela.




sexta-feira, 28 de outubro de 2011

LEANDRO E GUADALUPE POSADA


O COMETA

O que Leandro Gomes de Barros, pioneiro da Literatura de Cordel brasileira e o gravador mexicano José Guadalupe Posada tiveram em comum? Mais do que muita gente imagina... Posada foi um importante gravador e dentre outras técnicas usou inclusive a xilogravura para ilustrar os famosos "corridos mexicanos". Eram folhas soltas (pliegos sueltos) geralmente em versos, às vezes em prosa, que  abordavam temas diversos. Enquanto Leandro se ocupava da gesta de Antônio Silvino, Posada decantava com a sua arte Emiliano Zapata e outros ícones da revolução mexicana.



Num momento em que alguns estudiosos tentam negar as influências ibéricas no cordel brasileiro, é curioso observar que os mesmos temas versados por Leandro no Nordeste brasileiro despertaram a curiosidade de poetas populares do México, Chile e outros países da América Latina. De onde teria vindo então tal influência? Um desses temas que mexeu com o imaginário do menestréis é a passagem do Cometa de Halley, em 1910. Vejamos então, o texto de Leandro ilustrado por dois "grabados": um da Lyra Popular chilena e outro de um corrido mexicano de Posada:

Autor: Leandro Gomes de Barros
O Cometa

Caro leitor vou contar-lhe
O que foi que sucedeu-me,
O medo enorme que tive,
Que todo corpo tremeu-me,
Para falar a verdade
Digo que o medo venceu-me.

Eu andava aos meus negócios,
Na cidade de Natal,
No hotel que hospedei-me
Apareceu um jornal,
Que dizia que no céu
Se divulgava um sinal.

O sinal era o cometa
Que devia aparecer,
Em Maio, no dia 18
Tudo havia de morrer,
Aí sentei-me no banco,
Principiei a gemer.

Gemi até ficar rouco
Fiquei logo descorado,
Depois o sangue subiu-me
Que fiquei quase encarnado,
Imaginando n’um livro
Que um freguês levou fiado.

Disse ao dono do hotel:
Senhor eu estou resolvido,
Antes de 20 de Maio,
Nosso mundo é destruído,
Visto não durar um mês,
Não pago o que tenho comido.

A dona da casa disse-me:
O senhor está enganado,
Se eu for para o outro mundo,
O cobre vai embolsado,
Eu subo, porém em baixo
Não deixo nada fiado.


Me resolvi a pagar,
Foi danado esse processo,
Não paguei, tomaram à força,
O que é verdade, confesso,
Se havia de morrer de desgraça
Antes morrer de sucesso.

Tratei de tomar o trem
E seguir minha viagem
Disse: - Vai tudo morrer
Para que comprar passagem?
Inglês vai perder a vida,
Perca logo essa bobagem.

O condutor perguntou-me:
- Sua passagem, onde está?
Eu disse: - Na bilheteira,
Quando eu vim, deixei-a lá.
Não comprou? – perguntou ele,
Pois paga o excesso cá!

Eu lhe disse: - Condutor,
O mundo vai se acabar,
Para que quer mais dinheiro,
É para lhe atrapalhar?
A mortalha não tem bolso,
Onde é que o pode levar?

Chego em casa muito triste,
Achei a mulher trombuda,
Perguntei: - Filha, o que tem?
Respondeu-me, carrancuda:
- Ora, a 18 de maio
O mundo velho se muda!

Perguntei: - Tem jantar pronto?
Venho com fome e cansado,
Desde ontem, respondeu-me,
Que o fogão está apagado,
Devido a esse cometa
Não querem vender fiado.

Eu estava tirando as botas
Quando chegou um caixeiro,
Esse vinha com a conta,
Que eu devia ao marinheiro,
Eu disse: - Vai morrer tudo,
Seu patrão quer mais dinheiro?



Fui falar um fiadinho,
Que eu estava de olho fundo,
O marinheiro me disse:
- Já por ali, vagabundo!
Eu disse: - Venda Seu Zé,
Que eu pago no outro mundo!

A 19 de maio,
Quando acabar-se o barulho,
Eu hei de ver vosmecê
Que o senhor vai no embrulho,
Só se esconder-se aqui
Debaixo de algum basculho.

Quero 10 quilos de carne,
Uma caixa de sabão,
Quatro cuias de farinha,
Doze litros de feijão,
Quero um barril de aguardente,
Açúcar, café e pão.

Manteiga, azeite e toucinho,
Bacalhau e bolachinhas,
Vinagre, cebola e alho,
Vinte latas de sardinhas,
Duas latas de azeitonas,
Umas dezoito tainhas.

O marinheiro me olhou,
E exclamou: - Oh! Desgraçado!
Então inda achas pouco
Os que já tens enganado,
Queres chegar no inferno,
Com isso mais no costado?

Eu disse: - Meu camarada,
Isso é questão de dinheiro,
Ganha quem for mais esperto,
Perde quem for mais ronceiro,
Aonde foram duzentos
Que tem que vá um milheiro?

Perguntei ao marinheiro:
- Não faz o fiado agora?
O marinheiro me disse:
- Vagabundo vá embora!
Eu lhe disse: - Pé de chubo,
Você morre e está na hora.

Voltei e disse à mulher:
- Minha velha, está danado.
O cometa vem aí,
De chapéu de sol armado,
Creio que no dia 18,
Lá vai o mundo equipado.

Deixe ir lá como quiser,
A cousa vai a capricho,
Comer, nem se trata nel,
Nossa roupa foi ao lixo,
Vamos ver se lá no céu
Tem onde matar-se o bicho.

Fui onde vendiam fato,
Comprei uma panelada,
Comprei mais um garrafão
De aguardente imaculada,
Disse a mulher: - Felizmente,
Já estou de mala arrumada.

A 17 de maio,
A fortaleza salvou,
Eu comendo a panelada
Que a velhinha cozinhou,
Quando um menino me disse:
- Papai, o bicho estourou!

Aí eu juntei os pratos,
Embolei todo o pirão,
Botei o caldo num pote,
Peguei-me com o garrafão,
Me ajoelhei, rezei logo,
O ato de contrição.

A mulher disse chorando:
- Meu Deus, fica a panelada.
Disse o menino: - Papai,
Onde está a imaculada?
Eu disse: - Filho sossega,
Aqui não me fica nada.

E me ajoelhando aí,
Tratei logo de rezar
O ato de confissão,
Senti um anjo chegar
Dizendo reze com fé
Ainda pode escapar.

Aí disse eu:

— Eu beberrão me confesso a pipa,
a bem-aventurada imaculada de Serra
Grande, ao bem-aventurado vinho de
caju, a bem-aventurada genebra de
Holanda, vinhos de frutas, apóstolos de
deus Baccho, e a vós, oh caxixi que
estais à direita de todas as bebidas na
prateleira do marinheiro. Amém.

Quando eu acabei de orar,
Olhei para amplidão,
Ouvia dançar mazurca,
Cantar, tocar violão,
Era um anjo que dizia:
- Bravos de tua oração!

Aí um anjo chegou,
Com uma túnica encarnada,
Disse: - Sou de Serra-Grande,
De uma fazenda falada,
Eu sou o que cerca o trono
Da gostosa imaculada.

Sr. Láu, o proprietário,
Do reino onde ela mora,
Me mandou agradecer-lhe,
A súplica que fez agora,
Aí apertou-me a mão
E lá foi o anjo embora.

Aí eu disse: Mulher,
Visto termos nos salvado,
Desmanchemos nossas trouxas,
Já estava tudo arrumado,
Toca comer e beber,
Foi um bacafu danado.

FIM


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

ENTREVISTA

Arievaldo Viana entrevistado no CORDEL ATEMPORAL 


Arievaldo Viana ao lado do ilustrador e parceiro
Jô Oliveira na Bienal do Rio 2011
Nascido em Quixeramobim, sertão mítico do Ceará, terra de Antônio Conselheiro, Arievaldo Viana é uma das grandes expressões da literatura de cordel brasileira. Sua produção, já bem vasta, abrange romances de encantamento, sátiras, histórias de humor e vários livros infantojuvenis. Enveredando pelo campo da pesquisa, escreveu, entre outros, O baú da gaiatice, A mala da cobra e uma biografia (inédita!) de Leandro Gomes de Barros. Ainda achou tempo para criar o projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que propõe um novo olhar sobre o cordel. 
Com vocês, Arievaldo Viana...

Poeta, saudações. Eu o conheci naquele Congresso Internacional de Literatura de Cordel, que ocorreu em João Pessoa, em 2005. Mas já havia entrado em contato com sua obra desde 1999, por meio dos folhetos da Tupynanquim. Por que Arievaldo Viana escolheu o cordel?

 R – Eu acho que o cordel me escolheu. Desde que me entendo por gente tenho contato com essa literatura e ela tem exercido um fascínio cada vez maior, a cada ano que passa. Na infância eu tive o prazer de testemunhar a presença dos folheteiros itinerantes, viajando pelas feiras e fazendas do sertão, levando malas atulhadas de folhetos, perfumes, bijuterias, e outras miudezas. A presença de um deles no sertão era uma grande novidade, promovia logo um ajuntamento em redor.
Na festa de São Francisco, padroeiro do santuário de Canindé-CE, eles também estavam presentes com material bem diversificado... Sempre estendidos sobre lonas e surrões, nunca pendurados em barbantes (cordéis). Raramente se via algum deles usar um tripé, com uma mala de folhetos em cima e um pequeno serviço de alto-falante. Além das tipografias de Juazeiro do Norte (São Francisco/Lira Nordestina e Casa dos Horóscopos) havia também material de Manoel Camilo dos Santos, Lucas Evangelista, João José da Silva, da Editora Luzeiro e de outros poetas menos conhecidos que editavam apenas as suas próprias obras, como é o caso do Francisco Peres, o Chico dos Romances, que vinha de Sete Cidades, no Piauí...
 
QUER SABER O CONTEÚDO DA ENTREVISTA? Vá correndo ao blog CORDEL ATEMPORAL
 

CORDEL EM PORTO ALEGRE

Na próxima semana, no período de 02 a 05 de novembro eu e Jô Oliveira estaremos novamente na Feira do Livro de Porto Alegre lançando quatro obras pela Editora CORAG. Duas delas são adaptações de textos do livro "CASOS DE ROMUALDO", do escritor e folclorista gaúcho Simões Lopes Neto. Os outros são adaptações do Estatuto do Idoso e do Estatuto da Criança e do Adolescente para o cordel. Além dos lançamentos, faremos palestras, oficinas e visitações escolares. Todas as obras lançadas pela CORAG terão tiragem superior a 20 mil exemplares e serão distribuídas em escolas públicas do Rio Grande do Sul, contribuindo sobremodo para difusão e consolidação da Literatura de Cordel na Região Sul do país.
O informativo oficial da Feira de Porto Alegre publicou esse texto em julho deste ano:
A literatura de cordel ao alcance de todos. Um projeto promovido pela Companhia Rio-Grandense de Artes Gráficas (Corag) em parceria com a Câmara Rio-Grandense do Livro publica livretos com obras adaptadas à linguagem de cordel. A ação, que ocorre pelo segundo ano consecutivo, distribui o material na Feira do Livro de Porto Alegre e em escolas. Neste ano, o texto escolhido para ser adaptado ao cordel é Casos de Romualdo, de Simões Lopes Neto. A adaptação foi realizada pelo escritor cearense Arievaldo Viana e as ilustrações são do pernambucano Jô Oliveira.
No ano passado, Arievaldo Viana e Jô Oliveira também trabalharam com os contos de Lopes Neto. Na ocasião, os textos escolhidos foram “300 Onças” e “Melancia e Coco Verde”, publicados e distribuídos em 14 mil exemplares. Neste ano, serão adaptados os contos “Romualdo entre os Bugios” e “Quinta de São Romualdo’, também da obra do pelotense, considerado o maior escritor regionalista gaúcho.
Arievaldo Viana e Jô Oliveira contam com diversas obras e prêmios em seus currículos. O primeiro é o criador do Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Viana também é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel e venceu, em 2002, o V Prêmio Domingos Olympio de Literatura. Já o ilustrador Jô Oliveira tem em seu currículo um prêmio no Festival de Curta-Metragem, em 1968, no Rio de Janeiro, com desenho animado e participações nas 9ª e 10ª edições do Salone Internazionale del Animazione dei Comics em Lucca, na Itália, em 1973 e 1974.
Autor e ilustrador estarão presentes na 57ª Feira do Livro de Porto Alegre, que ocorrerá de 28 de outubro a 15 de novembro. No evento participarão de encontros com alunos e professores. Além disto, Arievaldo ministrará uma oficina sobre cordel, dentro do Ciclo Todo Mundo Pode. A oficina acontecerá no QG dos Pitocos, espaço da Feira do Livro destinado a crianças em idade pré-escolar.
Ilustração do folheto "Quinta de São Romualdo"



Confira abaixo um trecho de Romualdo entre os Bugios, conto de Simões Lopes Neto, adaptado para o cordel Arievaldo Viana e ilustrado por Jô Oliveira:

Fui ao Rio Grande do Sul
Para tomar chimarrão
E comer um bom churrasco
Feito num fogo de chão
Quando chegou um guri
Com um pacote na mão.

Chegou e disse: - Quem é
O senhor Arievaldo?
O mestre Simões me disse
Que és poeta de respaldo...
E lhe mandou, de presente,
Os CASOS DE ROMUALDO.

Desembrulhei o pacote
Que vinha bem amarrado
Vi o livro de Simões
Lopes Neto autografado
E dentro vinha um bilhete
Com o seguinte recado:

“Tu que és bom trovador,
Um perfeito menestrel
Quero que o nobre amigo
Transponha para o papel
Os CASOS DE ROMUALDO
No formato de cordel.”

A carta de Simões Lopes
Veio mexer com meus brios
Confesso que este foi
O maior dos desafios,
Vou transpor para o cordel
“Romualdo entre os bugios” 

Primeiramente apresento  
O famoso ROMUALDO
Sujeito que muito andou
Por isso ganhou respaldo
Até Barão de Münchausen
Pra ele, não dá um caldo!


(...)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

CORDEL E MPB

O PROFESSOR FOLHETO E A MÚSICA POPULAR NORDESTINA
São muitos os artistas consagrados da Música Popular Nordestina que tiveram influências da Literatura de Cordel em suas carreiras e até mesmo em seu processo de alfabetização. O paraibano Vital Farias é um desses casos e faz questão de ressaltar isso em todas as entrevistas que concede. Ednardo, autor de “Pavão Misterioso”, “Boi Mandingueiro”, “Rock Cordel” e outras músicas claramente influenciadas no romanceiro popular nordestino é um cearense de classe média, nascido em Fortaleza. Seu pai era dono de colégio na capital cearense, mas nem por isso deixou de beber na mesma fonte. Segundo ele, sempre que o pai viajava para o interior do estado trazia folhetos e os colocava na biblioteca do colégio, um reconhecimento pioneiro ao papel do folheto de feira como ferramenta útil ao letramento. O próprio Ednardo dá esse testemunho no programa “Salto para o futuro”, da TV Brasil (TV Escola) do qual eu fui consultor.
Alceu Valença também rezou pela mesma cartilha… Em recente entrevista concedida ao programa Globo Rural, sobre Literatura de Cordel, aparece deitado numa rede lendo a famosa “Chegada de Lampião no Inferno” e destacando o cordel como uma de suas leituras prediletas na infância. Na biografia de Jackson do Pandeiro constatamos que a sua leitura preferida (talvez a única) eram os romances de cordel que comprava na Feira de São Cristóvão (RJ). Aliás, na infância, Jackson foi amigo de um ceguinho folheteiro na feira de Campina Grande, de quem teria ouvido muitos romances rimados.
Belchior chegou a mesmo a se apresentar como cantador de feira, fazendo improvisos, ainda no início da carreira. Jorge Mello, piauiense da mesma geração, é cordelista e também faz um show à base do repente. Deu provas disso no programa do Jô Soares. Fagner, Geraldo Azevedo, Elomar todos eles beberam na fonte cristalina do cordel em maior ou menor escala.
De Vital Farias, o exemplo que melhor se enquadra em nossa pesquisa, colhemos interessantes informações em seu próprio “sítio”, mostrando que o cordel teve papel preponderante na sua vida como estudante, como leitor e sobretudo como artista da música, do cinema e do teatro. Vamos pinçar alguns trechos e comentar em seguida:
No começo, em Taperoá
Vital Farias fez seus primeiros estudos em casa, com seus irmãos mais velhos, lendo folhetos de cordel, ainda na Pedra D’Água, sítio onde nasceu, no município de Taperoá – Paraíba. Logo depois, começou seus contatos com a cidade de Taperoá, onde cursou o primário no Grupo Escolar Felix Daltro. Fez exame de admissão e parte do ginásio na Escola Professor Minervino Cavalcanti, que funcionou no mesmo grupo escolar, idealizado pela então benfeitor e amigo de todos nós Dr. Adonias de Queirós Melo (dentista, homem de muito amor pelas causas educativas).
Em entrevista concedida ao jornal O Povo, de Fortaleza, no final da década de 1980, Vital Farias diz que se comunicava por telefone com a mãe, já velhinha, declamando (ele e ela) trechos do folheto de Cancão de Fogo.
Ave de arribação
Migrou para João Pessoa para servir o exército brasileiro (15º Regimento de Infantaria), onde passou dez meses e quinze dias. Saindo do exército, continuou seus estudos no Lyceu Paraibano em plena ditadura militar. Nesse tempo já compunha e já se sentia um cantador, pois as suas origens reclamavam da cultura do seu povo e trazia nas suas memórias, desde criança, muitas cenas em Taperoá e nos sertões vizinhos da profunda covardia do sistema capitalista que esmaga e oprime o trabalhador. Mas, por força das circunstâncias “lei da sobrevivência” formou um conjunto de iê-iê-iê juntamente com Floriano, Cecílio Ramalho e Golinha ao estilo The Beatles, que na época incendiou com suas canções belíssimas o mundo inteiro.
Apesar disso, Vital não se esqueceu das cantigas de seu povo, das ladainhas, das incelenças e cantilenas e paralelamente desenvolvia um trabalho onde contemplava suas origens. E dessas origens a mais forte talvez seja a voz dos folheteiros e as toadas dos cantadores de feira.
Suando a camisa
Na década de 70 foi professor do estado, ministrando aulas de teoria e violão por música, tendo como orientador Fidja Siqueira, Pedro Santos, Gerardo Parentes, Bento da Gama, entre outros. Paulatinamente conviveu e participou no Teatro Santa Rosa de vários trabalhos teatrais: ora como músico, ora como ator, ora como criador. Realizou alguns trabalhos de cinema. Com essa experiência, anos depois já no eixo Rio-São Paulo participou do premiadíssimo filme O Homem que Virou Suco (primeiro lugar no festival internacional de Moscou-1981). Atuou como diretor musical e roteirista poético.
O Homem que virou suco, que tem José Dumont no papel de um cordelista/folheteiro atuando em plena cidade grande, Vital Farias colocou uma carga muito grande de influências do cordel. Uma das canções é a belíssima “Bate com o pé xaxado”, clássico do repertório do artista.
No Pau-de-Arara
Em 1975 rumou para o Rio de Janeiro. Lá chegando, participou da peça do Diretor Luis Mendonça Lampião no Inferno juntamente com Pedro Osmar, seu companheiro de viagem e ex-aluno, Elba Ramalho, Tânia Alves, Kátia de França Imara Reis, Tonico Pereira, Madame Satã, Hélio Guerra, Joel Barcelos, Walter Breda, Damilton Viana, entre outros.
* * *
A chegada de Lampião no Inferno”, de José Pacheco, tem sido um dos folhetos mais revisitados pelo teatro, a TV e o cinema, embora muito pouco se saiba sobre o seu autor. Texto irreverente, impregnado de bom humor, “A chegada” tem sido vitima ultimamente da ditadura do polticamente correto, porque José Pacheco retratou um inferno cheio de negros. Por outro lado, não há como negar a genialidade de seu autor, que retratou as “profundas” como uma grande repartição pública, com escritórios, gabinetes, livros de ponto etc…


O Vigia disse assim:
- Fique fora que eu entro
Vou conversar com o chefe
No gabinete do centro
Por certo ele não lhe quer
Mas conforme o que disser
Eu levo o senhor pra dentro.

(…)

Houve um grande prejuízo
No inferno, nesse dia,
Queimou-se todo o dinheiro
Que satanás possuía
Queimou-se o livro de ponto
Perderam seiscentos contos
Somente em mercadoria.


O mais curioso é que Lucifer e Satanás, como bons ditadores, botaram o povo para se matar na briga contra Lampião e vieram assistir de camarote, como convém a gente dessa classe:


Lucifer mais Satanás
Vieram olhar do terraço
Tudo contra Lampião
De cacete, faca e braço
E o comandante no grito
Dizia: – Briga bonito,
Negrada, chega-lhe o aço!


* Publicado originalmente no "Jornal da Besta Fubana"

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A RAPOSA E O CANCÃO

A RAPOSA E O CANCÃO - Editora IMEPH
Fiquei encantado com o trabalho desenvolvido pelos alunos da

Escola Plácido Monteiro Gondim

BR – 222 KM 40 – CATUANA – CAUCAIA/CE

Com o meu livro A RAPOSA E O CANCÃO, ilustrado por ARLENE HOLANDA e selecionado para o PNBE 2007. Vejam algumas imagens, extraídas do blog da escola.

http://escoladacatuana.blogspot.com/





PRIMEIRA EDIÇÃO SAIU PELA COLEÇÃO "BAIÃO DAS LETRAS", DA SEDUC-CE

Na foto abaixo, alunos da  (Rua Nereide 320. Bairro Bom Jardim, CEP:60540-680 e-mail: sfassis@escola.ce.gov.br Fone: (85)3101-6118) trabalhando também com o livro A RAPOSA E O CANCÃO, de Arievaldo Viana. As ilustrações são de ARLENE HOLANDA.


Os personagens do livro foram transpostos para o TEATRO DE BONECOS

Cordéis publicados no Rio na década de 1940

Interessante postagem do blog CORDEL ATEMPORAL (www.marcohaurelio.blogspot.com) mostra alguns folhetos raros publicados no Rio de Janeiro na década de 1940, todos com capa em policromia. No catálogo, pelo menos dois títulos inspirados na obra de Leandro Gomes de Barros (Baman e Gercina e A força do amor). Confiram a postagem:


Escrita Por Arthur Silva Torres e publicada em 1948, a História da Fada Gercina e do Príncipe Romão tem algumas peculiaridades que merecem destaque:
  • A capa colorida em formato 14X18, antecipa-se à editora Prelúdio, futura editora Luzeiro. A Livraria H. Antunes, carioca também, publicava já nesse formato, embora não se dedicasse exclusivamente ao cordel.
  • O título do romance que, inevitavelmente, remete ao clássico O Príncipe e a Fada (ou Baman e Gercina), assim como elementos da capa, como a serpente, o leão e a ave de rapina. "Romão" é um disfarce para "Baman", tratando-se, evidentemente, de um pastiche do original leandrino. Em outra história da lavra de Torres, o Romance de Paulo e Joaninha, em que aparece um casal em fuga sobre um cavalo, recria-se o episódio clássico da História de Mariquinha e José de Souza Leão, de João Ferreira de Lima.

  • Torres, autor cuja biografia ainda desconheço, recriou o clássico Zezinho e Mariquinha, do pioneiro Silvino Pirauá de Lima. O título invertido — História de Mariquinha e de Zezinho, publicada em 1947 — não esconde a fonte.

  • Na quarta capa da História da Fada Gercina e do Príncipe Romão, descobrimos ser A. S. Torres autor da História Completa de Alonso e de Marina, óbvia cópia do grande romance A Força do Amor, talvez a melhor obra de Leandro Gomes de Barros.
Originais, como se nota, são as cores, pois as histórias e os temas são velhos conhecidos dos nordestinos.


Todos os títulos citados estão à venda pela internet.

domingo, 23 de outubro de 2011

O DISCO DA SEMANA

I Festival de Poesia de Caucaia


Faixas:

Moacir Laurentino e Zé Viola
01. A beleza da criança
02 É difícil demais um presidente que resolva os problemas da nação
03 O Brasil sente saudade de Luis, Rei do baião

Antônio Jocélio e Zé Maria
04. O Nordeste se orgulha porque tem as maiores estrelas do repente
05. Tudo sei, ninguém me ensina
06. Só ela pode dar jeito na dor que meu peito sente
07. O país que sonhei foi transformado num cenário de dor e violência

Chico Alves e Lourival Pereira
08. O poder da natureza
09. Desafio: você presta pra ser aproveitado no trabalho grosseiro do sertão
10. Cantador de vocês

Raimundo Adriano e Zé Martins
11. Conselhos para o bem
12. Uma troca de olhar apaixonado nascem muitas promessas de amor

Geraldo Amâncio e Zé Cardoso
13. Quem fizer caridade faz na vida um futuro de muita segurança
14. Boi amarrado
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Para baixar: