quinta-feira, 15 de março de 2012

AS MATRIZES DO BAIÃO



Texto publicado na revista NORDESTE VINTEUM


AS MATRIZES DO BAIÃO – Luiz Gonzaga, em sua autobiografia ditada ao jornalista Sinval Sá, em 1966 (O sanfoneiro do Riacho da Brígida) deixa claro que muitas de suas composições, sobretudo as que fez em parceria com o cearense Humberto Teixeira, tiveram suas matrizes nas cantigas de trabalho, nas chamadas cantigas do eito, das apanhadeiras de algodão, dos puxadores de roda das casas de farinha, nas toadas dos ceguinhos de feira, no baião de viola que antecede o desafio dos cantadores e nas ladainhas das rezadeiras do sertão. Desta safra constam Asa Branca, Assum Preto e principalmente Juazeiro, cuja letra, na recriação de Humberto, remete ao seu namoro com Nazinha (sua paixão de adolescente, motivo de sua fuga do Araripe pernambucano).  A melodia, contudo, teria sido aproveitada de uma canção chamada “Caatingueira”, que fazia parte do repertório do velho Januário. Zé Gonzaga, num vídeo caseiro realizado no dia 18 de junho de 1999, em sua residência (no Rio de Janeiro), apresenta a versão original ao som do oito baixos que herdou de seu pai:

“Caatingueira do sertão / Chora quando vai chover / Eu também vivo chorando / Com vontade de te ver... Ai caatingueira / Que vontade de te ver / Ai caatingueira, to morrendo de roer...”

Segundo ele, Januário seria a verdadeira matriz dos baiões criados pela dupla e também teria influenciado criações suas, como as clássicas “Pisa na Fulô” e “Cheiro da Karolina”, que desenvolveu em parceria com João do Vale. A parceria de “Cheiro da Karolina”, que seria regravada mais tarde pelo Rei do Baião, acabou sendo creditada a um certo Amorim Roxo, a quem João do Vale teria vendido seus direitos autorais. Essa prática, muito comum na música brasileira, é admitida por João do Vale no fascículo sobre sua obra publicado pela Editora Abril na década de 1970. Eis a letra original de “Cheiro da Karolina”, segundo o depoimento de Zé Gonzaga:

“Seu Netinho foi pra serrinha, Karolina / Pra topar Chico Romão, Carolina / Com cinco contos de réis, Carolina / Pra matar o Lampião!”


JANUÁRIO E SEUS OITO BAIXOS – Januário José dos Santos, o “vovô do baião”, nasceu em Floresta, sertão de Pernambuco, no dia 25 de setembro de 1888, ano da Abolição da Escravatura. Não se sabe, ao certo, em que ano Januário chegou à Fazenda Araripe, nas terras pertences ao Coronel Manuel Aires de Alencar, filho de Gauder Maximiliano Alencar de Araripe, o Barão de Exu. Ali ele trabalhava na lavoura e também dedicava-se ao oficio de animar os “sambas” (era esta a antiga denominação das festas nordestinas) e afinar sanfonas. A palavra “forró” é um termo que só se popularizaria na segunda metade do século XX, a partir do lançamento da composição “Forró de Mané Vito”, embora alguns estudiosos reivindiquem o pioneirismo para a dupla cearense Xerém e Tapuia, naturais de Baturité.
Januário inspirou diversas composições de Luiz Gonzaga e também dos outros filhos, Zé, Chiquinha e Severino. A mais famosa delas tem letra de Humberto Teixeira: “Respeita Januário”, onde Gonzaga satiriza o seu retorno a terra natal depois de permanecer fora por quase duas décadas. Januário veio a falecer aos 90 anos, em 11 de junho de 1978, em Exu.

PARA LER A COLUNA NA ÍNTEGRA, ACESSE O SITE DA EDITORA ASSARÉ E VEJA A EDIÇÃO ON LINE DA REVISTA:   http://editoraassare.com.br/sites/default/files/revistas/ne21/FLIP/Portaltop/FlipNE31.html

quarta-feira, 14 de março de 2012

SÃO JOSÉ E A LITERATURA DE CORDEL


Navegando pela internet é possível encontrar diversas referências ao folheto de Francisco Sales Areda - O EXEMPLO DE UM ATEU QUE ATIROU NA IMAGEM DE SÃO JOSÉ. Ele está disponível no site da UNICAMP e também no site da CASA DE RUI BARBOSA. Veja a ficha catolográfica do folheto, segundo a UNICAMP:

Coleções de Folhetos de Cordel
AC
Biblioteca de Artes Cênicas
Instituto de Arte - Unicamp
fone : 0xx 19 7887027 , 7888106
email : biarte@iar.unicamp.br
AEL
Arquivo Edgard Leuenroth
Centro de Pesquisa e Documentação Social
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Unicamp
Caixa Postal 6110
CEP : 13083-970
fone : 0xx 19 7881622 , 7887060
CEDAE
Centro de Documentação Alexandre Eulálio
Instituto de Estudos da Linguagem - Unicamp
Bloco 1 - Caixa Postal 6045
CEP : 13083-970
fone : 0xx 19 7881516
CEDAE AtCColeção Prof. Ataliba Castilho
Constituída no ano de 19xx
CEDAE MBColeção Prof. Mauro Barbosa
Constituída no ano de 1973

Acervo Peter Einsenberg
Biblioteca Central UNICAMP
Caixa Postal 6136
CEP 13081-970
email : vicentin@obelix.unicamp.br




VEJA TAMBÉM ESSA OUTRA POSTAGEM:

http://www.acordacordel.blogspot.com/2012/03/marco-o-mes-de-sao-jose.html

segunda-feira, 12 de março de 2012

LANÇAMENTO


Antologia do Cordel Brasileiro

reúne antigos e novos autores

Um passeio pelo que de melhor foi – e é – feito por grandes
cordelistas brasileiros é o que se oferece neste livro

Arievaldo Viana

Desde que passou a despertar o interesse dos estudiosos, a chamada Literatura de Cordel (poesia popular narrativa impressa, na definição do estudioso Manoel Diégues Jr.), tem sido contemplada com a publicação de centenas de estudos e diversas antologias que buscam compreender melhor esse gênero literário tão presente na cultura do Nordeste brasileiro. Apesar disso, o cordel continua cercado por mitos infundados, definições equivocadas e total incompreensão por parte de algumas pessoas dos meios acadêmicos. Alguns (a maioria) torcem o nariz para a chamada poesia popular por considerarem-na uma subliteratura, coisa de pouco ou nenhum valor, de acordo com a definição corrente na maioria dos dicionários.


Cria-se, portanto, a imagem errônea que o cordel para ser “autêntico” tem que ser impresso em papel de baixa qualidade, tem que ter obrigatoriamente a capa em xilogravura e deve ser exposto pendurado em barbantes. Na verdade, o que deve ser levado em conta é o seu estilo inconfundível enquanto gênero textual e também as suas formas fixas, que são métrica, rima e oração. Entenda-se por “oração” que o cordel é essencialmente poesia narrativa (impressa) e consiste na arte de rimar histórias com começo, meio e fim.


O poeta e pesquisador baiano Franklin Maxado, em seu livro “Cordel Televivo – Futuro, presente e passado da Literatura de Cordel”, publicado em 1984 pela Editora Codecri (do Pasquim) trata, num dos capítulos, da “extrema unção” que foi dada ao cordel pela maioria dos pesquisadores na década de 1980 do século passado.  Eis um resumo da opinião de Maxado:


“Muitas universidades já estudam, colecionam, divulgam, editam e ditam influências aos autores da Literatura de Cordel. Também o surto de turistas estrangeiros, preferindo os de capas xilogravadas, cria normas. Em ambos os casos, o folheto é visto como uma coisa exótica. Uma peça de museu que deve ser conservada em sarcófagos, sem ter mais ação. Parado no tempo e espaço, morto e mumificado. E muitos pesquisadores decretam o seu falecimento, encerrados em seus gabinetes e bibliotecas.”


Em 1950, no Sudeste, o cordel foi descoberto como bom negócio e a editora Prelúdio (atual Editora Luzeiro) começou a publicar folhetos no formato 13x18 (um pouco maior que o tradicional), com capas coloridas, em papel de boa qualidade, tornando-se o alvo de críticas veementes de alguns pesquisadores desinformados, embora mantivesse um time de poetas de primeira linha como é o caso de Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Manoel Pereira Sobrinho, Minelvino Francisco, só para citar alguns.  Esses poetas, geralmente, eram ignorados pelos organizadores de antologias de cordel, que levavam em conta não a qualidade do texto, mas a aparência do suporte no qual estava impresso. O escritor baiano Marco Haurélio, um dos grandes expoentes da nova geração de poetas de cordel, pesquisador de renome, com diversos livros publicados, repara essa injustiça com a publicação de “Antologia do Cordel Brasileiro” (Editora Global, 256 páginas). Ele coligiu os textos de maneira que o resultado mostrasse ao leitor quanto está apurada a literatura de cordel no Brasil, contemplando 15 autores de diferentes gerações. Pela primeira vez, uma antologia do gênero reúne num mesmo volume obras dos pioneiros Leandro Gomes de Barros e José Pacheco, dos geralmente esquecidos (e discriminados) Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Manoel Pereira Sobrinho e Minelvino Francisco Silva e dos novos expoentes do cordel, dentre os quais destacam-se quatro autores cearenses: Rouxinol do Rinaré, Evaristo Geraldo da Silva, Klévisson e Arievaldo Viana. A obra reúne também trabalhos de Pedro Monteiro e do próprio Marco Haurélio, que fecha a relação dos 15 títulos enfeixados com o seu excelente romance “As três folhas da serpente”.

Poetas Klévisson Viana, Arievaldo e Rouxinol do Rinaré, presentes na Antologia do Cordel Brasileiro

Um dos fatores que levou muitos pesquisadores a decretar a morte do cordel foi um hiato na produção que durou entre 1975 a 1995, período em que morreram grandes expoentes da antiga geração de poetas cordelistas e as principais editoras de folheto do nordeste foram à falência. Disseram mesmo que o gênero “romance” estava extinto e que havia sobrevivido unicamente o folheto-reportagem de oito páginas. O que ninguém previa é que havia uma novíssima geração de poetas em formação, só aguardando o momento de publicar as suas obras, fato que verificou-se a partir da segunda metade da década de 1990. Todos os poetas contemplados nessa antologia, antigos e novos, cultivam o gênero “romance”, com sua narrativa cheia de encantamento, amores impossíveis, reis, princesas, fadas, duendes, gênios e gigantes, que são personagens frequentes da boa Literatura de Cordel.


O livro é totalmente ilustrado com xilogravuras de Erivaldo, um dos nomes mais representativos dessa arte e o responsável por mais de uma centena de ilustrações em livros e folhetos de cordel. No texto de apresentação da obra, os editores asseguram que “essa Antologia do Cordel Brasileiro” sinaliza com clareza a injustiça que seria classificar o cordel como arte a ser resgatada, como se ela tivesse caído em desuso e fosse necessário reabilitá-la”. Convém lembrar que, mesmo nos períodos mais críticos, nomes como José Costa Leite, Antônio Américo de Medeiros, Apolônio Alves e Gonçalo Ferreira da Silva, só para citar alguns, continuaram escrevendo e publicando folhetos regularmente, inclusive romances. O texto retromencionado conclui, de maneira enfática: “O que este livro aponta é a certeza – com beleza – de sua força inabalável. A criatividade flagrante dos cordéis aqui selecionados indica que o fio que os une ao longo do tempo não corre o risco de se partir e que esse gênero de nossa poesia popular, parafraseando o mestre Lourenço Capiba, é ‘madeira de lei que cupim não rói”.

Títulos e autores que integram a
Antologia do Cordel Brasilleiro:


O Soldado jogador, de Leandro Gomes de Barros

História do caçador que foi ao inferno, de José Pacheco

A guerra dos passarinhos, de Manoel D´Almeida Filho

A Sereia do Mar Negro, de Antônio Teodoro dos Santos

Os três irmãos caçadores e o macaco da montanha, de Francisco Sales Arêda

No tempo em que os bichos falavam, de Manoel Pereira Sobrinho

O valente Felisberto e o Reino dos Encantos, de Severino Borges Silva

O feiticeiro do Reino do Monte branco, de Minelvino Francisco Silva

João sem Destino no Reino dos Enforcados, de Antônio Alves da Silva

João Grilo, um presepeiro no palácio, de Pedro Monteiro

O reino da Torre de Ouro, de Rouxinol do Rinaré


O conde mendigo E a Princesa orgulhosa, de Evaristo Geraldo da Silva

Pedro Malasartes e o urubu adivinhão, de Klévisson Viana

As três folhas da serpente, de Marco Haurélio

Mais informações: www.globaleditora.com.br
Poeta Marco Haurélio, organizador da Antologia


Sobre o organizador: Marco Haurélio, poeta popular baiano, professor, folclorista e editor, é um dos nomes de maior destaque na literatura de cordel da atualidade. Ministra oficinas e palestras sobre cordel e cultura popular em todo o Brasil. É autor de vários livros para adultos e crianças. Pela Global Editora, publicou Meus romances de cordel, uma coletânea de suas melhores composições.


Título: ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO

Organização: MARCO HAURÉLIO

Editor: Gustavo Henrique Tuna

Páginas: 256

Preço: R$ 37,00

Público-alvo: Público em geral, sobretudo estudiosos e pesquisadores da cultura popular




Campanha Permanente em defesa do "GANGÃO"


O JUMENTO NOSSO IRMÃO

Vamos começar a semana dando continuidade a nossa campanha pernamente em defesa do JUMENTO NORDESTINO. A foto abaixo é um monumento representando o Padre Antonio Vieira e o jumento nosso irmão e foi extraída do site JORNAL DA BESTA FUBANA(www.luizberto.com)

Em Várzea Alegre, Ceará, uma homenagem ao jumento e ao Padre Vieira