Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br
Brasília – Escritores e xilógrafos participam do 2º Encontro Nordestino de
Cordel, no Centro Cultural da Caixa. Os principais objetivos do evento são o
reconhecimento da literatura popular, criar um sindicato para os poetas
populares e discutir a realização da primeira bienal sobre o tema. Hoje (15),
último dia do encontro, haverá debates e oficinas de escrita e xilogravura
(técnica de reprodução de uma imagem na madeira).
Para o cordelista e criador do projeto cordel em sala de aula, Arievaldo
Viana Lima, a ideia é dar andamento a vários projetos discutidos no primeiro
encontro, como a criação do sindicato da categoria. “Dentre outras coisas, o que nós queremos é o reconhecimento do
cordel como uma vertente literária e não como uma peça folclórica”.
Foto: Agencia Brasil
Lima destacou ainda a contribuição cultural do cordel na Região Nordeste.
“(Na década de 1940, segundo dados do IBGE) cerca de oitenta por cento da população nordestina era considerada analfabeta,
entretanto, se produziam 100 mil exemplares de um determinado folheto [de cordel] e a tiragem se
esgotava em seis meses. Como uma população tida como analfabeta consumia 100
mil exemplares de uma obra? A população buscava uma maneira de se informar, de se
auto-alfabetizar”.
Antônio Francisco Teixeira de Melo, de 64 anos, escreve e recita versos há 19
anos. Aprendeu a ler com o cordel que o pai sempre comprava. Escreveu seu
primeiro cordel por brincadeira e desde então não parou, já publicou seis
contos. “Eu escrevo para fazer um mundo menos ruim”. Para ele, o cordel “é
escrever e meditar". "O cordel é ver as coisas que a gente não consegue vê com
os olhos, ele é como uma luneta. É também a identidade do nordestino”.
O xilógrafo e presidente da Associação dos Gravadores do Cariri no Ceará,
José Lourenço Gonzaga, trabalha com a xilogravura de cordel há 30 anos. Ele
conta que a técnica chegou ao estado por meio de um dos maiores incentivadores
do cordel no Ceará, José Bernardo. “O processo dessa técnica requer a arte de
esboço do desenho, de retalhamento e de impressão da gravura".
Gonzaga conta que não existem cursos específicos que ensinam a técnica em
oficinas. “Tivemos uma oficina na Bienal do Livro aqui em Brasília no ano
passado e já fomos convidados para ministrar oficinas de xilogravura na próxima
Bienal do Livro, que ocorrerá aqui em 2014".
Formado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (UnB), Valdério
Costa trabalha há 20 anos com a xilogravura, técnica que aprendeu na infância.
Em sala de aula, Costa ensina a técnica com foco no resgate da cultura popular
brasileira. “Talvez a cultura popular não seja tão veiculada na mídia, mas é uma
coisa que representa a tradição do nosso Nordeste. E quando se tem uma formação
acadêmica, é imprescindível mantê-la”.
Edição: Carolina Pimentel