sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

CONTISTAS DO CEARÁ




EMBOSCADA

Gustavo Barroso

A Mello Morais Filho

Mais tarde, regressava com sua força, ao lado duma moriçaba, quando ao enfrentar uma moita, no lugar Mangabeira, meia légua distante de Lavras, uma bala, partida do mato, o derrubou do cavalo, instantaneamente morto!  (J. Brígido: O Ceará)

                 Apesar dos seus melhores amigos o haverem prevenido com provas cabais que o Inácio de Albuquerque pusera assassinos de tocaia no percurso que tinha que fazer de Umari ao Iguatu, o Estevão de Matos não recuou da resolução que tomara. Ir àquela cidade sertaneja a cavalo, varando o sertão inóspito, representava para ele um compromisso de honra. Havia prometido à firma Ricarte Irmãos saldar as suas dívidas no dia 30 do mês. Os seus negócios de gado em Pedras de Fogo tinham dado lucro suficiente. Possuía o dinheiro necessário ao pagamento das letras que os Ricartes guardavam. Eles lhe haviam emprestado aquelas somas para salvá-lo duma situação aflitiva nos seus negócios. Pusera-os em dia, só lhe restava agora desobrigar-se da promessa. Não haveria forças humanas capazes de o demover. Nem mesmo aceitava o alvitre de mandar pagar por outro. Iria em pessoa, para mostrar à firma que era homem de palavra e para mostrar ao Inácio que não lhe temia os cabras traiçoeiros e a vingança mesquinha.



                A mulher, em lágrimas, rojou-se-lhe aos pés; os filhos pequenos suplicaram-lhe em vão. Marcou o dia da partida. Deu ordens severas para milhar bem o cavalo ruço e preparar um mocó de sustância. Destemeroso, honesto e franco não se arreceava de outro homem. É verdade que dum tiro certeiro de espera ninguém se livrava. Mas ele “sabia onde moravam os mocós”. Era vaqueiro velho, cheio de mocambos, conhecedor de negaças. Andara uns tempos atrás de cangaceiros, guiando destacamentos. Tinha plena confiança em si.

                No dia marcado seguiu viagem. Partiu de manhã, mas não se embrenhou logo nas catingas. Algum esculca o havia de ter espiado e logo corrido a levar a nova aos assalariados das emboscadas. Parou fora da vila, em casa de Matias Florindo, escondeu o ruço na casa de farinha e ali se ficou a parolar com o amigo até a boca da noite. Com o escuro foi embora, levando o animal devagar, a clavina de repetição passada sobre o arção do ginete. Deixou a estrada e meteu-se pelo mato, guiando-se pelas estrelas faiscantes, que avistava por entre a ramaria rala dos paus-brancos. Tinha medo da lua. Nessa noite ela ainda se levantava tarde. Mas ao outro dia nasceria mais cedo e ao outro mais cedo ainda.

                Quando ela clareou o matagal, madrugava já. Distanciou-se mais da estrada que seguia paralelamente, avistando-a, às vezes, por entre os troncos lisos. Num fechado de rompe-gibão, mandacarus e umburanas, onde o pasto verde e suculento cobria o chão, tirou os arreios do cavalo e amarrou-o pelo cabresto a um tronco. Depois, fazendo da carona manta e da sela travesseiro, adormeceu ao pé das árvores.

                O sol nascia.

                Assim viajou mais uma noite e dormiu mais um dia. Na terceira noite de viagem, a lua veio muito cedo. Aquilo contrariava-lhe os planos. Além disso, a catinga naqueles lugares era tão espessa, tão eivada de espinhais, tão acidentado o terreno, de barrocas, pedras e fojos naturais, que só teve um remédio, depois de experimentar o trânsito do mato em várias direções, que foi ganhar a estrada larga e seguir por ela, lento, de ouvido à escuta e olhos à espreita.

                O luar claro escorria pelos troncos alvos e fazia das resinas transparentes lágrimas de luz. Altas, imóveis, as frondes das árvores destacavam-se na claridade do céu. Mães-da-lua gargalhavam ao longe, muito ao longe.

                Os olhos argutos do Estevão notaram que numa gameleira grande, entre dois grossos ramos em forquilha, as folhas eram tão chegadas que por entre elas não se coava o luar. Parou o cavalo e apontou a clavina para aquele escuro da folhagem, na desconfiança instintiva em que vinha de homens atocaiando-o nas moitas e das copas das árvores. O tiro partiu, ecoando nos pedregais. E um vulto de homem tombou mole, lá do alto, a escabujar na estrada branca.

                Do alto de outra árvore mais adiante veio uma voz de homem, dura e cortante no silêncio daquela solidão.

                – Mataste, Chico?



                O Estevão estremeceu. A emboscada era de dois. Que havia de fazer? Se falasse, o salafrário conhecer-lhe-ia a voz e fugiria a prevenir o amo vil da morte do companheiro. Se não falasse, o miserável desconfiaria, havia de tentar espiar o que se passara e iria dar o alarma à chusma acanalhada dos bandidos do Inácio, ou do seu esconderijo talvez o prostrasse com um tiro bem dado. Essa hesitação durou um instante. A sua grande calma ante os perigos salvou-o, ajudada da fertilidade do seu espírito aguçado e todo sutilezas. Soltou um assobio arrastado e discreto, chamando o outro:

                – Fô – fi – i – i – ô – ô – ô…

                Ligeiro, apeou-se do ruço e ficou de pé, de clavina aperrada, no meio do caminho iluminado, ante o corpo do cangaceiro. O outro veio, cauteloso. Ao avistá-lo na claridade do luar, levou a arma à cara. O tiro partiu e o bandido caiu de joelhos, com um grito. Depois tombou de frente no barro, estorceu-se alguns segundos. Aquietou-se por fim.

                Ao seu grito, só o eco respondeu. Nem uma voz soou nas espessuras das moitas ou baixou da ramada das umarizeiras. Pesou um grande silêncio no sertão enluarado. O Estêvão montou o ruço. Acendeu o cachimbo e largou veloz pela estrada em fora…

 (Gustavo Barroso, Praias e Várzeas; Alma Sertaneja, Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979, Coleção Dolor Barreira, págs. 60/62)

Fonte: MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.




Gustavo Barroso



Gustavo Dodt Barroso (Fortaleza, 1888 – Rio de Janeiro, 1959) exerceu o jornalismo em sua terra natal, transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1910, onde concluiu o curso de Direito, iniciado em Fortaleza. Voltou ao Ceará como Secretário do Interior e Justiça, em 1914, exercendo depois mandato de deputado federal pelo Ceará. Membro da Academia Brasileira de Letras, foi dela presidente por duas vezes. Sua vastíssima bibliografia, que chega a quase cem títulos, versa os temas mais diversos. Cultivou a História, a sociologia e o folclore. De contos, publicou: Praias e várzeas (1915), Mula sem cabeça (1922), Livro dos milagres (1924), O Bracelete de safiras (1931).

Sânzio de Azevedo informa que “se trata de um dos maiores vultos do conto realista e regionalista do Ceará”. E acrescenta à lista de suas coleções de histórias O Livro dos Enforcados (1939), sobre o qual diz o seguinte: “tão esquecido de quantos enumeram os contos de Gustavo Barroso, e que, não obstante seja baseado em acontecimentos históricos, retirados da crônica criminal do Ceará, reúne algumas narrativas do mais autêntico sabor ficcional”. Numa análise de várias páginas do ensaio citado linhas atrás, assegura o crítico: “Não é difícil perceber a segurança com que Gustavo Barroso trabalha o conto, não o alongando excessivamente, e demorando-se em descrições apenas o estritamente necessário à pintura do ambiente e à preparação do clímax da fabulação”.  

Otacílio Colares, no ensaio “Gustavo Barroso e o Regionalismo”, introdução à edição de 1979, da Livraria José Olympio Editora, de Praias e Várzeas e Alma Sertaneja, num só volume, reabre a questão: estes escritos são contos ou apenas estórias populares adaptadas? “Num como noutro destes livros daquela prosa que diríamos ser ainda alencarina, pela musicalidade, mas, já em parte, pessoal, pelo cunho de realismo regional, quase – diríamos – tendente ao documental, num como noutro, o leitor preocupado com definições rígidas esbarra com o dilema: são contos o que está em ambos os volumes reunidos, ou apenas o são no que a palavra conto significa invenção e a palavra raconto é entendida como repetição (podendo ser modificada) de velhas narrativas.”

Braga Montenegro vê nele o ponto culminante da narrativa curta no Ceará nos primeiros anos do século XX. Entretanto, vamos nos ater aqui apenas a dois de seus livros de histórias curtas: Praias e Várzeas, de 1915, e Alma Sertaneja, de 1923. Para Otacílio Colares os episódios do primeiro livro seriam “racontos de estórias passadas de pais para filhos.” E acrescenta: “Como se pode facilmente verificar, há todo um contexto informativo a par do conteúdo, vamos dizer, ficcionístico ou literário. E, acima disto, a preocupação de empregar toda uma terminologia regional praiana” (…). Na verdade, o que mais chama a atenção do leitor nestes dois livros de Gustavo Barroso é a estruturação das narrativas nos moldes dos contos populares ou das histórias orais. A manipulação da linguagem erudita e popular se faz tanto no discurso direto como na descrição de ambientes e personagens e na narração propriamente dita. A par disso vem o núcleo básico de cada episódio, sempre envolto em tragédia. Outra característica destes contos é a fiel retratação dos ambientes praianos, varzianos e sertanejos do Ceará. Quanto aos narradores e personagens, verifica-se a presença quase que constante de dois narradores: um narrador-testemunha, que se confunde com o próprio escritor e inicia a estória, e um protagonista-narrador, que conta o episódio principal, quase sempre em diálogo com o primeiro ou instigado por este. Em quase todos os contos o narrador-escritor inicia a narração e, em seguida, a “entrega” ao narrrador-testemunha ou protagonista. Apesar disso, a oralidade sertaneja ou praiana não descamba para a linguagem puramente regional e popular. O escritor conduz a fala do outro narrador, sem prejuízo do uso de vocábulos (substantivos e verbos) e expressões regionais.

Em “Velas Brancas” o protagonista é Matias Jurema, “velho pescador do Meireles”, em Fortaleza. A referência aos objetos de uso em pescaria é minuciosa: samburás, tarrafas, poitas, jangadas, tauaçus, quimangas. O narrador não participa da história, é o próprio escritor. E o conflito do velho pescador com a vida e o mar se faz em silêncio e solidão.

A descrição do ambiente praiano em “Finados” é soberba: coqueiros frondosos, praia branca, jangadas e suas velas abertas, no povoado de Mundaú. E a história remete a uma das crendices do povo da praia: “Quem vai pescar dia de finados sujeita-se a não voltar e morrer de assombração no mar” (…). Lucas, no entanto, quer afrontar a morte e sai ao mar. No dia seguinte “os jangadeiros encontraram restos de uma jangada e no meio deles, espetado em pontas finas de rochas lodentas, o cadáver de Lucas.”

Em “Naufrágio” “o mar tinha uma calma aparente”, um iate navegava com quatro tripulantes. E a história, “vista” do mar, vai adquirindo ares de tragédia. Primeiro “lufadas imprevistas”, depois outra rajada, a neblina, a chuva. “E o iate virava de bordo no espumejar da vaga.” Os ventos se tornam fortes, terríveis, “a crescer numa espantosa velocidade.” Finalmente “houve uma grande pancada”. Dois homens, “cuspidos n’água, debatiam-se em desespero.” O barco “foi-se afundando, afundando.” De manhã “boiavam cadáveres e fragmentos de tábuas ao sabor das ondulações.”

Em “O Pescador”, como em outros contos do livro, há logo no início uma descrição: as ondas, a praia, coqueirais, dunas, rochedos, um farol. Paisagem pintada com exuberância, para que nela os personagens se movimentem. No terceiro parágrafo surge um personagem. Antes dele, porém, mais um pedaço do ambiente: uma choupana pobre. Pedro Jojó se move: “pôs o uru a tiracolo, enrodilhou a tarrafa no braço, segurou ao cinto a quicé afiada e dispôs-se a partir para a pescaria”. Outra crendice do povo da praia: a do “pescador encantado”, mau e governante das águas e dos peixes do rio. Pedro se diz incrédulo, a despeito dos pedidos de sua mulher. Metido nas águas da barra do Pacoti, o pescador vê erguer-se “um vulto que saía das águas.” No dia seguinte pescadores depararam o cadáver de Pedro.

A destoar das narrativas anteriores, “Santa” é narrada na primeira pessoa: testemunha ou o próprio escritor. Além disso, trata-se de episódio do sertão, em tempo de “seca brava”. Otacílio Colares o chama de “narrativa de cunho regional”. O narrador, sem nome explícito, cavalga um cavalo na serra do Pereiro. A paisagem seca é descrita aqui e ali. Uma personagem aparece na segunda página: “uma cabocla forte e esperta”. Em seguida se apresenta o marido dela, “um caboclo ossudo, alto”. Já quase no final da narrativa o segundo personagem se faz narrador para contar a história da santa do título. Dois personagens participam da trama: “o velho Chico de Paula” e sua mulher, a santa. E as duas tramas se cruzam, como se personagens reais passassem a conviver com personagens fictícios. A segunda mulher, a santa, já envelhecida, se mostra no cenário onde se encontram o narrador inicial, a cabocla e seu marido, o narrador do conto da santa.

Outra história de cenário sertanejo é “Espectro”: “A paisagem tinha a tristeza dos ermos” (…). Na paisagem, uma fazenda, a capela senhorial, com seu sino de cobre, a residência feudal do padre Ferreira, “um dos homens mais ricos e poderosos do sertão”, o protagonista. O ponto de vista onisciente conduz o leitor ao passado (ao tempo da escravidão, quando “estralejavam os chicotes dos capatazes”), à vida do personagem, a esbanjar riqueza, em meio à pobreza de seus servos, açoitados por qualquer motivo, até a morte, quando o cavalo em que viajava espantou-se e o levou ao chão. E mais uma vez a crendice: o corpo do padre desapareceu, levado pelo diabo. Na tarde do enterro viram “um negro todo encourado surgir na casa da fazenda”. (…) “Era Satanás em pessoa” (…).

O narrador de “A Luíza do Seleiro” é um viajante do sertão, uma testemunha ou o próprio escritor. O ambiente é o vale do Aracoiaba, nas proximidades das “serras do Baturité e do Acarape”. O narrador descreve a mata verde, as flores selvagens, as árvores, as águas mansas. Na terceira página se mostra o segundo narrador, o da narrativa do título. A personagem é descrita: “olhos rasgados e negros”, “pele macia e aveludada”, “grumos vermelhos dos seus lábios”. Mais adiante se revela outro personagem, Estevão Nunes, “filho de um fazendeiro rico”, estudante na cidade do Forte (Fortaleza). Um dos contos mais longos dos dois livros.

O protagonista de “O Patuá” é Chico de Paula, um saco de pancadas ou “armazém de pancadas”, seu apelido. O episódio transcorre na vila do Riachão, “ribeira sertaneja”. Tudo gira em torno de um patuá, um amuleto que faz do personagem um valentão, capaz de enfrentar cangaceiros.

Um dos contos ambientado em várzea é “Absalão”, nome de personagem bíblico. “A catinga acabava ali” (…) “e para diante várzeas estendiam-se planas”. O protagonista (pode-se dizer assim) é um velho touro chamado Orelhudo. A última refrega do animal com homem é o desfecho: a morte do vaqueiro, em primorosa narração.

História de violência, vingança e morte é “O Filho do Gurari” (gurari é “nome dum pau duro e espinhoso”), cuja ação decorre cem anos atrás, segundo Otacílio Colares, isto é, por volta de 1880. Grupos familiares em luta: de um lado, descendentes diretos de europeus, sobretudo holandeses, os Cavalcantis; de outro, netos de portugueses com índios Paiacus. De uma matança escapa um bebê, que é levado pelo grupo vencedor e criado como filho do chefe. Feito rapaz, é morto a mando do pai adotivo, por medo deste de que o jovem tome ciência da história da chacina.

Tema parecido com este é o de “Emboscada”, cuja ação se desenrola entre Umari e Iguatu. No entanto, o feitiço vira contra o feiticeiro: o emboscado acaba se dando bem, matando os dois homens encarregados de o matarem.

O segundo livro, Alma Sertaneja, tem como subtítulo “contos trágicos e sentimentais do sertão”. Na verdade algumas narrativas do primeiro também se adaptam a este modelo. A maioria das histórias sertanejas segue o mesmo esquema narrativo: um narrador não identificado ou sem nome explícito inicia a narrativa e apresenta o segundo narrador-personagem ou testemunha. Os animais do sertão mais uma vez estão presentes como personagens. É o caso do touro Azulão, de “Marialva Sertanejo”. O heroísmo, a valentia, a coragem do sertanejo, ao lado da miséria, da fome, da seca, são assuntos desses contos. Em “O Come-Gente” Gustavo Barroso atinge o clímax do realismo, com o personagem Luiz Zambeta, “que ficou maluco de fome” e se tornou “estropófogo” (antropófago). Em “O Drama do Guriú” a fome é dos tubarões (história praiana), que devoram toda uma família, à exceção do chefe. “Os infelizes debatiam-se nas águas movediças e os tubarões, virando-se de dorso para baixo, vinham furiosamente, os papos amarelos à mostra, atacar os prisioneiros do oceano.” Em “A Alma do Turco” não há um segundo narrador, mas diversos. Os personagens-narradores se acham numa barranca do rio Quixeramobim. Teodósia conta o último episódio, o do título. O protagonista é um animal, um cachorro grande, o Turco. Tanto o narrador-escritor como a narradora-testemunha fazem questão de dar alma ao animal ou de humanizá-lo. Acusado de furtar queijo e espantar e matar galinhas, o cão é escorraçado de casa diversas vezes. Ao final, se deixa morrer ou morre de tristeza, ao perceber a aproximação do dia em que será levado por um paroara para muito longe, um seringal no rio Xingu, no Amazonas. Em “A Moça da Sapiranga” o primeiro narrador se acha, com outros personagens, ao pé da serra da Tucunduba, após atravessar o rio Ceará. O segundo narrador, Maneco, conta história ocorrida em Orós, a da moça com sapiranga nos olhos. Em “Os Noruegueses do Sabiaguaba” o primeiro narrador se revela um pouco, ao anunciar ao leitor: “E era isso o que a minha curiosidade de escritor ia procurar na casa vetusta do Curió.” A narrativa acontece em Sabiaguaba, “um recanto de praia e bem bonito, por sinal, entre a barra do Rio Cocó e a do Pacoti.” Em “Chifre de Cabra” o narrador-protagonista é João Gameleira, o pajem do narrador-escritor. O episódio se dá na cidade de Quixeramobim. Mulher trai marido, João Gameleira, e é por ele assassinada, juntamente com o outro. Também história de seca é “A louca”, a lembrar “Come-Gente”. Nela o ponto de vista onisciente não deixa entrever um narrador-personagem ou testemunha. O protagonista é Domingos Lopes. Acossado pela seca, vaga pelos sertões. Depara uma casinhola no meio do sertão. Na entrada vê “o cadáver dum cachorro magro”. Dentro da casa, “os corpos apodrecidos de três pequenas crianças”. A seguir, depara a mãe, a louca do título. Na serra de Baturité acontece o episódio de “O Poço das Piranhas”, a lembrar velhas narrativas de horror. Outra história de seca é “Os Filhos do Capitão João Pedro”, ambientada em Fortaleza. Um dos poucos contos em que a capital cearense, ou o seu litoral, é retratada. “Mano Francisco” se inicia com “Sertão inóspito!” É o sertão de Mombaça. O protagonista é Francisco, irmão do narrador-testemunha, “uma coisa medonha”, “um monstro em forma humana”. O tema é a loucura. O homem “ficou doido varrido”, matou um irmão com a mão-de-pilão e “está convencido que virou leão!” O ponto de vista onisciente é retomado em “O Perdão das Trevas”, no qual mais uma vez a seca é tema. Em “O Lobisomem” o contista “engana” o leitor, desde o título e a primeira frase: “Estórias de lobisomens!” Na verdade, se trata de história de um falso lobisomem, o vaqueiro Geraldo, “que tinha fama de homem honesto”, porém mais interessado num pacote de dinheiro do que em sangue humano. A história transcorre em 1899, na ribeira do Banabuiú. A última narrativa, “Como eu Matei a Maçaroca”, também se localiza no sertão, ao tempo dos cangaceiros e de onças, as maçarocas. São diversos pequenos episódios. O narrador onisciente dá voz ao narrador-personagem, o anspeçada Xico Linheiro, o matador da onça.

A matéria-prima dos contos de Praias e Várzeas e Alma Sertaneja é, pois, a natureza em toda a sua pujança e o homem como ser biológico e como ser cultural, este integrado àquela não apenas na paisagem, mas na própria vida (ação), o que faz de Gustavo Barroso um contista (um escritor) pinturesco e, ao mesmo tempo, dramático (drama, conflito) da terra e da gente cearenses.

Fonte: MACIEL, Nilto. Contistas do Ceará: D’A Quinzena ao Caos Portátil. Fortaleza/CE: Imprece, 2008.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O NORDESTE E A MPB



João Pernambuco (violonista)


INFLUÊNCIA DO CANCIONEIRO POPULAR NORDESTINO

NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA



Livro de Almirante "No tempo de Noel Rosa"



ANTECEDENTES FOLCLÓRICOS

Por: Almirante (Henrique Foréis Domingues)

Entusiasmado com as criações do violonista João Pernambuco, Noel Rosa compôs sua primeira obra musical em versos, a embolada “Minha Viola”. Quatro dias antes de morrer, Noel Rosa deixou seu derradeiro manuscrito, a embolada “Chuva de Vento”.

Em 1897, Sílvio Romero lançou seu volume Cantos Populares do Brasil, em 1901, Melo Morais Filho, Festas e Tradições Populares do Brasil, em 1903, Rodrigues de Carvalho, Cancioneiro do Norte, em 1908, Pereira da Costa, Folclore Pernambucano, Alexina de Magalhães Pinto lançou, em 1909, Os Nossos Brinquedos e, em 1911, Cantigas das Crianças e do Povo — valiosos subsídios do Norte e Nordeste. Estando em voga os temas do Nordeste, em 1909, Osório Duque Estrada, autor dos versos do Hino Nacional Brasileiro, publicou o livro O Norte (Impressões de Viagem), um panorama do folclore nordestino.


O escritor, pesquisador e radialista Almirante

João Teixeira Guimarães nasceu a 2 de novembro de 1883, em Jatobá, Pernambuco. Com 12 anos foi para Salinas, em seguida para o Recife. Ainda garoto, nos centros dos cantadores e nas feiras, ouvia e admirava Hugolino do Teixeira, Romano da Mãe D’Água, Inácio da Catingueira, Mané do Riachão e vários outros. Ali recebeu as primeiras instruções violonísticas de Manoel Cabeceira, Cirino de Guajurema, Bem-te-Vi, Madapolão, Serrador, cego Sinfrônio e Fabião das Queimadas.
Em 1902 veio para o Rio e daqui em diante tornou-se conhecido pela alcunha de João Pernambuco. Aqui se fez amigo de Quincas Laranjeiras, Zé Rebelo, Mário Cavaquinho, Sátiro Bilhar, Veloso e tantos outros.
Anos depois conheceu o poeta Catulo da Paixão Cearense, que desde 1900 publicava livros de versos e modinhas e, até 1912, não havia produzido nada absolutamente, em poemas sertanejos, especialmente dos costumes nordestinos. Certa vez, João Pernambuco pôs-se a cantar uma toadinha com os versos populares de sua terra, mas compondo melodia inédita, exclusivamente de sua autoria:

Nega, você me dá (o tiá)
Nega, você não dá não
Nega, se você me dá
E tá na faca, na madeira e no quicé.
Cinco pataca,
Dois tostões,
Mil e quinhento
Minha casa mobiada
Gás aceso e o povo dento...etc.

Catullo, gravura de Pacheco


Catulo nasceu a 8 de outubro de 1863 em São Luís do Maranhão, seguiu para o Ceará e com 17 anos de idade veio para o Rio. Da amizade com João Pernambuco, que lhe exibiu a sua melodia, resultou a criação da primeira canção sertaneja de cunho folclórico.
Entusiasmado com a novidade do coco-de-emboladas (2), Catulo anotou as expressões típicas e saborosas do Nordeste, apontadas pelo violonista. Catulo já não se recordava dos interessantes vocábulos e estranhava o próprio título que João Pernambuco indicara — “Caboca do Caxangá”. Caxangá, o lugar em que tanto vivera...
Sobre a origem dessa famosa cantiga servem como prova definitiva as palavras do poeta, em entrevista do Diário de Notícias de Lisboa, de 30 de janeiro de 1935: “... quando começava a minha obra poética mais importante apareceu-me o João Pernambuco, que vinha do Norte e que, sabe tocar muito bem o violão, me trouxe um vocabulário ainda não pervertido pela língua culta”.
Sem a menor dúvida, Catulo aproveitou os principais elementos melódicos de João Pernambuco para o estribilho citado pelo violonista:

Caboca de Caxangá
Minha caboca vem cá.

E veio, assim, a versalhada repleta de vocábulos colhidos no repertório de João Pernambuco, como Caxangá, Pajeú, Jaboatão, Santo Amaro (lugares e adjacências do Estado de Pernambuco); indaiá, imbiçuru, oiticica, gameleira, taquara (árvores, madeiras do Nordeste); urutau, chorão, jaçanã, quartau, quicé (aves, animais, expressões), usados na nova canção:

Em Pajeú, em Caxangá,
Em Cariri, em Jaboatão,
Eu tenho a fama de cantô
I valentão... etc...

A cantiga despertou interesse no povo, sendo publicada em 1913, no volume Lyra dos Salões (Rio de Janeiro, edição Quaresma, 1913). Como testemunho de gratidão ao seu indiscutível colaborador e parceiro, Catulo imprimiu com esta dedicatória:

“Ao Pernambuco, o insigne violonista’’ (CABOCA DE CAXANGÁ, p. 232)



Lyra dos Salões - Livraria Quaresma (1923)


Era de grande efervescência o movimento artístico daquela época e, em 1914, várias revistas teatrais do ano referiam-se à nova moda musical. Nos três dias do carnaval, animado conjunto, sob o título de Grupo do Caxangá, percorreu os principais pontos da Avenida Rio Branco (3). Seus componentes, orientados por João Pernambuco, usavam máscaras ou grandes barbas, empunhando seus instrumentos e trajando vestimentas típicas, com nomes de guerra nas palas dobradas dos chapéus, conforme foto no O Malho (4) de 28/02/1914: João Pernambuco (Guajurema), Jacob Palmiéri (Zeca Lima), Donga (Zé Vicente), Caninhá (Mané do Riachão), Pixinguinha (Chico Dunga), Henrique Manoel de Souza (Mané Francisco), Manoel da Costa (Zé Porteira), Osmundo Pinto (Inácio da Catingueira). (Ver página 38)
No último dia do carnaval, alguns préstitos exibiam, em carros especiais, letreiros sob o título de “A Embolada do Norte”. Devido ao êxito de “Caboca de Caxangá”, no ano seguinte João Pernambuco apresentou a Catulo outra melodia do mesmo tipo de coco de embolada, a que o poeta pôs letra intitulando-a de “Luar do Sertão”. O poeta editava as músicas, gravava-as em chapas de discos e cantava-as nas festinhas caseiras, nos recitais e palcos, citando somente o seu nome, sem jamais mencionar outros parceiros!
No teatro persistiu o interesse pelos movimentos folclóricos e naquela ocasião representaram-se as peças Ouro Sobre Azul, revista (5) de Maria Lina (Teatro Recreio) (6),  e A Caboca de Caxangá, burleta (7) de Gastão Tojeiro, música de Carlos Rodrigues e Luís Corrêa (Teatro São José (8), 07/12/1915).


Livros de 'MODINHAS' impressos pela Livraria Quaresma

Afonso Arinos, no mesmo ano, realizou um ciclo de conferências sobre temas folclóricos, finalizando-o em 28 de dezembro, com a conferência “Lendas e Tradições Brasileiras”, sob o patrocínio da Sociedade de Cultura Artística, no Teatro Municipal de São Paulo, tendo sido apresentados autos e danças dramáticas e tradicionais. Nas festas eram convidadas as mais ilustres figuras da sociedade paulista e a imprensa informava:

“Para essa parte veio do Rio um grupo de exímios artistas nacionais, reunidos para esse fim pelo senhor João Guimarães, conhecido pelo cognome de Pernambuco, sua terra natal, que ele honra pelo seu talento artístico, exuberante e espontâneo. Foram companheiros de Pernambuco, o grande tocador de viola e de violão, os nossos instrumentos populares por excelência, os senhores Otávio Lessa, Luiz Pinto da Silva e José Alves Lima” (9).

Em dezembro, dia 30, e em janeiro de 1916, o espetáculo repetiu-se e João Pernambuco criou a Trupe Sertaneja, que se exibiu em São Paulo e, em seguida, no Rio e em Porto Alegre.
Crescia o interesse pelas músicas populares de fundo folclórico. Os jornais dedicavam particular atenção aos versos das canções brasileiras, especialmente as sertanejas. No Rio, a 14 de fevereiro de 1916, representava-se a revuette (10), Carnaval no Trianon, de autoria de Fábio Aarão Reis, com músicas de Luiz Moreira e Raul Martins, com Abigail Maia cantando canções folclóricas. No Teatro São Pedro (24 de abril), apresentava-se a revista O Meu Boi Morreu, de Raul Pederneiras e J. Praxedes, com melodias de Pascoal Pereira e Adalberto Carvalho, e o maior sucesso do carnaval do ano, a toada folclórica “O Meu Boi Morreu”.
Dois anos atrás, Abigail Maia, considerada a “atriz da moda”, granjeara o justo título de “a rainha da canção brasileira”, com repertório de modinhas brasileiras e sertanejas como “Chico Mané Nicolau”, “Nhô Djuca”, “Inderê”, “Chora, Chora, Chorado”, “Cambuco e Balaio”, “O Meu Boi Morreu”, “A Rolinha”, “Assim É que É”, “Rolinha do Sertão” e outras. Era ainda relembrado o êxito em Santos, no Rinque Miramar, e depois em várias cidades, do célebre trio Foca - Abigail-Moreira, de José Batista Coelho (João Foca), teatrólogo e humorista; Abigail Maia, atriz e cançonetista, e Luiz Moreira, compositor e maestro.



Catullo foi muito popular no seu tempo

Em 30 de abril desse mesmo ano, os motivos populares do Nordeste deram origem à peça de costumes sertanejos O Marroeiro, original de Catulo da Paixão Cearense e Ignácio Raposo, com músicas do maestro Paulino do Sacramento, incluindo o estribilho de maior sucesso, com diferentes alterações melódicas em seus versos:

Olha a rolinha
Sindô, sindô
Mimosa flor
Sindô, sindô
Presa no laço
Do meu amô.

A respeito das criações das melodias “Caboca de Caxangá” e “Luar do Sertão”, estampamos o depoimento definitivo da carta do saudoso maestro Villa-Lobos (Documento A, ver página 32). E acrescentamos mais declarações que atestam ter sido João Pernambuco o autor das famosas canções, com as assinaturas de José Rebelo da Silva, o Zé Cavaquinho (Documento B, ver página 33), Benjamim de Oliveira e Alcebíades Carreiro (Documento C, ver página 34), o professor Sylvio Salema Garção Ribeiro (Documento D, ver páginas 35 e 36), o musicólogo Mozart de Araújo e a frase do ilustre crítico Andrade Murici, publicada na coluna “Pelo Mundo da Música”, do Jornal do Brasil de 13 de agosto de 1941:
“... Luar do Sertão, letra de Catulo da Paixão Cearense, para a qual esse modesto João Pernambuco compôs música destinada a viver enquanto houver vida num coração de brasileiro”.



João Pernambuco

Declara Mozart de Araújo:

João Pernambuco era homem simples, modesto, de poucas letras. Não tinha ambições de glória e muito menos de fortuna, tanto assim que, apesar do talento excepcional que possuía, morreu pobre. Foi desse homem autêntico e verdadeiro que ouvi a declaração de haver fornecido a Catulo Cearense muitas das suas cantigas trazidas do Norte, entre estas a melodia “É do Humaitá”, que ele cantava ao violão ou à viola.

Catulo, apesar de possuir um bom ouvido, não era um compositor, e também não era um bom musicista, pois o seu violão era rudimentar. Em termos de criação musical, não é possível compará-lo a Pernambuco, cuja obra é das melhores do repertório violonístico do Brasil. Pessoalmente ouvi de Catulo que a melodia “É do Humaitá” foi trazida do Norte por João Pernambuco.
“Modifiquei e fiz o ‘Luar do Sertão’, que foi vendido ao Figner (11)”, declarou-me Catulo, em 1946, poucos meses antes de morrer. Conhecendo Catulo e Pernambuco, entendi que a modificação da melodia consistiu simplesmente em adaptá-la à letra que, esta sim, era de Catulo. Ademais, João Pernambuco nunca se cansou de exaltar o poema de Catulo, que ele considerava um dos mais belos da nossa língua.
Conheço versões folclóricas do coco “É do Humaitá” e nenhuma dessas versões coincide com a melodia que Pernambuco cantava. Não hesito, pois, em afirmar que a melodia fornecida a Catulo era criação própria de João Pernambuco, como eram as toadas “Vancê”, “Tiá de Junqueira”, “Biro-biro-yaiá”, “Siricóia”, “Ajueia Chiquinha” e tantas outras.


NOTAS

1 - Por Catulo nunca tê-lo mencionado como autor da melodia de “Caboca de Caxangá” e “Luar do Sertão”, João Teixeira Guimarães, com profunda mágoa, faleceu a 16 de outubro de 1947.
2. - O coco-de-embolada é um gênero musical muito popular na região nordeste do Brasil, em que dois repentistas travam um desafio musical através de improvisos. A letra é geralmente cômica ou satírica. (N.O.)
3. - A avenida Rio Branco corta o centro da cidade do Rio de Janeiro.Antes chamada de Avenida Central, é uma das principais ruas do centro e foi um marco da reforma urbanística de Pereira Passos no início do século XX. (N.O.)
4. - O Malho foi uma revista brasileira criada em 1902, cuja especialidade era satirizar as notícias políticas da época. (N.O.)
5. - Redução da expressão teatro de revista, que consiste num tipo de espetáculo teatral, composto de números falados, musicais e humorismo. (N.O.)
6. - Surgido ainda no século XIX e inicialmente chamado de Recreio Dramático, esse teatro ficava em frente à Praça da Constituição, no centro do Rio de Janeiro. Foi demolido em 1968. (N.O.)
7. - Tipo de peça teatral cômica, que teve origem na Itália do século XVIII. (N.O.)
8. - O teatro São José localizava-se na praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, e funcionou de 1903 a 1926. (N.O.)
09. - “Lendas e Tradições Brasileiras”, Afonso Arinos. (N.A.)
10. - Tipo de ato teatral surgido no início no século XIX que mistura dança, esquetes e música. (N.O.)
11. - Fred Figner foi dono da Casa Edison, o primeiro estúdio de gravação de disco do Brasil. (N.O.)

Esse texto é o primeiro capítulo do livro NO TEMPO DE NOEL ROSA – Almirante.
Copyright © 1963 Almirante (Henrique Foréis Domingues)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Genealogia de Leandro



Durante doze anos de árdua pesquisa me destinei a escrever a primeira (e única) biografia do poeta Leandro Gomes de Barros Lima, o maior expoente da Literatura de Cordel. As poucas referências que haviam sobre o poeta, na obra de Câmara Cascudo, Chagas Batista, Sebastião Nunes Batista, Ruth Brito Lêmos Terra e outros autores foram a bússola que norteou o ponto de partida. Depois, com a ajuda de Cristina Nóbrega conseguimos algumas fotos e documentos da família do poeta. O escritor Pedro Nunes Filho, bisneto de uma tia de Leandro também foi um grande colaborador, fornecendo relatos mantidos pela tradição oral da família. Foi uma tarefa pegada a "dente de cachorro" porque eu não tinha recursos para fazer a pesquisa "in loco" em cartórios, livros paroquiais, periódicos e outras fontes primárias. Mesmo assim consegui realizar a obra com imensa dificuldade. Natural que um trabalho feito nessas condições apresente alguma falha... Entretanto pretendemos fazer uma segunda edição revista e ampliada, acrescentando novos dados e corrigindo alguns deslizes da primeira edição.

Foi com imensa satisfação que soube, através do amigo e colaborador José Paulo Ribeiro, da existência do livro "O ARRAIAL QUEIMADO DO PAULISTA", de Guttemberg Pereira, que dedica um capítulo inteiro à família do poeta Leandro Gomes de Barros, filho ilustre da cidade de Paulista-PB.

Apresento aos leitores do blog ACORDA CORDEL um ensaio histórico do escritor Guttemberg Pereira sobre o poeta Leandro Gomes de Barros que será de grande utilidade para todos que se empenham em resgatar a obra e a biografia desse grande expoente do CORDEL. (Arievaldo Vianna)


Escritor paraibano Guttemberg Pereira, 
autor do livro "Arraial Queimado do Paulista"


POETA LEANDRO GOMES DE

BARROS DESDE PORTUGAL


Guttemberg Pereira

O poeta Leandro Gomes de Barros Lima (ou Leandro Xavier de Farias) nasceu no ano de 1860, no sítio Melancias, município de Paulista, filho de José Gomes do Nascimento Lima e dona Adelaide Maria de Jesus.
Esta afirmativa tem diversas implicações frente à história da origem do poeta, disseminada por historiadores, biógrafos e pesquisadores da literatura de cordel até hoje.


Pombal-PB festeja o Sesquicentenário de nascimento de Leandro


Data de Nascimento
                       
A história firmou a data 19 de novembro de 1865 como sendo a data de nascimento de Leandro. Sua certidão de óbito, constante das fls. 41, do Livro nº 17, do Cartório de São José, Recife, Pernambuco, contém a informação de que Leandro faleceu aos 4 dias de março de 1918, com 58 anos de idade. Foi declarante o seu filho, Esaú Eloy de Barros Lima. Sendo um documento público, é presumivelmente verdadeiro no seu teor, e, na falta de outro documento que o contrarie, há de ser considerado o ano de 1860 para natalício do grande gênio do cordel. Todavia, na certidão de casamento de Francisco Antônio dos Santos e Amélia Maria da Conceição, de 18 de fevereiro de 1895, na povoação de Ipojuca, de cujo enlace Leandro foi testemunha e declara ter 29 anos de idade, sugerindo que estaria correta a data de 1865.
Alguns documentos da presente pesquisa foram cedidos pela professora e pesquisadora Cristina Nóbrega, e outros resgatados dos arquivos cartorários e eclesiásticos.


Ruínas da casa onde nasceu Leandro Gomes de Barros


Naturalidade

Ao longo da história, convencionou-se biografar o poeta como sendo natural da cidade de Pombal, posto que o sítio Melancias se localizava na jurisdição de Pombal à época do seu nascimento.
É uma questão um tanto delicada, todavia, de simples resolução. Deve-se atentar para o fato de que Pombal ainda não era um município em 1860, vindo a se tornar cidade somente no ano de 1862.
Com a emancipação política do distrito de Paulista em 23 de dezembro de 1961, o sítio Melancias ficou incluído no perímetro municipal da nova cidade de Paulista. Ademais, a história da família do poeta está umbilicalmente ligada à povoação de Paulista desde o século XVIII, com a chegada dos seus primeiros ancestrais, vindos de Pernambuco, e se unindo a outro segmento familiar da cidade de Serra Negra do Norte, como adiante se verá. Isto, por si só, já é suficiente para qualificar Leandro como natural de Paulista, pois a ligação com a vila de Pombal era meramente política. Os laços familiares, na sua essência, sempre foram com a povoação de Paulista, desde o passado mais remoto da sua família no sertão paraibano.
Após séculos de embates causados por esse tema na sociedade, o legislador pátrio resolveu enfrentar a questão. A medida provisória nº 776, de 2017, que foi convertida na lei nº 13.484 de 26 de setembro de 2017, alterou a lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os registros públicos.
Pela nova redação, foi acrescentado o parágrafo 4º ao artigo 19 da Lei de Registros Públicos, estatuindo que a naturalidade poderá ser do município em que ocorreu o nascimento ou do município de residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que localizado em território nacional, e a opção caberá ao declarante no ato de registro do nascimento.
A nova lei parece pôr fim à antiga controvérsia. A naturalidade do cidadão é determinada pela sua afinidade, pelos laços afetivos com a sua terra, pela propriedade onde vive, pelo cerco familiar. Não é mais pela frágil ligação, fruto da divisão política ou do mapa geográfico.
Ante todas essas evidências, pode-se afirmar, perante a lei e a história, que o poeta Leandro Gomes de Barros é natural do município de Paulista.



O nome

            O registro público das pessoas naturais no Brasil só se tornou obrigatório em 1º de janeiro de 1889, pelo decreto nº 10.044, de 22 de setembro de 1888. Até então, todo registro se processava nas igrejas. Cuidava-se, em verdade, de interesses políticos em jogo: a Igreja Católica temia perder prestígio, caso o registro civil passasse a ser estatal. Nessa época, inclusive, como tentativa de consolidação do poder eclesiástico na esfera do controle do estado civil das pessoas, foram reeditadas as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, em 1852.
            O Estado se utilizava dos registros eclesiásticos apenas para fins estatísticos, como colher dados para calcular a população, principalmente para o recrutamento de homens ao serviço militar. Assim, não havia restrições quanto a modificações de nome, e os cidadãos o mudavam conforme seu livre-arbítrio, discricionariamente.
Não se pode afirmar, com exatidão, qual nome recebeu Leandro, a princípio. Seu pai se chamava José Gomes do Nascimento Lima, e sua mãe, Adelaide Maria de Jesus, filha de Manoel Xavier de Farias e Antônia Maria de Jesus (as mulheres raramente recebiam o patronímico, ou nome de família). Os pais de Leandro eram primos, já que Xavier, Farias e Gomes eram da mesma estirpe. O casamento consanguíneo era quase um mandamento nesta família. O mais provável é que Leandro tenha assumido inicialmente o nome de Leandro Xavier de Farias.
No livro nº 1 do registro de nascimentos do Cartório de Registro Civil de Pombal, consta o registro de nascimento de Francisco Xavier das Chagas, filho de Camillo Xavier de Farias, irmão de Leandro. Isto faz crer que Leandro também se chamava Xavier de Farias.
Camillo era um irmão bem mais velho do que Leandro, nascido em 15 de julho de 1851, foi batizado no dia 4 de setembro do mesmo ano, pelo padre Álvaro Pereira de Sousa.
Documentos revelam, no entanto, que o pai de Leandro, José Gomes do Nascimento Lima, não faleceu tão jovem assim. José Gomes e Adelaide se casaram pelos idos da primeira metade do ano de 1842, quando ela contava com a idade de 16 anos. Adelaide faleceu em 25 de março de 1916, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, com idade de 90 anos, o que indica que ela nasceu no ano de 1826. A primeira filha do casal foi Cordulina, nascida no dia 2 de setembro de 1843 e batizada 23 do mesmo mês; Maria, nascida em 4 de julho de 1844, batizada no dia 5 de agosto do mesmo ano, pelo padre Luíz Inácio Cardoso, e seus padrinhos foram Francisco de Barros Passos e Maria de Jesus. Em seguida, nasceu Antônia, em 2 de março de 1847, batizada no dia 10 de junho do mesmo ano pelo padre Luíz Inácio Cardoso, e seus padrinhos foram seu avô Manoel Xavier de Farias e Francisca Arcanja. Em 5 de abril de 1848, nasceu Hermínia, batizada no dia 14 de junho do mesmo ano pelo padre Vicente Xavier de Farias, e seus padrinhos foram o tenente Cândido José de Assis e sua esposa Maria Florentina da Conceição. Na data de 2 de abril de 1850, nasceu Manoel, batizado no dia 26 do mesmo mês e ano, pelo padre Luíz Inácio Cardoso, e seus padrinhos foram Antônio de Barros Passos e Francisca Maria de Jesus. Leandro tinha ainda um irmão chamado Camillo Xavier de Farias, a quem já me referi anteriormente, nascido em 15 de julho de 1851, batizado no dia 4 de setembro do mesmo ano, pelo padre Álvaro Pereira de Sousa, e seus padrinhos foram Pedro de Sousa Silva e sua mulher Jacinta Maria da Conceição.
Leandro provavelmente nasceu em seguida, supostamente em 16 de novembro de 1865. Todavia a certidão de óbito de Adelaide dá conta da existência de oito filhos, porém sem nomeá-los.
Esta pesquisa descobriu, com fonte documental segura, a existência de seis irmãos do poeta e que faltou apenas um filho de José Gomes e Adelaide, não sendo possível localizar nenhum registro a seu respeito. Considerando que, por oportunidade do casamento, o pai de Leandro contasse com a idade de 24 anos, e levando em conta seu falecimento quando o poeta era uma criança de apenas oito anos, ele teria falecido aos 54 anos de idade.
Adelaide viveu seus últimos anos sob os cuidados de seu neto Ananias Henriques da Silva, filho da sua filha Hermínia (a qual tinha como padrinhos de batismo o coronel Cândido José de Assis e sua primeira esposa, Maria Florentina da Conceição). Ananias declarou o nome da sua avó na certidão de óbito como Adelaide Xavier de Farias.
            Difícil esclarecer a razão de Leandro ter adotado o sobrenome Gomes de Barros Lima. O mais provável é que seu pai descenda de outro tronco familiar muito importante na história dessa região sertaneja. Seria a família originada de Pedro Soares da Silva e Mônica Rodrigues dos Santos.
            Dados levantados pelo grande genealogista Cornélio Ferreira da Cruz, com minha singela contribuição em relação a alguns personagens, reconstituem esta árvore genealógica capital na família sertaneja.
            O sobrenome Barros, adotado pelo poeta Leandro, não pode ter vindo de outro ramo senão deste. Em algum momento que não se pode precisar, um membro da família Gomes se uniu a um descendente desta família, o que oportunizou ao poeta adotar o Barros em referência à família do seu pai.
            Pedro Soares da Silva (o Velho), natural da capital da Província da Parahyba do Norte (hoje João Pessoa) se casou com Mônica Rodrigues dos Santos. Era proprietário rural no antigo sertão das Piranhas e Piancó. Diferentemente dos proprietários rurais da sua época, não era sesmeiro. Suas terras foram adquiridas com recursos próprios. Quanto à parte que pertencia a Piancó, esta pesquisa acrescentou ao trabalho de Cornélio Ferreira o registro de uma escritura datada de 3 de outubro de 1749, pela qual foi formalizada a doação de uma escravinha de nome Antônia, com idade aproximada de 10 anos, filha da escrava Maria Angola, para o fazendeiro José da Cruz Villa Nova, esposo da sua neta Mônica Rodrigues dos Santos.
            Entre outros filhos, Pedro Soares da Silva tinha uma filha chamada Maria Nobre dos Santos, primeira esposa de João De Barros de Abreu, o segundo requerente da sesmaria nº 253, de 14 de setembro 1736.
            João de Barros foi casado a segunda vez com Antônia Lourença de Almeida, em cujo casamento tiveram uma filha por nome de Francisca, batizada em 25 de dezembro de 1752.
            Entre outros filhos de João de Barros de Abreu, estava Joanna de Barros e Abreu, ou Joanna de Barros y Abreu, casada com Antonio dos Santos Villa Nova. Divergências de nome: Joanna de Barros e Abreu, conforme declaração testamentária feita por seu filho João Evangelista dos Santos; Joanna de Barros y de Abreu, conforme declaração feita por ela própria na condição de madrinha, quando da formalização do registro de batismo de Josefa, filha de José da Cruz Villa Nova, em 30 de novembro de 1749, ocasião em que ainda era solteira. O padrinho foi o padre licenciado, reverendo Pedro Bezerra de Brito. No seu próprio testamento, datado de 29 de dezembro de 1814, Joanna declarou que era filha de João de Barros de Abreu e Maria Nobre dos Santos, já falecidos. Joanna faleceu no dia 10 de setembro de 1821, com aproximadamente 84 anos de idade, e no mesmo ano, foi procedido o seu inventário; já o de Antônio foi iniciado no ano de 1794.


Giovanetta, filha de Leandro, com os filhos no Rio de Janeiro

Os filhos de Joanna de Barros e Abreu eram:
·        Francisco dos Santos Villa Nova, alferes (mesma patente que tinha o mártir Tiradentes), casado com Jacinta Maria. Ele exerceu o cargo de juiz ordinário em Pombal no ano de 1809. Faleceu em 10 de julho de 1840.
·        João Evangelista dos Santos, casado com Francisca Leite de Faria, filha de Manoel José de Farias, antigo juiz ordinário em Pombal (1801 e 1812).  Ocupou o cargo de vereador em Pombal no ano de 1799. Faleceu em 16 de setembro de 1842.
·        Leandro dos Santos Barros (em alguns documentos, assina-se Leandro dos Santos Barros Lima), conforme já visto em capítulo anterior, proprietário do sítio Orondongo, bem como de diversas outras terras na região de Paulista. Morreu solteiro em 15 de fevereiro de 1854. Leandro foi um dos homens mais poderosos de seu tempo e pode ter servido de referência a diversas gerações posteriores a ele, inclusive ao poeta Leandro.
·        Anna Maria dos Reis Vieira, casada com Antônio Fernandes de Almeida. Em alguns documentos antigos, o nome completo de Anna aparece como Anna Maria de Jesus.
·        Manoel dos Santos Villa Nova, casado com Maria José de Jesus.
·        Maria Nobre da Conceição, casada com o capitão da cavalaria auxiliar da vila de Pombal, José Ferreira de Sousa (capitão Zé da Formiga).
·        Joanna de Barros, casada com José Fernandes de Almeida.
·        Antonia Maria dos Santos, casada com Pedro Soares Barbosa, tenente, proprietário do sítio Riacho da Onça, pertencente ao município de Paulista. Pedro foi juiz ordinário em Pombal no ano de 1794, tendo assinado o primeiro Termo de Vereança nomeando almotacés para os diversos sítios já povoados, inclusive Paulista, em 29 de outubro de 1794.

Casamento e filhos de Leandro Gomes de Barros

            Leandro se casou no dia 3 de outubro de 1893 com dona Venustiniana Eulália de Souza, na paróquia de São Miguel em Ipojuca, Pernambuco, celebrado pelo cônego Luiz Diniz. A certidão menciona o pai de Leandro com o nome de José Gomes de Lima, e a mãe, Adelaide Gomes de Lima. Observe que não aparece o sobrenome Barros (
Site dos Mórmons - www.familysearch.org - Matrimônios 1886, Junho-1902, Janeiro, com Venustiniana, [Venus], Eulália Aleixo, nascida em 1878, filha de Joaquim Amâncio de Souza e Maria Saturnina Prudência de Morais).
A primeira filha do casal foi Rachel Aleixo de Barros Lima, que nasceu em 20 de julho de 1894, em Ipojuca, Pernambuco. Casou-se com Pedro Batista e faleceu em 1926, em Guarabira, Paraíba. Teve uma filha, Djanane (falecida logo após o nascimento). O segundo filho de Leandro foi Esaú Eloy, que nasceu em 1º de dezembro de 1900, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco, e se casou com Izaura Olindina de Araújo Brito, de descendência desconhecida; o que sabemos até agora é que ele migrou para o Rio de Janeiro, entre 1924 e 1930, e integrou a Coluna Prestes. A terceira filha recebeu o nome de Gilvanetta, (Julieta) de Barros Lima, que nasceu em 29 de março de 1903, em Jaboatão, Pernambuco, a qual se casou com Reginaldo de Carvalho em 1923. Tiveram três filhos, entre eles Ivone Ivete de Carvalho, que se casou com Joe Correia Espindola. Gilvanetta faleceu no Rio de Janeiro. Por fim, Herodias de Barros Lima, que nasceu em 20 de agosto de 1906, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, e se casou com Eduardo Francisco de Araújo, de quem se desquitou em 1940. Faleceu em 1960, sem deixar descendentes.

Uma história mal contada

            Na busca pela real história da origem do grande mestre do cordel, muitos e renomados pesquisadores já se embrenharam por relatos fabulosos e equivocados. Credito tais equívocos à escassez de dados biográficos de Leandro, cujos poucos vestígios foram soterrados no infortúnio dos arquivos eclesiásticos que não resistiram ao tempo e má conservação. Restaram vagas reminiscências, que foram tardiamente historiadas, o que levou ao acúmulo de inconsistências.
Destaco o escritor Pedro Nunes Filho, autor da grande obra O Guerreiro Togado. O texto a seguir se encontra no livro Leandro Gomes de Barros, Vida e Obra, do escritor cearense Arievaldo Viana, cujo relato compõe também a obra da professora e escritora Cristina Nóbrega.

“Consta que a avó do Padre Vicente era índia e o avô, português. Sabemos que os portugueses desbravadores dos nossos sertões chegavam desacompanhados de mulheres e precisavam casar. Por isso, pegavam índias a dente de cachorro. Foi o que aconteceu com o avô do Padre Vicente. Um dia ele estava caçando mocó e o cachorro correu atrás de algo que ele não viu. Quando chegou ao local onde o animal estava acuado, encontrou uma indiazinha em cima de uma árvore. Necessitado de mulher para casar, ele tratou logo de retirá-la daquele local. Ela ficou tão assustada que se urinou. Tinha apenas 12 anos. Ele a levou para casa, amarrou no pé da mesa, até que ela amansasse. Quando isso aconteceu, ele a batizou e com ela contraiu matrimônio. Teve vários filhos, entre eles, Manoel Xavier de Farias. Um dia, um grupo de facínoras, atacou a casa de Manoel e matou seu pai, para roubar uma baixela de prata que ele havia trazido de Portugal. A índia, sua mulher, inconformada, reuniu os filhos, deu dinheiro a eles, fê-los acompanhar de um escravo negro de sua confiança e mandou que eles ganhassem o mundo para vingar a morte do pai. Disse mais: ‘ - Só dou a bênção a vocês quando voltarem trazendo as orelhas dos bandidos.' Os filhos saíram juntos e foram matando os ladrões um por um. Os últimos estavam comendo uma galinha debaixo de um juazeiro, utilizando os talheres roubados. Foram mortos também. Terminada a empreitada de vingança, os filhos regressaram e entregaram à índia um cordão com todas as orelhas. Ela as colocou em uma cumbuca e dependurou acima do fogão de lenha para que ficassem defumadas. Meu avô, Antônio Nunes de Farias, filho de Bernardo Nunes da Rocha e de Josefa Xavier de Farias, contava a meu pai, Pedro Nunes de Farias, que quando ia visitar a bisavó, ela sempre repetia o mesmo ritual. Chamava-o e dizia: '- Meu filho, venha ver as orelhas dos bandidos que mataram seu bisavô!' Meu avô dizia que as peças pareciam cascas de angico secas". Tenho também a informação' de que aquele sentimento de vingança da índia incomodava o Padre Vicente, seu neto, que sempre insistia para ela jogar fora as orelhas, mas ela não o atendia”.


Talher de prata que pertenceu aos antepassados de Leandro (foto: Pedro Nunes Filho)


Leandro fala do CABAÇO DAS ORELHAS nesse folheto


Abaixo, segue o famoso “causo” da morte de Francisco Xavier de Farias (Chico Xavier), da lavra e narrativa de Juvenal Lamartine (Serra Negra do Norte9 de agosto de 1874 —Natal18 de junho de 1956), em seu livro Velhos Costumes do Meu Sertão:

“No começo do século XIX, fixou residência na Fazenda Saco do André, quatro léguas mais ou menos ao poente da cidade de Serra Negra, João Gomes de Faria, cujo pai viera de Pernambuco com mais três irmãos. Localizaram-se, todos, naquele município sertanejo, casando-se com netas do seu fundador, Capitão Manoel Pereira Monteiro. João Gomes de Faria casara-se com uma prima pelo lado paterno, filha de Francisco Xavier. Seu sogro, Francisco Xavier, viúvo e paralítico, residia próximo à sua casa, em companhia de alguns escravos e de um filho de criação e afilhado. Passaram-se os tempos e, um dia, inventa o afilhado de viajar - conhecer o mundo - como se dizia. O velho fez tudo para dissuadi-lo, afeiçoado ao moleque que era "os seus pés e suas mãos" e que ademais já possuía uma boa "semente" de gado prosperada em cada ferro com os presentes do padrinho. De nada valeu a insistência; o moleque tomou a benção, fez uns dinheiros pela venda de um gado e ganhou as estradas. Tempos depois, numa manhã de domingo, aparece o afilhado dizendo, meio desconfiado, que de viagem por perto, tinha cortado caminho para visitar o padrinho e pedir para ele lhe botar a benção. Perguntou por João Gomes e veio a saber que o mesmo, como de costume, tinha ido à missa e fazer umas compras, devendo voltar à boca da noite. Zanzonou umas horas por ali, enjeitou de novo em ficar na fazenda, recebeu a benção do velho e com elas uns dinheiros de agrado, e foi-se... Horas depois, batem uns cabras armados que malvadam, matam e roubam todo o dinheiro do velho Chico Xavier. Um escravo que foi mandado depressa à rua, dizer da notícia, já deu com João Gomes no caminho de volta à fazenda. Este tratou de esporar o cavalo e lá chegando diligenciou o enterro do sogro e tratou de sindicar o acontecido. Indaga daqui e dali, tomou conhecimento da visita do moleque e da preocupação que teve em tomar notícias suas e da provável hora do regresso. Os quatro cabras chegaram depois para matar e roubar o velho. João Gomes não trastejou: mandou mudar a sela para outro animal e, em companhia de alguns homens da sua confiança, tomou o rastro do moleque. Algumas léguas adiante, deu com o afilhado que interrogado, veio a confessar ter guiado os bandidos até a fazenda do padrinho para depois dividirem o saque. Tomada a notícia do rumo dos bandidos, ali mesmo matou o moleque, continuando a perseguição do grupo, a que deu fim, um a um... . O último deles - contavam os mais velhos - e que já era justamente o cabeça, três anos depois é que foi justiçado já nos sertões do Piauí. João Gomes a esse tempo andava em companhia de um seu afilhado, Manoel José, rapaz destemido e melhor escopeteiro. No quebrar da barra de uma madrugada de inverno, deram com o cangaceiro que vinha montado e trazendo o clavinote vestido por uma capa de couro de carneiro. João Gomes tomou-lhe a frente e perguntou se ainda se lembrava de um velho entrevado, de nome Francisco Xavier, por ele assassinado no sertão das Espinharas. Dizem que o gesto de defesa que ensaiou o "papouco" de um clavinote o fez terminar no outro mundo. João Gomes mandou o afilhado cortar a orelha do bandido, a qual se foi juntar as outras quatro que já possuía e fazia conservar, salgadas e enfiadas em um arame - atestado da terrível vingança exercida contra os assassinos do seu sogro e tio”.


Relógio que pertenceu à D. Josefa Xavier de Farias, tia de Leandro
 e bisavó do escritor Pedro Nunes Filho


            O escritor Pedro Nunes Filho retratou os fatos transmitidos ao longo de gerações pela sua família. A tradição oral é importante fonte histórica, porém é a mais volátil e vulnerável a sofrer alterações no curso da história.
            Já o escritor Juvenal Lamartine de Faria, por ter vivido em época quase contemporânea aos fatos, merece atenção especial pela narrativa do causo aqui citado. Juvenal foi advogadojornalistamagistrado e político, além de ser governador do Rio Grande do Norte por dois anos e nove meses, sendo destituído com o advento da Revolução de 1930 comandada por Getúlio Vargas, que depôs todos os governadores eleitos na época, inclusive os revolucionários. Exilou-se na Europa, retornando ao Estado do Rio Grande do Norte já no governo de Rafael Fernandes Gurjão. Foi deputado federal de 1906 a 1926 e também senador de 1927 a 1928.
Observe que, na essência, as duas histórias se encontram, mas o texto de Pedro Nunes Filho aponta para a origem do poeta Leandro Gomes de Barros que, segundo o escritor, era seu parente, já que uma ancestral sua seria irmã de Adelaide Maria de Jesus, mãe de Leandro, bem como do padre Vicente Xavier de Farias, lembrando que o padre Vicente e Adelaide eram filhos de Manoel Xavier de Farias e de Antônia Maria de Jesus.
Pedro Nunes, ao se referir aos avós do padre Vicente, só pode estar falando dos avós paternos. Segundo ele, os pais de Manoel Xavier de Farias seriam um português, cujo nome se ignora, e uma índia capturada a dentes de cachorro, quando tinha 12 anos de idade. O português teria aprisionado a selvagem e feito dela sua esposa, com quem constituíra numerosa família.
Unindo as duas histórias, pode-se concluir que o português a quem se refere Pedro Nunes seria o mesmo Francisco Xavier de Farias assassinado pelos cangaceiros da história de Juvenal Lamartine.
Embora se saiba que todo acontecimento que sobrevive ao tempo vira história, este possui um fundo de verdade, e um estudo criterioso das origens dessa família vai revelar as lendas por trás de cada versão.
Frei Hugo Fragoso, professor de História na Universidade Católica de Salvador e autor do prefácio da obra Cariris Velhos, de Pedro Nunes Filho, ao traçar a genealogia do autor, identifica que Pedro Nunes tinha uma ancestral indígena, porém por linha diversa, já que Pedro era parente de Leandro Gomes de Barros por descender de Josefa Xavier de Farias, que seria irmã de Adelaide, mãe de Leandro. Josefa era casada com Bernardo Nunes da Rocha, filho de Antônio Nunes da Rocha e de uma índia sucuru, batizada com o nome cristão de Tereza Maria de Jesus. Assim se explica a confusão na história do parentesco entre o autor de Guerreiro Togado e o poeta paulistense.


Certidão de casamento de Leandro e Venustiniana. 
Leandro sempre declarou que seu pai se chamava José Gomes de Barros Lima


Famílias Xavier, Faria (ou Farias), Alves (ou Alvares), Gomes, Pereira e Monteiro

            Simão Gomes e Margarida de Faria formaram o casal mais antigo que gestou toda a estirpe em referência, atingido pelo presente estudo. O sargento-mor José Gomes de Farias, riquíssimo fazendeiro de origem portuguesa, filho de Simão Gomes, foi proprietário do Arraial Queimado e dos sítios Almas e Caiçara de Baixo. As informações constam de seu testamento datado de 30 de outubro de 1763. Após formalidades iniciais, diz o documento:

“Declaro que sou natural da freguesia de Nossa Senhora do Monte da Caparica, termo da Almada filho legitimo de Simão Gomes e de sua molher Margarida de Faria. Declaro que fui casado com Clara do Espirito Santo do qual matrimonio tivemos cinco filhos, três já mortos e dois são vivos, os quaes vivos hum se chama José Gomes de Faria, outro Miguel Gomes de Faria, hum sacerdote do habitto de São Pedro e o outro também sacerdote do habitto do Santo Espirito e ambos auzentes da minha companhia”.

            Ao falecer, o sargento-mor José Gomes de Faria deixou uma fortuna incalculável para seus filhos, ambos padres e sem herdeiros diretos, José Gomes de Farias e Miguel Gomes de Farias. Ao falecer o padre Miguel, o padre José Gomes herda toda sua fortuna, se constituindo em um dos maiores latifundiários das ribeiras das Piranhas, rio do Peixe e Espinharas.
Simão Gomes e Margarida de Faria eram também pais de João Gomes de Faria, cuja esposa era Marianna Henrique de Faria. João Gomes e Marianna Henrique tinham um filho chamado Francisco Xavier de Farias, que veio para o Brasil, se estabeleceu em Recife, Pernambuco, e se casou com Manuella Alves da Conceição no dia 14 de outubro de 1754, na freguesia de São Pedro, em Recife. Manuella era filha de Domingos Alves Esteves e Joanna Araújo de Deos, casados na vila de Viamão, freguesia de Santa Maria, em 12 de janeiro de 1711 – informações constantes do processo de admissão para familiatura do Santo Ofício de Francisco Xavier de Farias (o filho).
O casal Francisco Xavier de Farias e Manoella Alves da Conceição tiveram cinco filhos homens: Joaquim Álvares de Farias, João Gomes de Farias, Luís Álvares de Farias, Pedro Álvares de Alcantra e Francisco Xavier de Farias (segundo do nome).
Em meados da década de 1770, sem que se possa precisar a data, faleceu no sertão das Piranhas o padre José Gomes de Farias. Não possuindo herdeiros descendentes nem ascendentes, seu espólio seria transferido a seus tios, João Gomes de Farias e Manoel Gomes de Farias. Como já houvesse falecido João Gomes e Manoel Gomes de Farias, o direito de herança se transferiu para seus filhos, entre eles, Francisco Xavier de Farias. Após inventário dos bens, vieram tomar posse do patrimônio nas terras do interior os filhos de Francisco Xavier de Farias.
Entre as propriedades, estava uma grande fazenda chamada Pitombeira, nas Espinharas, onde se fixaram inicialmente Joaquim Álvares de Farias, João Gomes de Farias e Luís Álvares de Farias.
Aqui tem lugar o estudo minucioso e criterioso do grande Olavo de Medeiros Filho, constante do seu livro Velhas Famílias do Seridó.
Tratando das origens de Serra Negra do Norte, afirma Luis Câmara Cascudo que “A tradição evoca uma grande sesmaria dada em 1670 aos Oliveira Ledo na ribeira do Espinharas, Paraíba, estendendo-se, na indecisão dos limites, pela Capitania do Rio Grande do Norte. Coube a João de Freiras da Cunha o trecho correspondente ao futuro município. Falecendo o sesmeiro, herdou-a seu irmão Domingos Freitas da Cunha que a vendeu por 600$000 a Manoel Barbosa de Freitas, situando este uma fazenda no local. Doou-a ao sobrinho Manoel Pereira Monteiro, fundador da povoação, grande lavrador e fazendeiro”.
Ainda sobre a origem da atual cidade de Serra Negra do Norte, assim se expressou Juvenal Lamartine de Faria: “A cidade de Serra Negra do Norte nasceu de uma fazenda de gado ali situada por meu 6º avô, Manoel Pereira Monteiro, que a recebeu, por doação, de seu tio Manoel Barbosa de Freitas, cunhado dos Oliveira Ledo, cobrindo duas léguas de terra pelo Rio Espinharas abaixo, com três léguas para o nascente e três para o poente do mesmo rio”.
O coronel Manoel Pereira Monteiro, fundador da cidade de Serra Negra do Norte, se casou com Teresa Tavares de Jesus, de cuja união nasceram cinco filhos. Entre eles estava Manoel Pereira Monteiro (segundo do nome), que também foi o único a deixar descendentes.
Manoel Pereira Monteiro II, nascido em 1725, se casou com Thereza Maria da Conceição, com quem teve sete filhos, sendo dois homens e cinco mulheres.
Das cinco filhas do capitão Manoel Pereira Monteiro II, três se casaram com filhos de Francisco Xavier de Farias: Antônia Maria do Espírito Santo com João Gomes de Farias; Maria José do Nascimento com Joaquim Álvares de Farias, no dia 25 de novembro de 1794, na Fazenda Conceição, no Seridó; e Anna Maria de Jesus com Luís Álvares de Faria, no dia 6 de outubro de 1795, na capela de Nossa Senhora do Ó, em Serra Negra do Norte. Olavo de Medeiros detalha toda a genealogia desta família com base em farta documentação eclesiástica que foi bem preservada na matriz do Seridó.
Quanto aos demais filhos de Francisco Xavier de Farias, Pedro Alves de Alcantra se casou com Francisca Maria, cuja origem não foi possível apurar; e Francisco Xavier de Farias II se casou com Josefa Pereira de Magalhães, no dia 29 de novembro de 1780, na matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Josefa era filha de Antônio Pereira Magalhães e Mariana Vieira da Silva, registro constante do processo de familiatura do Santo Ofício (PT/TT/TSO-CG/A/008-001/9699). Em vários registros de casamentos de seus filhos, Josefa Pereira de Magalhães aparece com o nome de Josefa Maria da Conceição ou Josefa Maria do Espírito Santo. Isto é reflexo da fragilidade do nome em uma época em que não existia registro civil sob tutela do Estado. Estes documentos, trazidos à luz por esta pesquisa, deixam por terra a versão ventilada no causo de Pedro Nunes Filho, de que Francisco Xavier de Farias (segundo do nome) seria casado com uma índia, de cuja união teria provindo a família do poeta Leandro Gomes de Barros.
Luís Álvares de Farias (ou Alves), cuja história já foi esmiuçada em capítulo anterior, era proprietário dos sítios Arraial Queimado e Arraial do Paulista, um por herança do padre José Gomes de Farias e outro por compra feita ao capitão José Félix Machado. Após se casar com Anna Maria de Jesus, em 1795, veio residir definitivamente no sítio Arraial Queimado. De seu casamento, nasceram sete filhos: dois homens e cinco mulheres.
Seu irmão, João Gomes de Farias, permaneceu no Rio Grande do Norte. Do seu casamento com Antônia Maria do Espírito Santo, nasceram nove filhos: sete homens e duas mulheres. Entre os homens, estava João Gomes de Farias Júnior (major João Gomes).
No dia 6 de agosto de 1818, se casaram na matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso João Gomes de Farias Júnior e sua prima, Joanna Maria da Conceição. Ela, filha de Luís Alves de Farias; e ele, de João Gomes de Farias.
O major João Gomes de Farias Júnior fixou residência no sítio Saco do André, em Paulista. Importante documento resgatado por esta pesquisa é a escritura de doação feita por sua viúva, dona Joanna Maria da Conceição a seu filho Leandro Gomes Mariz, após a morte do major João Gomes em 31 de março de 1870. Ela doa metade da casa e das terras do sítio Saco do André.
Este documento comprova que a versão de Juvenal Lamartine está situada corretamente, todavia pecou o ilustre potiguar ao afirmar que João Gomes de Farias Júnior seria genro de Francisco Xavier de Farias. Era, em verdade, seu sobrinho, casado com uma prima, filha de seu outro tio Luís Alves de Farias. O major João Gomes teria feito vingança pela morte de seu tio. O erro de Pedro Nunes, no entanto, foi afirmar que Francisco Xavier de Farias era português e casado com uma índia.
O cotejo das duas versões, não obstante possa parecer um alheamento da história, ou um relato enfadonho, foi escolhido para ilustrar a genealogia do poeta Leandro Gomes de Barros, e mostrar os caminhos da família Xavier de Farias (ou Faria), Gomes, Álvares (ou Alves), até chegar ao sertão do Rio Grande do Norte e Paraíba.
Francisco Xavier de Farias, vítima do assassinato que gerou a epopeia da vingança do major João Gomes, era pai de Manoel Xavier de Farias (casado com Antônia Maria de Jesus). Entre os filhos desta união, destacam-se o famoso padre Vicente Xavier de Farias e dona Adelaide Maria de Jesus (ou Adelaide Xavier de Farias), mãe do grande mestre do cordel.
Conforme todas as fontes apresentadas, a família de Leandro chegou a Paulista depois que seu bisavô e os irmãos dele vieram de Pernambuco e se uniram com outra família na cidade de Serra Negra do Norte. Eles eram herdeiros de grandes porções de terras em Paulista, o que atraiu seu bisavô a se fixar nestas terras. Estas famílias formam a base da população de Paulista.
Como já demonstrado em capítulo anterior, Luís Alves de Farias foi dono de quase todas as terras que formam o atual município de Paulista, e sua descendência, juntamente com as dos seus irmãos João Gomes de Farias e Francisco Xavier de Farias, povoaram esta região, demonstrando que, do ponto de vista genealógico, sempre estivemos mais ligados ao município de Serra Negra do Norte do que a Pombal. Com este último, a ligação sempre foi meramente político-administrava, e que praticamente não exerceu influência na formação da sociedade paulistense.
Observemos que a gênese do tronco familiar que irradiou esta família por todo o sertão não passa pela vila de Pombal, a não ser pela ligação meramente política da povoação de Paulista para com aquela vila.
Dentre as diversas propriedades, estava parte dos sítios Queimado e Caiçara de Baixo, ou Melancias, herdados pelo avô de Leandro, Manoel Xavier de Farias e seus irmãos, entre eles João Gomes Xavier de Farias, cujo inventário se deu em 1857. Entre os bens arrolados, está a propriedade do sítio Queimado, possuída em comum com outros herdeiros.
            Possuo uma infinidade de outros ascendentes, mas num resumo, a árvore genealógica de Leandro Gomes de Barros, ou Xavier de Farias pode ser assim descrita:
Seus pais:
José Gomes do Nascimento Lima (paraibano)
Adelaide Maria da Conceição (paraibana)
Avós maternos:
Manoel Xavier de Farias (paraibano)
Antônia Maria de Jesus (paraibana)
Bisavós maternos:
Francisco Xavier de Farias II (pernambucano)
Josefa Pereira de Magalhães ou Maria da Conceição (paraibana)
Trisavós maternos:
Francisco Xavier de Farias (português)
Manuela Alves da Conceição (pernambucana)
Tetravós maternos:
João Gomes de Faria (português)
Mariana Henrique de Faria (portuguesa)
Quintos avós maternos:
Simão Gomes (português)
Margarida de Faria (portuguesa)


Folhetos raros do 'Rei da Poesia Sertaneja'


            Em 18 de maio de 2018, foi publicada no Diário Oficial do Estado da Paraíba a lei nº 11.126, de 17 de maio de 2018. Esta lei reconhece o município de Paulista como “Patrimônio Cultural do Cordel”, pelo aniversário de 100 anos da morte de Leandro Gomes de Barros, nascido no sítio Melancias, município de Paulista. Reconhece com o mesmo título a cidade de Pombal, que política e geograficamente polarizava a região ao tempo do nascimento do mestre do cordel. O projeto foi idealizado pelos deputados Tião Gomes e Julys Roberto.

(Do livro O ARRAIAL QUEIMADO DO PAULISTA)


REFERÊNCIAS:

CRUZ, Cornélio Ferreira da. Família Formiga. 1ª ed. Patos, PB: 2012.

 

________________________. Famílias do Sertão Paraibano. 2ª ed. Patos, PB: 2017.

 FARIAS, Juvenal Lamartine de. Velhos Costumes do meu Sertão. 2ª ed. Natal: Fundação José Augusto, 1996.

 NUNES FILHO, Pedro. Guerreiro Togado, Fatos Históricos da Alagoa do Monteiro. Recife: Editora FacForm, 2011.

 VIANA, Arievaldo. Leandro Gomes de Barros, o mestre da literatura de cordel: vida e obra. 1ª ed. Mossoró, RN: Editora Queima Bucha, 2014.

 Arquivo Histórico Ultramarino – Documentos Avulsos da Paraíba.

 Arquivo da Paróquia de São Miguel (Ipojuca – PE).

 Acervo do Cartório de Registro Civil de Vitória de Santo Antão – PE.

 Acervo do Cartório de Registro Civil do 1º Distrito de Jaboatão – PE.

 Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Ó (Serra Negra do Norte – PB).

 Acervo do Cartório I Ofício de Notas “Cel. João Queiroga” (Pombal – PB).

 Acervo do Cartório “Guiomar Tavares Formiga” (Pombal – PB).

 Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso (Pombal – PB).

 Acervos dos Cartórios da 1ª e 2ª Varas do Fórum “Promotor Francisco Nelson da Nóbrega” (Pombal – PB).

 Arquivos do Tribunal do Santo Ofício:

http://genealogiafb.blogspot.com.br/2016/10/habilitacoes-cargos-do-santo-oficio-ii_31.html.

 Arquivos particulares de Cristina Nóbrega.



Biografia de Leandro escrita por Arievaldo Vianna 
em 12 anos de árdua pesquisa