sábado, 3 de agosto de 2013

Zé Limeira, o poeta do absurdo




ZÉ LIMEIRA
(Teixeira, 1886 - 1954) foi o cordelista/repentista mais mitológico do Brasil. Era conhecido como "Poeta do Absurdo".


O meu nome é Zé Limeira
De Lima, Limão , Limansa
As estradas de São Bento
Bezerro de Vaca Mansa
Valha-me, Nossa Senhora
Ai que eu me lembrei agora:
Tão bombardeando a França
 
Ninguém faça pontaria
Onde o chumbo não alcança
E vou comprá quatro livro
Prá estudá leiturança
Bem que meu pai me dizia:
Jesus , José e Maria,
São João das Orelha mansa
 
Ainda não tinha visto
Beleza que nem a sua,
De cipó se faz balaio
A beleza continua
Sete-Estrelo, três Maria
Mãe do mato pai da lua
 
A beleza continua
De cipó se faz balaio
Padre-Nosso, Ave-Maria,
Me pegue senão eu caio
Tá desgraçado o vivente
Que não reza o mês de maio
 
Sei quando Jesus nasceu,
Num dia de quinta-feira,
Eu fui uma testemunha
Sentado na cabeceira
São José chegou com um facho
De miolo de aroeira
 
Um dia o Reis Salamão
Dormiu de noite e de dia,
Convidou Napoleão
Pra cantá pilogamia
Viva a Princesa Isabé
Que já morô em Sumé
No tempo da monarquia
 
Zé Limeira quando canta
Estremece o Cariri
As estrêla trinca os dente
Leão chupa abacaxi
Com trinta dias depois
Estoura a guerra civí
 
A seguir o mais famos dos textos do cordelista do absurdo:
 
O Marechal Floriano
Antes de entrar pra Marinha
Perdeu tudo quanto tinha
Numa aposta com um cigano
Foi vaqueiro vinte ano
Fora os dez que foi sargento
Nunca saiu do convento
Nem pra lavar a corveta
Pimenta só malagueta
Diz o Novo Testamento!
 
Pedro Álvares Cabral
Inventor do telefone
Começou tocar trombone
Na volta de Zé Leal
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento!
 
(...)
 
Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e o mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento
Teve um dia um pensamento:
“Tudo aquilo era boato”
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento!
 
Orlando Tejo nasceu em 1935, na cidade de Campina Grande, PB. Bacharel em Direito, poeta, ensaísta, jornalista, folclorista, professor, Orlando Tejo publicou, na área de Folclore, Zé Limeira, poeta do absurdo (1980), colaborando em revistas e jornais nordestinos. 
Um Poeta Absurdo
Entrevista a Eleuda de Carvalho     
Magro e branco, com seu belo bigode cáqui, fumando cachimbo com um ar de lorde sertanejo. Foi assim que eu vi o advogado, folclorista, jornalista e poeta Orlando Tejo, natural de Campina Grande (PB). Apaixonou-se pela cantoria menino, quando também começou a trabalhar na Rádio Caturité.   
      Com o AI-5, em 68-69, suas colunas nos jornais de João Pessoa e Recife tinham que vir sem assinatura. Mas ele sobreviveu. Enquanto isso, pesquisava. Principalmente, a vida e obra do esdrúxulo Zé Limeira, ``tropicalista rude, que trouxe a vocação do fantástico. O único surrealista bárbaro perdido nos sertões do Nordeste.""   
      A primeira edição do livro Zé Limeira, poeta do absurdo saiu, depois de muita novela, em 1980. A nona está sendo preparada para começo de junho. A décima, pela Ateliê Editorial de São Paulo, será o volume dois da ``Coleção Confederada"", do pessoal do jornal O Pão.   
      Quem me apresentou os versos estrambóticos desse tal de Zé Limeira foi meu parceiro de Rádio Universitária, José Rômulo Mesquita Martins. Pois fomos, num fim de manhã, a uma cantoria quase, no sugestivo Rostro Hermoso. E tome poligamia!  
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PEGANDO O BONDE

 
Post - Ferrocarril BHO motorneiro (nº 1) e o condutor (nº 2), transportando elegantes passageiros, no início do século XX.
 

No meu livro O BAÚ DA GAIATICE eu apresento algumas ‘pérolas filosóficas’ pertencentes ao adagiário do Filósofo da Praça Azul, personagem criado na década de 1980 pelo poeta Gonzaga Vieira. O Filósofo tinha coluna fixa na revista TRAMELA, um fanzine que eu publicava no início da minha atividade como cartunista, um periódico meio artesanal feito com nanquim, letrasete e máquina de escrever, com tiragem de até 300 exemplares feitos em Xerox. Uma dessas tiradas diz o seguinte:  

“Neste mundo velho tudo é passageiro, menos motorista e trocador”. 

O jornalista Eduardo de Paula, criador do blog SUMIDOIRO’S (http://sumidoiro.wordpress.com) desenvolveu essa página, principalmente, para resgatar a história de seus antepassados, a família SOUZA VIANNA de Minas Gerais. Curiosamente, sou descendente por parte de pai e mãe da família Souza Vianna de Quixeramobim, daí o interesse em manter contato com Eduardo, para saber se havia algum grau de parentesco entre os dois ramos familiares. Chegamos a conclusão que ambas as famílias (ou ambos os troncos) tem raízes na cidade de Vianna do Castelo, em Portugal (ou seria em Viena, na Áustria?) Bom, ele é que o genealogista e sabe mais do que eu.

Ao deparar com a máxima do Filósofo da Praça Azul ele alertou-me que nos idos das primeiras décadas do século XX o ditado já existia, porém referia-se a CONDUTOR e MOTORNEIRO, empregados do transporte de bondes. Eis aqui trechos de um brilhante artigo que escreveu sobre o tema:
 

PEGANDO BONDE
 

Nem tudo é passageiro… 

Assim não pode! Andam jogando poeira na história, dizendo que “na vida tudo é passageiro, menos o motorista e o trocador.” Nada disso! Inverdade do tamanho de um bonde(1). E os personagens são outros, de um tempo em que todo mundo andava na linha, ou nos trilhos. 

Ouve-se com frequência o antigo dito de forma errada, referindo-se a motorista e trocador, mas não era assim. Quem movimentava o bonde chamava-se motorneiro, porque acionava o motor, usando uma manivela apropriada. Quem comandava as partidas era o condutor, através de um apito. Os pontos principais de embarque e desembarque ficavam nos chamados abrigos, que eram coberturas em alvenaria, onde haviam espaços destinados a pequeno comércio de jornais, cigarros, bilhetes de loteria, balas, bombons e outras miudezas. As demais paradas, no percurso das linhas, eram assinaladas por uma faixa branca pintada nos postes. Para descer, os passageiros faziam a solicitação puxando uma cordinha, que acionava uma sineta. 

O condutor percorria o veículo, de ponta a ponta, sobre dois estribos laterais, agarrado aos balaustres(2). Cobrava as passagens pré-pagas − ou passes − e as picotava com um perfurador, mas também recebia em espécie. Logo em seguida, puxava uma alça, que ficava conectada a um contador de números de passageiros, denominado relógio. Havia também o fiscal, que aparecia de vez em quando, fazendo o controle de usuários em uma ficha. O bonde não possuía buzina, o alerta era feito através de um sino, acionado com o pé. Na pacata Belo Horizonte, era preciso ter cuidado para não ser atropelado por um bonde, que voava a vinte ou, às vezes, a absurdos trinta quilômetros por hora, nesse caso infringindo a lei.(3)

No fim da linha, tudo tinha que ser invertido. O motorneiro trocava seu posto de comando para a outra extremidade. Também alternava-se de lado o cabo conector de energia − denominado lança −, existente sobre o teto do bonde, em cuja extremidade havia um contato, que corria ao logo do fio eletrificado. Os encostos dos bancos eram girados a cada viagem, para o passageiro andar sempre de frente. Recolhiam-se os estribos de um lado e a guarda protetora − trava de contramão − era baixada, fechando o acesso. Na lateral em uso, fazia-se o inverso. As providências de isolar um lado eram muito importantes, porque os postes que levavam os fios eletrificados ficavam no centro das ruas e, geralmente, o lado esquerdo do veículo corria junto a eles. Uma topada num poste poderia se fatal ao passageiro.

Além dos serviços inerentes à função, muitos condutores presenteavam os passageiros com belas coreografias nos estribos ou quando saltavam do bonde andando, com uma alavanca na mão (chave), para deslocar os trilhos nos entroncamentos das linhas. Tudo rápido e no ritmo certo, porque o bonde não podia atrasar. Evidentemente, quando o condutor era negro, a exibição ganhava colorido, pois é sabido que os afro-descendentes têm a dança no sangue. Não há dúvida que trabalho pesado era o do condutor, mas quem ganhava mais era o motorneiro. Segundo os maliciosos, havia consequência: quando o condutor registrava as passagens e o “relógio” soava din-din, a melodia queria dizer: “- Din-din, dois pro relógio; din-din, um pra mim…”

Foi por tudo isso e mais alguma coisa que alguém mais inspirado filosofou:

“Na vida tudo é passageiro, menos o condutor e o motorneiro.”


(...)

 
VER POSTAGEM COMPLETA AQUI: http://sumidoiro.wordpress.com/