Por: PAULO BRABO, 01 DE
DEZEMBRO DE 2005
A GAIATICE DE DOM
ARIEVALDO
Passei ontem na
Winner’s da Praça Osório para comer uma empada e um suco de cupuaçu e
lembrei-me invariavelmente da minha viagem ao nordeste.
Não saiu ainda da
minha cabeça a idéia de escrever as memórias da Expedição Cordel, mas as
proporções épicas e mitológicas do que tenho a dizer simplesmente me esmagam.
Como, por exemplo, falar do Arievaldo,
engenhoso fidalgo, nosso irmão e supremo contato em Fortaleza, cuja casa virou
nosso quartel-general? Nada, absolutamente nada, que eu disser sobre o
Arievaldo pode dar uma idéia de como ele é na vida real. João Grilo? Robin
Williams? Agoniado, energizado, maluco, bem-humorado, malandro, figuraça, gaiatíssimo?
Assisti recentemente
ao filme Madagascar, animação da Dreamworks, e decidi que a única imagem que
pode sugerir uma sombra do que é experimentar o Arievaldo em primeira mão é a
do rei dos lêmures, Julien, dançando e cantando “Eu me remexo muito”. O rei
Julien é uma versão serena, pacatíssima e domesticada do Arievaldo.
Cordelista,
radialista, poeta, cartunista, leiauteiro, dançarino, xilogravurista,
publicitário, comediante, dramaturgo, declamador, pesquisador, piadista,
escritor, palestrante e figurinha difícil, Dom Arievaldo Viana é atualmente o
menino-prodígio da literatura de cordel, seu talento e sua cruzada louvados de
Bezerros no agreste pernambucano a Santa Teresa no Rio de Janeiro.
Assim que chegamos a
Fortaleza o Ari deu-me de presente um exemplar da segunda edição do seu livro
mais recente, O Baú da Gaiatice – um apanhado de “causos”, versos, memórias e
crônicas de humor nordestino. Confesso aqui, como já confessei pessoalmente a
Dom Arievaldo, que não esperava nem de longe que o livro fosse tão bom. Inquiro
apenas dois parágrafos, o primeiro e oitavo da crônica PRODUTO EXTERNO BRUTO É
COM NÓS:
Bastou a revista Newsweek publicar o caput da mais recente descoberta do
professor Nikin Kando – baba de calango em jejum como o mais poderoso sucedâneo
da gasolina aditivada -, para o vereador oposicionista Procópio Straus
(vereador por Apuiarés, mas nascido no distrito de Cipó dos Anjos) requerer
junto ao IBAMA, com o consentimento do Green Peace e da Associação de Macumba
Senhor do Engenho, licença para criar em cativeiro as “n” espécies do
retromencionado lacertílio – família dos teídos, os tais do “monossílabo”
torto.
Fincado em área de 22 quilômetros quadrados e população que beira os 200
habitantes, Cipó dos Anjos possui quatro bancos, sendo um de sangue e três de
cimento localizados na praça Alferes Claudemiro Quaresma (ilustre antepassado
do intrépido Procópio), herói da Guerra do Juazeiro, condecorado com a Medalha
da Ferradura por haver salvo a vida de um jumento canindé do Dr. Floro Bartolomeu.
E por aí, senhoras e
senhores, vai.
Fonte: http://www.baciadasalmas.com/a-gaiatice-de-dom-arievaldo/