sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

DIA DE SANTOS REIS

Tim Maia - Tim Maia (1971)

Pai da soul music brasileira, Tim Maia começou na música tocando bateria, mas logo passou para o violão. Em 1957, fundou no bairro carioca da Tijuca o grupo de rock Os Sputniks, do qual participaram Roberto e Erasmo Carlos. Em 1959, foi para os Estados Unidos, onde estudou inglês e entrou em contato com a soul music, chegando a participar de um grupo vocal, o The Ideals.
Neste segundo LP, de 1971, a faixa que abre o disco é a música A FESTA DO SANTO REIS, de Márcio Leonardo, verdadeiro resgate de uma festa que como a própria letra já diz: anda meio esquecida.  
Quando menino presenciei muitos reizados tradicionais, que alguns chamam de PAPANGU*. O reizado da família BASTIÃO/RODEIROS era o melhor da redondeza e o sanfoneiro "Meu Pedro" fazia figura tocando o BAIÃO VERMELHO, dança típica dos CARETAS. Os "Miguéis" (Zé Miguel, Juvenal, Aroaldo) também tinham um excelente grupo de reizado onde destacava-se o Messias Pompílio fazendo "relaxo" na cabeça do boi. Fazer "relaxos" é dizer glosas de improviso. Nunca esqueci esse "relaxo" atribuído ao Quelemente (João Clemente, já falecido):

"Pode crê mandou lembrança
Se for verdade, Deus lhe pague
Não como frango pedrês
Nem como galo pintado
A melhor coisa do mundo
É carinho de menina
Meu padrim o que é que tem
Pra dar a essa TIJUBINA?"

A "tijubina" em questão era uma das damas que acompanhavam a burrinha. Um personagem marcante do reizado é o BABAU. No interior de Madalena-CE tinha também o JARAGUÁ, um bicho feio, feito com uma queixada de bicho morto, que assombrava as crianças.
          * Papangu, ou papangu de quaresma é um termo depreciativo, que significa abestalhado, tolo, sem discernimento das coisas. Quem brinca na época correta, ou seja de 06 de janeiro (Dia de Reis) até o Carnaval está correto, são os CARETAS ou figurantes do REIZADO. Quem brinca na quaresma é ridicularizado.

FAIXAS DO DISCO:

01. A Festa Do Santo Reis
02. Nao Quero Dinheiro (So Quero Amar)
03. Salve Nossa Senhora
04. Um Dia Eu Chego La
05. Nao Vou Ficar
06. Broken Heart
07. Você
08. Preciso Aprender a Ser So
09. I Don´t Know What to Do With Myself
10. E Por Voce Que Vivo
11. Meu Pais
12. I Don´t Care

Download:
Clique aqui para baixar

CRÉDITO DA POSTAGEM:
http://www.cdscompletos.org/pop/tim-maia-a-festa-do-santo-reis/


Boi coração: um reisado de retorno

O reisado de caretas é uma brincadeira presente em todo o território cearense, sendo mais freqüentes no Sertão Central, onde o ciclo do gado influenciou a vida do sertanejo, conseqüentemente todo o seu imaginário e suas práticas culturais. Este folguedo tem como uma de suas raízes os tempos das antigas Festas de Entrudo na Região Ibérica. No Brasil essas festas se fundiram a diversas influências indígenas e negras variando suas formas de manifestação cultural de região para região, tornando singular cada reisado e suas formas de expressão.

No presente trabalho procuramos mostrar um pouco do Reisado de Caretas Boi Coração e compreender a historicidade dos reisados de caretas em Cipó dos Anjos, distrito do município de Quixadá - Ceará. Tentando compreender as mudanças e permanências na sua representatividade e comentar sobre o significado de cada personagem dentro do folguedo.


OS CARETAS OU PAPANGUS


PARA SABER MAIS: http://boicoracao.blogspot.com

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ESPERANDO NA JANELA



Não é de nosso hábito publicar foto-legendas em nosso blog, mas esta me prendeu a atenção pelo inusitado e sobretudo pelas inúmeras situações que pode sugerir. O autor da foto, poeta Silvio R. Santos, disse-me que além da "pé-de-aço" havia também alguns meninos no interior do casebre aparentemente abandonado. Se Padre Vieira garantia que o jumento é nosso irmão, é preciso evitar qualquer relação incestuosa com as fêmeas da espécie. O amigo Ronaldo Cavalcante, grande observador, assegura que foi esta foto a causa maior da inspiração do compositor Targino Gondim quando compôs o clássico do repertório de Gilberto Gil: ESPERANDO NA JANELA...

Por isso eu vou na casa dela, ai
Falar do meu amor por ela, vai
Tá me esperando na janela, ai
Não sei se vou me segurar...


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CORDEL LEGAL


A matéria a seguir foi publicada na REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, edição nº 76, de janeiro de 2012 e trata sobre o Depósito Legal de folhetos na BN. Essa mesma edição traz uma matéria sobre Leandro Gomes de Barros intitulada "O atirador de palavras". Confiram! A revista já está nas bancas:

Cordel legal

É raro um cordelista enviar suas obras para a Biblioteca Nacional, mas uma nova política deverá garantir o aumento do acervo

Alice Melo
2/1/2012
  • Pelo menos um exemplar de cada obra impressa no Brasil deve ser enviado à Biblioteca Nacional pelo responsável por sua publicação. Isto é o que determina uma lei chamada Depósito Legal, sancionada em 2004, que tem o objetivo de preservar a memória nacional. Oito anos se passaram e a norma ainda não funciona muito bem para coleções alimentadas por escritores independentes, como poetas da literatura de cordel. Para se ter uma ideia, a BN tem apenas 2.000 folhetos deste gênero literário no acervo – contra, por exemplo, os 9.000 pertencentes à Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). O número reduzido levou recentemente a instituição a adotar uma política de incentivo ao crescimento da cordeoteca, esperando motivar cordelistas de todo o país a enviar sua produção para o Depósito Legal.

    Esta política se baseia na divulgação da lei na imprensa e na realização de parcerias com instituições que trabalham com este tipo de material. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), que conta com mais de 13.000 folhetos em seu acervo, é um destes casos. No fim do mês, a ABLC doará 1.000 exemplares diferentes à BN. “Eu apoio de coração o crescimento da cordelteca da Biblioteca”, diz Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia e cordelista de longa data. “Mas reconheço que será uma missão difícil, porque em geral, quando o autor descobre que é obrigação dele enviar exemplares para algum lugar, simplesmente vira as costas. Imagine um sertanejo que produz um cordel para ler no fim de semana para os amigos da feira. Veja se ele vai comprar envelope, botar nos Correios e mandar aquilo de graça para o Rio de Janeiro?”. Difícil.
    Quando perguntado sobre a prosperidade do arquivo da ABLC, Gonçalo responde sem papas na língua: “O segredo se chama dinheiro. Compro todos os folhetos com meu salário. Os autores falam um para o outro e acabam me mandando. Se tivéssemos verba para ir de feira em feira no Nordeste, ninguém segurava a gente”. Milena Viana, coordenadora do projeto no Depósito Legal, concorda com Gonçalo e diz que outro fator agravante nesta situação é a falta de pesquisadores no Brasil vinculados à BN, capazes de localizar os autores desse tipo de literatura. (...)

    Leia mais na edição de janeiro (
    www.revistadehistoria.com.br)

A seguir, poema de DALINHA CATUNDA, em prol do Depósito Legal:


BIBLIOTECA NACIONAL
   DEPÓSITO LEGAL
 
I
Cordel não está só nas feiras,
Saiu também do sertão
Assim sendo se espalhou
Por toda nossa nação.
Na boca do violeiro
Vai despontando arteiro
Em rádio e televisão.
II
A grande Biblioteca,
Nomeada Nacional
Vai fazer uma campanha,
Movimento sem igual
Para arrecadar cordel
Pois sabe que é seu papel
Ter bom acervo atual.
III
No depósito Legal,
Ficará sua produção.
Com certeza bem cuidada
Será na repartição.
Ocupando tal espaço
Ela dará novo passo,
Em prol da divulgação.
IV
Feche com esta campanha,
Cordelista Brasileiro,
Mostre que nosso Brasil,
Do cordel hoje é celeiro
Espalhe nossa cultura,
Pois cordel literatura
Está no país inteiro
V
Já fui a Biblioteca
Fazer minha doação.
Daniele Recebeu
Toda minha produção.
Fui muito bem recebida
Estou muito agradecida
Pela total atenção.
VI
Você que escreve cordel,
Aproveite a ocasião.
No depósito legal
Dê sua contribuição,
Pois terá sua memória
Registrada na história,
Que conta nossa nação.
*

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

FRAGMENTOS POÉTICOS


O MARCO CIBERNÉTICO
DO REINO DOS TRÊS MONÓLITOS
Autor:  Arievaldo Viana
 (TRECHOS)


Nos  sertões do Ceará
Há mais de cinco milênios
Havia um reino imponente
Obra de fadas e gênios
Com três castelos vistosos
Quais luminosos poscênios.

Nesse tempo tão distante
O índio selvagem, inculto,
Que habitava essas terras
Um dia avistou um vulto
De uma grande espaçonave
Conduzindo um povo culto.

Vinha de outra galáxia
Aquela grande astronave
Pousou em nosso planeta
A fim de trazer a chave
De grandes conhecimentos
Mas padeceu um entrave.

Os índios ficaram atônitos
Com a súbita aparição
Pois julgavam que Tupã
Vinha no grande clarão
Na sua rude linguagem
Buscavam uma explicação.

Vinham naquela missão
Engenheiros, cientistas,
Sacerdotes, artesãos,
Astrólogos e alquimistas
Matemáticos e geólogos
Poetas e repentistas.

Olhando o povo atrasado
Que habitava o lugar
Com muito zelo e cuidado
Quiseram os ensinar
Mas aquela raça inculta
Nada pôde assimilar.

Exilados neste mundo
Sua tecnologia
Mostrou-se pouco eficaz
E recorreram à magia
Para encantar os três reinos
Que aqui fundaram um dia.

Cristalizaram os castelos
Com tudo que existia
Uma camada de rocha
Fruto de grande magia
A sua esplêndida aparência
Ocultava e revestia.

Três monólitos de pedra
De assombrosa semelhança
Ocultaram os três castelos
Dos quais só resta a lembrança
No verso dos trovadores
Do reino da Esperança.

O enorme conhecimento
Daquela raça suprema
Para as gerações futuras
Será um ditoso tema
Que pretendo revelar
Nos versos do meu poema.

Só numa era futura
Remota e bem distante
Os três reinos encantados
Com seu astral fulgurante
Virão a desencantar
De maneira triunfante.

Ao pé do primeiro reino
Mesmo no sopé do monte
Existe uma pedra estranha
Da cor de um rinoceronte
Da qual jorra sem cessar
Uma maviosa fonte.

É a fonte das Coronhas
De todos bem conhecida
A vegetação nativa
A deixa bem escondida
Mesmo nos anos de seca
Ela é a fonte da vida.

As aves cantam nos galhos
Trina a cigarra na mata
Os cristais resplandescentes
Parecem de ouro e prata
E o olho d’água da fonte
Jorra em suave cascata.

No sopé da cordilheira
Que se ergue abruptamente
O sabiá laranjeira
Canta sublime e plangente
O sol dardeja os seus raios
Tocando a alma da gente.

(...)


Lançamento TUPYNANQUIM EDITORA


Casarão da Fazenda Ouro Preto, próxima ao Serrote dos Três Irmãos, onde o autor viveu até os 10 anos de idade. A casa foi construída por seus avós Manoel Barbosa Lima e Alzira de Sousa Lima, em meados da década de 1950.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

LEANDRO NA REVISTA DE HISTÓRIA

Leandro Gomes de Barros, desenho de Arievaldo Viana

O atirador de palavras

Em seus milhares de folhetos, o cordelista Leandro Gomes de Barros dá voz aos figurantes mudos da História

Francisco Cláudio Alves Marques
2/1/2012

  • De um lado, políticos, oligarcas e coronéis eloquentes; de outro, uma população formada principalmente por analfabetos e despolitizados, que assistiam a tudo em silêncio. Esta é a imagem que a historiografia tradicional costuma transmitir sobre as primeiras décadas da República. Mas, à margem da literatura oficial, havia um discurso contrário ao regime que se formou, como mostram os folhetos satíricos do poeta nordestino Leandro Gomes de Barros (1865–1918). Muitos poetas populares escreveram no período, mas o nome que se destaca é o deste paraibano, pela forma satírica como tratou a realidade política e social.
    Ele nasceu na Fazenda Melancia, em Pombal, Paraíba, e ainda jovem mudou-se para Pernambuco. Morou em Vitória de Santo Antão, Jaboatão e Recife. Na capital, foi pioneiro na produção sistemática de folhetos de cordel. Francisco das Chagas Batista (1882-1930), um dos primeiros editores do gênero, incluiu Leandro entre os chamados “poetas de gabinete”, assim denominados os que escreviam cordel e insistiam em declarar que não eram cantadores ou que jamais participaram de cantorias. O folclorista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) chegou a fazer uma estimativa e tanto sobre Leandro: ele teria publicado “mais de dez mil folhetos, vivendo exclusivamente de sua pena”.
    Apesar da escolaridade precária, Leandro e tantos outros poetas populares eram homens de interesses literários variados e leitores assíduos de mais de um jornal. Sabiam verter para a linguagem do folheto as notícias veiculadas pelos meios de comunicação oficial, de modo que, por intermédio deles, o povo se mantinha informado das sanções impostas pelo governo, das medidas econômicas e das disputas eleitorais que ocorriam em todo o país durante a Primeira República. Ofolheto, conhecido como o “jornal do sertão”, era a única fonte de informação e entretenimento para aqueles que não tinham acesso às revistas ilustradas e aos jornais lidos pela elite letrada. (...)

    Leia mais na edição de janeiro.  (Revista de História da Biblioteca Nacional)