João Melchíades Ferreira
(Resumo biográfico elaborado pela Fundação Joaquim Nabuco) Lúcia Gaspar Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco O poeta popular e cantador João Melchíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras, Paraíba, em 7 de setembro de 1869. Filho de pequenos proprietários ficou órfão de pai muito cedo. Nunca freqüentou a escola. Aprendeu a ler com o beato Antônio Simão que pregava o catolicismo e alfabetizava adultos e crianças, por ordem do Padre Ibiapina. Entrou para o exército aos 19 anos e, cinco anos depois, foi promovido a sargento. Combateu os partidários de Antônio Conselheiro na Guerra de Canudos, em 1897, e participou das campanhas do Acre, na disputa de território entre o Brasil e a Bolívia, em 1903. Em 1904, depois de reformado do Exército voltou a morar na capital paraibana, onde casou e teve quatro filhos, tornando-se poeta popular e cantador. Segundo alguns, era mais poeta popular do que cantador, não se enquadrando como um repentista nato. Intitulava-se o Cantor da Borborema e é invocado, com nome e codinome, na obra de Ariano Suassuna A Pedra do Reino. É autor do folheto A Guerra de Canudos, o primeiro cordel sobre Antônio Conselheiro, publicado no início do século XX que, apesar de não ter sido assinado, foi identificado como seu pelo pesquisador José Calasans. Os seus folhetos, na sua grande maioria, eram revisados e impressos na tipografia do seu amigo Francisco das Chagas Batista. Considerado um dos grandes poetas populares da primeira geração de cordelistas do Nordeste brasileiro, Melchíades já publicava folhetos com regularidade em 1914. Era um poeta-cronista da sua região de origem, principalmente da Serra da Borborema, narrando histórias e feitos dos seus habitantes, beatos, heróis e valentes, além de descrever seus usos e costumes. Estima-se que seja autor de 36 cordéis. Da sua obra podem ser destacados, além d’A Guerra de Canudos, O Pavão Misterioso; História do valente sertanejo Zé Garcia; As quatro órfãs de Portugal ou o valor da honestidade; Combate de José Colatino com o Carranca do Piauí; História de Rosa Branca de castidade; História de Antonio Silvino; A história de Carlos Magno e os 12 pares de França; Peleja de Joaquim Jaqueira com João Melquíades; História do Rei do Meio Dia e a moça pobre; História sertaneja; Quinta peleja dos protestantes com João Melquíades; História do viadinho e a moça da floresta; O príncipe Roldão no Leão de Ouro; A besta de sete cabeças; As quatro moças do céu: fé, esperança, caridade e formosura João Melchíades Ferreira da Silva morreu em João Pessoa no dia 10 de dezembro de 1933. Recife, 15 de dezembro de 2008. (Atualizado em 28 de agosto de 2009). FONTES CONSULTADAS: ALMEIDA, Átila Augusto F. de; ALVES SOBRINHO, José. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada. João Pessoa: UFPB, Editora Universitária; Campina Grande: Centro de Ciências e Tecnologia - UFPB, 1978. v. 1. BENJAMIM, Roberto. João Melchíades Ferreira: biografia. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoaoMelquiades/joaoMelquiades_biografia.html>. Acesso em: 5 dez. 2008. GRILLO, Maria Ângela de Faria. A arte do povo: histórias na literatura de cordel (1900-1940).255 f. 2005. Tese (Doutorado em História).- Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2005. JOÃO Melchíades Ferreira: poeta popular. Disponível em:<http://fotolog.terra.com.br/editora_coqueiro%3A503>. Acesso em: 5 dez. 2008. COMO CITAR ESTE TEXTO: Fonte: GASPAR, Lúcia. João Melchíades Ferreira. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: dia mês ano. Ex: 6 ago. 2009. JOÃO MELCHIADES E A GUERRA DE CANUDOS A visão de JOÃO MELCHÍADES sobre a Guerra de Canudos não poderia ser outra. Ele era militar, membro do Exército Brasileiro e ex-combatente de Canudos. É natural que assumisse a defesa da República, contra a ideologia pregada e praticada por Conselheiro e seus adeptos. Diferentemente de Euclides da Cunha, ele não viu nenhum mérito naquele grupo de valentes sertanejos que se insurgiu (e venceu, em algumas ocasiões) o Exército brasileiro. Eis alguns trechos do poema, possivelmente o primeiro escrito sobre a tragédia que abalou os sertões da Bahia: A GUERRA DE CANUDOS* No ano noventa e seis o Exército brasileiro Achou-se então comandado Pelo general guerreiro De nome Arthur Oscar Contra um chefe cangaceiro. Ergueu-se contra a República O bandido mais cruel Iludindo um grande povo Com a doutrina infiel Seu nome era Antônio Vicente Mendes Maciel. De alpercatas, um cajado Armado de valentia Seu pensamento era o crime Outra coisa não queria Agradou-se de Canudos Que é sertão da Bahia. E para iludir ao povo Ignorante do sertão Inventou fazer milagres Dizia em seu sermão Que virava a água em leite Convertia pedra em pão. Criou-se logo em Canudos Um batalhão quadrilheiro Para exercitar os crimes Desse chefe canganceiro Então lhe deram tres nomes De Bom Jesus Conselheiro. (...) Um dos momentos mais brilhantes da narrativa, onde Melchíades se vê forçado a reconhecer a bravura dos conselheiristas, trata-se justamente do momento da fuga desesperada do General Tamarindo: No Angico, Tamarindo Terminou sua partida Foi varado de uma bala Dizendo: " - Pela ferida, Dou quatro contos de réis A quem salvar minha vida!" Senhor Major Cunha Matos Tome conta da brigada Sustenta o fogo de costas Com a mesma retirada E não me deixe morrer Nas mãos dessa jagunçada. Escapa, escapa soldado, Quem tiver perna que corra Quem quiser ficar que fique Quem quiser morrer que morra Há de nascer duas vezes Quem sair desta gangorra. * A íntegra do poema pode ser encontrada na Antologia da Literatura de Cordel, de Sebastião Nunes Batista, publicada em 1977 pela Fundação José Augusto, de Natal-RN. Acreditamos que o mesmo tenha sido publicado na Popular Editora, de Chagas Batista, depois que Melchíades foi reformado do Exército e passou a se dedicar ao cordel e à cantoria. OUTRA VISÃO SOBRE O CONSELHEIRO Recomendamos também a leitura da obra 'A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO', do poeta Geraldo Amâncio, uma obra-prima que narra magistralmente a Saga de Canudos, escrito mais de 100 anos após a publicação do folheto de João Melchíades. Lançamento da Editora IMEPH, com ilustrações do artista plástico Kazane, a obra saiu em edição bem cuidada, impressa em papel de boa qualidade com capa e miolo coloridos. A visão de Geraldo Amâncio é totalmente oposta a de João Melchíades. Uma prova de que o cordel evoluiu não apenas na linguagem, mas também na visão crítica dos fatos que compõem a história. Seguem trechos de: A HISTÓRIA DE ANTONIO CONSELHEIRO (Geraldo Amancio) Conselheiro foi um homem De espírito combativo. Obstinado e valente, Decidido e combativo. Com tanta sabedoria Conselheiro merecia Por mil anos ficar vivo. Do homem cresce o valor Quando a história compara. O Brasil tem a mania De enaltecer Che Guevara Talvez por ser estrangeiro. Nosso Antonio Conselheiro Foi uma jóia mais rara. (...) Montou primeiro um comércio Para comprar e vender. No magistério ensinava Ler, contar e escrever. E no foro trabalhava, De toda forma buscava Meios pra sobreviver. Em qualquer trabalho tinha Bravura e muita coragem. Porém, Euclides da Cunha Denegrindo a sua imagem De uma maneira mesquinha Diz n"Os Sertões que ele tinha Tendência pra vadiagem. (...) Com o padre Ibiapina Muitas lições aprendeu. Esse sim, amou os pobres, Do que tinha ofereceu. Angariou donativos... "É melhor dar pão aos vivos Do que chorar quem morreu". Antonio tornou-se arauto Dos sem pátria, dos sem nome. Sabia ouvir o sussurro Da multidão que não come. Uniu sua mágoa a eles, Porque também era um deles Conhecia a dor da fome. (...) Conselheiro interpretava A Bíblia à sua maneira. Não obedecia a bispo, Nem a padre, nem à freira. Se ainda existisse a mão Da tal Santa Inquisição Seu destino era a fogueira. Com isso, logo alguns padres Mostraram-se intolerantes Dizendo que as leis da Terra Tinham de ser como antes: Que o cobre se desse ao nobre, Tinha que haver rico e pobre, Os mandados e os mandantes. (...) Naqueles sertões desertos, De esquisitos carrascais, Multidões embevecidas Ouviram sermões de paz Do maior dos conselheiros. Isso para os fazendeiros Era incômodo demais. |
Ary,
ResponderExcluirGostaria de deixar aqui meus versos sobre a polemica autoria do Pavão Misterioso.
VOA!!! PAVÃO, VOA!!!!
PAVÃO MISTERIOSO!!!!
I
O cordel tem dado mostras
De sua versatilidade
Navega na internet
Com a maior tranqüilidade
Escreve em verso o jornal
Cultura imaterial
É tema da atualidade.
II
Chegando à modernidade,
O cordel virou “global”
Vem de muitos idos tempos,
Na TV é cabedal.
Está presente na tela:
Acompanhe a novela.
Lá tem papel virtual.
III
Ouvimos muito falar
De um pavão encantado
De um pássaro formoso,
Em um reino afastado
Repleto de peripécia
“Que levantou vôo da Grécia”
De amor acalantado
IV
Foi num antigo reinado
Nos tempos da oralidade
Onde havia uma princesa
Menina de pouca idade
O seu pai muito grosseiro
Trancou-a em cativeiro
Num reino de falsidade
V
Essa história tem versões
De poeta afamado
José Camelo de Melo
É o mais reivindicado
Pela autoria dos versos
Por motivos adversos
Foi por outro aclamado.
VI
Esse outro poeta foi
O Melquíades Ferreira
Que vendeu muito folheto.
João Camelo, na carreira
Desgostoso e bem zangado
Rasgou os versos guardados,
Que não venderam na feira
VII
Tá chegando o Carnaval:
A temática é cordel.
O Salgueiro homenageia
Nosso vate menestrel
O poeta bem atento,
Acompanha o seguimento
Observando o plantel
VIII
Agora vem o Salgueiro
Com o Pavão Misterioso
Trazendo no seu desfile
Também Boi Misterioso
Tem zabumba, tem pandeiro
E tem velho mandingueiro:
Carnaval ambicioso
IX
Pavão Misterioso chega
Na avenida, vem voando
Soltando as suas plumas
A arquibancada gritando:
Voa, voa meu Pavão
Hoje é dia do povão
O Pavão está abafando
(Rosário Pinto)
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Abra o link e leia mais de 10 edições distintas e, realize suas pesquisas em:
http://www.docvirt.no-ip.com/asp/folclore.asp?bib=cordel&pasta=C0848
SILVA, João Melquíades Ferreira da. História do pavão misterioso. Ed. Especial. Campina Grande: [s.n.], 1955. 32 p.
Observe a nota ao final do folheto:
Esta edição traz uma nota do poeta Abraão Batista acerca da autoria.
"Segundo Expedito Sebastião da Silva, poeta gráfico da antiga Editora de José Bernardo. João Melquíades plagiou o Pavão Misterioso, o "original" de José Camelo de Melo. O plágio vendeu melhor do que o original. A gráfica José Bernardo segui o gosto popular. José Camelo, desgostoso rasgou o seu original que perdera a concorrência"
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Viste ainda:
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www.ablc.com.br
www.cnfcp.gov.br
http://cordeldesaia.blogspot.com
http://cantinhodadalinha.blogspot.com
bom...
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