Chico dos Romances (foto: Arievaldo Vianna)
CHICO DOS ROMANCES
E A “ENCANTARIA” DO CORDEL
No princípio
da década de 1980, ainda criança, eu trabalhava como camelô nas ruas de
Canindé, no período da romaria a São Francisco das Chagas. De agosto a dezembro
eu perambulava pelo Bar Canindé, Abrigo dos Romeiros na rua Euclides Barroso
(antiga Rua da Palha), Alto do Custódio porém preferia mesmo a rua João Pinto
Damasceno, que fica às margens do rio Canindé e dá acesso à Basílica do
padroeiro no sentido norte-sul.
Sempre fui
admirador incondicional da Literatura de Cordel e numa dessas incursões pela
João Pinto deparei com o poeta e folheteiro piauiense Francisco Peres de Sousa,
o Chico dos Romances, no saguão do Hotel Santo Antônio, arrumando a sua mala de
romances para começar a sua atividade numa das praças da cidade. Acheguei-me do
poeta e pedi para ver os títulos que ele trazia. Praticamente não havia nenhum
clássico daqueles editados em Juazeiro do Norte ou Campina Grande. Eram
folhetos de sua própria lavra e alguns de Lucas Evangelista, que ele conseguia
mediante permuta. Gostei de dois títulos e os adquiri: “História de Sete
Cidades ou a Deusa da Encantaria” e “O homem que era ateu e uma graça alcançada
por São Francisco”. Comecei a ler imediatamente. Mas os versos, lidos em voz
baixa, não tinham o mesmo encanto, o mesmo sabor de quando declamados pela voz
de seu autor, que é um verdadeiro show-man. Chico dos Romances é um declamador
de grandes recursos, que prende a atenção do público com gracejos, inflexões na
voz e a magia dos seus olhos azuis e hipnóticos.
Passaram-se
os anos. Muito tempo depois ouvi falar novamente de Chico dos Romances num
livro do pesquisador Gilmar de Carvalho: “Poetas do Povo do Piauí’. Soube um
pouco de sua biografia e fiquei contente ao constatar que ainda estava lúcido e
em plena atividade. "Um personagem saído dos livros de Guimarães
Rosa!" É assim que o descreve Gilmar de Carvalho em sua obra.
Ao ser
convocado pela professora Rosilene Melo para uma pesquisa patrocinada pelo IPHAN, cujo objetivo era
fazer um levantamento dos poetas em atividade para reconhecimento do CORDEL, da
CANTORIA e do ABOIO como patrimônio imaterial do povo brasileiro, fiz questão
de ir até o Piauí e, na companhia do poeta Raimundo Clementino, fomos até
Piripiri onde vive o poeta Francisco Peres de Sousa, atuando nas feiras,
declamando e compondo novos folhetos.
Primeiro
entrevistei os poetas radicados em Teresina - Joames, Marina Campelo, Ilza
Bezerra, mestre José Barbosa, dr. Pedro Ribeiro. Depois fui ao programa de
rádio do professor Wilson Seraine que me deu a preciosa dica: "- Rapaz,
você precisa ir a Piripiri entrevistar o Chico dos Romances... Um velhinho
engraçado dos zóio bem azuzim, que
declama bem e conversa pelos cotovelos”.
Foi uma das
entrevistas mais rendosas e interessantes. É um dos depoimentos que pretendo
peneirar, aprofundar e transformar em livro num futuro próximo. Peres me disse
que começou a produzir seus folhetos ainda na adolescência e teve como primeiro
editor o saudoso poeta Joaquim Batista de Sena (Tipografia Graças Fátima,
situada na Rua Liberato Barroso, em Fortaleza) de quem foi discípulo e
companheiro de muitas jornadas pelo Brasil afora. Mas, por enquanto, apresento
a vocês tão somente um resumo biográfico de CHICO DOS ROMANCES, extraído de um
site de Piracuruca, terra natal do poeta:
Francisco Peres de Souza (Piracuruca, 1 de abril de 1939) - Nascido
no local Retiro, município de Piracuruca-PI, em 01 de abril de 1939, filho de
Gerviz Rosa de Sousa e Paulo Pereira Neres, Chico do Romance aparenta uma
jovialidade na sua narração diária de seus cordéis e na presteza com que atende
seus clientes. Se for entrevista se prepare para passar a manhã toda... É que
ele se sente orgulhoso aos extremos de sua obra literária.
Perdendo a mãe quando tinha apenas um ano de idade, o futuro
cordelista foi morar em com a avó materna, a qual também faleceu cedo, quando
Chico tinha apenas seis anos. Mais um golpe na vida do pequeno Francisco Perez.
Mas sua predestinação lhe reservava um futuro gratificante. Sua biografia, que consta em seus “romances”
diz:
Pequeno, ajudava seu pai na
lavoura, mas logo veio morar em Piripiri, onde começou a cantar folhetos para
os amigos, daí surgiu sua paixão pela literatura de cordel, onde descobriu que
em si brotava a poesia, morando com sua tia Cecília em Piripiri e cantando nas
casas de fazenda. Viajando para Fortaleza, depois com os melhores poetas da época,
viajou pelo Piauí, Ceará, Maranhão, Goiás e Pará. Nas estradas de chão tudo
isso dos 10 aos 30 anos.
Depois passou uns tempos em
Fortaleza-Ceará, onde afirma ter penado muito, sem dinheiro e sem ter onde
morar, fazendo bicos para sobreviver.
Redigindo seus textos
fantásticos e sempre cativantes, Chico do Romance estreou como cordelista com
15 anos de idade, e hoje já contabiliza mais de 200 obras editadas. A princípio
os cordéis eram impressos pelo tradicional método da xilogravura, ou seja, a
matriz de impressão eram chapas de madeira esculpidas. É que as impressões
tipográficas eram muito caras nos tempos idos.
A partir do início dos anos 1970, com a disseminação do sistema
offset, que barateou os custos elevados do sistema tipográfico, Chico do Romance
passou a imprimir seus trabalhos na gráfica de Gilberto Mendes (em Campo Maior)
e posteriormente, na gráfica do ex-prefeito de Piripiri, Arimatéia Melo. Hoje
seus trabalhos são impressos em impressoras de computador.
O cordelista casou-se aos 21 Anos de idade com Luzia Pessoa de Sousa,
e criou família com nove filhos em Piripiri, onde reside, sempre tendo como
trabalho principal a edição e venda de obras de cordel. Mora hoje no bairro
piripiriense do recreio.
Com 75 anos completados em primeiro de abril de 2014 e em pleno vigor
para escrever e ministrar palestras, Chico do Romance é sempre requisitado para
fazer palestras e declamar suas poesias populares em colégios, academias,
centros culturais, além de se fazer sempre solícito para entrevistas de jornais,
Tvs, sites, etc.
UM EXEMPLO NOTÁVEL DA CULTURA POPULAR
DE LITERATURA DE CORDEL DO PIAUÍ
Sua biografia acrescenta ainda, dentre tantas homenagens:
Participou de 17 a 21/08/2009 da I Mostra da cultura Popular,
realizada na Casa da cultura em Teresina, recebendo a Comenda Fontes Ibiapina.
Nos dias 26 e 27 de novembro de 2009, o poeta participou da II Conferência
Estadual de Cultura do Piauí, em Teresina, no Clube Atlantic City. Por último,
teve ao dia 24 de abril do ano de 2010
outorgado o título de Sócio Honorário da Casa do Padre Freitas, pela ACALPI
(Academia de Ciências, Artes e Letras de Piripiri).
Destacam-se, nas suas centenas de obras: História das Sete Cidades e a Deusa da Encantada; Padre Domingos de
Freitas e Silva-Fundador de Piripiri; Homenagem ao Piripiri do Século; Pequenos
Dados Biográficos de Virgulino Ferreira da Silva - O Lampião; História do
Catirina (Lenda de Sete Cidades); As Bravuras de José Pela princesa Franluzia
etc.
Piripiri se orgulha de ter entre seus filhos adotivos um dos maiores
nomes da literatura cordelista do Brasil.
Fonte:
fonte;http://www.piracuruca.com/
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