Ilustração: Jô Oliveira
16 de junho é uma data especial. É o aniversário de nascimento do grande ARIANO SUASSUNA. Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de Nossa Senhora das Neves na Paraíba, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, filho de Rita de Cássia Vilar Suassuna e JoãoSuassuna. ... Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá, na Paraíba.
A CHEGADA DE ARIANO SUASSUNA NO CÉU
Por
Klévisson Viana e Bule-Bule
Nos palcos
do firmamento
Jesus
concebeu um plano
De montar um
espetáculo
Para Deus
Pai Soberano
E, ao
lembrar de um dramaturgo,
Mandou
buscar Ariano.
Jesus
mandou-lhe um convite,
Mas Ariano
não leu.
Estava
noutro idioma,
Ele num
canto esqueceu,
Nem sequer
observou
Quem foi que
lhe escreveu.
Depois de um
tempo, mandou
Uma segunda
missiva.
A secretária
do artista
Logo a dita
carta arquiva,
Dizendo: —
Viagem longa
A meu mestre
não cativa.
Jesus sem
ter a resposta
Disse torcendo
o bigode:
— Eu vejo
que Suassuna
É teimoso
igual a um bode.
Não pode,
mas ele pensa
Que é
soberano e pode!
Jesus, já
perdendo a calma,
Apelou pra
outro suporte.
Para cumprir
a missão,
Autorizou
Dona Morte:
— Vá buscar
o escritor,
Mas vê se
não erra o corte!
A morte veio
ao País
Como turista
estrangeiro,
Achando que
o Brasil
Era só Rio
de Janeiro.
No rastro de
Suassuna,
Sobrou pra
Ubaldo Ribeiro.
Porém, antes
de encontrá-lo,
Sofreu um
constrangimento
Passando em
Copacabana,
Um malfazejo
elemento
Assaltou ela
levando
Sua foice e
documento.
A morte
ficou sem rumo
E murmurou
dessa vez:
— Pra não
perder a viagem
Vou vender
meu picinez
Para comprar
outra foice
Na loja de
algum chinês.
Por um e
noventa e nove
A dita foice
comprou.
Passando a
mão pelo aço,
Viu que ela
enferrujou
E disse: —
Vai essa mesma,
Pois comprar
outra eu não vou!
A morte saiu
bolando,
Sem direção
e sem tino,
Perguntando
a um e a outro
Pelo
escritor nordestino,
Obteve
informação,
Gratificando
um menino.
Ao encontrar
João Ubaldo,
Viu
naufragar o seu plano,
Se lembrando
da imagem
Disse: —
Aqui há um engano.
Perguntou
para João
Onde é que
estava Ariano.
Nessa hora
João Ubaldo,
Quase
ficando maluco,
Tomou um
susto arretado,
Quando ali
tocou um cuco,
Mas,
gaguejando, falou:
—Ele mora em
Pernambuco!
A morte
disse: — Danou-se
Dinheiro não
tenho mais
Para viajar
tão longe,
Mas Ariano é
sagaz.
Escapou mais
uma vez,
Vai você
mesmo, rapaz!
Quando
chegou lá no Céu
Com o
escritor baiano,
Cristo lhe
deu uma bronca:
— Já foi
baldado o meu plano.
Pedi um da
Paraíba
E você
trouxe um baiano.
João Ubaldo
é talentoso,
Porém não
escreve tudo.
“Viva o Povo
Brasileiro”
É sua obra
de estudo,
Mas quero
peça de humor,
Que o Céu tá
muito sisudo.
Foi
consultar os arquivos
Pra ressuscitar
João,
Mas achou
desnecessário,
Pois já era
ocasião
Pra ele vir
prestar contas
Ali na Santa
Mansão.
Jesus olhou
para a Morte
E disse
assim: — Serafina,
Vejo não és
mais a mesma.
Tu já foste
mais malina,
Tá com pena
ou tá com medo,
Responda
logo, menina?!
— Jesus, eu
vou lhe falar
Que preciso
de dinheiro.
Ariano mora
bem
No Nordeste
brasileiro.
Disse o
Cristo: —Tenho pressa,
Passe lá no
financeiro!
— Só faço
que é pra o Senhor.
Pra outro,
juro não ia.
Ele que se
conformasse
Com o escritor
da Bahia.
Se
dependesse de mim,
Ariano não
morria.
A morte na
internet
Comprou
passagem barata.
Quase morria
de susto
Naquela
viagem ingrata.
De vez em
quando dizia:
— Eita que
viagem chata!
Uma aeromoça
lhe trouxe
Duas barras
de cereais.
Diz ela: —
Estou de regime.
Por favor,
não traga mais,
Porque se
vier eu como,
Meu apetite
é voraz!
Quando
chegou no Recife,
Ficou ela de
plantão
Na porta de
Ariano
Com sua
foice na mão,
Resmungando:
— Qualquer hora
Ele cai no
alçapão!
A morte
colonizada,
Pensando em
lhe agradar,
Uma faixa
com uma frase
Ela mandou
preparar,
Dizendo:
“Welcome Ariano”,
Mas ele não
quis entrar.
Vendo a tal
faixa, Ariano
Ficou muito
revoltado.
Começou a
passar mal,
Pediu pra
ser internado
E a morte
foi lhe seguindo
Para ver o
resultado.
Eu não sei
se Ariano
Morreu de
raiva ou de medo.
Que era
contra estrangeirismos,
Isso nunca
foi segredo.
Certo é que
a morte o matou
Sem lhe
tocar com um dedo.
Chegou no
Céu Ariano,
Tava a porta
escancarada.
São Pedro
quando o avistou
Resmungando
na calçada,
Correu logo
pra o portão,
Louvando a
sua chegada.
Um anjinho
de recado
Foi chamar o
Soberano,
Dizendo: - O
Senhor agora
Vai
concretizar seu plano.
São Pedro
mandou dizer
Que aqui
chegou Ariano.
Jesus saiu
apressado,
Apertando o
nó da manta
E disse
assim: — Vou lembrar
Dessa data
como santa
Que a arte
de Ariano
Em toda
parte ela encanta.
São Pedro lá
no portão
Recebeu bem
Ariano,
Que chegou
meio areado,
Meio confuso
e sem plano.
Ao perceber
que morreu,
Se valeu do
Soberano.
Com um
chapelão de palha
Chegou
Ascenso Ferreira,
O grande
Câmara Cascudo,
Zé Pacheco e
Zé Limeira.
João Firmino
Cabral
Veio
engrossar a fileira.
E o próprio
João Ubaldo
(Que foi pra
lá por engano)
Veio de
braços abertos
Para abraçar
Ariano.
E esse
falou: - Ubaldo,
Morrer não
tava em meu plano!
Logo chegou
Jorge Amado
E o ator
Paulo Goulart.
Veio também
Chico Anysio
Que começou
a contar
Uma anedota
engraçada
Descontraindo
o lugar.
Logo chegou
Jesus Cristo,
Com seu
rosto bronzeado.
Veio de
braços abertos,
Suassuna
emocionado
Disse assim:
— Esse é o Mestre,
O resto é
papo furado!
Suassuna
que, na vida,
Sonhou em
ser imortal,
Entrou para
Academia,
Mas
percebeu, afinal,
Que imortal
é a vida
No plano
celestial.
Jesus
explicou seus planos
De fazer uma
companhia
De teatro e
ele era
O escritor
que queria
Para
escrever suas peças,
Enchendo o
Céu de alegria.
Nisso Ariano
responde:
— Senhor, eu
me sinto honrado,
Porém
escrever uma obra
É serviço
demorado.
Às vezes
gasto dez anos
Para obter
resultado.
Nisso Jesus
gargalhou
E disse: —
Fique à vontade.
Tempo aqui
não é problema,
Estamos na
eternidade
E você pode
criar
Na maior
tranquilidade.
Um homem bem
pequenino
Com
chapeuzinho banzeiro,
Com um
singelo instrumento,
Tocou um
coco ligeiro
Falando da
Paraíba:
Era Jackson
do Pandeiro.
Logo chegou
Luiz Gonzaga,
Lindu do
Trio Nordestino,
E apontou
Dominguinhos
Junto a José
Clementino
E o grande
Humberto Teixeira,
Raul e Zé
Marcolino.
Depois
chegou Marinês
Com Abdias
de lado
E Waldick
Soriano,
Com um
vozeirão impostado,
Cantou
“Torturas de Amor”,
Como sempre
apaixonado.
Veio então
Silvio Romero
Com Catulo
da Paixão,
Suassuna
enxugou
As lágrimas
de emoção
E Catulo,
com seu pinho,
Cantou “Luar
do Sertão”.
Leandro
Gomes de Barros
Junto a
Leonardo Mota,
Chegou
Juvenal Galeno,
Otacílio
Patriota.
Até Rui
Barbosa veio
Com título
de poliglota.
Chegou
Regina Dourado,
Tocada de
emoção,
Juntinho de
Ariano,
Veio e
beijou sua mão
E disse: —
Na sua peça
Quero
participação.
Ariano
dedicou-se
Àquele
projeto novo.
Ao concluir
sua peça,
Jesus deu o
seu aprovo
E a peça foi
encenada
Finalmente
para o povo.
Na peça de
Ariano
Só participa
alma pura.
Ariano virou
santo,
Corrigiu sua
postura.
Lá no Céu
ganhou o título
Padroeiro da
cultura.
Os artistas
que por ele
Já nutriam
grande encanto
Agora
estando em apuros,
Residindo em
qualquer canto,
Lembra de
Santo Ariano
E acende
vela pro santo.
Ariano foi
Quixote
Que lutou de
alma pura.
Contra a
arte descartável
Vestiu a sua
armadura
Em qualquer
dia do ano
Eu digo:
viva Ariano
Padroeiro da
Cultura!