O cordelista e quadrinhista cearense Arievaldo Viana participa da edição deste ano da Flipinha
Sou matuto cearense/Nasci no Sertão Central/Chinelo e Chapéu de Couro/Foram o primeiro enxoval/Faço repente brincando/Aqui vou me apresentando/Para todo o pessoal...
Essa é somente uma das maneiras possíveis de conhecer o poeta cordelista Arievaldo Viana. De mala e cuia, o trovador está se preparando há alguns meses para embarcar em mais uma aventura andante. Dessa vez, rumo à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014, que tem início amanhã e se estenderá até domingo.
O convite veio no ano passado, com a ajuda do parceiro Jô Oliveira, responsável por boa parte das ilustrações dos textos do cordelista. Após divulgar alguns trabalhos de Arievaldo no mesmo evento, as portas se abriram naturalmente para a o autor cearense, que, neste ano, estará integrado as atividades da Flipinha, ação voltada para o público infantil. "A gente morando aqui em Fortaleza, no Ceará, fica um tanto quanto ilhado. Costumo receber mais convites daquelas regiões Sul, Sudeste, mesmo. Quase nunca no Nordeste", desabafa o poeta.
A proposta apresentada pelo "Dom Quixote do Letramento", como é lembrado em algumas ocasiões, quando realiza atividades do Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, em vigor desde 2000, é simples e curiosa: uma aula-espetáculo. "Eu bebi muito na fonte do mestre Ariano Suassuna. Assisti umas três ou quatro aulas dele e me encantava com aquela prosa fluente, aquela facilidade que ele tinha de decorar cordéis, trechos inteiros. Também peguei muito daqueles camaradas que cantavam folhetos nas feiras. Aproveito tudo nas palestras", conta.
Com uma bagagem de mais de duas horas de poesia na cabeça, Arievaldo pretende declamar para o público da Flipinha versos que vão além de sua produção. Patativa do Assaré, Alberto Porfírio e Luiz Campos são apenas alguns exemplos do que será cantando em terras fluminenses. A técnica para prender a atenção do público infanto-juvenil, o autor já aprendeu desde cedo. "Se você conseguir dominá-los nos primeiros cinco minutos, estará com eles o tempo que quiser. Se for um fiasco, pode apressar a coisa e sair pela tangente porque vai ser um fracasso. Por isso, é preciso mostrar a tradição, sem desprezar ou deixar de interagir com a tecnologia e a modernidade", reconhece.
Programação
A participação de Arievaldo na programação da Flipinha começa na sexta-feira (01). Pela manhã, o autor fará uma visita a Escola Casa da Criança, no bairro Patitiba, onde será homenageado pelos alunos. Sua primeira intervenção no evento acontece às 11h, no "Encontro com autor: Arievaldo Viana", um espaço aberto de apresentação para um grupo de crianças, na Biblioteca. É nesse momento que será aberta uma mala de romance, à moda dos folheteiros do passado. Dela sairão algumas das obras que serão trabalhadas durante a intervenção.
No sábado (2), a partir das 14h30, ele apresentará, na Tenda da Flipinha, o tema "Cultura popular e literatura", junto com o músico Fábio Sombra e o mediador Amaury Barbosa. "Vou mostrar várias modalidades do repente nordestino, como o martelo, a galopada. E o Fábio vai apresentar o calango mineiro, a trova gaúcha... Vamos mostrar que a literatura de cordel tem uma raiz em comum com a trova do mundo inteiro, não é uma coisa isolada, um fenômeno 100% nordestino", explica.
Na mesma tarde, a partir das 17h30, o cordelista se juntará aos outros 14 autores participantes da Flipinha - dentre os quais também merece destaque a cearense Socorro Acioli - para um momento de confraternização e homenagem a Millôr Fernandes, a quem será dedicada a Flip 2014.
Mas nem de longe essas são as únicas atividades que o autor pretende desempenhar no evento. O lançamento dos livros "João Bocó e o ganso de ouro" (FTD) e "Otelo e Desdêmona - O mouro de Veneza em cordel" (Pallas) também acontecerá durante a Flip. Além disso, outros trabalhos mais recentes, tais como uma coleção de cinco livros ambientados no sertão nordestino, com textos e ilustrações próprias, também será levada para a Festa. Oportunidades de ver e ouvir o cearense, portanto, não irão faltar.
Mais informações:
Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014, de 30 de julho
Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/mobile/cadernos/caderno-3/a-arte-de-desbravar-1.1067399