Patativa do Assaré - caricatura de Arievaldo Vianna
Que estrofe maravilhosa e apropriada para esse momento
difícil que atravessamos... o PODER da união do povo, no poema do imortal
PATATIVA DO ASSARÉ:
“As
formiga a defendê
Sua casa, o
formiguêro,
Botando o boi pra
corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.”
Cenário de Patativa do Assaré
Por: Marcos França
Muita gente ainda confunde poesia matuta com Literatura de Cordel. Em
2009, ano do Centenário de nascimento do poeta Patativa do Assaré, considerado
o maior expoente do gênero, os admiradores do poeta precisam fazer essa
distinção. Patativa, ao longo de sua vida, escreveu e publicou cerca de vinte
folhetos de cordel.
Dentre os quais destacam-se: "Abílio e seu cachorro Jupi",
"A morte de Arthur Pereira envenenado por sua filha Francisca
Amélia", "Aladim e a lâmpada maravilhosa", "O Padre
Henrique e o dragão da maldade", dentre outros, todos em linguagem
correta, como é prática comum nesse gênero desde os tempos de Leandro Gomes de
Barros. O grosso de sua produção, contudo, são poemas matutos, onde a linguagem
procura reproduzir o modo de falar dos sertanejos de outrora, como se pode ver
nesta obra a seguir:
O boi zebu e as formigas
Um boi zebu
certa vez
Moiadinho de
suó,
Querem saber
o que ele fez
Temendo o
calor do só
Entendeu de
demorá
E uns minuto
cuchilá
Na sombra de
um juazêro
Que havia
dentro da mata
E firmou as
quatro pata
Em riba de
um formiguêro.
Já se sabe
que a formiga
Cumpre a sua
obrigação,
Uma com
outra não briga
Veve em
perfeita união
Paciente
trabaiando
Suas foia
carregando
Um grande
inzempro revela
Naquele seu
vai e vem
E não mexe
com mais ninguém
Se ninguém
mexe com ela.
Por isso com
a chegada
Daquele
grande animá
Todas ficaro
zangada,
Começou a se
açanhá
E foro se
reunindo
Nas pernas
do boi subindo,
Constantemente
a subi,
Mas tão
devagá andava
Que no
começo não dava
Pra de nada
senti.
Mas porém
como a formiga
Em todo
canto se soca,
Dos casco
até a barriga
Começou a
frivioca
E no corpo
se espaiado
O zebu foi
se zangando
E os cascos
no chão batia
Ma porém não
miorava,
Quanto mais
coice ele dava
Mais formiga
aparecia.
Com essa
formigaria
Tudo picando
sem dó,
O lombo do
boi ardia
Mais do que
na luz do só
E ele
zangado as patada,
Mais força
incorporava,
O zebu não
tava bem,
Quando ele
matava cem,
Chegava mais
de quinhenta.
Com a feição
de guerrêra
Uma formiga
animada
Gritou para
as companhêra:
- Vamo minhas
camarada
Acabar com os
capricho
Deste
ignorante bicho!
Com a nossa
força comum
Defendendo o
formiguêro
Nos somos
muitos miêro
E este zebu
é só um.
Tanta
formiga chegou
Que a terra
ali ficou cheia
Formiga de
toda cô
Preta,
amarela e vermêa
No boi zebu
se espaiando
Cutucando e
pinicando
Aqui e ali
tinha um moio
E ele com
grande fadiga
Pruquê já
tinha formiga
Até por
dentro dos óio.
Com o lombo
todo ardendo
Daquele
grande aperreio
zebu saiu
correndo
Fungando e
berrando feio
E as formiga
inocente
Mostraro pra
toda gente
Esta lição
de morá
Contra a
farta de respeito
Cada um tem
seu direito
Até nas leis
da natura.
As formiga a
defendê
Sua casa, o
formiguêro,
Botando o
boi pra corrê
Da sombra do
juazêro,
Mostraro
nessa lição
Quanto pode
a união;
Neste meu
poema novo
O boi zebu
qué dizê
Que é os
mandão do podê,
E as formiga
é o povo.
Do livro
Ispinho e Fulô – Patativa do Assaré
Fonte: www.culturanordestina.blogspot.com.br