Texto publicado na revista NORDESTE VINTEUM
“Caatingueira do sertão / Chora quando vai chover / Eu também vivo chorando / Com vontade de te ver... Ai caatingueira / Que vontade de te ver / Ai caatingueira, to morrendo de roer...”
Segundo ele, Januário seria a verdadeira matriz dos baiões criados pela dupla e também teria influenciado criações suas, como as clássicas “Pisa na Fulô” e “Cheiro da Karolina”, que desenvolveu em parceria com João do Vale. A parceria de “Cheiro da Karolina”, que seria regravada mais tarde pelo Rei do Baião, acabou sendo creditada a um certo Amorim Roxo, a quem João do Vale teria vendido seus direitos autorais. Essa prática, muito comum na música brasileira, é admitida por João do Vale no fascículo sobre sua obra publicado pela Editora Abril na década de 1970. Eis a letra original de “Cheiro da Karolina”, segundo o depoimento de Zé Gonzaga:
“Seu Netinho foi pra serrinha, Karolina / Pra topar Chico Romão, Carolina / Com cinco contos de réis, Carolina / Pra matar o Lampião!”
JANUÁRIO E SEUS OITO BAIXOS – Januário José dos Santos, o “vovô do baião”, nasceu em Floresta, sertão de Pernambuco, no dia 25 de setembro de 1888, ano da Abolição da Escravatura. Não se sabe, ao certo, em que ano Januário chegou à Fazenda Araripe, nas terras pertences ao Coronel Manuel Aires de Alencar, filho de Gauder Maximiliano Alencar de Araripe, o Barão de Exu. Ali ele trabalhava na lavoura e também dedicava-se ao oficio de animar os “sambas” (era esta a antiga denominação das festas nordestinas) e afinar sanfonas. A palavra “forró” é um termo que só se popularizaria na segunda metade do século XX, a partir do lançamento da composição “Forró de Mané Vito”, embora alguns estudiosos reivindiquem o pioneirismo para a dupla cearense Xerém e Tapuia, naturais de Baturité.
Januário inspirou diversas composições de Luiz Gonzaga e também dos outros filhos, Zé, Chiquinha e Severino. A mais famosa delas tem letra de Humberto Teixeira: “Respeita Januário”, onde Gonzaga satiriza o seu retorno a terra natal depois de permanecer fora por quase duas décadas. Januário veio a falecer aos 90 anos, em 11 de junho de 1978, em Exu.
PARA LER A COLUNA NA ÍNTEGRA, ACESSE O SITE DA EDITORA ASSARÉ E VEJA A EDIÇÃO ON LINE DA REVISTA: http://editoraassare.com.br/sites/default/files/revistas/ne21/FLIP/Portaltop/FlipNE31.html
Gonzaga é a mais importante matriz da cultura nordestina. É incompreensível que pela envergadrua de sua obra, não esteja (aparentemente) ocupando o mesmo panteão de um Tom Jobim, de um Buarque, um Caetano. Trata-se não de um representante cultural, mas de alguém que em seu próprio vulto é a cultura em si, um fundador. Um sintoma passageiro seria a de que sua melhor biografia talveza ainda seja a que foi escrita por uma pesquisadora francesa.
ResponderExcluirExiste uma visão equivocada, criada pela mídia do Sudeste (principalmente do Rio de Janeiro) que a música de LUIZ GONZAGA é "regional", enquanto a de Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso seria "universal". Falar da Garota de Ipanema, da praia de Copacabana, dos morros do Rio ou do Abaeté não é regionalismo. Regionalismo é falar do Riacho do Navio, da Praia de Iracema, da Feira de Caruaru e assim por diante. Nem mesmo a presença de músicos mais antenados com a música pop diminuiu esse preconceito. Prova disso é que Alceu Valença foi indicado para a categoria Melhor Cantor Regional numa edição do prêmio Sharp de Música e recusou-se a receber, com muita razão. Onde é que a música de Alceu, Zé Ramalho, Ednardo, Belchior,Fagner e Elomar é menos importante que a de Gilberto Gil, Chico e Caetano? O que dizer então de João do Vale, nordestino analfabeto, que encantou a nata da MPB com suas canções? Jackson do Pandeiro nem se fala... Ganhava concursos de carnaval no Rio, disputando com a nata do samba carioca. Vou me calar por aqui... Deixo os leitores tirarem as suas próprias conclusões.
ResponderExcluir