domingo, 17 de abril de 2011

Carta do Satanás a Roberto Carlos

Roberto Carlos
na Literatura de Cordel



Por MARCO HAURELIO*

A polêmica desencadeada pela proibição, na Justiça, do livro Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo, revelou que sob os raios fúlgidos da pátria, a liberdade sorri para poucos. É a ditadura econômica, de que fala Chico Buarque, para a cultura bem mais nociva que a dos milicos. Por falar em ditadura e em Roberto Carlos, retornemos a 1965, mais precisamente a Osasco, grande São Paulo. Nesta cidade, antes de uma apresentação no cinema Rex (do latim: rei), encontraremos Roberto saudoso de uma namorada que, naquele momento, estava bem longe, nos States. O ruído provocado pelo dial de uma estação de rádio manipulado por sua secretária, Edy Silva, sugeriu uma melodia. E assim nasceu o refrão: “quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno”. Com a providencial ajuda de Erasmo Carlos, a música estourou nos quatro cantos do país.
Vamos agora ao Nordeste brasileiro, a bordo de um velho ônibus, saído de Maceió com destino a Aracaju, no qual viajava o poeta popular Enéias Tavares dos Santos conduzindo uma mala repleta de folhetos de cordel e bugigangas diversas. Ao lado do poeta um rádio repetia a imprecação em forma de canção do então rei da juventude, nascida naquela noite fria em Osasco, de que falamos há pouco. O poeta ficou atento apenas ao refrão. Quando saltou na capital sergipana, estava pronto, faltando apenas passar para o papel, o folheto A Carta do Satanás a Roberto Carlos. Na fabulação de Enéias, cansado de ouvir o cantor mandar tudo para o inferno, Satanás resolve escrever-lhe uma carta, tentando demovê-lo da idéia:

Inferno, corte das trevas,
Meu grande amigo Roberto,
Eu vi o seu novo disco
É muito bonito, é certo,
Mas cumprindo a sua ordem,
O mundo fica deserto.

E o soberano das trevas faz mais este apelo ao ídolo da jovem guarda:

Tem feito muito sucesso
Essa sua gravação
Mas eu já sofri até
Ataque do coração
Porque aqui no inferno
É de fazer compaixão.

Se para aqui vier tudo
Eu fico muito apertado
Pois o inferno já está
Por demais superlotado,
Você ganhando dinheiro
E eu ficando aqui lascado.

Importante é notar a ressignificação da música na interpretação do poeta popular. O cordel fez tanto sucesso que possibilitou a Enéias “pôr em dia os atrasados”, conforme depoimento ao poeta João Gomes de Sá. Negociado com a Editora Prelúdio, hoje Luzeiro este folheto é editado ininterruptamente há mais de 40 anos. No seu rastro vieram a lume mais três títulos, todos de Manoel D’Almeida Filho: A Resposta de Roberto Carlos a Satanás; A Chegada de Roberto Carlos no Céu e Roberto Carlos no Inferno. Convém notar que no inferno, as diabas se comportam como as jovens admiradoras do “rei” em sua corte terrestre:

As diabas moças gritavam
Como que ficaram loucas,
Todas pediam autógrafos,
De gritar ficaram roucas,
Porque não havia força
Que calasse aquelas bocas.




Mais conservador é Apolônio Alves dos Santos, autor do folheto A Mulher que Rasgou o Travesseiro e Mordeu o Marido Sonhando com Roberto Carlos. Outro grande poeta, Joaquim Batista de Sena, lamenta as mudanças ocorridas na Igreja Católica, imputando-as a Roberto e seus seguidores:

Vou chamar primeiramente
O grande rei do hippysmo
O senhor Roberto Carlos
Com todo seu cafonismo
Pois ele foi quem mudou
A lei do cristianismo.

A bibliografia sobre Roberto Carlos no Cordel é extensa e reflete a mentalidade do autor, com enfoque ora conservador ora liberal, indo do satírico à estória de exemplo. Manoel D’Almeida, por exemplo, era consultor da Editora Prelúdio, que além da boa literatura de cordel, editava a Melodias, a revista da mocidade, na qual Roberto era figurinha carimbada. Daí o tratamento simpático dispensado ao cantor capixaba. Joaquim Batista de Sena, por outro lado, refletia a mentalidade sertaneja, refratária a mudanças, especialmente as ocorridas no seio da Igreja.


* Marco Haurélio é poeta popular, pesquisador e assessor da editora NOVA ALEXANDRIA. Também já atuou como selecionador de textos da Editora Luzeiro.

* * *

Poeta Luiz Wilson lança novo cordel sobre ROBERTO CARLOS



Ano passado, o poeta Luiz Wilson lançou um  cordel intitulado: Roberto
Carlos, 50 anos, emoções em rimas, pela editora Luzeiro.

 

“O que com amor se escreve
Certamente não se apaga

Entre as comemorações
E tudo que se propaga
Minha homenagem é fiel
Na linguagem do CORDEL
Pra ROBERTO CARLOS BRAGA!”

13 comentários:

  1. Poeta, escrevi este artigo para um site chamado Music News. Fez tanto sucesso que foi para a primeira página do UOL. Depois saí do Music News, pois eles se negaram a publicar um artigo sobre o Cego Aderaldo, alegando não tratar-se de música. À minha refutação, responderam com um acréscimo: "de música de mercado".

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  2. É aquilo que eu falo no artigo sobre a novela CORDEL ENCANTADO, da Rede Globo. A trilha, para ser autêntica deveria ter nomes como Mestre Azulão, Oliveira de Panelas, Lucas Evangelista, Elomar Figueira de Melo, Xangai, Vital Farias e outros mais. Mas, na visão mercadalógica, essa música não é apropriada para o consumo das massas.

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  3. Prezados(as),

    O Cordel permanece mais vivo do que nunca. No Crato existe a Academia de Cordelistas do Crato fundada há 20 anos, tem mais de 500 títulos publicados e mais de um milhão de folhetos levando o Nordeste para o mundo.

    O folheto de cordel "O burro e o deputado" é um dos 40 títulos de autoria do poeta Luciano Carneiro que é um dos membros desta academia ocupando a cadeira de n° 2.

    "Em 1995, um deputado teve a ideia de criar uma lei que proibisse a utilização de animais atrelados a carroças, transportando cargas diversas e transitando em rodovias, ruas e avenidas, projeto que contou com o apoio da Sociedade Protetora dos Animais", diz a poeta Josenir Lacerda na apresentação do Cordel de Luciano Carneiro.

    Aliás, para reforçar o que dissemos acima, Josenir é também membro da ACC e foi recentemente eleita membro da Academia Brasileira de Cordel, distinção que enche de orgulho os amantes do cordel no Cariri e no estado do Ceará.

    Encerrando a apresentação do cordel de Luciano Carneiro, diz J. Lacerda: "Só mesmo uma mente privilegiada e merecedora da cumplicidade da 'musa' para encontrar uma saída tão diplomática e criativa” enquanto concluiu parabenizando o poeta.

    Eis Cordel "O Burro e o Deputado"

    O deputado e o burro
    Tão num impasse danado
    Vão findar trocando murro
    O burro e o deputado
    O burro quer trabaiá
    O dotô num qué deixá
    Diz que a carroça é pesada
    Porém o burro enfezado
    Diz que não é deputado
    Pra ganhar sem fazê nada.

    O burro inda diz assim
    Eu trabaio pro meu patrão
    Mais ele mim dá capim
    Mim dá remédio e ração
    Dá água bãe e vacina
    E só me aprica disciprina
    Quando invento bestêra
    E você, seu deputado
    Ee fosse disciprinado
    Agia douta manêra.

    Burro, cavalo e jumento
    Tem mais é que bataiá
    Se for no seu argumento
    De vivê sem trabaiá
    De disprezá o seu dono
    Lhe deixá no abandono
    Eles vai tranca o roçado
    Tem razão, que a roça é sua
    E joga nóis no mei da rua
    Pra morrê atropelado

    E será se essa tá
    De proteção dos animais
    Tem roçado, tem quintá
    Cum água e cum capinzais?
    Pra nóis vivê só cumeno
    Bebeno água e correno
    Tudo gordo e bem zelado
    Viveno uma vida incrive
    Iguá a que o senhô vive
    Na câmara dos deputado?

    Será que os dono da gente
    Tem a merma opinião?
    Que tem o seu presidente
    O chefe dessa nação
    Que cobra imposto danado
    Do pobre lá do roçado
    Do piqueno comerciante
    Pra todo finá de mês
    Pagá um montão pra vocês
    Só pruquê são importante?

    Eu num reparo o sinhô
    Sê dotô, seu deputado
    Esquecê seus inleitô
    Que veve disagregado
    Ou trabaiano na roça
    Ou mermo nu’a carroça
    Cuma meu patrãozim faiz
    Tentano sobrevivê
    Mas deixe de meter
    Na vida dos animais.

    Vá criá projeto novo
    Vá cuidá doutos assunto
    Fazê morada pro povo
    Vá douto, fazê conjunto
    Vá ajeitar as estrada
    Que tão tudo esburacada
    Dão má pra gente passá
    Ou então fique parado
    Ganhano seu ordenado
    Mais deixe nóis trabaiá.

    Parece que o sinhô
    É mais burro do que eu
    Que diabo é isso doutô
    O que foi que aconteceu?
    E o pobe do deputado
    Oiô pro burro ispantado
    Sem tê o que respondê.
    Findô falano pro burro:
    - Se você me dé um murro
    Eu dô um coice in você.

    Geraldo Sales|16 de abril|2011 – 21h36min

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  4. seus viados filhos das putas lavem a boca e as mãos, o cerebro, antes de falar do REI ROBERTO CARLOS, vão caçar o q fazer, tenho 16 anos sou fanatico por ROBERTO CARLOS e não tenho vergOnha de admitir sou fanatico...!
    E vcs seus vadios, vai todos se lascarem...

    ROBERTO CARLOS É FUNDAMENTAL.!
    UM HOMEM RELIGIOSO DE DEUS.

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    1. Tá faltando personalidade em sua vida. Devia é primeiro descobrir quem você é e depois escolher quem você vai amar.

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  5. Mesmo que seja uma literatura de cordel, mas isso, essas imagems acabam com a Fisonomia do cantor, do cantor não do REI, pq hoje qual quer merda é cantor, esse homem ROBERTO CARLOS é conheçido mundialmente um brasileiro não tenho palavras, se quizer responder responda no meu email, marcosmarcial10@hotmail.com



    ROBERTO AMOO VOCE, ESTAREI SEMPRE AO TEU LADO..!
    MARCOS...

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  6. Marcos, para uma pessoa de 16 anos você demonstra ser bem desbocado, mal educado e principalmente desinformado... Mas tudo bem, são coisas da juventude. Se você não sabe, esses folhetos foram lançados pela EDITORA LUZEIRO, de São Paulo, onde Roberto fez boas amizades no início de sua carreira. Para você ter uma idéia, uma das pessoas que comandavam a Luzeiro era o compositor FRED JORGE (já ouviu falar?). Pois bem, se não ouviu, procure saber de quem se trata. Lá tinha uma revista chamada MODINHA e outras dedicadas à música que passaram decadas promovendo e enchendo a bola do Roberto. Ele nunca se incomodou com essas brincadeiras. Tanto é que os folhetos já saíram há 40 anos ou mais e ele nunca moveu um processo contra a editora, nunca fez qualquer menção de desaprovação. Ora... os folhetos se referem à canção onde ROBERTO manda todo mundo pro inferno (Quero que você me aqueça nesse inverno e que tudo mais vá pro inferno). Conhece a canção? Se você for mais educado na sua próxima postagem, manteremos um debate, se vier com agressões gratuitas e sem fundamento, seus comentários serão deletados. Tenha uma boa noite.

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  7. O AUTOR DO CORDEL

    O ANÔNIMO QUE CRUCIFICOU O AUTOR DO CORDEL SOBRE ROBERTO CARLO, DEVERIA TER MENCIONADO O NOME! COVARDIA E OMISSÃO NÃO TER POSTO O NOME. CABRA FROUXO, E SEN PERSONALIDADE. VÁ LER SOBRE CORDEL PRA VOCÊ ADQUIRIR CONHECIMENTO. DAÍ ENTÃO, VOCÊ TERÁ MELHOR BASE LITERÁRIA PRA FALAR SOBRE O ASSUNTO.

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    1. Cordel para mim é leitura de preguiçoso pois os livros não possuem mais do que 10 páginas.

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  8. Sem querer puxar brasa pra minha sardinha, mas poeta cordelista é gênio! Não trabalha com idéias somente sua, tem dom divino. Sempre gostei muito dos folhetos de Roberto, principalmente A CARTA DE SATANÁS a ROBERTO CARLOS e já lia no inicio da década de 70 muito boa, coisa de poeta.

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  9. Sou paranaense e crescimento com meus tios analfabetos me colocando para ler livros de cordel,principalmente essa carta dirigida a Roberto Carlos, inclusive de vez em quando fazer versos em rimas,inclusive coloquei um pouco na minha fanpage: Rimando Palavras,estou escrevendo dois livros só que onde moro atualmente em Cuiabá não tem nada representando sobre literatura de cordel,tenho muitos rascunhos feitos, aprendi gostar e admirar essa arte.

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  10. Sou entusiasta da literatura de cordel. Aprendi a ler e escrever graças ao empenho do meu pai e aos livretos de cordel. Hoje, me atrevo a escrever algo deste tão admirável gênero literário. Respeito àqueles que não apreciam esta modalidade de escrita, porém contesto veemente os que tentam desqualificá-la.

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  11. Só para constar,
    O meu e-mail foi alterado para: geciliop@terra.com.br

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