CASAMENTOS REAIS NA LITERATURA DE CORDEL
A UNIÃO ENTRE NOBRES E PLEBEUS
A vida imita a arte... Hoje a mídia do mundo inteiro concentrou sua atenção no casamento do Príncipe Willian, da Inglaterra, com a ex-plebéia Kate Middleton, hoje duquesa de Cambridge.
O casamento de plebeus e plebéias com pessoas da realeza sempre povoou o imaginário dos poetas populares, afinal de contas também é freqüente nos Contos de Fada, cujo exemplo maior é a Gata Borralheira. Eu, que sempre gostei de manter a tradição dos velhos mestres do cordel, também utilizo esses elementos em pelo menos dois folhetos de minha autoria. O primeiro deles é “O castigo da inveja ou o filho do pescador” onde um sultão de meia-idade casa-se com uma bela cigana. Logo na abertura se lê o seguinte:
Na Pérsia, antigamente
Havia um velho sultão
Chamava-se Abul Jamil
Homem de bom coração
Contudo não se livrou
De uma grande traição
Abul Jamil já idoso
Não havia se casado
Na sua lida diária
Vivia atarefado
Despachando no palácio
E cuidando de um roçado.
(E por quê de um roçado
Não pode um Sultão cuidar?
Acho que não é pecado
Homem rico trabalhar
Defeito grande é preguiça
Por isso vamos plantar...)
Apesar de muito rico
Abul não vivia bem,
Não tinha a maior riqueza
Que na terra um homem tem
No palácio de Abul
Não existia um harém...
Abul quando completou
Cinqüenta anos de idade
Achou que ter um herdeiro
Era uma necessidade
Desejava uma Odalisca
Para amá-la de verdade
Numa certa ocasião
No palácio de Abul
Apareceu uma cigana
De olhar meigo e taful
Abul Jamil quase morre
Vendo aquele mar azul
Que essa estória de Sultão
Só se casar com princesa
Legítima de sangue azul
Para prezar a nobreza
É uma coisa muito chata
Desvaloriza a pobreza.
Ficou logo apaixonado
Mandou ler a sua mão
Esmeralda, a sedutora
Nesta dita ocasião
Viu logo que Abul Jamil
Lhe entregara o coração.
Este folheto será reeditado em breve pela Editora Luzeiro, de São Paulo, com capa colorida, como já é costume desde a década de 1950. Outro texto, inspirado num conto dos Irmãos Grimm, é “João Bocó e o ganso de ouro”, a típica história do rapaz pobre que casa-se com uma princesa ajudado por forças misteriosas:
João levou o barquinho
Então o rei orgulhoso,
Percebeu que João Bocó
Era muito astucioso,
Devia ter o auxílio
De um mágico poderoso.
Então resolveu fazer
Seu casamento, afinal,
A princesa sorridente
Em seu traje nupcial,
Abraçou João e foram
Casar numa catedral.
Houve festa mais de um mês
E até os pais de João
Sabendo da novidade
Foram lá pedir perdão,
João beijou seus genitores
E abraçou cada irmão.
E a princesinha contente
Não parava de sorrir
Tudo que João fazia
Servia pra divertir
Casal feliz como aquele
É bem difícil existir.
O certo é que enquanto houver sonho, imaginação e encantamento, os casamentos reais entre nobres e plebeus continuará povoando o imaginário popular.
Arievaldo Viana
GOSTOU DA MATÉRIA? ENTÃO COMENTA!
O POETA BARROS ALVES, POR e-mail, me enviou o seguinte comentário:
ResponderExcluir" Ari, muito boa a referência aos casamentos reais na literatura de cordel. O imaginário do poeta cordelista está permeado pelos contos de fadas, os quais, na verdade, constituem os fundamentos literários e psicológicos da arte poética que produzem.
De fato, concretamente (para ser redundante) a República JAMAIS alcançou o imaginário popular. Não existe "presidente da panelada", nem "presidente dos parafusos". O que temos em todos os quadrantes da sociedade, aqui e alhures, até nas sociedades mais intelctualizadas, é o REI disto e a RAINHA daquilo.
Aliás, no mundo moderno, as nações mais tranquilas e estáveis politicamente são monarquias constitucionais (Japão, Inglaterra, Noruega, Suécia, Dinamarca, Espanha etc)
E para vc que é um comunista de araque eu chamo a atenção:
Que moral tem os comunistas para falar mal da monarquia em razão da sucessão ser familiar? O PC cubano acaba de substituir Fidel Castro pelo irmão dele, Raul. Na Coreia do Norte comunista, o Shung não-sei-das-quantas já nomeou o filho para substituí-lo.
A grande diferença é que nas monarquias modernas a liberdade e a democracia é plena. Nas repúblicas comunistas a ditadura é cruel. Crudelíssima.
Abção
BA