Hoje pela manhã, fazendo o trajeto Fortaleza – Caridade, vi pela janela do ônibus milhares e milhares de avoantes (cujo nome cientifico é Zenaida Auriculata) em migração. O espetáculo é belíssimo e impressiona pela solidariedade de alguns grupos que parecem voar em circulos esperando os retardatários.
Os caçadores, pressentido a sua chegada, que acontece no final da quadra invernosa nordestina entram imediatamente em ação abatendo-as sem piedade e, o que é pior, destruindo os pombais onde as mesmas depositam seus ovos.
Na Revista Brasileira de Zoologia, Vol. 3. Número 7, Curitiba, 1986, encontramos essa informação sobre a presença dessas aves na Caatinga Nordestina:
“Na região da caatinga brasileira, a avoante é novamente encontrada em grandes números, referindo-se a ela vários cronistas do século passado e início deste como um auxílio divino às populações humanas carentes, sempre nidificando no solo em colônias. Somente em meados desse século aparecem os primeiros relatos científicos sobre sua nidificação no solo de caatinga (Ihering, 1935). O primeiro autor a se preocupar mais profundamente com o assunto foi Álvaro Aguirre, produzindo vasta bibliografia sobre as colônias de reprodução e hábitos alimentares. Seu trabalho mais completo foi publicado em 1976, dissecando os conhecimentos existentes sobre a biologia, ecologia e utilização desse recurso natural renovável pelo nordestino (Aguirre, 1976).
Todos esses autores referem-se à população nordestina de Zenaida aureculata como a única a nidificar colonialmente no chão, considerada característica peculiar à subespécie da região (Z. a. noronha). Fora do Nordeste, há notas sobre ninhos isolados no solo no Estado de São Paulo (Aguirre, 1972)e em pequenas colônias no Equador (Marchant in Goodwin, 1970)
Desde 1979, o problema do abate ilegal de avoantes na região Nordeste vem preocupando de perto o Departamento de Parques Nacional do IBDF. A partir daquele ano tem início uma série de trabalhos de campo melhor compreensão do fenômeno e para a conservação desse recurso natural renovável, sobre-explorado e colocado em risco de extinção pela exploração irracional para comércio da carne de avoante salgada. A partir de 1982, o trabalho, que visa principalmente compreender, através de anilhamento, os movimentos da espécie na região conta com o apoio do CNPq.”
Como já foi dito, a avoante é uma ave de imigração que aparece em determinada época do ano no sertão nordestino. A avoante chega na quadra de fins d’água, em bandos, nas caatingas, passando nos lugares onde encontra o capim-milhã, que é a alimentação que prefere. Os caçadores, apesar da forte vigilância do IBAMA, entram em ação e abatem uma quantidade enorme, que são vendidas nas feiras. É um massacre injustificado que ameaça a preservação dessa espécie. O que mais impressiona é a crueldade dos caçadores que, não satisfeitos em abater milhares de aves, ainda se comprazem em pisotear os ninhos (feitos geralmente no chão) pelo simples prazer de destruir os ovos. No nordeste brasileiro a pomba-avoante (“avoante”) parece ter o seu padrão de migração em função ao regime de precipitação pluviométrica.
A matança de avoantes é uma das agressões mais explícitas ainda hoje contra a natureza. Enquanto grupos de avoantes sobrevoam a caatinga em busca de um lugar ideal para nidificar e se reproduzir, por terra os caçadores andam de espingardas em punho em busca dos pombais de avoante. Tenho visto aqui na Vila Campos dezenas dessa aves passando em busca de pouso, água e comida. No passado, os pombais foram alternativa de alimento às populações rurais, principalmente na seca, isso sem risco de extinção das aves. Hoje, a coisa é diferente: os caçadores abatem centenas dessas aves que são comercializadas na cidade, principalmente em bares e botequins onde se tornam o cardápio preferido para o tira-gosto. A despeito dos órgãos fiscalizadores, a caça predatória continua uma grande ameaça, não só às avoantes, mas a aves nativas da caatinga, pois não há repressão nenhuma à venda de armas e munição.
ResponderExcluirExcelente o artigo do Arievaldo sobre as aves de arribação, principalmente pela riqueza de dados científicos e históricos.
ResponderExcluirQuando viajei de Canindé para Fortaleza há duas semanas, no começo de junho, pude presenciar a maravilha de um imenso pombal localizado perto da antiga fábrica de cal,
antes do Camarão. Eram milhares voando em círculos, e a sua presença se espraiou por mais ou menos dois quilômetros. Espero que o IBAMA impeça a tentativa de caça cruel a essas aves que aproveitam essa época para se reproduzir.
Presumo que elas só arribam para outras paragens quando as avezinhas estão prontas para voar. São as chamadas aves de arribação, que dizem vir da África (segundo um artigo publicado no jornal O Povo há muitos anos), atravessando o Atlântico, com um senso de orientação inexplicável até agora para a nossa ciência e digno de inveja para os humanos, que
precisam de sofisticados instrumentos de navegação para atravessar os oceanos.
Fortaleza, 22 de junho de 2011.
Flávio Henrique
Absurdo, antigamente vá lá, mas hoje em dia,não há mais tanta dificuldade por alimento, onde as avoantes aparecem. Apenas o sadismo pode justificar a caça predatória a essas pacíficas aves. Como não há nenhuma economia rentável nesse fenômeno migratório, é descaradamente desconsiderado pelo órgão que deveria protegê-las. Mas não creio em sua extinção, já que ao contrário do que se pensa não chegam da África, estão presentes em toda América do Sul e são até consideradas praga da agricultura na Argentina.
ResponderExcluirAo contrário do que muitas vezes se imagina, a caça amadorista não representa uma ameaça à sobrevivência da fauna silvestre, que é, gravemente ameaçada pela acelerada perda de "habitats", causada pela expansão sempre crescente das atividades econômicas, principalmente agrícolas. Destruídos os ecossistemas, perde-se a fauna que neles vivia.
ResponderExcluirNesse contexto, a caça amadorista vem sendo um fator de estímulo direto à proteção dos ambientes naturais, de vez que representa uma alternativa sustentável de uso da natureza que gera recursos imediatos para sua conservação. Isto se dá através do pagamento de taxas específicas e de arrendamentos de áreas naturais para a prática cinegética. Em alguns países, cuja legislação é mais desenvolvida, a criação de espécies em Parques de Caça, ocorre em áreas cuja preservação é assegurada. Essa proteção dos ecossistemas onde vivem espécies-alvo de prática da caça amadorista beneficia, evidentemente, não apenas estas espécies, mas todas as demais aí presentes, inclusive as ameaçadas de extinção pela perda de seus "habitats".
Concordo com vc, a caça amadorista não acaba com os animais, o que realmente acaba é o desmatamento e os produtos agricolas(veneno) usados nas lavouras. Eu gosto muito de caçar, e so caço animais que realmente server para alimentação, emquanto eu vou uma caçada e consigo capturar cinco avontes, um agricultor coloca veneno na plantação e mata milhares de uma unica vez... entam é melhor servi de alimnto para nós ou para os urubus?
ExcluirSobre caça realmente concorda com alguns termos, porem em relação a pisotear os ninhos acredito que se trata de uma grande blasfêmia, pois os caçadores fazem por roby e não por ter um coração mal.
ResponderExcluirMuitas coisas aparecem e desaparecem da terra em todos os tempos.
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