Lucília Garcês lança livro sobre Ariano
Suassuna com
ilustrações de Jô Oliveira
Credito: Reprodução. Ilustração de Jô Oliveira para o livro
Ariano Suassuna,
de Lucília Garcez.
Por: Severino Francisco
Ariano Suassuna era um personagem em busca de um autor ou de
autores que o apresentassem às crianças. Não é mais. Ele encontrou a escritora
Lucília Garcez e o ilustrador Jô Oliveira, uma mineira e um pernambucano que se
rebrasileirizaram em Brasília. Eles escreveram uma encantadora biografia de
Ariano para as crianças (Editora Imeph), mas, que, como toda obra de qualidade
pode ser lida por pessoas de qualquer idade.
Ilustração de Jô
Oliveira: o real e o mítico entrelaçados na vida de Ariano Suassuna.
A narrativa de Lucília e Jô evolui como um cortejo de
maracatu, numa sintonia perfeita entre palavra e imagem. Nos joga, de maneira
sensorial, no mundo de Ariano, com sensibilidade e delicadeza: o cotidiano em
Taperoá,cidadezinha do sertão da Paraíba; as feiras, as festas populares, os
teatrinhos, as cantorias, a chegada do circo. Na precariedade, era possível
garimpar um universo cultural riquíssimo. Ariano puxou o fio da tradição
medieval transplantada para o nordeste brasileiro.
Como bem diz Flávia Suassuna na apresentação, a biografia
revela não apenas os elementos que fizeram Ariano ser Ariano, mas, também, as
formas, os sons e as cores. É, ao mesmo tempo, uma biografia e uma fábula.
Ele parece um personagem saído diretamente de um folheto de
cordel para a realidade.
Quando era garoto, quis fugir com o circo e só não conseguiu
porque levou uma tremenda bronca da mãe. Ficou a frustração de ser palhaço,
mas, na fase final da vida, Ariano realizou a vocação plenamente com as suas
aulas-espetáculos, em que mistura a erudição de professor de estética com a
verve popular de João Grilo paraibano. Ao arrancar o riso das plateias ele
ficava com o brilho nos olhos de menino encantado, comemorava cada gargalhada
como se fosse um gol.
Capa do livro Ariano Suassuna; de Lucília
Garcez, com ilustrações de Jô Oliveira.
Antonio Candido disse que os grandes homens desapareceram,
pois eles dependem das utopias. E Ariano é dessa linhagem, é um Quixote
paraibano de múltiplos talentos, mas, antes de tudo, poeta. O Quixote é um
herói moral, tem um ideal tão alto que as derrotas não o desmerecem; as
derrotas o engrandecem.
A biografia escrita por Lucília e ilustrada por Jô nos revela
que a história de Ariano se entrelaça de maneira indivisível com a história
brasileira e com a história da cultura popular nordestina. Ele é um personagem
épico. E, neste momento, nós estamos precisando, dramaticamente, de brasileiros
que nos engrandeçam.
Imagino que, onde estiver, ao folhear o livrinho de Lucília e
Jô, Ariano deve estar chorando as lágrimas de esguicho de que fala Nelson
Rodrigues, lágrimas da mais pura alegria.
Ilustração de Jô
Oliveira: Ariano tinha múltiplos talentos, mas era, antes de tudo, poeta
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE
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