PIOR QUE O BICUDO É A PREGUIÇA
“Ô Severina vai na barra da cangalha,
Traz a pedra e o fuzil e o meu cigarro de palha...
Corre menina, vai depressa e chame Roque
Diga ele que me traga algodão pro corrimboque.
Traga pouquinho e vai poupando o meu paiol
Só quero que traga um tanto de botar no matricó
Deixa reserva de Zefa fazer pavio
Que também quer outro tanto pro fuso para fazer fio
Para Mané fazer cordão para botar no currupio.”
(CORRUPIO –
Genival Lacerda)
No malfadado ano de 1983 aparecia
pela primeira vez no Ceará o Bicudo-do-Algodoeiro
(anthonomus grandis), um besouro de coloração cinzenta e mandíbulas afiadas que
acabou com uma das maiores riquezas do povo Nordestino: o ALGODÃO. A praga se
infiltra na maçã e come a pluma antes mesmo de abrir.
Depois de tentar várias alternativas
de combate ao inseto, o sertanejo foi aos poucos abandonando a cultura do
algodão, que hoje está praticamente extinta em nosso Estado. Ainda alcancei um
tempo em que os nossos agricultores viviam praticamente de uma agricultura de
subsistência plantando milho, feijão, batata e jerimum. Quem movimentava a
economia rural era a safra do algodão. As fazendas produtoras recebiam levas de
trabalhadores, os caminhões rodavam abarrotados de sacas do nosso ouro branco.
O matuto pagava a bodega, vestia e calçava a filharada e ainda sobrava uns
trocados para a farra. No final das contas, todo mundo saia ganhando: o
agricultor, o trabalhador empregado na colheita, o dono do caminhão que
transportava a safra, o trabalhador urbano que se empregava nas usinas de
beneficiamento e o bodegueiro sertanejo que limpava o cabelo recebendo os
fiados de sua caderneta.
Visitando o sertão neste último fim
de semana (julho de 2016), encontrei, às margens da estrada um lindo pé de
algodoeiro que o BICUDO não descobriu. A plumagem é perfeita e não há o menor
indício do inseto. Lembro de ter visto pés de algodão mocó com quase trinta
anos na Ladeira Grande, em Maranguape, impregnados de capulhos. Não sei se
ainda existem, mas continuavam produzindo em abundância, ante a indiferença dos
sertanejos que sequer se dão ao trabalho de colher a pluma para fazer um pavio
de lamparina ou um cordão de corrupio.
Vendo o estado cem por cento saudável
daquela plantinha solitária, abandonada no meio do mato, eu fiquei imaginando
se esse bicho ainda está por aqui. Ainda tem bicudo aqui pelo Ceará? Vivendo de
quê? E se o nosso sertanejo voltasse a plantar algodão, com fé, esperança e
amor, como diz o velho bendito? Eu acho que muito pior que o BICUDO é a
PREGUIÇA generalizada que tomou conta do sertão. O povo hoje só quer saber de
tomar cerveja e escutar BUCO-BUCO. Todo poste que a gente avista tem uma faixa
anunciando uma banda de forruim. É por isso que eu me lembrei de um velho
ditado do meu avô Mané Lima: - Meu filho, creia em Deus que é Santo Velho! A
preguiça é a chave da pobreza e mente vazia é a oficina do Diabo.
Por isso, como Luiz Gonzaga e
Zedantas, eu lanço o meu brado de indignação, mas sem esquecer de adicionar uma
pitadinha de esperança:
- Sertanejo do 'Norte', vamos plantar
algodão!!!
Arievaldo Vianna (De “O Livro das Crônicas”)
OPINIÃO DE PEDRO NUNES FILHO
Escritor Pedro Nunes Filho
Depois que postamos aqui no blog MALA
DE ROMANCES o artigo "Pior que o bicudo é a preguiça", um artigo que
se reporta a decadência da cultura algodoeira no Nordeste, e parte do referido
texto no facebook, o escritor Pedro Nunes Filho postou o seguinte comentário:
Arievaldo, na minha região, o Cariri paraibano, o regime de meação
funcionava assim: O dono da propriedade tomava emprestado com garantia real o
dinheiro que iria necessitar para o cultivo do algodão. Semanalmente adiantava
ao morador-meeiro o suficiente para ele fazer a feira. Diariamente, o algodão
era colhido, pesado e colocado no paiol que pertencia em comum ao proprietário
e aos meeiros. No final do ano, o produto era ensacado e vendido. O meeiro
recebia sua metade, ou seja 50%. O valor adiantado para as feiras era
descontado e tudo dava muito certo. Isso significa que o meeiro tinha uma
participação um pouquinho maior que 50%, levando-se em conta que o proprietário
pagava juros ao banco do Brasil e não cobrava do meeiro. Esse era um negócio em
que o morador tinha uma participação realmente substancial no empreendimento
rural. Mais ainda, o milho, o feijão, o jerimum e a melancia que eram plantados
dentro do algodão pertenciam em sua totalidade ao meeiro, que era aconselhado a
não vender, ficando para consumo da família. O que é melhor, participar dos
lucros ou ter carteira assinada com o salário mínimo? Ou não trabalhar em nada
e participar dos programas sociais do governo?
Sim, esqueci de dizer que o proprietário entregava a terra pronta para o
plantio. A partir daí, todo o trato era de responsabilidade do meeiro. No final
da colheita, o morador botava o dinheiro no bolso, comprava roupas boas e
calçados para toda a família e ainda lhe sobrava dinheiro que ele guardava
para, no futuro, comprar uma terrinha. Os moradores trabalhadores e de
confiança eram uma sementeira de futuros proprietários rurais produtores de algodão,
o ouro-branco que era exportado para a Inglaterra, que incentivava o plantio do
algodão onde quer que houvesse espaço disponível. Essa cultura caiu por terra,
não só por conta de bicudo, mas também por causa de mudanças nas leis
trabalhistas que alteraram essa relação econômica de produção. Na década de 20,
o semiárido nordestino recebeu a visita de Arno Pearse, inglês de Manchester
especialista em algodão. Ele escreveu um livro que tenho em minha biblioteca.
Entre muitos outros aspectos postos em relevo, ele destaca a alta produtividade
e a excelência das fibras do nosso algodão, uma das mais longas do mundo, tudo
em razão do clima árido que temos.
O que anda errado na economia rural do semiárido nordestino? Se o clima é
o mesmo, o que mudou? O homem? As tecnologias do concorrentes? E a Paraíba que
fez modificação genética para produzir algodão colorido, por que essa
tecnologia não avança e produz resultados? Por quê?
Mais informações sobre o ALGODÃO
O algodão é conhecido do homem desde
os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000
anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no
Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da
Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o
algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam
que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda
a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.
O ALGODÃO é um planta da família das
Malváceas, espécie nativa das áreas
tropicais da África, Ásia e Américas. O algodão é a matéria fibrosa que envolve
as sementes do algodoeiro e, embora macia, suas fibras apresentam boa
resistência a esforços de tração, o que permitiu sua utilização na confecção de
tecidos.
A palavra algodão deriva de Al-Kutum, na língua árabe, porque foram
os árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela
Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês, coton em francês e cotone, em
italiano.
No Brasil, na época da chegada do
colonizador europeu, os indígenas já cultivavam o algodão e usavam os fios na
confecção de redes e cobertores. Uma pintura do século XVII, feita por um
pintor holandês, retrata índios da tribo Kanindé usando plumas de algodão nas
orelhas, como ornamento. Informa-nos Joelza Esther Domingues, mestre em
história social pela PUC-SP, que esse artista holandês chamava-se Albert Eckhout (1610-1666). Ele
veio ao Brasil, em 1637, na comitiva de Maurício de Nassau. Tinha 27 anos e
aqui viveu por quase sete anos. Era pintor, desenhista de tipos e costumes,
paisagista e naturalista de excepcional domínio do traço e das cores.
Os nativos usavam também o caroço
esmagado e cozido para fazer mingau e com o sumo das folhas curavam feridas. Os
primeiros colonos chegados ao Brasil, logo passaram a cultivar e utilizar o
algodão nativo. Os jesuítas do padre Anchieta introduziram e desenvolveram a
cultura do algodão (confecção de suas roupas e vestir os índios).
ALGODÃO – A música de Luiz Gonzaga e
Zedantas: Esse baião foi gravado originalmente em 1953 pelo próprio Luiz
Gonzaga, num disco de 78 rotações, que trazia no verso outro baião " A letra I"- da mesma parceria com Zé Dantas. Em 1959 a
música foi regravada no LP "Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé
Dantas".
PARA SABER MAIS:
http://papjerimum.blogspot.com.br/2013/05/algodao-supremacia-do-algodao-moco-das.html
(Blog Papa Jerimum)
http://www.ensinarhistoriajoelza.com.br/indios-brasileiros-retratados-por-um-holandes/
- Blog: Ensinar História - Joelza Ester
Domingues
Nenhum comentário:
Postar um comentário