sexta-feira, 8 de julho de 2016

Decadência da cultura do ALGODÃO


PIOR QUE O BICUDO É A PREGUIÇA


“Ô Severina vai na barra da cangalha,
Traz a pedra e o fuzil e o meu cigarro de palha...
Corre menina, vai depressa e chame Roque
Diga ele que me traga algodão pro corrimboque.

Traga pouquinho e vai poupando o meu paiol
Só quero que traga um tanto de botar no matricó
Deixa reserva de Zefa fazer pavio
Que também quer outro tanto pro fuso para fazer fio
Para Mané fazer cordão para botar no currupio.”

(CORRUPIO – Genival Lacerda)

No malfadado ano de 1983 aparecia pela primeira vez no Ceará o Bicudo-do-Algodoeiro (anthonomus grandis), um besouro de coloração cinzenta e mandíbulas afiadas que acabou com uma das maiores riquezas do povo Nordestino: o ALGODÃO. A praga se infiltra na maçã e come a pluma antes mesmo de abrir.
Depois de tentar várias alternativas de combate ao inseto, o sertanejo foi aos poucos abandonando a cultura do algodão, que hoje está praticamente extinta em nosso Estado. Ainda alcancei um tempo em que os nossos agricultores viviam praticamente de uma agricultura de subsistência plantando milho, feijão, batata e jerimum. Quem movimentava a economia rural era a safra do algodão. As fazendas produtoras recebiam levas de trabalhadores, os caminhões rodavam abarrotados de sacas do nosso ouro branco. O matuto pagava a bodega, vestia e calçava a filharada e ainda sobrava uns trocados para a farra. No final das contas, todo mundo saia ganhando: o agricultor, o trabalhador empregado na colheita, o dono do caminhão que transportava a safra, o trabalhador urbano que se empregava nas usinas de beneficiamento e o bodegueiro sertanejo que limpava o cabelo recebendo os fiados de sua caderneta.


Visitando o sertão neste último fim de semana (julho de 2016), encontrei, às margens da estrada um lindo pé de algodoeiro que o BICUDO não descobriu. A plumagem é perfeita e não há o menor indício do inseto. Lembro de ter visto pés de algodão mocó com quase trinta anos na Ladeira Grande, em Maranguape, impregnados de capulhos. Não sei se ainda existem, mas continuavam produzindo em abundância, ante a indiferença dos sertanejos que sequer se dão ao trabalho de colher a pluma para fazer um pavio de lamparina ou um cordão de corrupio.
Vendo o estado cem por cento saudável daquela plantinha solitária, abandonada no meio do mato, eu fiquei imaginando se esse bicho ainda está por aqui. Ainda tem bicudo aqui pelo Ceará? Vivendo de quê? E se o nosso sertanejo voltasse a plantar algodão, com fé, esperança e amor, como diz o velho bendito? Eu acho que muito pior que o BICUDO é a PREGUIÇA generalizada que tomou conta do sertão. O povo hoje só quer saber de tomar cerveja e escutar BUCO-BUCO. Todo poste que a gente avista tem uma faixa anunciando uma banda de forruim. É por isso que eu me lembrei de um velho ditado do meu avô Mané Lima: - Meu filho, creia em Deus que é Santo Velho! A preguiça é a chave da pobreza e mente vazia é a oficina do Diabo.
Por isso, como Luiz Gonzaga e Zedantas, eu lanço o meu brado de indignação, mas sem esquecer de adicionar uma pitadinha de esperança:
 - Sertanejo do 'Norte', vamos plantar algodão!!!

Arievaldo Vianna (De “O Livro das Crônicas”)



OPINIÃO DE PEDRO NUNES FILHO

Escritor Pedro Nunes Filho

Depois que postamos aqui no blog MALA DE ROMANCES o artigo "Pior que o bicudo é a preguiça", um artigo que se reporta a decadência da cultura algodoeira no Nordeste, e parte do referido texto no facebook, o escritor Pedro Nunes Filho postou o seguinte comentário:
Arievaldo, na minha região, o Cariri paraibano, o regime de meação funcionava assim: O dono da propriedade tomava emprestado com garantia real o dinheiro que iria necessitar para o cultivo do algodão. Semanalmente adiantava ao morador-meeiro o suficiente para ele fazer a feira. Diariamente, o algodão era colhido, pesado e colocado no paiol que pertencia em comum ao proprietário e aos meeiros. No final do ano, o produto era ensacado e vendido. O meeiro recebia sua metade, ou seja 50%. O valor adiantado para as feiras era descontado e tudo dava muito certo. Isso significa que o meeiro tinha uma participação um pouquinho maior que 50%, levando-se em conta que o proprietário pagava juros ao banco do Brasil e não cobrava do meeiro. Esse era um negócio em que o morador tinha uma participação realmente substancial no empreendimento rural. Mais ainda, o milho, o feijão, o jerimum e a melancia que eram plantados dentro do algodão pertenciam em sua totalidade ao meeiro, que era aconselhado a não vender, ficando para consumo da família. O que é melhor, participar dos lucros ou ter carteira assinada com o salário mínimo? Ou não trabalhar em nada e participar dos programas sociais do governo?
Sim, esqueci de dizer que o proprietário entregava a terra pronta para o plantio. A partir daí, todo o trato era de responsabilidade do meeiro. No final da colheita, o morador botava o dinheiro no bolso, comprava roupas boas e calçados para toda a família e ainda lhe sobrava dinheiro que ele guardava para, no futuro, comprar uma terrinha. Os moradores trabalhadores e de confiança eram uma sementeira de futuros proprietários rurais produtores de algodão, o ouro-branco que era exportado para a Inglaterra, que incentivava o plantio do algodão onde quer que houvesse espaço disponível. Essa cultura caiu por terra, não só por conta de bicudo, mas também por causa de mudanças nas leis trabalhistas que alteraram essa relação econômica de produção. Na década de 20, o semiárido nordestino recebeu a visita de Arno Pearse, inglês de Manchester especialista em algodão. Ele escreveu um livro que tenho em minha biblioteca. Entre muitos outros aspectos postos em relevo, ele destaca a alta produtividade e a excelência das fibras do nosso algodão, uma das mais longas do mundo, tudo em razão do clima árido que temos.
O que anda errado na economia rural do semiárido nordestino? Se o clima é o mesmo, o que mudou? O homem? As tecnologias do concorrentes? E a Paraíba que fez modificação genética para produzir algodão colorido, por que essa tecnologia não avança e produz resultados? Por quê?


Mais informações sobre o ALGODÃO

O algodão é conhecido do homem desde os tempos mais remotos. A domesticação do algodoeiro ocorreu há mais de 4.000 anos no sul da Arábia e as primeiras referências históricas ao algodão estão no Código de Manu, do século VII a.C., considerado a legislação mais antiga da Índia. Os Incas, no Peru, e outras civilizações antigas, já utilizavam o algodão em 4.500 a.C. Os escritos antigos, de antes da Era Cristã, apontavam que as Índias eram a principal região de cultura e que o Egito, o Sudão e toda a Ásia Menor já utilizavam o algodão como produto de primeira necessidade.
O ALGODÃO é um planta da família das Malváceas, espécie nativa  das áreas tropicais da África, Ásia e Américas. O algodão é a matéria fibrosa que envolve as sementes do algodoeiro e, embora macia, suas fibras apresentam boa resistência a esforços de tração, o que permitiu sua utilização na confecção de tecidos.
A palavra algodão deriva de Al-Kutum, na língua árabe, porque foram os árabes que, na qualidade de mercadores, difundiram a cultura do algodão pela Europa. Ela gerou os vocábulos cotton, em inglês, coton em francês e cotone, em italiano.
No Brasil, na época da chegada do colonizador europeu, os indígenas já cultivavam o algodão e usavam os fios na confecção de redes e cobertores. Uma pintura do século XVII, feita por um pintor holandês, retrata índios da tribo Kanindé usando plumas de algodão nas orelhas, como ornamento. Informa-nos Joelza Esther Domingues, mestre em história social pela PUC-SP, que esse artista holandês  chamava-se Albert Eckhout (1610-1666). Ele veio ao Brasil, em 1637, na comitiva de Maurício de Nassau. Tinha 27 anos e aqui viveu por quase sete anos. Era pintor, desenhista de tipos e costumes, paisagista e naturalista de excepcional domínio do traço e das cores.



Os nativos usavam também o caroço esmagado e cozido para fazer mingau e com o sumo das folhas curavam feridas. Os primeiros colonos chegados ao Brasil, logo passaram a cultivar e utilizar o algodão nativo. Os jesuítas do padre Anchieta introduziram e desenvolveram a cultura do algodão (confecção de suas roupas e vestir os índios).
ALGODÃO – A música de Luiz Gonzaga e Zedantas: Esse baião foi gravado originalmente em 1953 pelo próprio Luiz Gonzaga, num disco de 78 rotações, que trazia no verso outro baião  " A letra I"-  da mesma parceria com Zé Dantas. Em 1959 a música foi regravada no LP "Luiz Gonzaga canta seus sucessos com Zé Dantas".

PARA SABER MAIS:




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