Hoje, 15 de outubro, dia do professor, quero publicar um poema do mestre Alberto Porfírio, poeta que muito me influenciou nos primeiros anos de vida. Desde 1978 sou leitor assíduo de sua obra.
Ideias de Caboclo
Extraído do
Livro: "Poetas
Populares e Cantadores do Ceará", de Alberto
Porfírio
O professô
dos menino
Fala, fala
chega estronda!Querendo qui eu acredite
Qui a terra seja redonda.
Não, senhor,
num acredito
Nunca pude
acreditáQui viva assim todo mundo
Andando em cima duma bola
Sem nunca iscorregá!
Vós mincê
preste atenção,
Um monstro
cuma é o trem!...Se a terra fosse redonda,
Iscorregava tombém.
Ele só diz
qui a terra
Veve solta
no espaçoRodando num canto só
Sem tê nada de embaraço.
Muvimenta...
muvimenta
E nunca
descansa um pedaço,E qui é as volta qui ela dá
Qui serve pra controlá
A frieza e o mormaço.
Num
acredito!... não! não!
Qué sabê
cuma é a terraNa minha maginação?
É um prato feito de barro
Mal feito mais bem grandão!
Emborcado em riba d’água
N’uma firme pusição,
Cum a gente morando in riba
Cum toda satisfação.
Vou prová
cuma é mermo
Vou dá toda
a insplicação:
Quando Deus
fez este mundo
Mandou a
terra secá,
Mandou se
juntá as água
E foi assim
qui fez os má.
E se a terra
fosse doida
Rodando pra
se acabá,
Tinha
derramado as água
E era até
pirigoso
O próprio
Deus se afogá.
Os home
religioso
Gostun de
dizê a gente
Qui tem um
tal de inferno
De fogo qui
é munto quente
Qui vai pra
dentro desse fogo
As alma
dessas pessoa
Qui num vão
munto decente
Desses home
priguiçoso
Qui num
quere trabaiá;
Dessas muié
vaidosa
Qui usun as
roupa curta
Qui é do
juêio pra lá;Qui usun outras safadage
Fazendo a gente pecá
Dispois tudo morre
Vai morá nesse lugá
Debaixo desse arguidá.
Agora eu
aviso os home
Qui pras
muié são ingratoTombém aviso as muié
Qui andun de ponta-de-pé
Mode os sarto do sapato;
Dão zunhada e esconde as unha
Fazendo a moda de gato
Se morrê nesses pecado
Vão pra debaixo do prato...
ABC DO SERTÃO - Ilustração de Arievaldo / Klévisson Viana
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