Folhetos da coleção particular de Arievaldo Viana
Na imagem acima, uma foto de alguns folhetos do trovador baiano Minelvino Francisco, um artesão da palavra e da gravura. Alguns me foram enviados pelo poeta Antônio Américo de Medeiros, de Patos-PB. Outros pertenceram ao pesquisador Ribamar Lopes. Hoje em dia é raridade, encontrar um folheto de Minelvino com essas caracteristicas. O poeta fazia suas capas, imprimia em prelo caseiro e revendia nas feiras. Ou seja, acompanhava todo o processo diretamente. Abaixo, resumo biográfico de Minelvino por Maria do Rosário Pinto, elaborado para o site da Casa de Rui Barbosa:
BIOGRAFIA
Por
Maria do Rosário Pinto
Minelvino Francisco Silva nasceu no povoado de
Palmeiral, Município de Mundo Novo (BA), em 1926. Criado em Jacobina (BA),
trabalhou como garimpeiro, radicando-se posteriormente em Itabuna (BA). Seu
primeiro contato com a literatura de cordel foi com o clássico Romance do
pavão misterioso, de João Melquíades Ferreira da Silva (N.E.: até hoje
permanece a dúvida, na verdade, sobre quem foi o real autor dessa obra, se
Melquíades ou José Camelo de Melo Resende).
Começou a versejar aos vinte e dois anos de idade e sua primeira
sextilha, segundo a professora Edilene Matos, foi improvisada durante o I
Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros (1955) e dedicada a João Martins de
Ataíde: “Até eu cheguei na hora / Como humilde trovador / Abracei ele, dizendo:
/ Parabéns meu Professor / Por todas as suas obras / de grandioso valor.”
Tradição oral
Poeta popular e xilógrafo dos mais talentosos na poesia e no
talhe, compôs, basicamente, em sextilhas e setilhas. Viveu intensamente o
universo do cordel, passando por todas as modalidades e deixando a marca da
qualidade e do rigor em tudo o que escreveu.
Percorreu uma variedade de temas, como contos de encantamento
(trazendo para o folheto popular a tradição oral dos contos de fadas), de amor,
de animais e fatos políticos e do cotidiano, dentre outros. Publicou o primeiro
folheto em 1949 – A enchente de Miguel Calmon e o desastre do trem de Água
Baixa -, editado pelo amigo e companheiro de lutas em prol da causa dos
poetas populares, Rodolfo Coelho Cavalcante.
Em 1980, venceu o concurso Prêmio Literatura de Cordel, promovido
pelo Núcleo de Pesquisa e Cultura da Literatura de Cordel como parte das
comemorações do centenário de João Martins de Ataíde, com o folheto Vida,
profissão e morte, de João Martins de Ataíde.
Arte da impressão
Fascinado pela arte da composição e da impressão tipográfica,
adquiriu uma impressora manual, onde confeccionava seus folhetos, inclusive as
capas, conforme mostra nos versos: “Eu mesmo escrevo a estória / eu mesmo faço o
clichê / eu mesmo faço a impressão / Eu mesmo vou vender / e canto na praça
pública / para todo mundo ver”.
Seu interesse o fez mudar para uma impressora elétrica, mas em
1979 sofreu um acidente, perdendo três dedos. Este fato não o impediu de
continuar no ofício, pelo contrário, sua técnica foi aperfeiçoada, referindo-se
ao episódio nos versos: “No dia dez de outubro / Compus uma oração / Botei na
máquina impressora / Para fazer a impressão / Em vez de imprimir o papel / Errei
e imprimi a mão”.
Editou em várias tipografias e editoras como a Tipografia
São Francisco, em Juazeiro do Norte (CE), a Luzeiro e
a Prelúdio, em São Paulo (SP). Faleceu no dia do seu
aniversário, a 29 de novembro de 1999, na mesma rua em que viveu, em Itabuana
(BA).
Referências bibliográficas
▪ BANCO DO NORDESTE DO BRASIL: Literatura de cordel: antologia.
Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1982. XIX, 704 p.: il. (Monografias; v.
14).
▪ BATISTA, Sebastião Nunes. Antologia da literatura de cordel.
Natal: Fundação José Augusto, 1977. XXVI, 394 p.: il.
▪ SÁ, Aurenice e outros. Arte popular em terras do cacau. Rio de
Janeiro: Funarte, Instituto Nacional do Folclore, 1987. 39 p.: il. (Sala do
Artista Popular; 35).
▪ LUYTEN, Joseph Maria. A xilogravura popular brasileira e suas
evoluções In:__________. Antologia de folclore brasileiro. São Paulo: EDART,
1982. p. 255-271. Il.
▪ SILVA, Minelvino Francisco. ________ Minelvino Francisco Silva.
São Paulo: Hedra, 2000. 234 p.: il. (Biblioteca de cordel).
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