JOSÉ AMÂNCIO DE MOURA
Tive a grata satisfação de receber ontem um exemplar do livro “Memórias de um poeta – José Amâncio de Moura”, organizado por sua filha Ana Cristina Freitas de Moura e Maurilo Freitas. O livro já está na segunda edição e vem tendo grande aceitação em toda a região do alto e baixo Jaguaribe, principalmente em Limoeiro do Norte, sua terra Natal. Zé Amâncio foi repentista notável, glosador inspirado e sobretudo um grande humorista. Pobre, deficiente de um pé desde a infância, nada disso o impediu de revelar ao mundo seu maravilhoso estro poético, sobretudo nas muitas cantorias que realizou e também através de programas de rádio, atuando com diversos parceiros.
Um resgate mais que oportuno, pois além dos maravilhosos versos recolhidos, há também todo um anedotário em torno do poeta que nasceu no distrito limoeirense de Sapé.
Às vezes, por pura gozação, ele fazia versos na escola de Zé Limeira, talvez até mais engraçados do que aqueles atribuídos ao bardo da Serra do Teixeira:
Com a ponta da vara de um quintal
Com um bode que berra no chiqueiro
Com um galo que cisca no terreiro
E com a ponta da tábua de um jirau
Com o som do saudoso berimbau
Com os botões da batina do vigário
Com o cós da cueca do Olegário,
Com um peba que caga no arisco,
Com as flores do altar de S. Francisco
Enfeitamos seu lindo aniversário.
O poeta, apesar das dificuldades da vida, jamais perdia a sua fé em Deus. Vejam que linda estrofe:
Eu me atrevo a viver
Sem viajar, sem dormir,
Sem cantar, sem divertir,
Sem jogar e sem beber.
Sem café, sem de comer,
Sustento os esforços meus
E sem os auxílios seus
Eu sei a luta enfrentar
Só não me atrevo a passar
Sem a palavra de DEUS.
Um de seus versos mais notáveis, incluído (salvo engano), na Antologia de Cantadores de Otacílio Batista e Dr. Linhares é esta glosa que alude ao roubo de sua bicicleta, num dos bairros de Limoeiro do Norte:
Roubaram um pobre poeta
Além de pobre, doente,
Inda mais deficiente
Com uma perna incompleta
Levaram-lhe a bicicleta
Com pneu, câmara e catraca
Um ladrão de alma fraca,
Esse roubo não descobre
Quem rouba um poeta pobre
Vendo Jesus, mete a faca!
Quem quiser adquirir um exemplar deste excelente livro deverá entrar em contato com a filha do poeta, Ana Cristina Moura (Fone 88-9625-6920).
Em meu livro “A mala da cobra – Almanaque Matuto”, inacreditavelmente inédito, depois de quase 10 anos que foi escrito, eu faço uma ampla pesquisa sobre o anedotário cearense e o humor na cantoria e na Literatura de Cordel. Nessa obra encontra-se esta pequena homenagem ao grande humorista do Sapé:
ZÉ AMÂNCIO, O BARDO SAPEZISTA
Nascido em Sapé, distrito de Limoeiro do Norte, o cantador José Amâncio de Moura figura nas páginas de diversas antologias como um dos glosadores mais geniais e engraçados de todos os tempos. Considerado “imoral” por alguns puritanos, o aedo sapezista ainda não teve o seu valor totalmente reconhecido. Eis uma de suas tiradas mais famosas, que foi repassada pelo seu conterrâneo Aurélio Menezes, repórter do Programa Paulo Oliveira, na Verdes Mares AM: contam que certa feita, Zé Amâncio andava na companhia dos irmãos Dimas e Otacílio Batista, quando o genial autor de “Mulher Nova, Bonita e Carinhosa” saiu-se com esta:
“ Vou tomar uma cachaça
Pra lembrar Manoel Chudu...”
Dimas, aproveitando a métrica perfeita da frase de Otacílio, filosofa:
“... Toda cachaça é gostosa,
Toda roupa veste o nu...”
É a deixa que Zé Amâncio esperava para aproveitar a riqueza da rima:
“... menos gravata e colete,
porque nem cobrem o cacete
nem as beiradas do c*!”
NOTA DO AUTOR - Recebemos e-mail de Maurilo Freitas informando que essa estrofe também é atribuída a outro poeta, da Paraíba. Coisas como esta são muito frequentes na cantoria, uma arte que tem a ORALIDADE como seu maior meio de expressão. É curioso notar que muitas coisas produzidas por poetas cearenses acabam sendo atribuídas a Pinto do Monteiro ou aos Irmãos Batista.
No livro do humorista Waldy Sombra “Os poetas lá de nós Viva o Sapé nº 2”, encontram-se várias glosas do poeta, das quais pinçamos as mais engraçadas e irreverentes. No pinicar de um desafio, uma lagartixa assustada com o barulho da cantoria desprega-se do telhado e cai no meio do salão. O pequeno réptil ainda corria pelo salão quando Zé Amâncio improvisou essa sextilha:
“ - No meio dos cantadores
caiu uma lagartixa!
Chamem o dono da casa
Para matar essa bicha,
É carne que não se come
É couro que não se espicha.”
Durante anos, Zé Amâncio manteve um programa de cantoria na rádio Educadora, de Limoeiro do Norte. Certa feita, tendo chegado atrasado, o locutor Maurílio Freitas o interpela ao vê-lo entrando no estúdio:
“ Meu amigo Zé Amâncio
vamos cantar um poema?
O irreverente bardo do Sapé não perde tempo:
“ Vá logo tirando as calças
que eu resolvo seu problema...”
Excelente a matéria sobre Zé Amâncio. Um gênio.
ResponderExcluirCaro Arievaldo,
ResponderExcluirpercebi que depois que mudou para o Blogger, você deu uma incrementada legal em seu blog, tanto em conteúdo como no movimento.
Gostei. Um abraço e sucesso!
Exelente a homenagem, só tenho a agradecer a Arievaldo Viana, não poderia ser diferente diante de tantas postagens ricas no que se refere a nossa cultura literaria popular.
ResponderExcluirProf. Cris Moura
muito legal a forma que os poemas foram abordados!parabéns.
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